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07/07/2022

PRR do Museu Nacional de Arqueologia - Pedido de esclarecimentos ao Sr. Ministro da Cultura

Exmo. Sr. Ministro da Cultura
Dr. Pedro Adão e Silva


CC. Sr. Primeiro-Ministro, Comissão da AR e media

Decorridos mais de seis meses sobre a cerimónia de apresentação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), e uma vez que até agora não existiu qualquer esclarecimento por parte da tutela, ou dos responsáveis pelo projecto, quanto a uma série de questões que importava esclarecer, somos a contactar V. Exa na esperança de podermos todos estar seguros quanto à segurança e ao bom propósito daquele projecto, e assim se evitarem situações como a que se verifica com a Sé de Lisboa, por exemplo.

Deste modo, e partilhando da opinião consensual de há várias décadas de que o MNA precisa de obras profundas, que o tornem mais apelativo e lhe permitam expor todo o seu acervo, gostaríamos de deixar à consideração de V. Exa. o seguinte:

1.O projecto em apreço prevê a instalação de um mega-piso subterrâneo sob a ala poente do Mosteiro dos Jerónimos, erigida no século XIX, que é, precisamente, uma zona de areias instáveis. Está assegurada a segurança estrutural do Mosteiro dos Jerónimos?
2.Estão previstas as consequências para Belém decorrentes da interrupção da drenagem da ribeira de Alcolena?
3.Os encargos previsivelmente elevadíssimos decorrentes da colocação de bombas para se extrair água do solo de forma permanente, estão assegurados pelos 25 milhões de euros anunciados?
4.As reservas do MNA vão ser colocadas no piso subterrâneo; será essa uma solução adequada e moderna?
5.Quais são os estudos em que se baseia toda esta intervenção, e porque não estão eles disponíveis ao público?
6.Fará sentido abdicar de uma das já escassas alas expositivas do MNA para ali ser colocada a recepção-bilheteira, com o argumento de que assim se tiram os visitantes da exposição ao sol e à chuva - não cremos que tais argumentos colhessem junto dos responsáveis pelos grandes museus mundiais…
7.Por fim, e aplaudindo a cedência ao MNA da designada “Torre Oca” por parte da Marinha, gostaríamos que fossem divulgados os termos e condições dessa mesma cedência.

Na expectativa, apresentamos os nossos melhores cumprimentos.

Paulo Ferrero, Miguel de Sepúlveda Velloso, Nuno Caiado, Rui Martins, Filipe de Portugal, Irene Santos, Jorge Pinto, Madalena Martins, Fátima Castanheira, Helena Espvall, Beatriz Empis

Foto de Jose Luis Filpo Cabana (2011)

02/07/2010

29/05/2010

Oposição recomenda ao Governo suspensão de projectos para museus no eixo Ajuda-Belém

In Público (29/5/2010)
Por Maria José Oliveira


«Projecto de resolução do Bloco de Esquerda foi aprovado por toda a oposição. PS diz que o Ministério da Cultura já deu todas as explicações

A oposição aprovou ontem uma recomendação ao Governo para que sejam suspensas todas as acções sobre a transferência de museus e a criação de novos espaços museológicos no eixo Ajuda-Belém, exigindo ainda a elaboração de um projecto estratégico para a reconfiguração do conjunto naquela zona de Lisboa.

As propostas, que recolheram o voto contra do PS, integram-se num projecto de resolução apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE) e votado ontem no Parlamento. O BE não é contra a criação de um novo Museu dos Coches, nem se opõe à transferência do Museu Nacional de Arqueologia para a Cordoaria. Mas entende que é necessária uma planificação prévia que evite derrapagens financeiras e que não permita "encaixotar museus" em lugares cujas características ainda não foram avaliadas, explica a deputada Catarina Martins. Por isso, o Governo foi também aconselhado a pedir ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil um estudo sobre as fundações da Cordoaria Nacional, de forma a averiguar as condições de segurança e estabilidade do edifício.

O projecto de resolução pede ainda ao executivo para que seja promovido um amplo debate público sobre as alterações previstas para a zona Ajuda-Belém. E recomenda a elaboração de um plano estratégico para a reconfiguração do conjunto museológico daquela área - este plano, defendem os bloquistas deverá incluir uma avaliação das infra-estruturas e dos projectos arquitectónicos, um estudo dos públicos e das acessibilidades, e uma análise sobre a sustentabilidade das instituições, custos, fontes de financiamento e calendarização.

O PS votou sozinho contra o projecto, uma vez que, afirma a deputada Inês de Medeiros, a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, "já deu todas as explicações necessárias sobre a matéria". Além disso, o projecto "é extemporâneo", uma vez que a tutela está a estudar "medidas de austeridade que vão abranger todos os sectores da Cultura".»

05/05/2010

06/04/2010

Museu de Arqueologia preocupa deputados

Ministra será interpelada na Comissão de Ética no dia 14.
Por António Pedro Ferreira, Diário de Notícias de 06-04-2010

O plano de Gabriela Canavilhas de mudar o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) dos Jerónimos para a Cordoaria tem sido polémico. Os deputados da Comissão de Ética e Cultura visitam amanhã o museu para recolher mais dados com os quais possam interpelar a ministra da Cultura no dia 14, quando a tiverem à sua frente no Parlamento.
"Queremos saber por que razão há pressa em fechar a Torre Oca [espaço do MNA] e apurar no terreno as preocupações em relação aos problemas estruturais que têm sido apontados à Cordoaria para receber o espólio do MNA", explica Celeste Pereira, do PSD, uma das mais activas em começar pela linha museológica de Belém um expediente previsto nas competências da comissão.
Em causa estão, segundo Catarina Martins (Bloco de Esquerda), "as fundações da Cordoaria". "A ministra disse que ia fazer um estudo, mas não fez, limitou-se a fazer um parecer. Mas há outros pareceres que falam do perigo de ali depositar alguns dos tesouros nacionais", acrescenta.
Luís Raposo, director do MNA, também aponta a intenção inicial da ministra em pedir um estudo e a mudança de vontade, e explica melhor: "O parecer que a ministra pediu a um ex-técnico do Laboratório Nacional de Engenharia Civil [LNEC] não fala em perigos, mas o parecer pedido pelo Grupo de Amigos do MNA e um outro solicitado por mim apontam alguns."
"O presidente e o vice-presidente da Sociedade de Engenharia Sísmica confirmam alguns perigos de ali instalar o espólio do MNA - e lembro que temos 700 peças consideradas como tesouro nacional", diz Raposo. "São estudos de professores catedráticos, de Sousa Oliveira [do Técnico, de Lisboa] e Aníbal Costa [Universidade de Aveiro]", contextualiza.
As razões técnicas, diz, dão que pensar e exigem um "estudo de fundo" - é isso que diz também a deputada Catarina Martins. "Dizer que os Jerónimos também estão junto ao Tejo como a Cordoaria não chega para afastar os eventuais perigos contidos nas fundações da Cordoaria. Esta está erigida sobre o estuário do rio seco, com o maior caudal hídrico e grande parte ou toda a Cordoaria está assente sobre areias e argila e pode afundar em caso de sismo, está sujeita a inundações, como aconteceu há dez anos, ou às infiltrações de água salgada", expõe.
O gabinete da ministra não quis reagir e sublinhou o plano do MNA, que tem de esvaziar a Torre Oca até 8 de Maio (antes era até 30 de Março) para a entregar, no âmbito de um protocolo , à Marinha. "Falta saber se a Cordoaria será toda para este museu", questiona ainda Celeste Pereira.

05/02/2010

Futuro terreno do Museu de Arqueologia é de “muito alta vulnerabilidade”

In Público (3/2/2010)
Por Alexandra Prado Coelho


«Um parecer sobre as condições do terreno no qual se encontra o edifício da Cordoaria Nacional, encomendado pelo Grupo dos Amigos do Museu Nacional de Arqueologia (GAMNA), indica que se trata de um local de “muito alta vulnerabilidade” no que diz respeito a riscos sísmicos.

O GMNA decidiu pedir este parecer para poder tomar posição perante a decisão do Ministério da Cultura de transferir o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) para a Cordoaria.

Elaborado pela empresa eGiamb e assinado pelo geólogo Carlos Nunes da Costa, o parecer diz ainda que o local é de “alta vulnerabilidade” relativamente ao risco de inundações. Por isso, conclui, “quer do ponto de vista das condições geológico-geotécnicas, quer no que respeita a exposição a perigos naturais, a localização do MNA no actual edifício da Cordoaria deveria ser cuidadosamente ponderada, em face da elevada vulnerabilidade que o local comporta actualmente e deverá condicionar drasticamente o seu uso futuro”. Aconselha, no entanto, a realização de estudos mais aprofundados.

A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, declarou esta semana, na cerimónia de lançamento da primeira pedra do novo Museu dos Coches, em Belém, que queria concretizar a transferência do MNA para a Cordoaria “até ao final da actual legislatura”. Mas o director do museu, Luís Raposo, tem manifestado a sua preocupação com as condições do terreno e tem dito que a sua posição relativamente à mudança dependerá do resultado dos estudos geotécnicos.»

29/12/2009

09/04/2009

Governo lança concurso de ideias para que a Cordoaria acolha o Museu de Arqueologia

In Público (9/4/2009)
Isabel Coutinho

«Director do museu irá integrar comissão que avaliará as propostas mas mantém a crítica de que a Cordoaria apresenta riscos sísmicos e de inundação

Um concurso de ideias de adaptação da Cordoaria Nacional para acolher o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) será lançado pelo Ministério da Cultura com o apoio da Ordem dos Arquitectos.
"O objectivo é poder criar condições para que o Museu Nacional da Arqueologia possa ser transferido para a fábrica da Cordoaria Nacional em condições excelentes para exposição e investigação", disse ontem o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, aos deputados na audição parlamentar da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, que decorreu na Assembleia da República.
O concurso vai ser lançado na próxima Trienal de Arquitectura de Lisboa, que se realiza em 2010, e terá assessoria técnica da secção regional sul da Ordem dos Arquitectos. A ideia não é original: na altura da discussão do projecto do Museu de Foz Côa, também foi lançado um concurso de ideias.
Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia, foi convidado por José Pinto Ribeiro para integrar uma comissão que irá avaliar as ideias que daí surjam. Contactado pelo PÚBLICO, este responsável disse que aceitou o convite mas não deixa de reafirmar aquilo que tem dito até aqui. Considera "muitíssimo problemática a possibilidade de instalação do Museu de Arqueologia na Cordoaria Nacional". Mantém as suas dúvidas por causa da localização da Cordoaria Nacional, que tem um "índice máximo de periculosidade para risco sísmico" e é também um local com "grandes riscos de inundação". O director lembra que o Museu de Arqueologia tem 700 tesouros nacionais à sua guarda e que não podem ser colocados num rés-do-chão com riscos sísmicos e de inundação. "Antes do concurso de ideias, terá de haver pareceres técnicos".
O concurso vai ser lançado em 2010. A seguir, a comissão irá avaliar as ideias que surgirem e só depois é que se passará para os projectos de arquitectura. "É um prazo de vários anos. Todo um projecto a ser executado no próximo ciclo legislativo", lembra.
Ontem, perante as críticas dos deputados, o ministro referiu mais uma vez que é consensual que, no sítio onde está, o Museu de Arqueologia não pode ser "expandido nem requalificado" e diz que estudos feitos nos últimos 30 anos o comprovam. "Não haverá prejuízo para o Museu de Arqueologia. O concurso irá garantir que o espaço tenha todas as condições museológicas e arquitectónicas", concluiu.»

...

Apesar dos esforços dos sr.s arq.ts J B Rodeia e Ana Tostões, para tentar "ajudar" o sr Ministro a justificar o projecto dos "Coches" (e de outros que tais com formação nesta área ?!?!), parece que está tudo em banho-maria:
Essa coisa, do concurso de ideias subjacente á mudança de instalações, serve para quê? Protagonismo de alguns? Justificar algum adiamento necessário ou alguma situação de incómodo causada pela excessiva pressa com que se tratou o assunto dos "coches"?
E, aquando da intenção de construir um novo museu dos coches, porque é que a "Ordem" nada disse sobre a constituição de um concurso público?
Questões que se mantêm...

10/03/2009

03/03/2009

Museu de Arqueologia na AR

In Diário de Notícias (3/3/2009)
MARIA JOÃO PINTO

«Património. Deputado do PS Manuel Alegre pede esclarecimentos do Governo

"Em que estudos técnicos e opiniões fundamentadas se baseia" a anunciada transferência das colecções do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) para a Cordoaria Nacional? Esta uma das questões que o deputado Manuel Alegre pretende ver esclarecidas pelo Governo, em particular pelo Ministério da Cultura, como tutela directa.

Em requerimento apresentado na Assembleia da República (AR), o deputado socialista questiona por que razão não foi dada continuidade à ampliação - programada há mais de dez anos - da área expositiva do museu no Mosteiro dos Jerónimos, sua casa há mais de um século "e para a qual existem estudos e projectos concluídos", bem como o paradeiro dos "estudos comparativos dos custos financeiros e logísticos das duas opções", "se é que tais estudos existem". Por outro lado, e do ponto de vista técnico, Manuel Alegre pretende ver esclarecido até que ponto se fez "uma análise cuidada dos riscos inerentes à localização do MNA" no complexo da Cordoaria, "antiga fábrica de telha vã, sem grandes condições de climatização, estabilidade e segurança", nomeadamente em matéria de risco sísmico e de inundações.

"Várias têm sido as vozes autorizadas a contestar o que parece ser uma decisão casuística e precipitada", escreve o deputado socialista no seu requerimento, lembrando a existência do projecto, "da autoria dos arquitectos Carlos Guimarães e Luís Soares Carneiro", até hoje por aplicar, "que permitiria duplicar a área expositiva" quer do MNA quer do Museu de Marinha, que com ele partilha a ala ocidental dos Jerónimos.

A anunciada transferência do MNA para a Cordoaria tem vindo a ser fortemente contestada, quer por profissionais das áreas do património e da museologia quer por plataformas de cidadãos, em particular no tocante à controversa viabilidade técnica de uma adaptação do complexo, classificado como Monumento Nacional, às exigências actuais de instalação de um museu.»

20/02/2009

Os Jerónimos são pequenos para dois museus

In Público (20/2/2009)


A polémica tem mais de 50 anos. E está de volta. Nos Jerónimos existem dois museus:
o de Arqueologia, desde 1900, e o da Marinha, desde os anos 60. Fala-se agora na mudança do primeiro para a Cordoaria e do alargamento do segundo. A ideia é antiga - foi lançada pela primeira vez pelo almirante Américo Thomaz. Por Alexandra Prado Coelho

Nada parecia poder deter o guerreiro lusitano. Numa caricatura na primeira página da revista humorística Sempre Fixe, a estátua, uma das mais célebres peças da arqueologia portuguesa, garante: "Apesar do inchaço das pernas e da falta de pés, correrei a batalhar para que não me desalojem da Praça do Império."

Ao lado, uma múmia egípcia manifesta a sua perplexidade: "Por pouco não me mandavam outra vez para o Egipto." E, por cima, a estátua romana de Sileno a dormir, queixa-se: "Depois de 50 anos a dormir profundamente em Belém, acordam-me agora para ir estranhar a cama em Telheiras!"
A revista dirigida por Artur Portela ironizava assim com uma polémica que, na época - estamos a falar de Fevereiro de 1956 -, agitava a sociedade lisboeta: a anunciada transferência do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) dos Jerónimos, em Lisboa, para outro local, permitindo assim o alargamento do Museu da Marinha. Curiosamente, meio século depois a polémica está de volta. E com poucas diferenças.
No início do mês, o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, anunciou que o Museu de Arqueologia deverá deixar os Jerónimos e transferir-se para o edifício da antiga fábrica da Cordoaria, na Avenida da Índia. Na origem desta decisão está a necessidade de esvaziar as antigas Oficinas Gerais de Material do Exército, onde estão alguns serviços ligados à arqueologia, e onde será construído o novo Museu dos Coches. A Marinha cederia assim a Cordoaria e, em troca, receberia o espaço dos Jerónimos onde está o MNA.
A "luta" entre a Arqueologia e a Marinha pelos Jerónimos é muito antiga. Mas para a perceber é preciso recuar até ao final do século XIX, altura em que o então ministro das Obras Públicas, Bernardino Machado, contagiado pelo entusiasmo do arqueólogo José Leite de Vasconcelos, decidiu avançar para a criação daquilo a que inicialmente chamaram Museu Ethnographico Português, mais tarde Museu Etnológico, e por fim Museu Nacional de Arqueologia.
A fotobiografia de Leite de Vasconcelos, lançada no ano passado pelo MNA para assinalar os 150 anos do nascimento do seu fundador, conta a pequena epopeia que foi esse início do museu e a história deste homem de olhos tristes que percorria o país dirigindo escavações nesses tempos em que os arqueólogos usavam impecáveis fatos completos, com colete, relógio de bolso e chapéu de coco.
"Bem sei que nem a Archeologia nem a Ethnografia moderna restaurarão as finanças do país, se estas se perderem", escreve Leite de Vasconcelos em 1895. "Todavia, como o viver de um povo não é exclusivamente material, aquellas sciencias contribuem para que, pela investigação exacta e consciensiosa dos elementos da nossa nacionalidade, o sentimento desta se radique com solidez nas multidões."
Sem inveja
O museu inaugura-se em 1893 numa sala da Academia das Ciências, no Bairro Alto, mas em breve Leite de Vasconcelos recebe uma excelente notícia. Em 1900, o Governo entrega-lhe os espaços neomanuelinos do Mosteiro dos Jerónimos, anteriormente ocupados pela Casa Pia. "Felizmente consegui que o Governo me desse a mais linda casa a que podia aspirar para o museu! Não tenho inveja a nenhuns museus agora, porque estou magnificamente em Belém."
As peças foram transportadas - há, no livro, imagens das vitrinas ainda desarrumadas, e as peças espalhadas, antes da abertura ao público, em 1906. Numa folha, um funcionário meticuloso anotou, com letra perfeita e inclinada para a frente, a estatística dos visitantes: em 1913, por exemplo, o museu recebeu 6894 pessoas (hoje, um século mais tarde, tem uma média de 125 mil visitantes).
E a vida decorreu relativamente tranquila até meados dos anos 50, quando, conta Luís Raposo, actual director do MNA, surgiram "as primeiras tentativas da Marinha, através do respectivo ministro, almirante Américo Thomaz, para retirar o MNA dos Jerónimos". Uma das propostas, na altura, previa a construção de um museu de raiz para a arqueologia na Cidade Universitária (daí a referência do Sileno a "Telheiras"). "Era um projecto muito arrojado para a época, que representava uma ruptura muito grande com o espaço tradicional do museu, e por isso houve muita resistência."
Só no início dos anos 60, com Thomaz já Presidente da República, o Governo conseguiu finalmente instalar nos Jerónimos o Museu da Marinha, transferido do Alfeite. O MNA não saiu - garantindo um sono descansado ao Sileno -, mas perdeu a sua entrada, na extremidade poente do piso térreo (por onde, até hoje, se entra no Museu da Marinha). Começa então, segundo Luís Raposo, a falar-se, pela primeira vez, na hipótese da Cordoaria Nacional.
Ainda antes do 25 de Abril, em 72 e 73, volta a ser discutida a hipótese de construir um museu de raiz para a arqueologia. Mas nada muda. E, de repente, em 1976, no rescaldo do 25 de Novembro de 1975, surge um decreto do Conselho da Revolução que estabelece que todos os espaços dos Jerónimos não afectos ao culto devem ser entregues à Marinha. As pressões para o MNA deixar o convento continuam, conta Luís Raposo, e são então encomendados vários estudos e pareceres sobre a hipótese de uma mudança para a Cordoaria. Quase todos concluem que o edifício da antiga fábrica de cordas não é adequado para o museu, e que para se tornar necessitava de obras estruturais e profundas.
Todos querem a Torre Oca
O edifício da Cordoaria Nacional, onde durante séculos foram feitas as cordas para os navios portugueses, e depois também as velas e as bandeiras, foi, em 1996, considerado Monumento Nacional. Um estatuto que, afirma Jorge Custódio, presidente da assembleia geral da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, lhe dá "os mesmos direitos que, por exemplo, a Sé de Lisboa". Não pode, por isso, "ser olhado displicentemente".
Para Custódio, o ideal seria que a Cordoaria fosse usada como museu para a Marinha. Se isso não acontecer, "a Marinha estará a desperdiçar um lugar de relevo na sua própria história". E dá como exemplo a Corderie Royal, um edifício no qual a Cordoaria Nacional foi beber influências, e que a cidade francesa de Rochefort transformou num museu de sucesso.
Mas a vizinhança entre os dois museus não se fez sem diálogo e cedências. Em 1993, a Marinha dá a Torre Oca ao MNA, um espaço que o MM utilizara como armazém e que os responsáveis da arqueologia consideravam essencial para alargar as suas actividades. Trata-se de uma torre que restou da derrocada, no final do século XIX, de uma construção na parte central do mosteiro, e que nunca foi reconstruída.
Há poucas semanas voltou a falar-se da devolução da torre ao MM, que aí pretende colocar peças que teria que retirar da Cordoaria. A notícia indignou o Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia (GAMNA), que ameaçou com "resistência civil", se a torre fosse retirada ao museu.
Na última década, consolidou-se a ideia de que a melhor solução seria ampliar as instalações do MNA dentro dos Jerónimos e foi encomendado um projecto de arquitectura. Em 1999, o então ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, decidiu que essa era a via a seguir. A notícia saiu em todos os jornais.
Mas as obras nunca avançaram. Até que, no final de 2008, a velha ideia de mudar o museu para a Cordoaria volta em força. Desta vez, a necessidade de construir o novo Museu dos Coches está a criar uma pressão adicional. A opinião pública agita-se. Petições começam a circular na Internet. A história repete-se para os lados de Belém. E o sono de Sileno é perturbado mais uma vez.

Um edifício novo "podia ser mais barato"

Mudança do Museu de Arqueologia para a Cordoaria traz problemas, diz director


A construção de um edifício novo para o Museu Nacional de Arqueologia (MNA) "seria provavelmente mais barata do que a adaptação de um edifício com problemas tão complexos como é o da Cordoaria", afirma o director do MNA.
Não excluindo completamente a hipótese de uma mudança do Mosteiro dos Jerónimos para o edifício da Cordoaria - anunciada recentemente pelo ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro -, Luís Raposo considera, no entanto, fundamental a garantia de que "existam as condições de segurança, desafogo, qualidade arquitectónica e presença na cidade que são exigidas por um museu como o MNA".
Se isso não se verificar, e se não houver recursos para um edifício novo, "então mantém-se de pé a opção dos últimos 12 anos, que é a da ampliação das instalações nos Jerónimos", onde o museu está desde 1900. Existe, diz Raposo, um projecto dos arquitectos Carlos Guimarães e Luís Soares Carneiro, que "mostra que é possível conviverem dois museus", o da Marinha e o de Arqueologia, e que permitiria que este último "duplicasse a sua área expositiva". Nestes projectos e nos estudos de viabilidade foram já gastos "muitas centenas de milhares de euros".
Quando soube da decisão da mudança para a Cordoaria, Luís Raposo surpreendeu-se por ver renascer "uma velha ideia, que tem quase meio século". Foi, ao longo das últimas décadas, uma opção muito discutida, houve vários estudos, "e quase todos concluem liminarmente pela recusa". Há apenas "um ou outro que admitem essa hipótese, mas com custos muito elevados do ponto de vista financeiro e da própria descaracterização da Cordoaria".
O director do MNA mostra-se especialmente preocupado com "os riscos de sismicidade e inundação" na zona da Cordoaria. "Temos neste momento classificadas como tesouros nacionais perto de 800 peças", alerta. As colecções do museu não podem ser deslocadas para um sítio que não ofereça garantias de segurança. A antiga fábrica de cordas "é um edifício de telha vã, com pisos irregulares e infiltrações de sais marinhos pelas paredes". A mudança só seria possível "se se criassem condições de climatização adequada para colecções [do MNA], que incluem metais e materiais orgânicos".
Raposo interroga-se também sobre o impacto na zona da criação de um novo Museu dos Coches, e da eventual mudança do MNA. Se, por um lado, "podia ser um ganho ter uma mini-ilha de museus [Coches, Arqueologia e Electricidade]", por outro, "esse projecto poderia significar qualquer coisa como 400 a 500 mil pessoas por ano na zona". Neste momento, considera, "não existe infra-estrutura, ao nível do parqueamento e da circulação, que garanta que isso seja feito sem prejuízo para a cidade". O MNA é, a seguir aos Coches, o segundo museu mais visitado da rede nacional. Poderá isso ser posto em causa com uma mudança para a Cordoaria? "As questões não se medem em dezenas ou centenas de metros de desvio. Algés também não é muito longe dos Jerónimos, mas não tem o mesmo tipo de frequência", diz Raposo, sublinhando, no entanto, que "a localização não é tudo".
Se, mesmo assim, o Governo decidir avançar com uma mudança para a Cordoaria, Luís Raposo sublinha que isso só fará sentido se "se estiver a falar do quarteirão todo, e não apenas do edifício virado para a Avenida da Índia", e considera essencial que "o espaço passe a ser identificado como MNA". Mas, termina, "não se pense que isto é rápido, é uma coisa para demorar anos, e, sobretudo, não se pense que é barato". A.P.C.

17/02/2009

Petição 'Salvem os Museus Nacionais dos Coches e de Arqueologia e o Monumento da Cordoaria Nacional!'


Exmos. Senhores,
Presidente da República Portuguesa, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva
Presidente da Assembleia da Republica, Dr. Jaime Gama
Primeiro-Ministro, Eng. José Sócrates
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa


O Museu Nacional dos Coches sendo de génese monárquica foi com a República que adquiriu o carácter de organização museológica, transformando-se na instituição fundadora da museologia portuguesa, de carácter nacional e com projecção internacional.

O valor artístico do espaço (antigo Picadeiro Real), a raridade da sua colecção (considerada universalmente como a mais notável no seu género, com especial destaque para os três coches monumentais da Embaixada de D. João V ao Papa Clemente XI, construídos em Roma em 1716 e únicos no mundo, bem como o raro exemplar de coche de viagem de Filipe II, construído em Espanha – Século XVI- XVII – e um dos modelos de coche mais antigos de que há conhecimento), e o sistema desenvolvido de exposição desta última, correlacionando-a com imagens e pinturas de época, garantiram-lhe a reputação europeia sem precedentes na história dos museus portugueses e na própria evolução da museologia, através de uma orientação estratégica pioneira pautada por princípios europeus modernos, criando um ambiente de exigência e trabalho de que os próprios republicanos se orgulhavam.

O projecto entretanto surgido para a construção de um novo Museu dos Coches pretende esvaziar o actual edifício e transferir a colecção para um novo espaço a construir, onde se erguem agora as Oficinas Gerais de Material de Engenharia, que serão demolidas. Não pondo em causa a qualidade do projecto de arquitectura, estima-se, no entanto, que este projecto terá um custo actual estimado de 31,5 milhões de euros.

Considerando a actual magnitude internacional do Museu Nacional dos Coches, que é o museu mais visitado de Portugal, muito significativamente por estrangeiros a quem não será indiferente a dignidade e o ambiente do espaço actual de notável valor formal e de antiguidade. Note-se que não é por acaso que em São Petersburgo se optou recentemente pela colocação de um espólio similar no antigo picadeiro real;

Considerando que o actual edifício do Museu, por imperativos técnicos e artísticos (vide, pareceres técnicos de finais dos anos 90), está impossibilitado de acolher a Escola Portuguesa de Arte Equestre, temendo-se, portanto, caso avance o projecto de novo museu, a sua subutilização;

Considerando que o projecto do novo museu não afecta somente o Museu Nacional dos Coches, mas antes constitui um verdadeiro 'terramoto' de efeito ricochete na museologia nacional, pois implicará a obrigação de deslocar os serviços do antigo IPA (actual IGESPAR) da arqueologia subaquática, do depósito de arqueologia industrial, para a Cordoaria Nacional e, por esta via, uma eventual transferência do Museu Nacional de Arqueologia para a mesma Cordoaria, que é Monumento Nacional desde 1996 (DL 2/96, DR 56, de 06-03-1996);

Considerando que a lei obriga a que uma intervenção num Monumento Nacional, como é o caso da Cordoaria Nacional, se fundamente num projecto de conservação e restauro e permita a salvaguarda dos seus valores arquitectónicos e técnicos integrados, não permitindo que se faça uma mera adaptação como parece ser o caso, o que pré-figuraria uma atitude de vandalismo de Estado;

Considerando, portanto, que o projecto em curso se nos afigura completamente desnecessário e impede que as verbas respectivas sejam aplicadas em projectos culturais de verdadeiro interesse público urgente (ex. renovação dos outros museus nacionais sediados em Lisboa, recuperação dos MN em perigo de desclassificação pela UNESCO, qualificação da Cordoaria Nacional, como monumento técnico significativo da actividade marítima portuguesa, etc.);

Os abaixo-assinados requerem a Vossas Excelências uma intervenção rápida no sentido de travar o projecto em curso do novo museu dos coches, garantindo assim a manutenção, nos espaços actuais, do Museu Nacional dos Coches e do Museu Nacional de Arqueologia e a conservação da integridade física e técnica original da Cordoaria, enquanto monumento nacional de interesse internacional.

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Jorge Santos Silva, Fernando Jorge, Luís Marques da Silva e Renato Grazina


S.F.F, Assine e DIVULGUE:

Petição 'Salvem os Museus Nacionais dos Coches e de Arqueologia e o Monumento da Cordoaria Nacional!', em http://www.gopetition.com/petitions/salvem-o-museu-dos-coches.html