16/03/2020

Ainda a Tapada das Necessidades


Ao Paulo Ferrero, uma daquelas pessoas a quem a cidade de Lisboa muito deve, pela sua ação constante ao longo dos anos, em defesa da evolução equilibrada de uma cidade constantemente agredida e violentada, na qual se encontra a centenária Tapada das Necessidades, aqui expressamos os nossos agradecimentos.

A Tapada das Necessidades é o reflexo do que se passa em Lisboa no que diz respeito ao tratamento dos seus bens Culturais e Naturais; a falta de interesse por parte da CML pelo que representam, e a sua entrega a terceiros, para rentabilização económica, desvirtuando o património em causa, muitas vezes de forma irremediável.

O conjunto ou Obra das Necessidades, para além da Cerca conventual ou Tapada propriamente dita, é constituído também pelo Palácio, Convento, Capela e Obelisco, todos classificados como Monumento de Interesse Público desde 1983. Também, em 2011, toda a vegetação da Tapada foi classificada pela Autoridade Florestal Nacional. Convenhamos, contudo, que todo o Conjunto, pela sua grandiosidade deveria estar classificado como Monumento de Interesse Nacional.

Resguardado durante a monarquia, com a implantação da República, em 1910, todo o conjunto começou a ser saqueado, sendo repartido por várias entidades:

O Ministério dos Negócios Estrangeiros, a partir de 1916 tomou conta do Convento e do Palácio, com a fragmentação da valiosa biblioteca (uma parte para o Palácio da Ajuda) e das obras de arte, muitas delas transitadas para o Museu de Arte Antiga. Acontece também que aqueles monumentos não podem ser visitados pela população, sendo o palácio, o único palácio real que não está aberto ao público;

O Ministério da Defesa Nacional, instalou-se na tapada. Com a construção do Instituto de Defesa Nacional, em 1974, tendo para tal destruído o Picadeiro Real aí existente. Também em 2003, o IPPAR autorizou a construção do Parque de Estacionamento daquele instituto em terrenos da Tapada das Necessidades e sobre o aqueduto das Águas Livres, Monumento Nacional;

Em 2005, a “Casa do Regalo”, antigo atelier de pintura da rainha Dona Amélia, foi afetada pelo Estado português à Secretaria-Geral da Presidência da República para nela se instalar o gabinete do ex-presidente da República dr. Jorge Sampaio, do qual resultou a construção em anexo do arquivo, um bloco de cimento que descaraterizou a beleza da Casa do Regalo, tendo contribuído para este atentado aquela secretaria de estado não estar sujeita ao parecer do IPPAR;

A partir de 1939, a Tapada recebeu vários departamentos do Ministério da Agricultura, sendo o último a Estação Florestal Nacional, desde 1979 até 2002, altura em que aquele organismo deslocou as suas instalações para Oeiras, tendo deixado na Tapada, barracões e toda uma série de edifícios que hoje servem de abrigo a delinquentes. Entretanto, quando em 2008, o Ministério da Agricultura assinou com a Câmara Municipal de Lisboa o protocolo de cedência sobre a “Gestão, Reabilitação, Manutenção e Utilização da Tapada das Necessidades”, pensou-se que o futuro da Tapada estava assegurado, com a CML a assumir as suas responsabilidades por inteiro sobre aquele espaço.

Porém tal não aconteceu, continuando as medidas avulsas sobre o património tomadas pela CML e a sua vontade de entregar a terceiros a exploração comercial de um espaço que é de todos nós.

Face ao estado de degradação visível na Tapada das Necessidades e procurando colaborar ativamente na sua recuperação, tendo sempre em conta que esta deve manter as características românticas que presidiram à sua criação e permanecem até hoje, em 10 de Abril de 2007 foi constituído O GRUPO DOS AMIGOS DA TAPADA DAS NECESSIDADES (GATN), aberto a todos os que sintam necessidade de proteger e divulgar a Tapada das Necessidades.

Inicialmente apoiado pela Junta de Freguesia dos Prazeres, este grupo desenvolveu durante anos meritória atividade que foi esmorecendo devido ao envelhecimento dos seus membros, e à falta de adesão de jovens, também a falta de apoio das entidades políticas que de uma maneira geral não vêm com bons olhos as atividades das organizações da sociedade civil, mesmo que seja para a defesa de bens comuns, levou a que o GATN entrasse num estado de estagnação.

Gostaríamos de poder dar uma nova vida ao Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades pois consideramos que ainda é tempo de salvar aquela joia ameaçada da cidade de Lisboa, assim dirigimos-nos aos lisboetas que certamente amam a sua cidade para que façam reviver o GATN, pois estamos certos que todos somos amigos da Tapada das Necessidades.

João Pinto Soares

1 comentário:

Anónimo disse...

👏👏👏