12/01/2006

Comentando as declarações de Amaral Lopes

No seguimento de artigo da edição de hoje do "Público", cumpre-nos esclarecer o seguinte relativamente a estas afirmações do Senhor Vereador Amaral Lopes (AL):

1. Afirma AL que "sob o ponto de vista arquitectonico e patrimonial o edifício não tem qualquer espécide de valor".

É triste que alguém como AL profira essas afirmações, sendo Vereador da Cultura, e tendo ele escrito o editorial da Agenda Cultural de Janeiro (disponível aqui mesmo, alguns posts abaixo), em que reafirma a Cultura como vector fundamental da acção executiva para este ano!! Como é possível?

Contudo, e para bem da nossa causa, não é assim que pensam:

- o IPPAR, ao recomendar à CML a classificação do imóvel como de interesse concelhio;
- a ex-Directora do Urbanismo da CML (ver pareceres_1,_2 e _3, aqui);
- o próprio Presidente da CML, que em Agosto passado despachou conforme documentos 0047.doc e despachoCR, (aqui), em defesa à providência cautelar interposta pelo proprietário, afirmando então ser do interesse público conservar-se e reabilitar-se a casa, ficando Lisboa significativamente mais pobre caso isso não acontecesse;
- e a Assembleia Municipal de Lisboa que, em Abril, aprovou uma moção defendendo a preservação da casa (acta nº 84, aqui).

2. Afirma AL que "o interior está muito degradado, não há qualquer vestígio que ali tenha vivido, de uma forma fugaz, Almeida Garrett,e, mesmo no exterior os azulejos azuis já são posteriores à morte do escritor".

Estas palavras são do mais profundamente erróneas e revelam um total desconhecimento das coisas, pois basta ler-se o que escreverm os especialistas em Garrett, Prof.José-Augusto França, Profª Paiva Cordeiro ou Profª Raquel Henriques da Silva; ou o editorial do sítio do Centro Nacional de Cultura, ou artigos como este.

Como é óbvio para toda a gente, a casa, antes de ser a ser destruída deliberadamente pelo actual proprietário estava devoluta, mas estava intacta. Tanto a fachada como os interiores. Existem testemunhos documentados disso. A casa não era albergue de delinquentes nem representava perigo para a via pública ou para o bairro (que o digam os moradores da zona, a começar pelo Sr.Presidente da Junta de Santa Isabel).


3. Afirma, ainda, AL que se está a estudar "uma intervenção artistica mais interpelante e mais visível".

Este é o ponto que mais nos revolta. E revoltamo-nos pela sugestão implícita de AL em estar a trabalhar para mais uma solução à portuguesa, tipo Cinema Eden, em que só Lisboa ficou a perder, como todos reconhecem. Defendemos que a casa de Garrett ou vai abaixo, ou fica inteira e é recuperada, e os responsáveis por uma ou outra decisão sê-lo-ão perante a História.

A nós não nos interessam as guerras intestinas no departamento de Urbanismo, mas tão somente a falta de rigor e a falta de cultura de quem devia tê-la.

Paulo Ferrero e Pedro Policarpo

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