28/04/2005

Casa de Garrett: nota à imprensa e a quem de direito

Como autores da petição pela casa de Almeida Garrett, que juntou mais de 2.300 assinaturas e que foi entregue à CML, ao IPPAR e ao Instituto Camões, cumpre-nos comentar os últimos acontecimentos vindos a público e relativos a este assunto. Assim:

1. É triste constatar que 150 anos após a morte de Garrett e 150 anos depois das primeiras diligências de cidadãos a favor da preservação da casa onde ele viveu e morreu, e da sua transformação em casa-museu (ver DN de 20.04.05), as entidades que elegemos para nos governar e aquelas de quem depende a vida cultural do país continuem exactamente na mesma, passando o assunto de uns para os outros, refugiando-se em argumentos desresponsabilizadores e miserabilistas, rejeitando a tão proclamada aposta na recuperação de património

2. É lamentável que se continue a dizer que a casa de Almeida Garrett esteja em ruínas, o que é profundamente mentira, pois basta ir até lá para se verificar que os tectos do 1º andar existem e mantêm os estuques, a escadaria também, o que faz supôr que até mesmo o telhado esteja em estado razoável.

3. É revoltante que seja considerada letra morta pelo IPPAR e pela CML, a prorrogativa legal que obriga todo e qualquer proprietário a comunicar àqueles a intenção de vender um qualquer imóvel, concedendo-lhes o direito de preferência.

4. É lamentável que o proprietário afirme que desconhecia a polémica sobre a casa quando a comprou, uma vez que o que veio a público foi que a comprou muito depois da nossa petição ter sido lançada; lançada, aliás, no seguimento do desconforto que a notícia da sua demolição vinha causando, desde há meses.

5. Face ao jogo do "não me comprometa" e do impasse a nível político e institucional a que este assunto chegou, vimos propôr o seguinte:

a) Ao proprietário, que reafirme a sua honradez e aguarde 6 meses pelo resultado das próximas eleições e por um entendimento com o novo Presidente da CML.

b) Ao novo Presidente da CML, Prof. Manuel Maria Carrilho ou Prof.Carmona Rodrigues, que, após a sua eleição, apresente ao proprietário uma proposta de permuta para construção noutra zona da cidade, de preferência nas vizinhanças da Rua Saraiva de Carvalho, por forma a que aquele leve por diante o seu legítimo projecto de habitação.

O novo Presidente da CML deve recuperar o edifício seguindo as descrições dos próprios escritos do autor, e deve encetar negociações com os herdeiros do dramaturgo, bem como com os especialistas em Garrett, com vista a reunir-se o espólio necessário para a instalação de uma casa-museu-café-tertúlia.

Deve estabelecer um acordo com as edições Sá da Costa, apoiando, se necessário, reedições das obras de Garrett, com vista ao municiamento da casa-museu com obras em português, castelhano, inglês, francês e alemão.

Igualmente, deve desenvolver esforços para que o Instituto Camões assuma as suas responsabilidades enquanto pilar da cultura e línguas portuguesas, solicitando-lhe a melhor divulgação da casa-museu e ajuda indispensável ao próprio municiamento desta.

Propomos ainda ao próximo Presidente da CML que atribua a gestão da futura casa-museu ao Centro Nacional de Cultura, entidade de enorme prestígio e reconhecida competência para zelar pela nossa cultura e para gerir um espaço como o que se pretende para ali.

c) Aos media, a quem agradecemos toda a colaboração prestada, e a prestar, propomos que não se esqueçam de agendar a "casa de Garrett" como tema de debate para a próxima campanha autárquica entre os candidatos partidários a Lisboa.

6. Por último, e no caso de nem o Prof. Carrilho nem o Prof.Carmona Rodrigues quererem resolver este assunto, e/ou o proprietário se mostrar relutante em esperar 6 meses, teremos que pensar em alternativas enquanto cidadãos determinados, tal qual nos aconselha a Srª Ministra da Cultura, que poderão passar por:

a) Abertura de conta bancária, em nome do Centro Nacional de Cultura, que a gerirá a fim de se reunir uma verba capaz de produzir um entendimento com o proprietário.

b) Apêlo aos Institutos Britânico, Cervantes, Goethe, Franco-Português e Italiano de Cultura, e à Casa do Brasil de Lisboa, no sentido de eles próprios participarem na recolha de fundos e na divulgação deste caso, uma vez que os nossos organismos se recusam a actuar.

Quem sabe se haverá a possibilidade de estrangeiros comprarem a casa de Garrett, restaurando-a e devolverendo-a aos portugueses, tal qual o que Pacheco Pereira relata (no seu "Abrupto") ter acontecido com o atelier de Cézanne, em Aix-en-Provence?
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27/04/2005

Casa Garrett, ou "não me comprometas"?

Li hoje no jornal do Metro parte da nota do IPPAR em que se "recomenda à CML a classificação da casa de Garrett como imóvel de interesse municipal", que "a casa não deve ir abaixo", que "é representativa do espírito oitocentista" e que "é um espaço de memória", enfim, ipsis verbis aquilo que nós dizemos e escrevemos desde que iniciámos esta luta, em Outubro do ano passado.

Ao que se diz nos jornais, o IPPAR terá dito que informaria em primeiro lugar as partes envolvidas da decisão tomada, pelo que, como autores da petição aguardamos serenamente ... só que como ainda não recebemos nada de oficial, nem os jornais mais importantes fizeram qualquer nota oficial, ficamos com a ideia de que talvez pensem informar o próprio Garrett, imitando assim o actual presidente da CML que agradeceu o ano passado a Machado de Assis. Como dizia Pinheiro de Azevedo, "o povo é sereno". Aguardemos, portanto.

De qualquer modo, é evidente que, a confirmar-se o artigo do jornal do Metro, o IPPAR é fã incondicional de Jô Soares e daquela personagem que pedia a todos que não o comprometessem, pois não se compromete em nada. Parece andar a reboque das notícias, e, por outro lado, dá a impressão de estar a passar a batata quente (de novo) para a CML, que já lha houvera passado há cerca de 1 mês.

Ao fim de 150 anos de intentos em classificar a casa de Garrett. Ao fim de 12 anos de estar devoluta. Depois de se autorizarem demolições, o IPPAR cingir-se a "recomendar", é, custa-me muito dizê-lo, uma autêntica palhaçada.

E custa-me muito concluir isso porque tenho muito respeito pelo IPPAR, que acho ser uma instituição com técnicos e responsáveis de imenso gabarito e amor pelo património de Portugal. Que não tem nem os mecanismos legais nem os meios financeiros para fazer cumprir a lei, nem para recuperar o património que urge recuperar. Da CML espera-se tudo, mas eu nunca esperaria que o IPPAR se ficasse por uma "recomendação".

Credo, tratarem Garrett como se fora um empecilho... não entendo a lógica de quem nos governa (a todos os níveis...).

Ainda anteontem vi um documentário sobre a Letónia onde tudo estava estimado, os seus monumentos, as suas personagens históricas, todos a dizerem que tinham orgulho nisto e naquilo, esplanadas por todo o lado, percursos disto e daqueloutro; e aqui é isto?! E ainda dizem que o turismo é uma prioridade?

Deixou-se destruir o Algarve. A costa ocidental vai pelo mesmo caminho. Os bosques e as serra estão queimados. O património cai, salvo se for salvo por "hotéis de charme". Por favor, parem para pensar!

PF

26/04/2005

O meu pé esquerdo …

Começa mal a candidatura de Manuel Maria Carrilho à presidência da CML.

Os cartazes espalhados pela cidade podem ser entendidos pelo menos de duas formas distintas:

- O jornalista Luis Osório tem razão quando diz que MMC é "doentiamente vaidoso" (*) e isso explica que tenha necessidade de ver a sua imagem espalhada por toda a cidade (qual Figo ou Ronaldo anunciando refrigerantes ou instituições bancárias);
- MMC não foi tido nem achado nesta operação que é levada a cabo pelas forças de bloqueio do PS à candidatura de MMC com o objectivo de desacreditar a sua candidatura dando sinal que, caso mude o partido de governo de Lisboa, não mudará nem o estilo nem a política.

Seja a primeira, a segunda, ou outra razão, o que fica bem notório é que, contra si mesmo ou contra o seu partido, MMC tem ainda um longo percurso das pedras até ser eleito presidente da CML. Para além de iniciar a candidatura com o pé esquerdo, o PS resolve dar um tiro no próprio pé, afixando cartazes do partido no mesmo momento em que ainda se discutia a possibilidade de coligação com o PCP…
PP

P.S. É um bom exercício parar num semáforo e ver a reacção de desalento das pessoas quando olham para os "outdoors" em questão. Há quem esperasse mais e melhor da sua candidatura, MMC!

(*) Editorial do jornal "A Capital", de 17 de Março de 2005.

Lisboa e o Street Racing de Palitó…

Na noite de Sexta-feira passada, a Avenida da Liberdade foi fechada ao trânsito para algumas dezenas de automóveis antigos desfilarem a velocidades estonteantes e em grandes acrobacias sem que houvesse a preocupação de segurança dos participantes ou dos espectadores.

Tenho a noção (é uma evidência estatística) que, mais ano menos ano, esta brincadeira de street racing de gente fina irá acabar de forma trágica.

Segundo a força de segurança pública presente no local, que confirmou a escandalosa falta de segurança de todos os intervenientes, é o Governo-Civil de Lisboa a entidade que autoriza tal demonstração de estupidez e habilidade.

Há duas soluções para isto:
- ou se trata de um desfile de automóveis antigos e de uma prova em que os organizadores e os participantes são pessoas civilizadas, e faz todo o sentido que utilizem a Avenida da Liberdade para mostrar os bólides;
- ou os proprietários das máquinas querem descarregar a testerona no asfalto e então devem fazê-lo em percursos onde esteja garantida a segurança dos participantes e dos espectadores (e.g. Autódromo do Estoril).

Não deve ser o Governo-Civil a autorizar e a CML a patrocinar uma situação que atenta contra a segurança e dignidade dos munícipes de Lisboa.
PP

22/04/2005

Mais "Palácios Alagoas", NÃO!

O Palácio Alagoas, sito na Rua da Escola Politécnica, nº 161-195, defronte ao Palácio Palmela (sede da Procuradoria Geral da República), data(va) da segunda metade do séc.XVIII, e esteve a cair aos bocados durante quase 15 anos. Já ao tempo de "Lisboa' 94", e do polémico projecto "Sétima Colina", a Vereação da altura não conseguiu obrigar o proprietário a fazer as obras exigíveis por lei. A única coisa que conseguiu foi pintar de rosa-escuro a fachadas da pequena capela, enquanto o telhado, as traseiras e os interiores do prédio se arruinavam paulatinamente. O único piso utilizado na altura era o rés-do-chão, que albergava uma conhecida leiloeira. Tudo o mais era abandono. Já com esta Vereação, e dando seguimento à máxima "1 carro-1 voto", converteu-se parte do jardim e logradouro em parque de estacionamento. Escorou-se a fachada, mas nunca se chegou a saber se as obras que por lá andavam fizeram acelerar o inevitável, lento e continuado ... desmoronamento de tudo o resto até à demolição repentina, dado o perigo de derrocada para a via pública.

Hoje, decorrem obras para a construção de um empreendimento da Sociedade Imobiliária Palácio Alagoas, do atelier do Arq. Luciano Cordeiro, sugestivamente apelidado de "Palácio Alagoas" (projecto nº 1602/OB/02), e destinado a habitação, escritórios e lojas. A fotografia simulada no telão do andaime é altamente sugestiva, com fonte e bastantes árvores no antigo pátio, e apresentando os prédios todos recuperados, seguindo a traça original. Oxalá a realidade não seja bem diferente...

É ISTO QUE NÃO PODEMOS PERMITIR QUE ACONTEÇA AOS PALACETES DO PRÍNCIPE REAL!!

Para efeitos de memória, aqui fica a descrição da DGEMN acerca do ex-Palácio Alagoas (*):

"De planta em L, composto pela justaposição de corpos rectangulares de modo irregular, parcialmente em redor de pátio de planta rectangular, de marcada implantação horizontal, apresenta volumetria paralelepipédica, sendo a cobertura efectuada por telhados a 3 águas, perfurados por janelas trapeiras. De 5 pisos (um deles correspondente a cave - apenas existente no corpo extremo SE. - e outro, ao nível da cobertura), o imóvel tem piso térreo separado por friso de cantaria e embasamento no mesmo material e, restante superfície murária em reboco pintado, animada pela abertura de vãos de verga recta com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a NE. com frente extensa e inflectida, composto por 4 corpos separados por pilastras de cantaria, 3 deles com organização similar: apresentam piso térreo rasgado, por portais (...) e janelas de peito, sendo os conjuntos encimados, ao nível do andar nobre, por janelas de sacada com bandeira rectangular individualmente servidas por varandins de base coincidente com friso de cantaria e guarda em ferro forjado. 2º piso assinalado pela abertura de janelas de peito quadradas, inferiormente animadas por gotas. O corpo extremo NO., correspondente ao alçado principal de capela particular, contígua ao edifício, apresenta-se axialmente rasgado, por eixo definido pela sucessão de portal de verga recta destacada superiormente articulada com avental em cantaria de janelão iluminante, de verga curva destacada, que o encima, por sua vez articulado com óculo. O edifício é superiormente rematado por cornija sobrepujada por beiral. INTERIOR: compartimentado em função dos corpos identificados (*1), destacam-se como principais acessos, os dos 2 corpos a SE., um deles articulado com túnel de passagem, directamente conducente a pátio, contíguo a parte do alçado posterior. No corpo extremo SE., o único com cave (com cobertura em abobadilha de tijolo), escadaria de lanços rectos opostos em cantaria com patamares intermédios - com muros de topo vazados por janelas precedidas de conversadeiras. Pisos dominados por corredores longitudinais (*2) pelos quais se acede à compartimentação interna, disposta ao longos dos alçados principal e posterior, com emolduramentos dos vãos em madeira e, de um modo geral, directamente comunicante entre si. No n.º 183, um arco dá acesso aos jardins e quinta anexa, onde existiu até cerca de 1850, a afamada «Floresta Egípcia»"

(*) A propósito de DGEMN, é engraçado ver o quão surreal é o seu "site", ao depararmo-nos com vários casos de edifícios virtuais, que já foram demolidos, como é o caso do Cinema Alvalade, R.I.P.

PF

20/04/2005

Casa Garrett: Se eu fosse o próximo Presidente da CML

Apresentaria de imediato uma proposta de permuta ao proprietário da casa onde Garrett morreu, de preferência envolvendo um prédio municipal nas vizinhanças da Rua Saraiva de Carvalho, para a execução do seu projecto de habitação.

Comprometer-me-ia a recuperar o edifício, seguindo as descrições nos próprios escritos do autor, e negociaria com os herdeiros do dramaturgo, bem como com os especialistas em Garrett espalhados por esse país, com vista a reunir o espólio necessário para a instalação de uma casa-museu-café-tertúlia naquele espaço ... indo ao ponto de apresentar uma ementa de serviço de cafetaria, a partir de estudos sobre as iguarias referenciadas pelo autor (ver edições Colares).

Estabeleceria um acordo com as edições Sá da Costa (editora de algumas das melhores edições de Garrett), apoiando, se necessário, reedições, com vista ao municiamento da casa-museu com obras de Garrett em português, castelhano, inglês, francês e alemão. Envolveria o Instituto Camões na divulgação da casa-museu, e também no municiamento da própria casa-museu.

Atribuiria a gestão do espaço ao Centro Nacional de Cultura.

Paulo Ferrero

Casa Garrett: propostas de classificação desde há décadas

Um belíssimo artigo, o da jornalista Maria João Pinto, na edição do "Diário de Notícias" de hoje, aqui. Trata das variadíssimas tentativas, propostas e adiamentos em classificar e abrir uma casa-museu de Garrett, desde que ele morreu. O que prova que não somos só nós a pensar o mesmo. Ainda bem.

Infelizmente para Lisboa, o assunto tem andado de vereação em vereação ... até hoje, que poderá ser amanhã, dia 21 de Abril, se o Conselho Consultivo do IPPAR disser sim à classificação e preservação da casa do autor de "Viagens da Minha Terra".

PF

19/04/2005

A Calçada Portuguesa deve ser acarinhada!

A CALÇADA PORTUGUESA - única no mundo – TEM QUE SER CONDIGNAMENTE TRATADA E PRESERVADA COMO VERDADEIRO PATRIMÓNIO NACIONAL

Alguma acção séria tem que ser tomada para que a calçada portuguesa não seja diariamente destruída por viaturas ligeiras, jipes e até veículos pesados.

(Existirá um estudo sobre espécies de árvores cujas raízes danifiquem menos a calçada?

E ainda sobre um possível tratamento anti-derrapante, a aplicar em zonas de grande desgaste e forte inclinação ?

Não seria vantajoso formar mais calceteiros, dando empregos sociais até a beneficiários do rendimento mínimo que assim contribuiriam não só para a sociedade mas também (como acontece em Espanha) para poderem descontar para as suas reformas evitando assim sobrecarregar as próximas gerações ?

Não seria desejável que as tarefas de preservação da calçada fossem entregues às Juntas de Freguesia, que assim acompanhariam as situações com maior proximidade ?

Alguém fiscaliza (a sério) as obras feitas pelas EDP, PT, etc. e, sobretudo, que não seja “deixada” a assinaturazinha no fim da obra – 6 ou 7 pedrinhas atiradas para um canto já de si imundo?

Pergunta: Se quem decide nesta matéria fosse cego, tomaria as mesmas decisões ? (igualmente aplicável a sinalização vertical e outros obstáculos existentes nos passeios).


Odete Pinto

Agora Dacá(r) um e a seguir dá outro …

Já neste blogue foi mencionada a grande apetência para a Festarola, Festa Rija ou Festa Brava deste e doutros executivos que passam pela CML.

Depois do Euro2004 ter custado 350 milhões de euros de prejuízo aos contribuintes portugueses e tendo sido a CML uma das Câmaras que mais gastou, com a construção de dois novos estádios para os dois maiores clubes e na distribuição de um conjunto de benesses para os outros mais pequenos, está no momento de mais uma grande “realização”.

O Paris-Dakar, que será, em 2006, Lisboa-Dacár.

Este fim de semana, ficámos a saber pelo responsável da organização que esta prova custará 5 milhões de euros e que terá apoios públicos para se realizar.

A Igreja de Stº António em Campolide está a ruir, a União Zoófila a falir, o património como a casa de Garrett a cair, mas mais uma vez, nesta CML, parece haver dinheiro para tudo e mais um par de botas, menos para aquilo que interessa aos lisboetas.

Pedro Policarpo

18/04/2005

Conhece o Teatro Tália?


Aposto que o Teatro Tália é desconhecido para 90% dos alfacinhas. No entanto, o Teatro Tália daria um excelente destino de fim-de-semana para 90% dos lisboetas, mormente dos que gostam de teatro, do revivalismo novecentista, mas também de ar puro e de longos passeios, já que ele faz parte do Palácio e Jardins do Conde de Farrobo, onde se insere, aliás o próprio Jardim Zoológico.

Sabia que foi ali que se estreou a peça de Garrett, "Frei Luís de Sousa"?

E que ali subiram a cena 18 óperas entre 1834 e 1853? Óperas dos mais afamados compositores, tais como os maestros Jordani, António de Coppola e Ângelo Frondoni, que vieram para Lisboa quando Farrobo era empresário do Teatro S. Carlos. Do último, que foi professor no Conservatório, chegou até nós o hino da «Maria da Fonte», que várias contrariedades lhe causou.

O hoje arruinado Teatro de Tália data de 1820 e a sua sala dispunha de cerca de 560 lugares, possuía luxuosos camarins e um opulento salão de baile, de paredes revestidas com valiosos espelhos de Veneza, onde se reflectiam as luzes de numerosos e ricos lustres, que produziam efeitos deslumbrantes.

A sua fachada apresenta um elegante e espaçoso peristilo sustentado por quatro colunas de mármore branco, de ordem toscana. Prolongam-se os plintos por quatro pedestais, que avançam do peristilo e sobre os quais descansam outras tantas esfinges neo-egípcias, figuras fabulosas com rostos e bustos de mulheres e corpos de leões, deitados e apoiados sobre as patas. À frente, e em plano inferior, um estreito canteiro corre a toda a largura do perístilo, para o qual, à direita, quatro degraus dão acesso, enquanto a esquerda se nivela com o pátio. Remata o frontão triangular de tímpano liso, a estátua de Érato, musa que preside à poesia lírica, esbelta e bem modelada, lira segura na mão esquerda e apoiada na coxa do mesmo lado. Sobre os acrotérios situam-se duas urnas delicadamente esculpidas. Sob o tímpano ostentou em tempos a frase latina: «Hic mores hominum castigantur» («Aqui serão castigados os costumes dos homens»); expressão alusiva ao teatro satírico, de que já não apresenta qualquer vestígio.

A 9 de Setembro de 1862, um incêndio casual, motivado por descuido de uns operários, consumiu totalmente este pequeno templo de arte. A sua reconstrução já não se fez, pois a fortuna do conde de Farrobo começava a dissipar-se.

Sabia que o Teatro Tália é classificado Imóvel de Interesse Público desde 1974?

A sua história recente resume-se em poucas palavras: o Teatro Tália foi objecto de cedência, há uma vintena de anos e a título precário, do referido conjunto arquitectónico à Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros, entidade que já utilizava o edifício do Palácio para instalação dos seus serviços.

No respectivo auto de cessão foi determinado que a recuperação do Teatro Tália, que já então se encontrava em adiantado estado de degradação, seria da responsabilidade da entidade afectatária.

Hoje, o Palácio serve de sede ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Mas o Teatro Tália continua como até aqui, ao abandono.

Pois bem, neste novo séc.XXI, julgamos que é tempo de se recuperar o Teatro Tália.

É tempo do Estado dar o exemplo e cuidar do seu património.

E pode começar por cumprir aquilo que se comprometeu faze, aquando da concessão à Presidência do Conselho de Ministros, que foi: utilizado pelos serviços dependentes da como auditório polivalente, designadamente para actividades como teatro, exposições, conferências e formação profissional. Sempre que possível seria permitida a utilização daquele espaço por outras entidades.

Ao mesmo tempo, o Teatro Tália poderia potenciar sinergias com o Zoo, aos fins-de-semana, podendo albergar teatro infantil e teatro de marionetas (à semelhança do que existe em Salzburgo, por exemplo), mas também poderia acolher sessões didácticas, pedagógicas, destinadas a todos, de miúdos a graúdos. Isto se Lisboa fosse uma capital desenvolvida, cosmopolita, claro, tudo menos provinciana.

Nesse sentido, apelámos ao Governo, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Primeiro Ministro, e na do Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para que finalmente se avance com a reabilitação do Teatro Tália, fazendo cumprimir uma promessa de há 20 anos.

Entretanto, veja as fotos do Teatro Tália, em talia.html, fotos recolhidas nos "sites" da DGEMN e do MCTES.
PF

14/04/2005

Baixa Pombalina, Sociedade de Reabilitação Urbana#2

Ainda menos se compreende este tipo de burocracias quando se deve tirar o chapéu a esta Vereação por ter tirado do baú do esquecimento (voluntário? incompetente?) os 9,5 milhões de Cts. remanescentes do fundo de recuperação do Chiado, que dariam origem ao "Fundo Remanescente de Reconstrução do Chiado", que haveria de permitir, permite e permitirá a reabilitação de muitos edifícios e locais do Chiado. Reabilitações que se aplaudem, embora por vezes sejam mais de fachada do que outra coisa.

PF

Baixa Pombalina, Sociedade de Reabilitação Urbana #1

Se há coisa que tem vindo a melhorar na gestão da CML tem sido o circuito burocrático, sobretudo o de interacção com o público. Mas ele há coisas incompreensíveis, como esta.

Não faz sentido em ano de eleições, passados quase 4 anos da tomada de posse, criar-se, desenvolver-se mais um gabinete de gabinetes, no caso uma "Sociedade de Reabilitação Urbana para a Baixa Pombalina" (cujos limites, ainda por cima, são, no mínimo, discutíveis). E ainda mais surpreendido se fica quando se toma conhecimento do seu "Programa de Acções para 2005", ou seja:

"A realização dos Documentos Estratégicos preencherá o ano de 2005 na sua quase totalidade, e será levada a cabo em estreita colaboração com as restantes estruturas municipais ou paramunicipais que têm desenvolvido actividade na zona da Baixa e do Chiado, nomeadamente a Unidade de Projecto da Baixa Chiado, e, sempre que possível, com o apoio do Fundo Remanescente para a Reconstrução do Chiado. Ainda no ano de 2005 serão concluídos os projectos técnicos e iniciadas as empreitadas relativas aos edifícios propriedade da SRU, integrados no seu património pela realização do Capital Social do accionista EPUL. Os Documentos Estratégicos:

* São a ferramenta essencial do trabalho da Baixa Pombalina SRU.
* Serão desenvolvidos ao longo do ano de 2005 e reunirão um diagnóstico exaustivo do edificado e do espaço público, na sua caracterização actual, bem como uma avaliação dos tecidos económico e social vigente.
* Propõem modelos e processos de intervenção de reabilitação dos espaços urbanos e de revitalização das actividades
"

Trata-se de uma resma de blá-blá-blá, assente em estudos sobre estudos e mais estudos, em "powerpoint" e "excel" de pechisbeque, que darão uma resma ainda maior de papel, seminários e acções de divulgação, exposições e outras manifestações de júbilo sobre o blá-blá-blá coligido, concluído e ... a meter na gaveta.

Em pleno ano 2005 ainda andam a fazer levantamentos sobre o edificado da Baixa? E há dinheiro para isso?
PF

Casa Garrett, manter-se a fachada? LOL

A CML insiste que não vale a pena. Comentário: com autarcas assim é que realmente não vale a pena.

A CML declara que não há espólio de Garret. Constatação: é triste que nem tente recolhê-lo, nem tente contactar os herdeiros. Pergunta indiscreta: quando Santana Lopes desaparecer de vez, vai haver espólio para uma casa-museu dedicada ao ex-edil?

O proprietário diz que vai aguardar pelo parecer do IPPAR, mesmo que a lei o "proteja", caso avance com a demolição mesmo antes do parecer. É grave esta afirmação, mas é de ministro, culto ainda por cima.

E diz ainda que condescenderia, no caso do IPPAR classificar a fachada, manter a fachada, como contrapartida a negociar. Pelo que se agradece o interesse do proprietário em manter a fachada. Bem-haja!

Comentário:

Pessoalmente, sou completamente contra a preservação de qualquer fachada. Acho uma tremenda falta de coragem manter-se a fachada seja do que for, e demolir o que está por detrás dela.

Manter-se a fachada é uma atitude tipicamente portuguesa, mesquinha e miserável. É o meio-termo, é o "deixa lá, não faz mal, ainda tens a fachada", é a mais fácil, não dá trabalho nem colide com interesses. É a apologia do "nim".

Com essa atitude todos saem bem, menos o património.

Haja coragem por uma vez, meus senhores: ou bem que se preserva a casa de Almeida Garrett, ou não. E assumam todos as consequências de uma das duas atitudes.

S.F.F., mais manutenções de fachada como as do Edifício Heron-Castilho ou do Cinema Éden, NÃO.

PF

13/04/2005

Como Cesário Verde tinha razão...

Um assunto que me ocupa há uns tempos e que será necessário que os cidadãos tomem conhecimento:

Cesário Verde exaltava poeticamente os sentimentos que Liboa lhe causava.

"Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
"

Esse desejo de sofrer pode ser agora realizado sem dificuldade.

Junto à Torre de Belém, quando nos silos da Trafaria se descarregam cereais sente-se uma pressão, opressão, anormal no ar. Um incómodo de que só daríamos fácilmente conta pelo alívio causado pela sua sua paragem. Isto porque não o reconhecemos, não é interpretado como um ruído, é qualquer coisa a que não estamos habituados.

Estas descargas ocorrem entre as 9 e as 23h nos dias úteis quando algum navio se encontra a descarregar no terminal portuário da Trafaria.

Sintam a pressão do ar e um rumor sem origem definida, verfiquem se lá está algum navio. Este fenómeno é causado pelo processo de aspiração da carga utilizado. Imaginem como será na Vila da Trafaria.

A exposição prolongada a este fenómeno tem comprovadaente efeitos cumulativos e irreversívieis na saúde humana.

Fernando Oliveira

Casa Garrett: CML devia ter vergonha

As declarações dos responsáveis da CML, da Reabilitação Urbana (ou será Demolição?) e da Cultura (ou será Incultura?), em sessão de AM, citadas nas edições de hoje dos jornais "A Capital" e "Público", são lamentáveis a todos os níveis, ficam com quem as produz, e reflectem bem o "espírito de missão" com que os nossos eleitos encaram os cargos e os mandatos para os quais os elegemos.

A estratégia é sempre a mesma: passar a batata quente para o parceiro do lado, de preferência para o antecessor.
A desculpa é sempre a mesma: já não há nada a fazer, e é preciso muito dinheiro.

Apesar das declarações de Santana Lopes, ontem à tarde, na Antena 1, em sentido contrário ou, pelo menos, em jeito de "sim mas também".

Mas há aqui uma profunda mentira, que urge corrigir:

A CASA DE ALMEIDA GARRETT NÃO ESTÁ TOTALMENTE ARRUINADA, COMO SE COMPROVA FACILMENTE NO LOCAL.

POR ISSO, CONVÉM ESTAR ATENTO A HIPOTÉTICAS DEMOLIÇÕES ESPONTÂNEAS, NOCTÍVAGAS OU QUEJANDAS.


Talvez fosse boa ideia mudar radicalmente o estatuto de autarca, de cima a baixo. A bem da Nação.

PF

12/04/2005

Obrigado à Assembleia da República

O nosso obrigado às vozes que no Parlamento têm vindo a defender o mesmo que nós, isto é; a preservação da casa de Garrett.

Desejamos que esse sentimento seja partilhado por todo o espectro político da A.R.

Lamentamos que só agora se tenham feito ouvir, depois dos cidadãos o terem feito, de forma espontânea e completamente apartidária; e depois de se saber que o actual proprietário é um ministro.


Paulo Ferrero

08/04/2005

Sociedade Portuguesa de Autores apela à ministra para não deixar avançar a demolição

Mais uma voz que se junta à nossa. Mais uma voz que se levanta pela preservação da casa de Garrett. Desta vez é a da Sociedade Portuguesa de Autores. A notícia, aqui.
PF

06/04/2005

Que diria Garrett de tudo isto?

Interessante, o artigo de opinião de Eduardo Prado Coelho, intitulado "O Coleccionador" e publicado na edição do "Público. Dedicado ao Sr.Ministro da Economia, é mais uma acha para a fogueira em que se está a tornar a reabilitação/demolição da casa onde viveu e morreu Garrett. Oportunamente comovente ou subliminarmente reprovador? Eis a questão.

Artigo que hoje mesmo tem uma réplica, interessantíssima, de Mafalda Magalhães de Barros, Directora Municipal da Conservação e Reabilitação Urbana da CML, no mesmo jornal, e que passo a transcrever (*):

"Como responsável pela referida Direcção de Serviços tenho a esclarecer o seguinte:

Há cerca de 1 ano esta Direcção decidiu avançar com vistorias aos prédios mais degradados (...), entre eles o prédio onde viveu e morreu Garrett. visando ordenar obras compulsivas. Tal iniciativa decorreu não apenas da relevância que se reconhece à casa onde faleceu um dos maiores vultos da cultura portuguesa oitocentista, mas ainda da valorização do conjunto arquitectónico onde a mesma se insere. Acontece que o processo conducente à efectuação das referidas obras foi suspenso porque o proprietário do imóvel apresentara um projecto de demolição e nova construção, que constava com o aval do Ippar. Nesses termos a CML só podia suspender o projecto se tivesse condições financeiras para viabilizar a criação de uma instituição cultural aí sedeada, o que não se verificou. Desta forma, penso, fica demonstrado que esta direcção de serviços fez o que estava ao seu alcance para evitar a demolição da casa de Almeida Garrett. Se a mesma se chegar a verificar, outras responsabilidades deverão ser impudradas certamente a organismos da administração central. Mas também ao cultivado proprietário, coleccionador e ministro, cujos pergaminhos na matéria foram, por coincidência, tão comovidamente exultado por Eduardo Prado Coelho (...) A preservação do património cultural é tarefa de todos
."

Que diria Almeida Garrett de tudo isto?
PF

(*) A partir de dia 1 de Abril é impossível fazer link para os artigos do "Público".

01/04/2005

E C.M.L. pede a Silva Melo que a processe

Como era de esperar, a Vereação da Cultura da C.M.L. ripostou ontem, publicamente, às declarações de Silva Melo, que aqui já comentámos. Este estado de coisas não deixa de ser curioso, face ao namoro que existiu nos últimos 4 anos entre um lado e o outro desta questão do Centro de Artes do antigo edifício de A Capital. Mas, se tivermos em linha de conta o que tem sido a política cultural da C.M.L. ao longo, não destes últimos 4 anos, mas ao longo de décadas, é altura de dizer que o pelouro da Cultura devia ser extinto.

A Cultura não se faz de exposições sobre cultura, nem de palavras de circunstância em sessões públicas, nem de proliferação de assessores, nem de má gestão dos espaços culturais, nem do "lavar de mãos" em casos como os do Convento dos Inglesinhos, os cinemas Paris ou Odéon, a casa de Garrett, etc., etc.. O dinheiro não serve de desculpa, havendo dinheiro para tudo menos para a Cultura.

Dois exemplos caricatos:

1. Em plenas celebrações sobre Bordalo Pinheiro, o que temos é uma casa-museu fechada, envergonhada sobre si própria, diminuta face à importância de Bordalo, e que está e continuará em obras de "Santa Engrácia"; em relação à qual a C.M.L. promete resolver tudo brevemente ... em ano de eleições.

2. Há cerca de 3 anos envolvi-me pessoalmente num projecto de viabilização do Cinena Odéon (o Projecto Novo Odéon), belíssima sala de cinema, que está à venda e a cair há demasiado tempo, e que urge recuperar para o convívio dos lisboetas, já que a maior parte deles ignora o quão bela ela é.

O projecto pressupunha uma parceria com a CML, que juntasse meios financeiros para a compra e recuperação do espaço. Pois bem, da Vereação da Cultura nunca tivemos qualquer resposta oficial, apesar de o mesmo ter sido entregue formalmente. O mais que conseguimos foi um contacto informal com 1 assessora da Srª Vereadora, que visitou o cinema connosco, e com 1 assessor do Sr.Presidente, que me garantiu ir propôr à Presidência a compra do cinema. Tempos mais tarde fiquei a saber que ambos se haviam desvinculado da CML. Para cúmulo, tive inclusive a informação que os serviços da CML chegaram a perder o meu projecto. Provavelmente, em ano de eleições, lá voltarão a falar no velhinho Odéon.
PF

Casa de Garrett/Nota de Imprensa

No seguimento das notícias vindas hoje a público dando conta de parecer negativo da CML/Vereadora da Cultura sobre a casa de Almeida Garrett, cumpre-nos, como autores da petição sobre a mesma, considerar o seguinte:

1. É extraordinário que a CML/Cultura ache que Garrett não merece ter uma casa-museu, e que Lisboa e os lisboetas não merecem ter uma casa-museu de Garrett.
2. É extraordinário que a CML reconheça implicitamente que não consegue reunir um espólio que permita abrir uma casa-museu.
3. É extraordinário que a CML, tendo um departamento de Reabilitação Urbana, mais uma vez opte pela "Demoliçao Urbana" de um edifício bonito, que há muito devia ter sido classificado, e que está inserido numa rua de que importa manter a traça.
4. É extraordinário que no parecer da CML/Cultura surja como argumento o facto de já existir, a apenas algumas centenas de metros da casa de Garrett, uma casa-museu, a de Fernando Pessoa.
5. E é extraordinário que no parecer da CML/Cultura surjam como argumento os supostos encargos financeiros de uma operação de compra, restauro e viabilização do espaço, para o que seria suficiente o ordenado anual de alguns assessores da CML, por exemplo.

Face a tudo isto, e ao facto de em Madrid, a apenas 600 km de Lisboa, Lope de Vega (que, para quem não souber, está para o teatro em Espanha, como Garrett está para o nosso), existir uma casa-museu de visita obrigatória, é caso para perguntar se os Conjurados de 1640 voltariam a reunir, se soubessem o que viria a ser Portugal, passados pouco mais de 360 anos.
PF