18/02/2005

Praça do Campo Pequeno Reabre no Verão

A Monumental do Campo Pequeno é um monumental case study do que tem sido a política lisboeta de recuperação do património e das valências da cidadania lisboeta. A praça de touros foi sendo deixada cair aos bocados ao longo dos anos com o claro intuito de se conseguir chegar a um ponto tal que ficassem reunidas as condições para a necessária "operação de choque".

Tudo começou com o declínio da "Festa Brava" em Portugal (nível mediano do toureio nacional, idem das ganadarias, preços altíssimos, pressão das ligas dos animais, enfim, um espectáculo démodé), que rapidamente foi acompanhado pela ausência de manutenção da estrutura da praça, pelo mau aspecto e perigosidade dos jardins que a circundam, pelo estado decrépito da maioria dos bonitos edifícios (e quantos há!) que ainda restam à sua volta, pelo abuso das companhias de transportes que ali estacionavam autocarros e TIR, pela praga dos arrumadores, pelo abate de dezenas de árvores no topo Norte, etc..

Os projectos de reabilitação sucederam-se mas rapidamente se percebeu que a "solução" teria que passar pela construção civil desenfreada. Assim, mais uma vez, tudo vai girar à volta de um empreendimento que comporta um gigantesco parque de estacionamento e uma galeria comercial que não se percebe bem sirva o quê, quando ali bem perto os centros comerciais Apolo 70, Arco Íris e Via Veneto andam pelas ruas da amargura. O desplante ainda é maior se se pensar na hipocrisia que é acenar-se com "salas de cinema" como chamariz da futura Praça, quando ao lado fecharam as salas do Apolo 70, Sétima Arte e Estúdio 444, por exemplo.

A recuperação do Campo Pequeno devia ter sido uma componente de um cuidado plano de pormenor para toda a zona. Um plano que contemplasse, por exemplo, a demolição de edífícios inestéticos, como o da Cosec. Um plano que passasse pela reabilitação urgente do Palácio Galveias, devolvendo-lhe chama e glória. Um plano que passasse pelo fecho puro e simples do trânsito do lado poente da praça, permitindo a instalação de esplanadas. Um plano que transformasse um espaço verde num efectivo jardim, e que permitisse a sua fruição continuada pelos milhares de moradores das avenidas e ruas circundantes. E um plano que se focasse claramente no aproveitamento da "portugalidade" das corridas de touros, que por si só garantiria a exequibilidade da exploração futura da praça, sobretudo agora que o espectáculo voltou a estar na moda.

Por isso, a Praça de Touros do Campo Pequeno, quando reabrir no Verão (segundo notícia do "JN" e do "Público"), será tudo menos uma praça de touros. Pouco importa que os tijolos tenham sido restaurados e as cúpulas repintadas. Pouco importa que as televisões lá voltem. Pouco importa que a garra de Sónia Matias ou a técnica de Pedrito Portugal chamem multidões. A Monumental do Campo Pequeno virará centro comercial e interface modal. E isso é um custo de oportunidade excessivamente alto, parece-me.

PF

3 comentários:

Anónimo disse...

Entao a "Festa Brava" em Lisboa, acabou? ou existe outro sítio para
tal?

JA

Anónimo disse...

Caro Júlio

A Festa mal começou!!
Abraço
PF

Anónimo disse...

Bem, espero que tenham feito algo de jeito com esse edifício, pois é
dos poucos de alvenaria (nua) de tijolo, que existe em Lisboa.

JA