19/08/2020

Privatização do espaço público - protesto pela ocupação da Time Out da Praça D. Luís I


Exmo. Senhor Presidente da CML
Dr. Fernando Medina
Exmo. Senhor Vereador do Espaço Público
Dr. Carlos Castro


CC. AML, JF, Time Out e media

Serve o presente para darmos conta a V. Exas. da nossa estupefacção e apresentarmos o nosso protesto pelo regresso da CML a práticas que julgávamos definitivamente extintas: a privatização de espaço público.

Com efeito, a permissão dada pela CML à Time Out para ocupar, "esplanadar", no dialecto do promotor, o jardim da Praça D. Luís I, com o enterramento de estacas na placa ajardinada, montagem de cercas e diversas bugigangas, representa, a nosso ver, o regresso a episódios de triste memória de há uma década, quando assistimos incrédulos à cedência a privados de praças e jardins de Lisboa para eventos os mais variados, desde lançamentos de marcas de automóvel a supermercados e a espectáculos de cancionetistas.

Mesmo considerando que esta ocupação do jardim é anunciada como sendo temporária - e todos sabemos como está enraizado o velho hábito de tornar permanente o que é provisório -, não nos parece haver justificação plausível para que a mesma se verifique, muito menos enquanto compensação por eventuais prejuízos decorrentes da COVID19, que não nos parece ser o caso - será assim nas outras cidades da Europa, onde, inclusive, os efeitos do vírus se fizeram sentir de forma infinitamente mais grave do que em Lisboa?
Por sinal, seria expectável que em tempos de vírus, os espaços ajardinados da cidade fossem o mais possível desafogados de estruturas, bancos e afins, para que os cidadãos usufruam do verde que ainda lhes resta.

Acresce que, no caso presente, já é abusiva a forma como o Mercado da Ribeira foi "rebaptizado" Mercado Time Out, permitindo-se àquela revista a colocação do seu logótipo com um letreiro de néon vermelho na fachada principal do mercado histórico.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Júlio Amorim, Virgílio Marques, Maria do Rosário Reiche, Pedro Jordão, Helena Espvall, Jorge D. Lopes, Jorge Pinto, Nuno Castro Paiva, Miguel Fernandes Jorge, Beatriz Empis, Pedro de Souza, Manuel Moreira de Araújo, Irene Santos, Pedro Ribeiro, Sofia Casimiro, Irina Gomes, Pedro Machado, João Pinto Soares, Filipe e Bárbara Lopes, António Araújo

Fotos: João Gonçalves e Revista Time Out online

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez se torna imperioso que os lisboetas tomem uma posição firme contra aqueles que elegeram para defenderem a sua cidade, mas que tomam sistematicamente uma posição de subserviência perante o poder económico, que visa unicamente interesses particulares.
É altura de os lisboetas tomarem uma atitude de tolerância zero contra a cedência a particulares da ocupação do maior bem da cidade que é de todos nós:o solo, e mais ainda daquele, que arborizado e ajardinado é o garante de vida na nossa cidade.

Pinto Soares

Anónimo disse...

Há uns anos falava-se em Nova Economia, daqui a 50 anos havemos estar a falar de quê? Economia no espaço?
E a Economia da Natureza? Hoje despreza-se os poucos espaços verdes que temos e que apreciamos pouco, porque vir para um jardim e ler um livro, acontece pouco, mas se nessas ocupações indevidas do espaço público verde houver cervejas e barulho, lá estamos felizes da vida, talvez com a "cabeça entre as orelhas".
É altura de refletir sobre estes decisores e pensar que a Instrução é prioridade à Economia.
Os lisboetas têm que exigir que haja mais espaços verdes e menos ocupações indevidas como estas, mesmo que a Câmara tenha retorno económico e queira que nós não pensemos em coisas mais importantes.