10/03/2015

E assim se vai acabar com uma das mais completas bibliotecas sobre Olisipografia e sobre a História da região de Lisboa


Através do perfil de Facebook da Assembleia Distrital de Lisboa tive ontem conhecimento de uma situação que, como leitor da biblioteca daquela entidade, me deixou bastante preocupado, pois está em risco a manutenção e acesso por parte de investigadores e do público em geral, a uma das mais completas bibliotecas sobre Olisipografia e sobre a História da região de Lisboa.

Seguem os textos publicados.

9 Março 2015 - 13h54
Alguns livros das nossas estantes têm as encadernações com bastante uso. É um facto. Estão à disposição do público há mais de 40 anos e muitos milhares já folhearam o conteúdo daqueles livros. Mas será essa circunstância (que analisa a superfície sem ver o conteúdo) o suficiente para que a CM de Lisboa classifique a Biblioteca dos Serviços de Cultura da Assembleia Distrital de Lisboa como não tendo interesse para o município devido às suas "caraterísticas" e ao "estado de conservação do seu acervo"?
Por isso, aqui deixamos um apelo a todos e todas que leiam esta notícia: venham visitar as nossas instalações (das 9h-12:30h e das 13h-17h estamos cá para vos receber, embora a Biblioteca esteja encerrada ao público desde 01-10-2014 por falta de condições financeiras devido à falência da entidade provocada pela Câmara de Lisboa que a partir de janeiro de 2012 deixou de pagar as contribuições a que, nos termos da lei, estava obrigada) e verificar o potencial deste espaço, nomeadamente a riqueza e diversidade do seu vasto espólio bibliográfico, mas que a autarquia de Lisboa despreza.



 















9 Março 2015 - 15h40
Na opinião do Secretário-geral da Câmara de Lisboa (Alberto Laplaine Guimarães), a Biblioteca dos Serviços de Cultura da Assembleia Distrital não tem as caraterísticas adequadas e o seu acervo não obedece aos requisitos de conservação exigidos pela autarquia, pelo que não interessam ao município de Lisboa.
Esta avaliação, apurada depois de uma visita de escassos minutos e sem que o referido técnico tivesse sequer nas suas mãos um único livro, acabou sendo subscrita pela Verea
dora Graça Fonseca e serviu para sustentar a rejeição da Universalidade Jurídica da ADL embora, mais uma vez, os órgãos autárquicos (executivo e deliberativo) nunca se tivessem pronunciado sobre o assunto, à semelhança da decisão de deixar de pagar a partir de janeiro de 2012 as contribuições a que a lei obrigava (nos termos do artigo 14.º do DL n.º 5/91, de 8 de janeiro) e levando a entidade à falência, ao encerramento da Biblioteca em outubro de 2014 e à existência de meses consecutivos de salários em atraso.
A suposta falta de interesse para o município prende-se também com a mensagem que o próprio Presidente da Câmara tem vindo a fazer passar de que esta entidade é inútil e nada faz nomeadamente em prol do seu concelho (ou fazia, já que devido à falência provada pela CML os Serviços encerraram em 01-10-2014), esquecendo-se que Lisboa é (ou era), precisamente, quem mais beneficiava com os serviços prestados pela ADL: desde logo por a sua Biblioteca se localizar na freguesia de Arroios, servindo sobretudo a população local, mas em especial por os Setores Editorial e de Investigação se terem debruçado mais amiúde pelos temas da olisipografia (que é, aliás, uma das áreas onde existem mais obras disponíveis para consulta).
Como testemunho do que acabámos de escrever, temos o exemplo do Boletim Cultural que ao longo de 70 anos de existência contribuiu com centenas de artigos para o conhecimento da história da nossa capital. Um património cultural valioso que a mesquinhez política pretende sanear:

https://drive.google.com/folderview…



Hoje houve nova publicação com mais alguns dados sobre a situação.
















10 Março 2015

Os critérios subjacentes à recusa da Câmara de Lisboa em aceitar os equipamentos culturais da Assembleia Distrital, em particular a sua Biblioteca, carecem de fundamentação técnica e são meramente políticos. E mesmo neste campo (da política), dada a ausência de qualquer deliberação do órgão colegial executivo, trata-se de apenas mais uma posição pessoal que espelha bem a forma antidemocrática como António Costa se tem relacionado com a Assembleia Distrital (à semelhança da recusa em pagar as contribuições a que, por lei, a autarquia estava obrigada e que levou a entidade à falência, ao encerramento dos Serviços em 01-10-2014 e à existência de trabalhadores com mais de sete meses de salários em atraso).
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Através do ofício n.º 3 da vereadora Graça Fonseca, de 15 de janeiro de 2015, fomos informados de que «após visita à Biblioteca e Arquivo da ADL pelos Secretário-geral e Diretor Municipal da Cultura foi apurado que a transferência daqueles equipamentos não se revestia de interesse para o Município de Lisboa, atentas as caraterísticas e o estado de conservação dos respetivos acervos.»
Em resposta, a ADL esclareceu: «Sobre a falta de interesse do Município de Lisboa na transferência dos equipamentos culturais da Assembleia Distrital apurada após uma breve visita de alguns minutos em que o Secretário- -geral e o Diretor Municipal da Cultura apenas visitaram parte das instalações e sem que fosse analisada qualquer peça do espólio arquivístico e/ou bibliográfico, importa referir que se é verdade que o acervo do Arquivo nos foi entregue pelo Governo Civil de Lisboa em 30-11-2011 em péssimas condições de conservação após terem-no gerido durante mais de vinte anos, o mesmo já não se pode dizer, muito pelo contrário, do estado das obras disponíveis para consulta na nossa Biblioteca a qual tem uma das mais vastas coleções de seriados a nível nacional (com mais de quatrocentos títulos portugueses e estrangeiros) e um extenso acervo na área da olisipografia.»
E, de imediato, foi solicitado à Câmara Municipal o parecer técnico que fundamentara aquela avaliação, bem assim como a deliberação do executivo que determinara a conclusão final. Todavia, o silêncio foi a única resposta obtida o que obrigou à denúncia da situação junto da CADA – Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos.
No esclarecimento prestado à CADA pela CML ficamos a saber que não existe relatório técnico porque a sua “elaboração não foi considerada oportuna nem necessária”.

Para avaliar as caraterísticas e o estado de conservação de centenas de milhar de obras bastou uma simples “passagem de olhos” pelas estantes (não esquecer, contudo, que a maioria dos livros até estão em armários fechados que não foram abertos), sem sequer tocar num único exemplar, durante uma visita de pouco mais de trinta minutos (realizada em 07-11-2014) e durante a qual o SG da CML tratou de outros assuntos que não a avaliação dos bens em causa.
Ainda assim, a sua apreciação foi considerada suficiente para que não subsistissem “quaisquer dúvidas quanto ao não interesse do Município de Lisboa em receber aqueles equipamentos, atentas as caraterísticas e o estado de conservação dos respetivos acervos.”
Afirmação peremptória que, contudo, não impediu o Diretor do Departamento do Património Cultural da CM de Lisboa de, em 15-12-2014, efetuar este “estranho” pedido considerando a falta de interesse e o estado de conservação acima referidos:
«Venho por este meio, no âmbito da dissolução da Assembleia Distrital de Lisboa, solicitar a integração no Centro de Arqueologia de Lisboa do acervo da antiga Biblioteca da Assembleia Distrital de Lisboa, respeitante a toda a bibliografia que diga respeito a estudos arqueológicos, como por exemplo as seguintes obras:
Todos os volumes das quatro séries da revista O Arqueólogo Português.
Revista Conimbriga.
Revista Setúbal Arqueológica.
Revista O Arquivo de Beja.
Revista Guimarães.
Almansor, boletim da Câmara Municipal de Montemor o Novo.
Revista Portugália.
Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, Revista Huelva Arqueologica, Revista Madrider Mitteilungen. Outras revistas portuguesas e estrangeiras de arqueologia.
Catálogos de exposições arqueológicas.
Livros de numismática: Ceitis; Moedas do reinado de D. Fernando I.
Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI, de Santos Simões; Azulejaria em Portugal nos séculos XVII, de Santos Simões; Azulejaria em Portugal no Séc. XVIII, de Santos Simões; Faiança Portuguesa Vol. 1, Séculos XVIII XIX, Arthur Sandão.
Entre outras obras que possam ser úteis para os nossos centros de investigação.»

Para uma Biblioteca que mereceu da parte do Dr. Alberto Guimarães (SG da CML) a apreciação negativa que aqui se apresenta, ter tantas obras que, afinal, até interessam ao Departamento do Património Cultural (e trata-se, somente, da área de arqueologia) da Câmara de Lisboa quando ele afirma, sem margem para dúvidas, que o seu acervo não interessa ao município, só nos pode levar a uma conclusão:
Que os critérios subjacentes à recusa da Câmara de Lisboa em aceitar os equipamentos culturais da Assembleia Distrital, em particular a sua Biblioteca, carecem de fundamentação técnica e são meramente políticos. E mesmo neste campo (da política), dada a ausência de qualquer deliberação do órgão colegial executivo, trata-se de apenas mais uma posição pessoal que espelha bem a forma antidemocrática como António Costa se tem relacionado com a Assembleia Distrital (à semelhança da recusa em pagar as contribuições a que, por lei, a autarquia estava obrigada e que levou a entidade à falência, ao encerramento dos Serviços em 01-10-2014 e à existência de trabalhadores com mais de sete meses de salários em atraso).
Fonte:
https://drive.google.com/folderview…

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais um sinal de que por cá de dá valor à cultura....

Ana Agostinho disse...

Também fui uma frequentadora desta Biblioteca e lamento o que está a acontecer. Mais ainda sabendo, porque tenho acompanhado as notícias sobre o assunto, que tudo é consequência de uma "birra política", uma posição intransigente, ilegal e antidemocrática, do Dr. António Costa. Que vai ser deste património cultural? E da trabalhadora que ainda lá está e que já tem mais de sete meses de salário em atraso? Que raio de país é este onde acontecem situações destas e ninguém se revolta?