22/06/2005

O Europa volta a ser usado

Movimento de defesa do Europa volta à carga: reconversão Instalar no imóvel um pólo multifuncional continua a ser desejo dos cidadãos Sá Fernandes defende que a Câmara pode expropriar, pode ler-se na edição do "Jornal de Notícias" de ontem. Mais à frente, o representante do movimento "S.O.S. Cinema Europa" diz: "O cinema, enquanto pólo de actividades culturais e artísticas, faz falta ao bairro e à cidade". E que "está agora em cima da mesa, a hipótese de o edifício integrar o Arquivo Municipal de Lisboa".

Estas declarações vêm no mesmo sentido de outras feitas anteriormente, que confirmam o seguinte: o antigo Europa está a ser usado. Os ditos moradores ora bem reclamam o Europa como cinema, ora como centro cultural, ora como auto-silo com espaço cultural (?), ora como arquivo municipal.

Paralelamente, parece que o candidato Sá Fernandes alinha na utilização do Europa como joguete eleitoral, porque defender, como ele defendeu, que "o que importa é que a Câmara accione os mecanismos legais para que o imóvel não caia e negoceie com o proprietário a sua aquisição, com permutas ou não. E caso nenhuma das hipóteses seja aceite, a autarquia deve expropriar" e que "o que importa é saber como decorreu o processo de desclassificação" é exactamente isso. Vamos por partes:

1. O Europa actual não tem nada que ver com o antigo Europa, objecto de obras na década de 60 que o desvirtuaram para sempre.
2. O Europa actual não tem nenhum elemento que justifique a sua classificação, seja por quem for.
3. O Europa actual foi objecto de promessas camarárias durante o mandato de João Soares, apenas porque estava na Junta do Condestável, de maioria PS/PC. Enquanto que ali ao lado, o Paris (cinema com muito mais história, inserido numa ZEP e com um projecto digno para a sua re-utilização) agonizava, sem estar nas boas graças do mesmo executivo, apenas porque era de uma Junta, de maioria PSD/CDS.
4. Era o que faltava que a prorrogativa da expropriação fosse usada por isto e aquilo, à vontade do freguês.
5. Um conselho ao candidato Sá Fernandes: antes de pensar em termos judiciais, pense em soluções viáveis, exequíveis e sensatas.

PF

2 comentários:

Anónimo disse...

Exmos. Srs.,

Já não é a primeira vez que o Cidadania LX se refere em tom desagradável ao
cinema Europa e, principalmente, aos cidadãos que integram o movimento SOS
Cinema Europa, do qual fazemos parte.

Dizer que "O Europa actual não tem nenhum elemento que justifique a sua
classificação, seja por quem for" é tão válido como defender a demolição
da Casa Garrett. Cada qual tem os seus argumentos e expõe-nos da forma que
entende.

O que não é válido é dizer que o antigo Cinema Europa está a ser usado e
sugerir que os "ditos moradores" não têm ideias para o cinema (ou têm ideias
a mais) e que serão parte de qualquer coisa pouco clara.

O movimento SOS Cinema Europa constituiu-se de forma espôntanea, através da
Internet, com um objectivo: evitar a demolição deste espaço e encontrar
formas de o viabilizar, abrindo-o ao bairro de Campo de Ourique e à cidade,
suprindo várias lacunas existentes. Sabemos que esta é uma ideia complicada,
até porque viabilizar economicamente um projecto desta dimensão é difícil.

Existem vários documentos publicados no blogue do movimento que explicam
claramente o nosso desejo para aquele espaço. Gostaríamos de ver ali um
Centro Cultural. Fizemos um debate público na Padaria do Povo onde explicámos
a nossa ideia e recebemos contributos de quem quis estar presente, expusemos o
projecto na Assembleia Municipal de Lisboa, fomos recebidos na Comissão
Permanente de Intervenção Social e Cultura da CML.

Sabemos que num ano de eleições há muita gente muito nervosa mas entendemos
mal esta animosidade em relação ao SOS Cinema Europa, especialmente vinda de
um alegado movimento cívico que alegadamente se preocupa com a cidade de
Lisboa. Acreditamos que é nos cidadãos que está a força para chamar à
razão os dirigentes e os poderes instituídos. Dizer mal do vizinho só por
dizer para além de desagradável parece-nos francamente pouco inteligente.

Com os melhores cumprimentos,

pel' SOS Cinema Europa

Marina Almeida
João Paulo Baltazar
António Contador
Idílio Freire
José Albuquerque

Anónimo disse...

Exmos. Senhores


Começo por agradecer o facto de terem comentado um post meu, no blogue do Cidadania Lx, e peço autorização por colocar o vosso comentário on-line, já que me parece o local indicado para uma discussão mais aberta ... local onde colocarei também esta minha resposta (nota: se não estiverem de acordo, digam, que retirarei ambos os comentários).

E informo que os comentários sobre o movimento SOS Cinema Europa são meus, e não vinculam mais ninguém do Cidadania Lx, como é óbvio. E vamos ao Europa, pois gostava de entender uma série de factos sobre o vosso movimento (espontâneo):

1. É ou não verdade que o Europa é uma mera sala de gravações, assim usada há quase 30 anos, sem qualquer traço que reste do antigo Europa, dos anos 40, citado esse sim entre os mais bonitos velhos cinemas de Lisboa?
2. É ou não verdade que o vosso movimento aparece em pleno ano de eleições?
3. É ou não verdade que para o actual Europa ser classificado teria que ter valor arquitectónico relevante, ser exemplo de uma época, ou ter valor simbólico de memória?
4. É ou não verdade que no mandato do Dr.João Soares foi prometida à Junta Santo Condestável (PS/PCP) a compra do espaço, pela CML, enquanto que próximo dali, abrangido pela Junta vizinha da Lapa (PSD/CDS), o Paris estava a ser negociado para instalação de um supermercado da cadeia LIDL? Quem de vós protestou? Nem sequer os comerciantes?!
5. É ou não verdade que o vosso movimento começou por reivindicar o Europa para centro cultural; para depois se contentar com um espaço paredes meias a um hipotético auto-silo; para mais recentemente ficar satisfeita com a instalação do arquivo municipal (um arquivo que só surrealisticamente seria passível de ficar no espaço do Europa), desde que vos atribuissem um espaço cultural? Afinal, o Europa é para ficar inteiro ou aos bocados? É que soluções de fachada, ou aos bocados já as temos, basta ver o inenarrável caso do Eden.
6. É ou não verdade que o instrumento "expropriação" é um instrumento de recurso, que exige a clara definição da importância do bem a considerar de interesse público, e que subentende uma avaliação patrimonial de ambas as partes?

Por último, acho muito bem que surjam movimentos para isto e aquilo, especialmente pelas velhas salas de cinema, pelas quais tenho lutado pessoalmente desde há anos, do Alvalade ao Odéon, passando pelo Condes, Capitólio, Paris e Império. Lutas na sua maioria inglórias, que sempre encontraram muita solidariedade, mas também muito mais indiferença, quando não oportunismo. Só que não consigo encaixar o actual Europa neste lote de salas, não consigo.

Muito menos consigo entender como a mesma espontaneidade dos cidadãos de Campo de Ourique não surgiu aquando da pré-demolição do Paris, que foi travada in-extremis por obra e graça de alguns protestos individuais, onde modestamente me incluo, eu que não sou nem nunca fui morador no vosso bairro. Mas se eu vivesse no vosso bairro, e tivesse dois pássaros a voar, rapidamente agarraria um deles, e esse seria o Paris, sempre, ainda por cima porque agora ele está a ser objecto de expropriação. Ajudem-no!

Porquê? Porque é uma sala infinitamente mais imponente que o actual Europa; é uma sala protegida pelo Ippar; é uma sala com muito maiores tradições do que aquele; é uma sala com muito mais condições e aptidões para a zona, inclusive para a vossa proposta de "centro cultural"; e é uma sala que já tem quem se interesse por ela desde 2000 (um projecto inovador de oficina vocal do Coral Lisboa Cantat, que só não foi ainda avante por causa das indecisões de quem de direito), com um projecto de muito interesse para Lisboa, e que podia abranger outras valências como as que vós reclamais para o Europa?

Finalmente, não vejo como podem defender-se com a classificação do actual Europa, contra-atacando com a casa de Garrett ... é misturar alhos com bugalhos.

Melhores cumprimentos e voltem sempre! (aliás, poderiam ter começado até por aqui...)

Paulo Ferrero