06/06/2005

Não, Prof. Carmona, os moradores já pagam o seu estacionamento

Confesso que não ouvi a totalidade da entrevista do Prof. Carmona Rodrigues, de ontem à noite, à SIC-N. Mas se foi como os 2 minutos finais, estamos conversados. Porquê? Porque nesses minutinhos finais, o candidato à CML e vice-presidente desde há 4 anos, anunciou - fugindo a uma pergunta sobre as eventuais taxas-portagens de entrada em Lisboa - como "solução" para o estacionamento em cima dos passeios, que "os moradores usassem os parques de estacionamento subterrâneo que estão vazios, a preços convidativos", dando como exemplo o parque da Alameda D.Afonso Henriques. Ora:

1. O estacionamento indevido, em 99,9% dos casos não é feito por moradores, mas por visitantes. Visitantes que todos os dias são "convidados" a trazerem o automóvel para Lisboa e a inundarem os passeios de Lisboa e, pior, os lugares de estacionamento destinados a moradores.

2. E os visitantes são "convidados" a trazer o automóvel para Lisboa porque todos os dias se anunciam mais medidas de oferta de estacionamento, mais asfalto, etc., em vez de se restringir a procura,

- investindo-se definitivamente na melhoria da qualidade e eficiência e eficácia da Carris e Metro;

- investindo-se definitivamente em interfaces de transportes públicos, à entrada de Lisboa, com parques de estacionamento compatíveis e ligação aos transportes da periferia;

- investindo-se em linhas de metro ligeiro de superfície ("tram") não poluidor, designadamente no Campo Grande, Av. República, Av.Fontes Pereira de Melo, Marquês; Bº Encarnação-Olivais-Avenida Gago Coutinho-Almirante Reis, Martim Moniz.

3. Os moradores já pagam para ter um lugar de estacionamento por automóvel; e pagam por um direito que lhes assiste enquanto moradores o que é imoral. Pagam o dístico para estacionarem junto a suas casas, e pagam, como qualquer outro cidadão, para estacionarem nas outras zonas de Lisboa, quando não são coagidos a pagarem ainda ao arrumador ilegal.

4. Por outro lado, os moradores não têm culpa que a proliferação de parques de estacionamento subterrâneo - a maior parte dos quais pondo em risco valioso património, desde árvores e espaços verdes a fundações antigas, etc. - e dos chamados auto-silos se destine a proveitosos negócios para construtor civil, e para tapar o sol com a peneira, ou seja, adiar as grandes medidas de fundo no que toca ao trânsito e ao estacionamento em Lisboa.

5. Finalmente, e no que se refere às portagens à volta de Lisboa, lembro ao Prof. Carmona Rodrigues que já há portugueses a pagar, injustamente, entrada em Lisboa: são os moradores da margem sul do Tejo. Por isso, portagens a norte de Lisboa seriam, sob esse ponto de vista, uma medida de justiça social imediata.

PF

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