05/12/2008

Paternalismos da Helena Roseta

Não queria deixar de me congratular pela aprovação da rede de bicicletas partilhadas, já referido neste post. É um tipo de programa que já foi implementado em cidades com os problemas orográficos de Lisboa (como Lyon e Bruxelas), e que foi capaz de criar uma cultura de mobilidade em bicicleta onde este hábito estava completamente ausente, onde nem era discutido.

Não posso contudo deixar de criticar uma posição dos Cidadãos de Lisboa, que acabou por ser incorporada na proposta. Falo do mínimo de idade para a utilização das bicicletas, os 18 anos.

1. Em Portugal é legal conduzir motoretas - que alcançam velocidades superiores às bicicletas logo são mais perigosas - a partir dos 14 anos. Limitar o uso das bicicletas parece-me altamente incongruente.

2. O uso de bicicletas privadas não está vedado a menores de 18. Tendo as bicicletas partilhadas vantagens que as privadas não têm, faz sentido limitar o acesso às primeiras a quem tem acesso às segundas?

3. O resto dos programas europeus têm limites de idade inferiores:
Velib': 14
Bicing: 16
Vélo'V: 14
V'eol: 14
Bicloo: 14

4. Trata-se de uma idade em que os jovens ainda não podem conduzir automóveis, em que eles procuraram alternativas para garantir a sua liberdade de movimentos.

5. É de pequenino que se torce o pepino. Ao vedar o acesso dos jovens ao programa, mata-se à partida um processo de habituação.

Enfim, parece-me um tiro no pé de um paternalismo um tanto bacoco.

13 comentários:

Julio Amorim disse...

Bem...como pai, quereria eu ver os meus filhos aos 14 anos a deslocarem-se de bicicleta na Lisboa actual ? NUNCA !
A total ausência de ciclovias/tradição, com a agravante de milhares de condutores sem o mínimo de civismo e respeito por o próximo. Acho até uma boa medida preventiva.

A.lourenço disse...

É discutível esta ideia, se for acompanhado pelos pais não vejo porque não possa circular a partir, por exemplo, dos 12 anos.
Concordo com Júlio Amorim no que diz respeito á segurança, Portugal é um País de alta insegurança rodoviária, de falta de respeito pelo próximo e andar de bicicleta na estrada é um risco. Uso bicicleta com frequência e sei do que falo. Sou um adepto incondicional das bicicletas e tambem detas de uso partilhado, mas tudo isto só fará sentido se for acompanhado de medidas efectivas de protecção dos ciclistas, que usem estas bicicletas ou outras, da criação de condições para circularem em segurança, da mudança do código de estrada que nunca protege o ciclista e na aposta séria para que a bicicleta se torne um meio de transporte efectivamente alternativo. Se as coisas não forem bem feitas, mas apenas á pressa por causa das eleições, temo que a casa esteja a ser construída pelo telhado e que mais tarde ouviremos alguém dizer "nós fizemos, as pessoas é que não querem" ou então o celebre “nós bem avisamos”.

Já agora uma outra nota: A Universidade de Aveiro está a desenvolver um projecto de bicicletas a energia solar com postos de carregamento distribuídos por diversas zonas das cidades. Penso que devido á morfologia de parte da cidade, este, era um projecto interessantíssimo para desenvolver em Lisboa, com tecnologia nacional, e se calhar bem mais barato.

Anónimo disse...

Bem apontado, Miguel Carvalho, a ser algo obrigatório é o uso do capacete- não sei se já é mas uso sempre pelos motivos apontados pelos comentadores, atribuíveis ao "autoolismo".

Anónimo disse...

Helena Roseta anda de bicicleta em Lisboa. Sabe com o que se debate todos os dias. E tem 60 anos. É responsável. Eu tenho uma filha de 15, e de quendo em quando uso bicicleta em Lisboa. Não quero a minha filha em cima de duas rodas no meio do asfalto.
Sendo que, se os pais acompanharem os filhos no uso das bicicletas partilhadas, são livres de o fazer.
O paternalismo bacoco dos CPL ao decidir votar como votou, pedindo que a idade subisse de 14 para 18, foi com base na experiência real que têm de utilizar duas rodas em Lisboa.
A Lourenço sabe do que fala: o nosso código não protege os ciclistas. As nossas ruas são um perigo, a nossa sinalização uma desgraça.
O que os jornais não disseram, foi que tudo isso foi dito pelos CPL, na reunião, e na conferência de imprensa que se seguiu, para justificar a exigência de passar de 14 para 18 anos a idade miníma. Em consciência, não podiamos ter feito outra coisa.

Anónimo disse...

Circulo todos os dias de bicicleta pela cidade de Lisboa e não sinto a insegurança de que falam.
Há que praticar uma condução defensiva isso sim, e ter todos os cuidados com a nossa visibilidade na estrada.
Com a bicicleta o pior inimigo é o medo e o não assumir uma posição de ocupação da via em que se circula.
Garanto que se seguir de bicicleta no meio de uma faixa bus por exempo ninguém lhe passa por cima.
Há que conjugar as bicicletas com cursos de condução das mesmas na cidade e campanhas de sensibilização dos automobilistas para a sua presença - vedar o acesso às bicicletas partilhadas a menores é que não, desde que haja maneira de os responsabilizar por eventuais danos e má utilização das mesmas.

João Branco (JORB) disse...

Um humilde conselho: pensem onde estavam e o que faziam quando eram jovens de 17 anos, e pensem lá se 17 anos é idade para um pai deixar ou não deixar um filho andar de bicicelta.

Tratar jovens de 17 anos, que podem tirar a carta, podem conduzir motas, podem ser presos, podem fumar, podem beber, podem trabalhar no horário que quiserem, tratar jovens desta idade como crianças é de um paternalismo aflitivo.

Anónimo disse...

Os pais são livres de autorizar, ou não, que os filhos andem de bicicleta em Lisboa, tenham eles a idade que tiverem. Do que se fala aqui, é de a CML assumir a responsabilidade de facultar a utilização de uma bicicleta a um menos de 14 anos, sem que, para tal, os pais sejam tidos ou achados.
A única coisa que se pretendeu foi que a utilização das bicicletas, disponibilizadas pela CML, fosse restricta a maiores de idade, ou, a menores pelos quais os pais assumiriam a responsabilidade.
O que, convenhamos, parece básico. Dado que a CML não tem assegurado as melhores condições de segurança aos utilizadores de bicicleta em Lisboa. É mesmo essa uma das maiores queixas de todos os ciclistas. Mandar crianças para a frente da batalha Bicicletas- Automobilistas (batalha que existe...) em prol de uma defesa da utilização das mesmas, numa cidade onde o asfalto é selva, é de facto tão grave quanto fazer de conta que os mesmos adolescentes não estão nos bares, aos 15 anos, a consumir alcool. Estão. E são menores. Daí, deixar essa responsabilidade entregue aos pais, e não à CML.

João Branco (JORB) disse...

Dos filhos da Helena Roseta sabe ela. Dos meus sei eu.

E o que ela fez foi proibir os MEUS filhos de andar nas bicicletas de uso público.

João Branco (JORB) disse...

Já agora, se proibe aos menores de 18 porque não proibir, com os mesmos argumentos, aos maiores de 60 também?

Tinha a mesma lógica.

E mais uma errata: A Helena Roseta não se "desloca de bicicleta". Passeia de bicicleta, percorrendo um caminho que seria mais rápido fazer a pé. Se é para ir buscar esse argumento, eu faço uma média de 15 kms por dia de deslocações de bicicleta em Lisboa (e não 15 metros, como a HR) e NUNCA me passaria pela cabeça PROIBIR os filhos dos outros de usarem um TRANSPORTE PÚBLICO.

A mim cheira-me que isto é anti-constitucional.

João Branco (JORB) disse...

O meu primeiro comentário deve ter ido parar à caixa de spam. Será que, por favor, alguém o podia aprovar?

Miguel Carvalho disse...

Peço desculpa por ter demorado a responder.

Acho que há aqui uma confusão muito semelhante à que aconteceu no debate do aborto (com a agravante de que o aborto é realmente algo condenado por todos, e o andar de bicicleta não). Uma coisa é sermos pessoalmente contra o aborto, outra coisa é proibirmos os outros de o fazer.

Não está em causa se achamos se os NOSSOS filhos (e não estamos propriamente a falar de crianças, mas sim de 16, 17 e 18 anos) podem andar, mas se nos arrogamos o direito de proibir os filhos dos outros.

Aliás, eu apenas peço que haja o mesmo tratamento que há nas bicicletas privadas. Todos os que me criticaram (J.Amorim, CPL), para serem minimamente consistentes têm que defender a proibição do uso de bicicletas privadas a menores de 18 anos. O passo lógico seguinte parece-me ser alargar a proibição a motocicletas também...


Pedro M.
(apesar de não gostar de misturar as duas discussões, cá fica a minha opinião)
discordo totalmente, A obrigação do capacete é o fazer o justo pagar pelo pecador. Como diz o movimento ciclista, "I wear a helmet, so that you can drive like an idiot". Há aliás vários estudos que indicam que essa obrigação é contra-produtiva em termos de saúde pública (porque inibe muitas viagens de bicicletas).
Só por curiosidade, eu uso sempre o capacete em Lisboa.


CPL
eu estou muito contente com o apoio da Helena Roseta à bicicleta em Lisboa, e já o escrevi várias vezes noutros locais. Mas é melhor não entrar pelo argumento da experiência... Primeiro porque parece-me que me faz pouco sentido, e segundo porque muito provavelmente seria eu que o ganharia. A primeira vez que fiz o Marquês de Pombal de bicicleta foi em 1994, e desde então já o repeti inúmeras vezes. Ninguém me ensina nada sobre experiência no trânsito em Lisboa.

Anónimo disse...

João Branco,
Erratas devolvidas: Ninguém proíbe os SEUS filhos. Já foi explicado, qualquer pai ou mãe pode assumir a responsabilidade do aluguer das bicicletas pelos seus filhos. O que estes não podem, enquanto menores, é assumir sozinhos uma responsabilidade que não lhes pode caber a eles, e que os pais poderiam vir a atribuir à CML. Que cada pai ou mãe decida.
Não sei de onde lhe vem tanta certeza sobre as deslocações de Helena Roseta. Mas, se acredita que um ciclista que se mede ao quilómetro, são 10 km por dia.

Miguel Carvalho disse...

CPL,

o que nos está a dizer é que as notícias que vieram a público estão erradas. Ou seja, será possível os menores terem a acesso ao programa, desde que autorizadas pelos pais?
(Havia um comentário anónimo que ia nesse sentido, mas fiquei na dúvida...)

Ao ser assim, modero obviamente as minhas críticas (continuo a achar um exagero a idade limite, mas enfim).