31/12/2016

Lisboa é também a sua vista para a outra margem



Lisboa é também a sua vista para outra margem.
De Lisboa as vistas para a Margem Sul, outrora verdes e povoadas de quintas e pequeno casario, tornam-se cada vez mais feias e degradadas.
Tal situação deve-se à ocupação, a todos os níveis aberrante, do Porto de Lisboa, que há já alguns anos a esta parte tem vindo, paulatinamente, a tomar conta da margem sul com os seus monos gigantescos de várias cores e que agora se estendem até bem próximo da Ponte 25 de Abril, sem qualquer tipo de enquadramento paisagístico que minimize o seu impacto (quanto mais não seja pintar as estruturas vermelhas, amarelas e cinzentas de verde!).
Já não bastavam os silos de cereais na Trafaria e a Banática, cujo enquadramento paisagístico de Ribeiro Telles já praticamente se não vislumbra?
A estas verdadeiras feridas na paisagem, junta-se a degradação do Lazareto Novo/Asilo 28 de Maio, monumental edifício de planta radial, e da Torre Velha, datada do século XV e que outrora “dialogou” (ainda dialoga) com a Torre de Belém. Infelizmente, nem a classificação de Monumento Nacional, em 2012, lhe serviu para alguma coisa. Vistas do rio, as suas ruínas são uma dor d’alma. Como é que se deixa património desta importância chegar a tão calamitoso estado?
Numa cidade que está voltada para o turismo, que cada vez mais aposta no Tejo, que é atravessado por cruzeiros quase todos os dias, esta imagem – de monos industriais e ruínas - é um horrendo cartão de visita. 
De que serve alindar a margem norte junto ao rio, se a vista para o outro lado se desfigura a cada ano que passa?
Que em 2017 em convergência - Porto de Lisboa, CML, CMA, Governo e Ministério da Cultura - se repense a expansão do Porto de Lisboa e se recupere também aquele valioso património em ruínas.
Porque Lisboa é também a sua vista para a outra margem. 











11 comentários:

Joaquim Dentinho disse...

É verdade que estes silos são feios e não estão bem enquadrados mas a realidade é que são necessários!

Anónimo disse...

Deveriam plantar mais arvores para fazer um enquadramento tipo monsanto.

Xico205 disse...

Os silos existem ha 50 anos ou mais e agora é que se queixa!!!

Inês B. disse...

Os silos da Trafaria existem desde 1983. A Banática existe há muito mais tempo, mas além de o impacto ser menor, foi enquadrada paisagisticamente por Ribeiro Telles nos anos 60 (embora agora já não se note muito). Os monos ao pé da ponte são bastante recentes, não têm nem 10 anos (resultam da expulsão do Porto de Lx de Lisboa) e a cada dia crescem mais e mais. Podiam ser melhor enquadrados na paisagem, não acha? Isto é algo que pode e deve ter solução, sob pena de andarmos a repetir os mesmos erros do passado.

Anónimo disse...

Artigo pertinente e pouco discutido! Só faltou uma foto do conjunto de edifícios que, como tantos outros, sofre do famoso flagelo nacional que dá pelo nome de "marquises". Estes são bem visíveis desde a outra margem.

https://www.google.pt/maps/@38.6850878,-9.1470625,3a,75y,234.93h,111.97t/data=!3m6!1e1!3m4!1sLP26Wwm6VP2xLDd0pF8eGQ!2e0!7i13312!8i6656

http://s1115.photobucket.com/user/mgomes954/media/Lisnave/11_Lisnave_portico_Marco_Bruno_A_opt.jpg.html

Resido em Cacilhas e defendo que deveria ser feita uma campanha de sensibilização em nome da estética urbana. A cidade que temos é a cidade que fazemos!

Xico205 disse...

Os erros do passado são acabar com a industria, pôr toda a gente no desemprego e criar "áreas de lazer" que custam milhões que depois ficam abandonadas porque não há ninguem para as frequentar, à mercê do vandalismo e de actividades ilicitas. Já vi várias temporadas dessa serie.

Xico205 disse...

E pensar que a Ajuda, Alcantara, o Casal Ventoso, Campolide, o Beato e Marvila já foram sitios de gente do trabalho que andava agarrado à industria 14 e 15 horas por dia e exibia com orgulho mãos com 3 e 4 dedos que foram os que não ficaram decepados, hoje os descendentes deles é tudo traficantes de droga e ladrões ou passam os dias em casa a coçar a micose deitados no sofá da sala a ver a casa dos segredos e só saem de casa para arrastar a carcaça para o café.

Inês B. disse...

Pois, eu falava mais do eixo Alcântara-Belém, mas Cacilhas-Barreiro também tem que se lhe diga, sim senhora.
O Xico205 tem uma certa razão ao aflorar a questão de o sistema se basear agora no lazer, de ser tornado "cognitivo" e que isso não serve nada nem ninguém; trata-se, na verdade, de uma intensificação do sistema industrial. E desse também já vimos várias temporadas e também já não serve...mas aqui não é o lugar destas conversas...

Xico205 disse...

Não é uma certa razão, é toda a razão.

Vasco disse...

O enquadramento paisagístico e áreas de lazer são coisas diferentes. Nos centros urbanos dos EUA, UK e alemanha costuma-se plantar árvores e arbustos junto a auto-estradas como enquadramento paisagístico das vias. Na margem sul do tejo isso poderia ser feito sem que daí resultasse um parque que obrigasse a grandes manutenções. A intenção não é fazer um jardim.

Inês B. disse...

Obrigada, Vasco, pelo seu comentário. É isso mesmo. Foi feito na Banática por Ribeiro Telles, mas entretanto já cortaram alguns dos pinheiros mansos e as estruturas (antes da Shell agora da Repsol) ficaram mais a descoberto. Nunca foi feito nem junto aos Silos da Trafaria nem agora junto aos silos da ponte.