04/11/2019

Candeeiros de marmorite - pedido de plano de intervenção de recuperação e modernização à CML


Exmo. Senhor Presidente
Dr. Fernando Medina


C.c. AML, JF Alvalade e Areeiro, media

Contactamos mais a Câmara Municipal de Lisboa, na figura do seu Presidente, chamando a atenção de V. Exa. para a necessidade de, finalmente, a autarquia de Lisboa implementar um plano de recuperação e salvaguarda do universo dos candeeiros em marmorite decorrentes do Plano de Alvalade.

Como é do conhecimento de V. Exa. o abate destes candeeiros não é de agora mas tem-se intensificado no decorrer das últimas décadas – justo será recordar o seu momento mais lamentável e caricato, a célebre operação de abate e substituição dos candeeiros da Avenida de Madrid, há cerca de 15 anos, em que ora eram colocados novos candeeiros pela empresa dona da empreitada, ora a CML suspendia a operação por a mesma não ter sido despachada superiormente, e à força da oposição dos moradores, chegando a co-existirem nesse arruamento, durante vários meses, dois tipos de candeeiro diferentes, uns em marmorite, de um lado da rua, outros em chapa galvanizada, do outro lado, sendo que no fim falou mais alto a empreitada de abate e os de marmorite foram integralmente removidos.

Desde essa altura que procuramos saber as razões que levam a que esses candeeiros de marmorite sejam sistemática e paulatinamente substituídos por outros de menor qualidade e de muito menor via útil, e o que apurámos foi:

1. Os candeeiros de marmorite são considerados feios porque estão sempre sujos, são perigosos porque as suas portinholas têm sido roubadas e os fios eléctricos ficam ao alcance das crianças, são facilmente derrubáveis por árvores e acidentes de viação, e são obsoletos face às normativas comunitárias e por isso não são amigos do ambiente.
2. A CML durante todos estes anos não tem promovido, como seria sua obrigação, a limpeza e a manutenção dos candeeiros de marmorite, nem a modernização das suas luminárias, adaptando-as às novas tendências de mercado, facto que nos parece inexplicável uma vez que não só a firma que os construiu (CAVAN) continua operacional e a fazer essa limpeza, manutenção e modernização um pouco por todo o país, como os candeeiros de marmorite são perfeitamente compatíveis com essas novas tendências.
3. Não existe nenhum registo de queda de candeeiros de marmorite por queda de árvores ou acidente rodoviário, nem existe qualquer registo de acidente com cidadãos, por contacto com os fios eléctricos, nada.
4. Os candeeiros de marmorite colocados um pouco por todos os bairros residenciais da cidade de Lisboa desde os anos 40, foram-no no seguimento dos planos urbanísticos de Alvalade e do Restelo, e por isso têm a estética modernista que conhecemos, sendo indissociáveis desses mesmos Planos, e foram-no por serem de um material mais barato e resistente do que o ferro das antigas colunas de iluminação, dada a dimensão das empreitadas urbanísticas da altura.
5. A concepção destes candeeiros envolveu um processo apurado de fabrico tendo em conta as enormes quantidades de candeeiros de que Lisboa precisava, quer a nível de "design" mas também no que toca à sua dimensão e à sua relação com o local e a envolvente onde foram colocados.
6. Assim, conseguimos identificar claramente candeeiros com fuste simples, duplo e quádruplo; luminárias achatadas e em “nabo”; base em “bolacha” simples, dupla ou tripla, base quadrilátera; fuste rectilíneo e arqueado; existindo mesmo um modelo de candeeiro especialmente criado para uma rua, o modelo “Guerra Junqueiro”, tal foi a preocupação com aquele arruamento em honra do poeta de Freixo de Espada-à-Cinta, que, como é do conhecimento de V. Exa., por isso mesmo tem freixos ao longo dos seus passeios exactamente.
7. A generalidade dos candeeiros de chapa galvanizada com que se tem substituído os candeeiros de marmorite é de uma má qualidade evidente, quer no que se refere à sua relação estética com os arruamentos e com o edificado dos bairros resultantes dos dois Planos já referidos (ex. candeeiros aplicados directamente sobre a pedra da calçada, sem qualquer base, candeeiros altos onde se exigiria baixos e o contrário, candeeiros com modelos os mais variados na mesma rua/praça), quer quanto ao seu próprio estado de conservação (corrosões graves após poucos anos de vida, fios também à mostra, etc.) e com a própria qualidade da iluminação (muitas vezes iluminam as fachadas dos prédios e as próprias divisões dos apartamentos, em vez dos passeios e dos automóveis estacionados, por ex.).
8. O argumento da incompatibilidade do compartimento eléctrico original com os procedimentos actuais, não colhe, uma vez que as portinholas do compartimento eléctrico dos candeeiros de marmorite asseguram as protecções exigidas nomeadamente: IP 45 (NP EN 60529) e IK 10 (NP 50102). As definições, termos, dimensões, tolerâncias, especificações e controlo de qualidade são regidos de acordo com as normas: DMA - C71 - 510-E - OUT.1994 (EDP); DMA - C71 - 520-E - OUT.1994 (EDP); DMA - C71 - 521-E - JUL. 1999 (EDP); NORMA EUROPEIA EN 40.
9. E também não colhe o argumento segundo o qual as luminárias existentes "não apresentam as condições mínimas requeridas para uma qualquer instalação de Iluminação Pública minimamente exigente", porque é a própria CML que tem vindo a actualizar as luminárias de antigas colunas e consolas de iluminação pública de Lisboa, candeeiros históricos em ferro que ganham nova vida graças precisamente ao investimento na manutenção e na actualização técnica.

Por falta de meios para um inventário a nível de toda a cidade, focámo-nos nos candeeiros de marmorite existentes em Alvalade e no Areeiro, tendo chegado à conclusão que existem cerca de 1.250 candeeiros nestes dois bairros, e nesse sentido temos o prazer de remeter junto um quadro com a respectiva discriminação.

Posto isto, serve o presente para solicitar à Câmara Municipal de Lisboa, que até final do presente mandato, aprove e dê início à implementação de um plano de intervenção para a recuperação e modernização dos candeeiros de marmorite existentes em Alvalade e no Areeiro, com especial enfoque e urgência, pelo seu simbolismo enquanto peças integrantes das respectivas unidades urbanas, aos candeeiros do Bairro das Caixas, Bairro de São Miguel, Bairro das Estacas e da Avenida Guerra Junqueiro.

Na expectativa, apresentamos os nossos melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Rui Pedro Martins, Miguel de Sepúlveda Velloso, Helena Espvall, Miguel Atanásio Carvalho, João Oliveira Leonardo, Pedro Jordão, Virgílio Marques, Maria do Rosário Reiche, Maria João Pinto, Júlio Amorim e Carlos Moura-Carvalho

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