31/10/2018

Isto tem mesmo que acabar. Como é possível??


(foto do acesso ao Miradouro de Nossa Senhora do Monte, por Vic Vaporub)

Bairro Azul, Conjunto Classificado de Interesse Municipal? LOL


Extraordinário: a CML aprovou a total descaracterização do prédio Déco do nº 195 da Av. António Augusto de Aguiar, por sinal um dos já raros edifícios em estado original do Bairro Azul, conjunto classificado pela CML de Interesse Municipal. Aprovou o estropiamento de cada fracção em 2 apartamentos, a colocação de elevador, a ampliação no sótão, a abertura de piscina no logradouro e a fachada a tardoz toda alterada. Espantoso! Espantosa também a ignorância dos arquitectos da GCCM. É uma cidade espantosa, esta.

30/10/2018

Por uma estratégia municipal de redução das temperaturas urbanas


Ex.mo Senhor Presidente
Dr. Fernando Medina,
Ex.ma Senhora Presidente
Arq. Helena Roseta


Cc. Gab. VMS e VJSF e Media

Tendo em conta as alterações climáticas por que o planeta tem passado nas últimas décadas, e a previsão de que tal se agravará nos próximos anos, partilharão V. Exas. das preocupações da generalidade dos lisboetas face a alguns dos dados mais sintomáticos quanto ao futuro que nos espera, de que se destacam:

· Em 2003 houve mais de 35 mil mortos em toda a Europa em consequência de uma "Onda de Calor".
· Todos os anos, fora destas "ondas de calor", morrem mais pessoas de excesso de temperatura do que durante estas ondas.
· As alterações climáticas vão fazer aumentar, ainda mais, a quantidade e duração destes picos.
· Em 2040, estima-se que em toda a Europa, as mortes por "golpes de calor" sejam o dobro do valor anual actual.
· As principais vítimas desta situação são os muito jovens, os mais velhos e os pacientes de doenças cárdio-vasculares.
· As temperaturas altas vão ser o "novo normal".
· As temperaturas nas zonas urbanas são, geralmente, mais altas que as das zonas rurais sendo este um fenómeno nocturno, devido às diferenças de materiais e à morfologia dos centros das cidades que absorvem mais calor durante o dia e libertam-no mais devagar de noite.

É por isso cada vez maior o número de especialistas a defenderem que para se controlar este calor a nível urbano há que o fazer em duas vertentes em simultâneo: é preciso agir a nível do interior dos edifícios, mas também no seu exterior.

Daí a forma como desenhamos os nossos espaços abertos, desde as estradas aos parques e às rotundas, ter impacto nas temperaturas urbanas, e o modo como construímos os nossos edifícios de habitação e de escritório poder contribuir para a redução das temperaturas na cidade.

Serve o presente para propormos a V. Exas. e à Câmara Municipal de Lisboa, que durante o presente mandato de Vereação, se produza um debate sério e profundo sobre estes aspectos por forma a que a cidade de Lisboa constitua um caso de sucesso no que toca ao atenuar das consequências dessas alterações climáticas no dia a dia da cidade, mas também contribuindo para uma correcção dessas alterações.

Assim, e na medida das nossas possibilidades, apresentamos um conjunto de propostas à CML:

1. Que a CML transforme um número significativo de rotundas e de cruzamentos, onde existam separadores ("ilhas"), em espaços verdes ou com jogos de água por forma a fazer descer a temperatura ambiente.
2. Que promova, em colaboração com a EPAL e as Juntas de Freguesia, uma efectiva operação de reparação das fontes, chafarizes e bicas que, por toda a cidade, estão inactivas há muitos anos.
3. Que nos passeios mais largos da cidade, sobretudo nos bairros residenciais, instale efectivas zonas de vegetação por regra e não por excepção à regra geral dos quiosques com esplanada.
4. Que, decorrente do ponto 3., em todas as iniciativas do "Uma Praça em Cada Bairro" sejam incorporadas zonas de vegetação extensas e de baixa manutenção (ver p.ex. o que não foi feito a este respeito no Largo do Casal Vistoso).
5. Que sejam colocadas fontes nos jardins públicos que não as possuam (p.ex. jardim Fernando Pessa), reduzindo assim a temperatura ambiente por evaporação.
6. Que a CML, nos projectos urbanísticos que licencia, mormente em projectos de construções novas, e uma vez que a partir de 2020 todos os novos edifícios terão de ser NZEB de acordo com a legislação nacional e comunitária, aplique a regulamentação incentivando a componente de arrefecimento dos edifícios com novas tecnologias através da redução de taxas municipais (IMI e outras) favorecendo, por exemplo, o reforço de "telhados verdes" *, com ou sem tanques de acumulação de águas pluviais, tanques de acumulação de água nestes telhados verdes para arrefecer o telhado e o edifício com válvulas que libertam excessos ou podem alimentar o sistema de água dos edifícios ("telhados azuis"*);
7. E promova não só a construção de cisternas nos logradouros dos edifícios novos (ou a reabilitar), por forma a armazenar-se água para fins que não precisem de água potável (rega de espaços verdes, sanitários, etc.), mas que faça também um levantamento das cisternas antigas ainda existentes na cidade histórica e que se estude a sua reabilitação para armazenamento de águas pluviais e com isso promover-se a utilização de águas pluviais em actividades como a rega de espaços verdes e lavagens.
8. E que nos licenciamentos sobre projectos de alterações e ampliações em logradouro, a CML promova não só a necessária alteração ao Plano Director Municipal (no conceito e fórmula relativos à ocupação dos logradouros vs. "superfície vegetal ponderada") no sentido de garantir uma maior permeabilidade dos solos, e mesmo de proibir claramente construções novas em construções pré-existentes de génese ilegal.

E que, mais uma vez reforçamos, a CML promova efectivamente não só a boa manutenção das árvores da cidade de Lisboa, das árvores frondosas, de médio e grande porte, das árvores em espaço público, nos parques à sua guarda, nos arruamentos e nos passeios, em detrimento das crónicas más práticas a nível de podas, rega, etc., que fazem com que Lisboa seja um mau exemplo no que toca à gestão do arvoredo, como ao plantio de verdadeiras manchas verdes, com as espécies mais adequadas de modo a contribuir para uma gestão mais natural das temperaturas.

Sem árvores tudo quanto acima propomos não fará sentido, e, pior, não terá o efeito pretendido.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Rui Martins, Bernardo Ferreira de Carvalho, Virgílio Marques, Mariana Carvalho, Margarida Pardal, António Araújo, Jorge Pinto, Júlio Amorim, Pedro de Sousa, Helena Espvall, Miguel de Sepúlveda Velloso, Fernando Silva Grade, Maria Ramalho, Fernando Jorge, Beatriz Empis, Luís Rêgo, Filipe Teixeira, Maria do Rosário Reiche, Inês Beleza Barreiros

* Sobre "telhados verdes":
http://www.epa.gov/heatisland/strategies/greenroofs.html
https://sftool.gov/explore/green-building/section/76/green-roof/system-overview#green-roof/extensive-green-roofs
http://news.nationalgeographic.com/news/2002/11/1115_021115_GreenRoofs_2.html

*Sobre "telhados azuis":
http://www.nyc.gov/html/dep/html/stormwater/green_pilot_project_ps118.shtml
http://www.experientialdesignlab.com/projects/auxiliary-projects/blue-roof
https://www.cnv.org/city-services/water-sewer-and-drainage/drainage/stormwater-management-for-single-family-and-duplex-developments/roof-based-detention

Foto de telhados verdes em Denver

29/10/2018

E alguém já se apercebeu que a Rua do Paraíso vai levar com um prédio-muro neste local?

Não?

Ah, realmente, por aqui pelo boneco de cima (fonte: site da Stone Capital) não dá para ver muito bem (porque será?), mas o certo é que se for avante o Pedido de Informação Prévia aprovado por despacho de vereador em Abril, então vai crescer um edifício em "U" desde a empena cega do Faz (triste) Figura até à antiga escola, cujo edifício será totalmente esventrado, e terá 3 pisos de estacionamento subterrâneo. Resumindo: os moradores e proprietários da Rua do Paraíso que se cuidem. Lisboa vai de vento em pôpa em matéria de "reabilitação urbana", pois não só o existente, mesmo no edifício principal do antigo Hospital da Marinha, será bastante remexido, como ainda haverá mais prédios em cima da escarpa, voltados para Santa Apolónia. A única coisa boa deste projecto é a replicação inventiva da fachada de Santa Apolónia na fachada a Sul do hospital. Isto foi a reunião de CML? Porque não? Não é um "projecto estruturante"? :-)

Dilema no Largo Bordallo Pinheiro


Entre este pseudo-pastiche "pombalino" de subúrbio, sensaborão e malfeitão, da esquerda, que nem sequer sabe manter o ritmo da fachada, e o esventramento do afrancesado da direita.

E este mono dos anos 70 (acima), apesar de tudo de autor e fazendo bem a curva e tendo "qualquer coisa".

Este, diz que está em risco de ruína por dentro :-)

O projecto está com arranque iminente, claro.

27/10/2018

"Reabilitação à Santa Casa: 5 aplausos, 1 “nim” e 2 reclamações" (Paulo Ferrero no Público)

Paulo Ferrero



Já vão longe (e são já 520 anos) os tempos da fundação da Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia pela Rainha D. Leonor, “por boas causas”, pelo que, compreensivelmente, a estas se terão juntado ao longo dos séculos muitas outras causas, umas melhores, outras piores. Chegados aqui é um facto que as actuais receitas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) provêm essencialmente do jogo, ou seja, de um vício (fortuna e azar), para muitos o pior de todos.

Seria por concessão de outra rainha, D. Maria I, que a SCML passou a deter a exploração da lotaria, primeiro, para já no século XX se lhe juntar uma panóplia de jogos digna dos velhinhos “juegos reunidos“ dos anos 60, mas, ao contrário destes, com efeitos sérios na bolsa dos viciados: totobola, raspadinha, euromilhões (estará eventualmente por contabilizar o número de imóveis pertencentes hoje à SCML, que, ao invés do que aconteceu no passado em que os mesmos lhe eram doados, serão fruto do “confisco” por dívidas de jogo).

É natural, portanto, que a “área de negócio” da SCML seja hoje muito mais do que o Bem Comum, a acção social se quisermos. Consequência disso mesmo é a aposta evidente na reabilitação urbana, não só dos imóveis (imensos) que já eram seus em Lisboa, e que ruíam (e muitos ainda ruem) a olhos vistos, mas dos que passaram e vão passando a ser seus por operações de permuta e até de compra. Uma reabilitação urbana que não se cinge apenas à Economia Social, portanto, mas também alastra ao mercado do imobiliário. É por isso também natural que a SCML surja agora associada a fundos imobiliários fechados e compita, ombro a ombro, em muitas ocasiões, com a Câmara Municipal de Lisboa (CML), por exemplo, em estratégia de reabilitação, em staff, em número de projectos e em volume de negócios.

O mundo mudou e a SCML também tinha que mudar. Não é pecado.

Assim como não é pecado, de modo nenhum, saber recuar.

Vem isto a propósito de um punhado de projectos recentes em que a SCML esteve muitíssimo bem, ao saber reconhecer o erro e ao corrigir a trajectória antes que fosse tarde demais: um prédio na Rua Andrade, o Palácio Portugal da Gama (conhecido agora por “Palácio de São Roque”), o Palácio dos Marqueses de Tomar (ex-Hemeroteca de Lisboa) e o Convento de São Pedro de Alcântara.



Abra-se aqui um parêntesis para elogiar um outro feito recente, aliás ainda em curso: a reabilitação da Quinta Alegre com intuito social e cultural inter-geracional, e que envolve o restauro cuidado do Palácio do Marquês de Alegrete e do jardim apenso, classificados de Interesse Público e situados na Charneca do Lumiar, propriedade da Santa Casa desde 1983 e que, regra geral, eram totalmente desconhecidos do grande público. Só pelo facto de ter passado a haver visitas periódicas, o aplauso à SCML é ainda mais merecido.

Voltando à narrativa, e à coragem da Santa Casa em recuar antes que o mal fosse feito, vale a pena discriminar caso a caso, começando pelo fim da lista referida, agora por ordem da importância de cada um:

Em 2014, vários foram os artigos de imprensa que deram conta da futura transformação do antigo Convento de São Pedro de Alcântara e das meninas órfãs em “ponto focal” da oferta de lazer à noite boémia lisboeta. Temeu-se uma sequela do vizinho Colégio dos Inglesinhos, desta vez não para condomínio, como aconteceu na Rua Nova do Loureiro, mas para um complexo de lojas e restaurantes. Abrir-se-iam vãos, portas e montras para a rua, haveria muito vidro e muita caixilharia em alumínio.

O convento entregue pelos frades de São Francisco à SCML em 1833, passaria a ser assim uma espécie de centro comercial “in”, com esplanadas, comes e bebes, lojas e alguns escritórios da instituição (só para quebrar o impacto negativo). Azulejos, muitos azulejos, muitos deles pombalinos, seriam removidos, nomeadamente de salões e corredores, e da cozinha. Curiosamente, este “projecto” mereceria honras de propaganda em magazine televisivo da especialidade (leia-se do imobiliário).

Pois passados que estão 4 anos sobre as más previsões, e estando as obras a chegar ao fim, o mau presságio ter-se-á dissipado e do “programa de festas” faustosamente anunciado já pouco restará, senão nada, quer por fora quer por dentro. O complexo do antigo convento parece imaculado no seu branco acabadinho de pintar, e não se vislumbra qualquer montra ou novo vão. Do resto só se sabe que o conjunto vai “integrar dois níveis de ocupação: um de utilização mais restrita, com zonas de caráter institucional, designadamente para serviços e realização de eventos; e outro de utilização pública, para possibilitar que todos possam visitar este belíssimo edifício do património histórico lisboeta".

Bravo. Bolinha para a Santa Casa

Algumas centenas de metros mais abaixo, eis os palácios vizinhos colados um ao outro: o dos Marqueses de Tomar, vulgo Hemeroteca de Lisboa, e o Portugal da Gama, comercialmente rebaptizado “Palácio de São Roque” – é já um outro vício muito nosso o darmos novos nomes a quem já os tem.

Independentemente da necessidade evidente de obras no edifício da Hemeroteca de Lisboa, há muito reclamadas (lembremo-nos da “charmosa” cobertura em zinco que o palácio manteve por cima do seu telhado durante anos a fio, pelo menos vinte!), e descontadas as questões laterais sobre o destino a dar àquela hemeroteca, é com bastante regozijo que se regista a informação que dá conta do recuo da SCML na previsível destruição da “sala de fumo” do palácio, que é forrada a couro e brasonada, bem como da escada que liga esta à cozinha e da própria cozinha.

Com efeito, sempre foi evidente que para a instalação do depósito da Biblioteca Brotéria na parte do palácio voltada à Rua do Grémio Lusitano, e ao contrário do que era defendido no projecto apresentado à CML logo após a cedência do palácio, não era necessário destruir nem uma nem outra.

Nova bolinha para a Santa Casa, que terá bem aceitado o protesto feito em 2015.

Passemos ao palácio que lhe está colado, que tem frente para o Largo Trindade Coelho e que era mais conhecido, diga-se de passagem, não tanto pela riqueza patrimonial do seu interior, mas por albergar na então loja do piso térreo o atelier do insigne decorador Lucien Donnat.

Também aqui a Santa Casa recuou e fez bem em recuar. O que foi apresentado, e colocado em telão exterior, até há 2 anos como um projecto de reabilitação do “Palácio de São Roque” para abertura de alojamento local (“short rental”), é agora transformado em espaço museológico, de exposição de parte da colecção de Francisco Capelo, desta vez a sua vertente asiática (será a futura “Casa Ásia”).

Mais uma bolinha para a Santa Casa, por optar pela abertura de um museu em detrimento de mais um albergue sofisticado, a juntar às resmas deles que já existem e se atropelam Chiado adentro.

Mudando de coordenadas e indo até à Almirante Reis pela “street view” da Google, aterra-se no Bairro Andrade e na sua rua mais importante, a Rua Andrade (para quem não se recorde, este bairro situa-se imediatamente abaixo do Bairro das Colónias e deve o seu nome a Manuel Gonçalves Pereira d’Andrade, que o mandou construir em finais do século XIX, tendo depois passado a ser propriedade da CML).

Falo do n.º 2 da Rua Andrade, que faz esquina com a Rua Maria da Fonte e é propriedade da SCML. É um dos mais belos e ainda originais, pormenorizados e mais bem construídos exemplares lisboetas da arquitectura dita de transição, já teve como inquilinos (e proprietário) Anastácio Gonçalves e uma das mais belas lojas históricas de Lisboa (“Cafeteira d’Ouro”), e ostenta desde há pelo menos 15 anos (!) uma placa com aviso prévio de projecto de alterações.

Para este edifício, de grande valia decorativa e construtiva, volto a frisar, a SCML apresentou em 2009 um projecto de alterações bastante intrusivo e que iria descaracterizá-lo por completo, numa palavra: mau. Que foi aceite pela CML. No entanto, de lá para cá tomou a Santa Casa consciência do mal que daí adviria para o património histórico da cidade, e eis que em 2017 apresentou novo projecto à CML, deitando o outro ao lixo. Desta feita mantém-se o edifício praticamente na íntegra, recupera-se tudo, apenas se alterando as casas de banho e alguns detalhes não significativos.

Lisboa reganhará para o seu inventário um edifício que não merece estar como está nem merecia o que se preparavam para lhe fazer. "O prédio manterá o seu uso habitacional e após conclusão das obras, as frações reabilitadas serão para arrendamento".

Nova bolinha para a Santa Casa. Linha. Coluna.

Abra-se aqui novo parêntesis para o estranho caso da construção alienígena (talvez projectada por idólatra de arquitectura brutalista pós-soviética), aprovada pela CML para quatro edifícios centenários sitos no gaveto da Av. Casal Ribeiro com a Rua Actor Taborda, primeiramente apresentada sob a forma de loteamento (de 2007) e depois já sob projecto de alterações, ampliação com demolição.

Imune aos variadíssimos protestos contra a destruição dos quatro prédios, a SCML acabaria por vender os imóveis em Janeiro de 2017 a uma empresa privada, que, eureka, decidiu “manter a identidade histórica dos edifícios, não apenas as fachadas, mas também muito do interior”. Ou seja, o projecto foi para o lixo.

Viva o novo projecto, apesar de estarmos perante mais um daqueles casos em que, provavelmente, o restará no fim serão as fachadas, vide “Desejamos assegurar a manutenção da fachada e reabilitar aquilo que se pode manter no interior, embora haja partes que estão muito degradadas, algumas em colapso estrutural”. Face ao estado geral da cidade, já chegámos a um ponto em que “antes assim do que assado”, ou seja, do mal o menos.

Fechado o parêntesis, e para finalizar, duas reclamações, que a serem aceites pelos destinatários, permitirão à Santa Casa gritar BINGO:

A primeira diz respeito à vontade do arquitecto autor da reabilitação em curso no Palácio Portugal da Gama, em fazer cobrir (!) o magnífico chão de pedra do vestíbulo do edifício, em lajes de pedra, azuis e brancas e com 200 anos de idade. Na verdade, e para espanto geral, é tido como facto adquirido o cobrimento daquele chão lindo com placas de lioz uniformes, daquelas que se vêem nas estações do metropolitano; por baixo levarão as calhas técnicas habituais e adeus ao chão de antanho. Assim, no melhor pano (uma colecção de alguém com inquestionável bom gosto e uma reabilitação cuidada do que se podia recuperar) cairá a nódoa (um hall com chão de w.c). Não dá para acreditar.

Ainda há tempo para reconsiderarem. Recuar não é passar nenhuma vergonha.

A segunda tem que ver com o inenarrável “televisor” de grandes dimensões, perdão, com o futuro auditório da Santa Casa, projectado por arquitecto de renome (e também bom gosto) para junto da antiga lavandaria do complexo da SCML. Trata-se da sublimação de um princípio bem português e que tem o melhor exemplo na tradicional marquise: não importa o efeito de fora para dentro, desde que não se veja de dentro para fora.

O televisor, perdão, a “máquina fotográfica” revisitada, poderá dar “uma vista única sobre a capital” às cerca de 200 pessoas que por lá estiverem sentadas dentro quando se abrir o diafragma - “um palco que privilegia a paisagem” -, mas a quem apenas a mire do lado de fora, desde as colinas que lhe estão opostas (ou desde os Restauradores), dará uma vista surreal, quiçá cómica, mas completamente adequada ao imenso parque temático em que paulatinamente a cidade se vai transformando. Não há forma de arquitecto e Santa Casa pararem para pensar?

Assim, o ursão de peluche fica em casa.

Fundador do Fórum Cidadania Lx

25/10/2018

Painel azulejar da Leitaria da Anunciada - novo apelo à EPAL (EDITADA)


Ex.mo Senhor
Presidente do Conselho de Administração da EPAL
Dr. José Sardinha


CC. PCML, AML, Vereadora da Cultura da CML, Vereador do Urbanismo da CML, JF, LNEC, S.O.S. Azulejo, Leitaria da Anunciada e Media

No seguimento do nosso apelo de 22 de Dezembro de 2017 (http://cidadanialx.blogspot.com/2017/12/azulejos-da-leitaria-anunciada-apelo.html), serve o presente para congratularmos a EPAL pela obra de reabilitação no edifício sito no Largo da Anunciada, nº 1-4; Ruas das Portas de Santo Antão, nº 183-185, edifício que é vossa propriedade.

No entanto, fomos informados no local que é pretendida por V. Exas. a remoção, a muito breve trecho e para restauro, da totalidade dos azulejos existentes na fachada da Leitaria da Anunciada, mas sem estar garantida a sua posterior recolocação.

Lembramos a V. Exas. que se trata de um painel azulejar publicitário dos mais importantes e genuínos existentes em Lisboa (painel da autoria da Companhia Lusitânia), que data provavelmente de 1927, e se encontra inscrito na Carta Municipal do Património anexa ao Plano Director em vigor e, portanto, está sujeito às disposições regulamentares com vista à sua salvaguarda.

Apelamos, portanto, a V. Exas. para que garantam:

- A boa remoção daquele painel de azulejos, seguindo as boas práticas recomendadas pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, que apontam preferencialmente, aliás, para o restauro in situ;
- O restauro cuidado do referido painel, e a execução de réplicas fiéis dos azulejos entretanto roubados e motivo do nosso alerta do ano passado;
- A recolocação do mesmo na fachada da Leitaria da Anunciada.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira da Carvalho, Fernando Jorge, Rui Martins, Jorge D. Lopes, Nuno Vasco Franco, Helena Espvall, Ana Alves de Sousa, Paulo Lopes, Júlio Amorim, Virgílio Marques, Alexandra de Carvalho Antunes, Pedro Fonseca, Inês Beleza Barreiros, Fátima Castanheira, João Oliveira Leonardo, Jorge Pinto, Miguel de Sepúlveda Velloso, Fernando Silva Grade, Maria do Rosário Reiche, Jozhe Fonseca

...

O painel será restaurado e recolocado na fachada da leitaria (ufa). A garantia foi-nos dada por escrito pela EPAL, hoje dia 25.10.2018. Boas notícias, portanto:

«Exmas(os) Senhoras(es),

Acusamos a receção da Vossa comunicação, datada de 16 de outubro de 2018, que mereceu a nossa melhor atenção e agradecemos a Vossa legitima preocupação em relação ao importantíssimo painel azulejar existente na fachada da “Leitaria Flor da Anunciada”, a qual é arrendatária de uma fração do edifício propriedade da EPAL, sito na Rua das Portas de Santo Antão n.ºs 169 a 185, em Lisboa.

Existe também da parte da EPAL preocupação em assegurar a recuperação e manutenção do referido painel na fachada do edifício, no seu local original, repondo o mesmo, devidamente recuperado, assim que oportuno.

Para o efeito a EPAL promoveu um concurso tendo em vista a retirada e total recuperação, por especialistas, dos azulejos originais e o completamento do painel com réplicas de todos os elementos em falta. O painel azulejar original, recuperado, será colocado no seu local de origem quando da empreitada de reabilitação do edifício.

Mais se informa que à data, a intervenção de recuperação do painel já se encontra devidamente autorizada pela CML e em breve dará entrada na CML o necessário pedido de ocupação de via pública para inicio dos trabalhos.

Ao dispor para qualquer esclarecimento adicional.

Com os melhores cumprimentos,

Marcos Sá
Empresa Portuguesa das Águas Livres, S.A.
CEA - Direção de Comunicação e Educação Ambiental
Diretor
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24/10/2018

Telha-lusa, a praga que destrói a paisagem portuguesa

Por Fernando Silva Grade, in Público Online (24.10.2018):

Ao fundo, a cal das casas cobria-se de uma leve aguada cor-de-rosa e o distante horizonte resplandecia, com dourados de sol, brilhos de rio vidrado, fundindo-se numa névoa luminosa, onde as colinas, nos seus tons azulados, tinham quase transparência, como feitos de uma substância preciosa (Os Maias, Eça de Queiroz)

Gonçalo M Tavares fala do "mundo da paisagem técnica em que os elementos naturais estão escondidos – quase já não há montanhas nem terra". Isto é, os influxos da natureza e da paisagem em estado harmonioso que se estendiam a toda a volta no campo e que invadiam as cidades, vilas e aldeias, quer nos jardins, logradores, quintais e hortas, quer na "arquitectura que repetia as formas naturais e ampliava a sua beleza" (príncipe Carlos de Inglaterra), foram substituídos por uma paisagem desnaturada onde o cimento, o alcatrão e a monocultura impuseram o seu império sufocando as leis que regem as dinâmicas do mundo natural.

Sendo a natureza o molde do ser humano, a sua presença é fundamental para proporcionar bem-estar, protecção e sentido de existência. A mãe-natureza mima-nos com a sua presença: as plantas, os animais, os aromas, os sons, as cores, as formas e as vistas constituem bálsamos preciosos contra ansiedades, carências e angústias. Contudo, hoje "vivemos destacados da rocha-mãe e separados do hálito dos campos", estando o nosso habitat reduzido ao subúrbio, ao gabinete e ao habitáculo motorizado, contribuindo tal situação para o embotamento drástico dos nossos sentidos.

Por isso, não é de admirar que em Portugal ainda vivamos sob o mito do "jardim à beira-mar plantado", ancestral imagem de marca do nosso país e que, pese embora a sua evidente erosão, sobrevive, não obstante, na convicção de que o país é bonito, tem magníficas paisagens e tem património tradicional. Não nos apercebemos que esta crença está totalmente desactualizada, colidindo com a realidade que revela um território, com uma evidente e crescente desarmonia, fealdade e desarticulação ambiental e patrimonial - "o território português é hoje caracterizado por uma paisagem repulsiva" (Gonçalo Ribeiro Teles).

A agricultura intensiva, os eucaliptos e as casas e prédios construídos no último meio século constituem um exército invencível que invadiu, saqueou e ocupou o território, desregulando o seu carácter, a sua funcionalidade e a sua sustentabilidade.

Ora, dentro dos elementos que contribuem para este estado de coisas, e que são muitos, pouca gente se apercebeu, inacreditavelmente, de que um dos impactos mais violentos sobre a paisagem portuguesa, rural e urbana, é causado pela utilização da detestável telha-lusa. Para lá de ser utilizada em praticamente todas as casas novas, esta telha tem vindo a substituir de forma generalizada as telhas tradicionais, de que a de canudo é a mais comum. Desde Alfama, passando por Évora e continuando por todo o território nacional, Açores incluído, a praga desta telha não deixa recanto incólume. E também chega aos monumentos, o que é verdadeiramente escandaloso! Igrejas, palácios, casas nobres, tudo é vítima desta inqualificável situação. Neste momento, por exemplo, o Palácio das Necessidades está a ser alvo da dita substituição de telhas, e nem o facto da Comissão Nacional da Unesco estar sediada neste magnífico monumento serviu de alguma coisa. Há cerca de um ano, no Palácio Galveias, aconteceu o mesmo, tendo ficado partes do telhado com a telha antiga e partes com a telha moderna. Uma inqualificável cacofonia!

A telha-lusa tem vários pecados originais: cor avermelhada estridente; uniformidade cromática; design inestético; superfície anti patine.

A telha tem sido o elemento construtivo mais utilizado nas coberturas de casas ao redor do mundo. E, salvo raríssimas excepções, a ela esteve sempre associado um carácter mimético: imita na cor, no manchado e na forma orgânica a natureza em volta. O avermelhado estridente não existe na natureza, à excepção de ínfimas percentagens (flores e penas). Daí que no campo, por exemplo, os telhados de telha-lusa formem enormes placas de descontinuidade relativamente à natureza, autênticas feridas na paisagem, factores implacáveis de estridência e artificialismo. Também o encaixe destas telhas "finas e rígidas" em edifícios antigos "grossos e orgânicos" é totalmente dissonante.

A questão da cor e da configuração das telhas é algo que já foi, de há muito, identificado na maior parte dos países europeus como uma situação de suma importância. Quem já assistiu às reportagens sobre o Tour de France, na TV, em que com grande frequência são filmados planos vistos do ar, já reparou, seguramente, na encantadora unidade cromática dos telhados das povoações sempre com tonalidades acastanhadas, mosqueadas e suaves, semelhantes aos matizes e manchas da terra. Em Portugal, actualmente, as povoações vistas de planos elevados revelam a agressividade e rigidez da telha-lusa a gritar por entre o que resta da telha tradicional, criando uma evidente desestruturação e fealdade do conjunto.

Torna-se, pois, totalmente incompreensível o facto de em Portugal se permanecer irredutivelmente indiferente a esta grave situação de poluição visual, que muito afecta o nosso território, em contraste flagrante com o resto da Europa onde a regulamentação sobre as coberturas é, em geral, bastante estrita impedindo a proliferação de telhas dissonantes. Será que os arquitectos e as entidades responsáveis pelo património do nosso país também têm os sentidos embotados?

Artista plástico; membro do Fórum Cidadania Lx

22/10/2018

Palácio Portugal da Gama (de São Roque) - parabéns à SCML e pedido de não cobrimento do chão do hall


Exmo Sr. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
Dr. Eduardo Martinho

Exmo Sr. Arq João Pedro Falcão de Campos


CC. PCML, Vereadora da CML, media

Serve o presente para enviarmos os nossos parabéns a V.Exas. pela;

* Aposta da SCML em reabilitar e adaptar o Palácio Portugal da Gama (dito de São Roque) em espaço museológico, em detrimento da ideia inicial de empreendimento turístico-habitacional, facto que nos apraz sobremaneira pois vai ao encontro do que havíamos solicitado ao anterior Provedor;
* Aposta na exposição permanente da colecção de Francisco Capelo (Casa Ásia), permitindo assim uma valorização significativa da oferta cultural-museológica da cidade numa vertente que tem sido esquecida;
* Aposta numa reabilitação cuidada e exemplar de um edifício histórico que há muitas décadas se mantinha fora do conhecimento da maioria esmagadora da população lisboeta.

Contudo, e no seguimento de informações que nos chegaram dando conta da vontade de V. Exas. em cobrirem (!) com lioz o maravilhoso chão em losangos do hall de entrada (ver foto em anexo), que tem pelo menos 200 anos de existência e posto agora a descoberto);

Apelamos a V. Exas para reconsiderarem e manterem o referido chão em losango, tal como ele está neste momento, pois além de ser belo e antigo, e, nesse sentido património histórico da cidade; esse chão permite ao visitante a leitura perfeita do espaço e prepara-o de forma magnifica para aceder aos pisos superiores pela magnífica escadaria.

Finalmente, e porque era exactamente nesse hall que funcionava o atelier do insigne decorador Lucien Donnat, voltamos a solicitar a SCML, tal como fizemos em 2015 e 2017 (ex. https://cidadanialx.blogspot.com/2017/04/ja-agora-um-espaco-de-memoria-de-lucien.html?fbclid=IwAR25sHERKYuKT-SIGDwoUVwmKGA2GHNDLeBlDO_N5oiHtEAUSx49mTW2WIk e https://cidadanialx.blogspot.com/2015/01/lucien-donnat-homenagem-devida-2-anos.html?fbclid=IwAR2T6qE_1FBjLrH6zF-4TaUG56N4_8e_eFULQQtuur-lN4ovstFIOZb5-Y4) para que, em conjunto com a CML, encontre forma de garantir um espaço de memória condigno daquela personalidade das artes decorativas e da cenografia do país.

Melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Pedro Cassiano Neves, Jorge Santos Silva, Júlio Amorim, Virgílio Marques, Ana Alves de Sousa, Luís Mascarenhas Gaivão, Rui Martins, Pedro Fonseca, António Araújo, Helena Espvall, Fernando Silva Grade, Miguel de Sepúlveda Velloso, MAria do Rosário Reiche, Jorge Pinto

Segundo a DGPC esta obra não fere as vistas de e para São Vicente de Fora:


LOL, ó DGPC, então isto (parque de estacionamento por detrás dos bombeiros da Graça) não fere a vista de São Vicente de Fora (MN)? O que fere então?


P.S. A 2ª foto faz desse lugar em cunha um autêntico room with a view para o felizardo popó respectivo :-). E a última foto diz que o muro de sustentação do palácio de S. Vicente teve que levar obras de reforço, imagino que pagas pela EMEL, ou seja ;-)

(fotos de João Monteiro in Facebook)

18/10/2018

Parque Infantil da Alameda


Via FJ

P.S. Este parque infantil devia sair do meio da Alameda...

O SÍTIO DA ESTRELA - Possibilidade de expansão do Jardim da Estrela


Tendo perante nós a maravilhosa Praça da Estrela, vamos tecer algumas considerações sobre o Convento de Nossa Senhora da Estrela, também designado da Estrelinha, o Hospital Militar Principal e o Jardim da Estrela, terminando com o desejo de ver o Jardim da Estrela prolongado para o espaço do Hospital Militar Principal, agora desactivado.

O Convento da Estrelinha e o Hospital Militar Principal

O edifício do actual Hospital Militar Principal tem origem num convento beneditino fundado em 1572, no sítio da Estrela, dedicado a Nossa Senhora da Estrela. Poucos anos depois, em 1615, os beneditinos fizeram erguer, nas proximidades, outro Grande Convento, o de São Bento da Saúde (actual Assembleia da República), perdendo o da Estrelinha a sua importância, tendo passado a funcionar como colégio e casa de estudo para o noviciado. Em 1818, a sua missão religiosa estava já muito reduzida, com grande parte do convento ocupado pela secretaria dos Hospitais Militares. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o exército alargou a sua ocupação do edifício que, em 1837 passou a hospital militar. A 21 de Agosto de 1926 a designação oficial da instituição passou a ser de Hospital Militar Principal, funções que desempenhou até 2013, data em que foi incorporado no Hospital das Forças Armadas.

Entretanto a Cerca do Convento a poente e norte foi retalhada e vendida. Também, várias obras de adaptação se realizaram depois de 1834. Em 1836 foram construídos os anexos do lado da Rua de S. Bernardo, e entre 1906 e 1923 ergueram-se os pavilhões e anexos encostados ao Jardim da Estrela.

A Igreja, há muito desafecta ao culto, conheceu obras em 1946, recuperando-se muito do seu património disperso. A Igreja e o antigo Convento estão classificados como Monumento de Interesse Público (Portaria n.º 250/2010, DR, 2ª Série, n.º 67, de 7-04-2010).


Panorâmica do Jardim da Estrela tirada do zimbório da Basílica da Estrela, onde se vê o edifício do Hospital Militar Principal (ex-Convento da Estrelinha) em 1911.

Edifício do actual Hospital Militar Principal com parte dos anexos entretanto construídos

O Jardim da Estrela ou de Guerra Junqueiro (poeta e escritor-1850/1923)

A ideia do Jardim da Estrela no lugar onde hoje existe, deve-se ao Marquês de Tomar e a sua realização a diversos patrocínios e ao apoio institucional da Rainha D. Maria II. A obra começou em 1842 e a sua inauguração viria a realizar-se a 3 de Abril de 1852. As obras prosseguiram sob a direcção do mestre de jardinagem francês Jean Bonard (que já havia sido encarregue pela rainha D. Maria II para redesenhar os jardins da Tapada das Necessidades, em 1843), coadjuvado pelo português João Francisco, ganhando o espaço um traçado à maneira dos jardins ingleses.

Neste jardim romântico com uma área total de 4,6 hectares, para além de uma vegetação frondosa e variada, podemos encontrar muitas peças de escultura, o magnífico coreto em ferro trabalhado trazido do Passeio Público (actual Avenida da Liberdade). Também aí viveu e morreu numa jaula própria o célebre Leão da estrela, oferta do colonial Paiva Raposo.


Em 1836 foram construídos os anexos do lado da Rua de S. Bernardo


Entre 1906 e 1923 ergueram-se pavilhões e anexos encostados ao Jardim da Estrela

O Que se pretende para o futuro

Considerando que o Hospital Militar Principal está encerrado desde 31 de Dezembro de 2013, tendo todos os seus serviços sido transferidos para o Hospital das Forças Armadas, criado em 2009.

Considerando o grande valor histórico e monumental do convento e igreja dos beneditinos da estrelinha, classificados Monumento de Interesse Público (Portaria n.º 250/2010, DR, 2ª Série, n.º 67, de 7-04-2010), e que numa lógica de preservação do património, o Estado deve procurar sempre que possível a utilização pública desses monumentos.

Considerando ainda a importância para a cidade de Lisboa do jardim da estrela, como área verde de recreio e de convívio, onde se realizam eventos em que participam grande número de lisboetas, solicitamos que:

1 - o Convento, a Igreja e a Cerca do Convento, possam reverter para a posse do Estado Português/Câmara Municipal de Lisboa.
2 - os pavilhões e anexos entretanto construídos sejam demolidos, dando lugar ao aumento da área do Jardim da Estrela, aumento que irá valorizar a procura sempre crescente daquele espaço verde, integrando os monumentos classificados aí presentes.


João Pinto Soares

12/10/2018

Das Necessidades já nem a ver navios ...


Por Guilherme Freitas in facebook:

«Ainda me lembro do tempo em que se afirmava que a prioridade era devolver o Tejo aos Lisboetas...
Esta é a vista do Palácio das Necessidades, a construção de Alcântara já só deixa visível metade de um dos pilares da Ponte!
Ou seja a construção de mais andar no restaurante ao lado do Museu da Electricidade podia ter sido pior!»

Adaptação do Desterro a hotel com construções novas nas antigas olarias - pedido de esclarecimento ao PCML


Ex.mo Senhor Presidente
Dr. Fernando Medina


C.C. AML, JF Arroios e VMS

Constatada a existência de um projecto de adaptação do antigo Hospital do Desterro a hotel, divulgado no site do arq. Samuel Torres de Carvalho (https://www.stc-arquitetura.com/project/148-Hotel-in-Desterro), afigura-se-nos como inexequível o projecto anunciado anteriormente pela CML e que dizia respeito à adaptação daquele imóvel a um projecto de índole cultural pela empresa Mainside (https://ocorvo.pt/novo-polo-cultural-no-antigo-hospital-do-desterro-talvez-so-mesmo-no-final-de-2018/)

Acrescentamos que já decorrem medições técnicas nos logradouros dos prédios limítrofes, designadamente naqueles com traseiras confinantes ao Pátio das Indústrias, o que nos faz antever que o novo projecto de hotel implicará a construção de um edifício novo ao longo do Pátio das Indústrias e de estacionamento subterrâneo, e, como tal, a destruição do que resta das antigas e históricas olarias (Olarias do Desterro) que ali existiram, e que a CML deveria ter classificado de interesse municipal oportunamente.

Nada nos move contra a adaptação do Desterro a hotel, desde que tal não implique a destruição da “velha Lisboa” e novas construções como a que agora se prevê ao longo do Beco das Indústrias, que nos parece forte e desnecessariamente intrusiva, apesar de nos parecer ser mais premente e oportuno, tendo em conta até o facto de o edifício ser do Estado, a garantia de uma componente de habitação a custos controlados.

Solicitamos a V. Exa. que confirme publicamente esta situação, ou seja, que confirme se o futuro do Desterro passa agora pela sua adaptação a hotel e pela construção de um novo corpo no Beco das Indústrias, em vez do “pólo cultural” anunciado, se o promotor se mantém e qual o regime de concessão que está agora previsto, uma vez que o Desterro é propriedade do Estado.


Melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Rui Martins, Virgílio Marques, Júlio Amorim, Jorge Pinto, Gonçalo Cornélio da Silva, Helena Espvall, António Araújo, Fernando Silva Grade, Fátima Castanheira, Irene Santos, Miguel de Sepúlveda Velloso

Fotos em anexo: Arquivo Municipal, blogs Lérias e Velharias, e Os Dias em Voam

Que bela porcaria!


A CML é extraordinária. E investidores como estes, é do que mais se precisa neste país que ainda é Europa. Parabéns, Vereador MS o seu gosto é de fino recorte! P.S. Para quem não saiba, esta moradia (e não é palacete) é das poucas coisas que restam com resquícios Arte Nova. Dava uma excelente sede de empresa de prestígio, dava um excelente clube, mas qual quê, assim é mais lindo. Triste país, credo. A foto desta trampa está aqui: https://www.dinheirovivo.pt/economia/grupo-brasileiro-aposta-em-lisboa-palacete-devoluto-sera-predio-de-seis-andares/ (alerta de Helena Espvall)

10/10/2018

"Era uma vez um pombalino à UNESCO" [Jornal Público]

OPINIÃO

Era uma vez um pombalino à UNESCO



A breve trecho, pelo que se vê e mais virá, a Baixa será um imenso pombal de prédios híbridos, plastificados, colorizados, brilhantes, falsos, com figurantes e bonecos, de fazer inveja ao mais infantil dos parques da Disney.


A história da candidatura da Baixa Pombalina à UNESCO parece uma novela “para inglês ver”, um soap ao melhor jeito de “EastEnders”, por exemplo, tal o imenso rol de produtores, argumentistas e protagonistas que já teve ao longo dos últimos 15 anos, desde que, em Janeiro de 2004, foi feito pela CML de Santana Lopes o pedido de inclusão da dita na lista indicativa nacional para candidatura a património mundial, elaborada em propositura tentativa e preliminar a partir das preocupações genuínas (de muitos) e materializadas em reflexão, digamos assim, nas Jornadas Públicas organizadas pela mesma CML em Outubro de 2003.

Relendo o documento de 2004, saltam à vista curiosidades as mais variadas, como, por exemplo:

O que andaram a fazer à época, e até à sua futura extinção, coisas como a SRU Baixa-Chiado ou a Unidade de Projecto da Baixa Chiado?


Como é possível escrever-se que está “garantida a protecção e a salvaguarda” do Terreiro do Paço e da quase totalidade da Baixa, só porque o primeiro é Monumento Nacional desde 1910, e a segunda Imóvel de Interesse Público desde 1966 (convertida em Conjunto de Interesse Público em 2012), com as sucessivas alterações, ampliações, demolições, adaptações que foram sendo feitas a um sem-número de edifícios pombalinos, desde logo pela mão dos bancos que foram fazendo o que bem quiseram aos mais variados prédios. Quantas gaiolas pombalinas foram desfeitas? Quantas abóbodas? Quantas escadas? Quantos saguões? Quantos azulejos? Quantas mansardas? Quantos corta-fogos?

E como é possível dizer-se isso do Terreiro do Paço quando foi (e é) o próprio Estado (CML incluída) a dar o mau exemplo ao longo de anos e anos? Nas janelas abertas pela própria DGEMN no telhado do edifício do Martinho, nos inenarráveis anexos e na destruição de interiores nos corpos do Ministério do Ambiente e da ATL?

Ou, ainda, que o Animatógrafo do Rossio estava protegido porque classificado, quando o que dele restava já em 2003 era uma fachada, alterada, por sinal, pouco tempo depois …

Chegados a Dezembro de 2011, foi então anunciada pela CML, já com António Costa, uma nova temporada da série: “a Câmara vai retomar candidatura da Baixa Pombalina à UNESCO”. Adiantava o então vice-presidente Manuel Salgado que o processo iniciado em 2005 não avançara porque era necessário garantir "uma proposta muito forte", que só então poderia avançar, musculado que fora pelo Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina, formalmente aprovado em Março do mesmo ano e fundeado nas conclusões do Comissariado da Baixa Chiado (não confundir com a estação de metropolitano Baixa-Chiado) criado pela CML em 2006, com Carmona Rodrigues, com o objectivo de pôr gente capaz a discutir e concertar o futuro da dita, a qual, pobrezinha, deixou de estar preservada pela autorização legal de apenas se autorizarem obras de conservação e restauro nos edifícios (uma preservação em clorofórmio, diga-se, porque a CML nunca foi capaz de obrigar os proprietários a cumpri-la) para poder ser mexida e remexida, por dentro e fora, desde que se adaptasse aos projectos urbanísticos e não estes a ela. Disse ainda na altura que a candidatura surgia no âmbito da “estratégia de reabilitação urbana” aprovada pela CML e posta a “sufrágio universal”, em mais uma daquelas fases de discussão pública obrigados por Lei mas que no fim se resumem, do lado dos serviços, a reunir em relatórios de ponderação as participações do público, rebatendo-as uma a uma, para que nada de importante chegue a ser alterado ou corrigido, conforme os ingénuos do costume pensaram que podia ser.

Uma estratégia de reabilitação urbana assente, como já se imaginava, na contaminação do modelo em grande força até aí no Chiado, assente em duas premissas: a reabilitação sob a forma de alteração de uso para hotel, e a reabilitação sinónimo de construção nova com manutenção de fachadas (principais). Foi engraçado, mas nem por isso objecto de oposição por quem de direito, por exemplo, ouvir-se em Fevereiro de 2014, do então já só vereador Manuel Salgado, a consideração de que “era uma hipótese interessante” a inclusão de Bairro Alto, Bica, Alfama, Castelo e Mouraria na candidatura da Baixa, quando na altura decorria já a aprovação das alterações significativas aos planos de urbanização daqueles Bairros Históricos (perdão, graças ao PDM de 2012, toda a cidade é “cidade histórica” …), permitindo, mais uma vez, a contaminação do “modelo Chiado”, hoje à vista de todos de forma generalizada.

Novos episódios se seguiriam até 2016, uns mais picantes do que outros, altura em que o Comité do Património Mundial da UNESCO validou a candidatura “Lisboa Histórica, Cidade Global” à Lista Indicativa de Portugal a Património Mundial na 41.ª reunião que decorreu na Polónia, na cidade de Cracóvia, e com ela a candidatura da Baixa Pombalina (agora pomposamente apelidada de Lisboa Pombalina, acrescida que foi de uns pozinhos do lado poente, São Paulo acima) que por ela foi engolida. De lá para cá, silêncio. Talvez esse silêncio se resuma a uma coisa: trata-se de um “soap”, como tal é pura ficção televisiva.

A realidade é outra e está ao virar da esquina:

Ruas em que é hotel, prédio sim, prédio sim. Adeus interiores pombalinos, adeus Mardel, olá fachadas com azulejos reluzentes e portas e janelas em alumínio, olá pisos em mansardas de zinco e coberturas sem telha ou terraço. Adeus comércio antigo, que a vida não está para artes novas, mas sim para novas artes, como a de enganar o próximo, ou de como lucrar milhões com taxas e receitas no mais curto prazo possível, recorrendo ao mercado dos autores de prestígio e a comissões técnicas de apreciação.

Grave, porque pela Lei seriam nulos todos os actos administrativos que infringem o disposto da Lei de Bases do Património (n.º 107/2001) e o Plano de Salvaguarda, ou seja, seria nulo tudo quanto de intrusivo foi aprovado em prédios que não estavam em ruína iminente, sendo apenas permitidas alterações pontuais. Mas não é isso que acontece desde há anos.

E não nos enganemos: está por um fio o Pombalino que resta em Lisboa.

Senão veja-se:

O quarteirão pombalino quase intacto, e ainda com vestígios pré-pombalinos (segundo os arqueólogos), da Praça de São Paulo, passeio poente e com frente para o Sodré, e já apenas com alguns locatários, tem sobre ele o cutelo de um projecto de alterações conducentes a hotel (Proc. n.º 941/EDI/2018), do arq. Samuel Torres de Carvalho, que, a ser aprovado, implicará, para lá da destruição dos espaços comerciais pós-pombalinos, já iniciada, a destruição da actual compartimentação interior dos apartamentos, a alteração significativa das mansardas, corta-ventos incluídos, por via da reformulação da cobertura para abertura de restaurante panorâmico e criação da recepção do hotel no último piso (uma inovação digna da web summit).

Outro quarteirão pombalino, mas não tanto como o anterior, o “quarteirão da Suíça”, que já teve vários projectos e vários promotores, qual deles o pior, mas todos eles travados por qualquer razão (o projecto de hotel dos anteriores donos este em tribunal vários anos por via dos inquilinos, por exemplo), aparece agora com obra iminente, não se percebe muito bem para quê nem como, mas já temos como adquiridos dois factos: aqueles azulejos dignos de w.c., que foram colocados do lado da Praça da Figueira e da Rua da Betesga vieram para ficar (apesar de violarem grosseiramente o tal Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa…), e vamos ficar sem várias lojas das mais antigas de Lisboa (espera-se que estejam a salvo, pelo menos, a Pérola do Rossio e a Ourivesaria Portugal, agora que se perdeu, não a pastelaria, mas a “marca” Suíça).

Falando ainda de quarteirões, idem idem, aspas aspas, no caso do edifício pombalino da Rua da Conceição dos n.ºs 79-91, edifício constante do celebérrimo Cartulário Pombalino, mas que é mais conhecido por albergar “só” as retrosarias Arqui Chique, Bijou e Nardo (todas Lojas com História) e a perfumaria antiquíssima Alceste, um edifício de valor inquestionável, com belos interiores, registados por técnicos da CML, o que para o autor do projecto (arq. José Saraiva) vale zero, segundo se depreende da memória descritiva e justificativa do mesmo.

Se a isto juntarmos o que se anda a preparar no Palácio Pombal, na casa onde o próprio nasceu, na Rua do Século, bom, estamos conversados sobre o interesse e o reconhecimento em vigor por quem de direito pelo legado de Sebastião de Carvalho e Melo a esta cidade. Neste caso, não só se apupa a falta de empenho da CML (e do Estado já agora) para com a evidentemente mais do que justa compra da totalidade do imóvel que nunca aconteceu (recorde-se que o palácio está “dividido” em três: a principal e mais conhecida é propriedade da CML, por legado da família, e nela estiveram já vários inquilinos, e nem por isso deixou de ser saqueada e de apresentar carência urgente em obras de conservação e restauro, mas também estruturais; a segunda estava adstrita à Escola Superior de Dança, mas foi recentemente comprada por quem tinha já comprado a terceira parte do palácio, que dá para a Rua da Academia das Ciências), e com ela a evidente incapacidade estratégica para com o futuro do palácio como se protesta pela recorrente tentativa da CML em querer vender o mesmo sempre que pode, hipótese que a todos deve merecer veemente repúdio.

A desolação é generalizada e quase total por toda a Lisboa (e não só … em Oeiras, a famosa Casa da Pesca, inscrita no conjunto classificado de Monumento Nacional e propriedade do Ministério da Agricultura, está a cair aos bocados!), e muita coisa desapareceu recentemente e está em vias de desaparecer fora da Baixa, nas imediações da Avenida da Liberdade, no Bairro Alto e na Lapa (veja-se o que estão em vias de fazer ao edifício da Rua do Meio à Lapa, nº 50-58: é aterrador pensar que o querem demolir, um edifício que é um dos originais do aforamento setecentista que ocorreu no interior da cerca do convento das Trinas do Mocambo!).

De facto, dá vontade de rir sempre que alguém com responsabilidades vem falar em candidatura da Baixa Pombalina à Unesco.


A breve trecho, pelo que se vê e mais virá, a Baixa será um imenso pombal de prédios híbridos, plastificados, colorizados, brilhantes, falsos, com figurantes e bonecos, de fazer inveja ao mais infantil dos parques da Disney.

Pombalina é que não será de modo nenhum e, portanto, andam a entreter-nos com uma candidatura de faz-de-conta, há demasiado tempo.

Ah, de acordo, estamos a falar de “EastEnders”.

Fundador do Fórum Cidadania Lx

https://www.publico.pt/2018/10/10/local/opiniao/era-uma-vez-um-pombalino-a-unesco-1846795