22/10/2012

A "marca fétiche" pessoal e a orgulhosa e arbitrária assinatura do Arquitecto Criador no Património de todos nós, por António Sérgio Rosa de Carvalho.


Igreja de São Julião antes das obras.


 Igreja de São Nicolau


 É conhecida a "história" que se conta à volta dos possíveis remorsos que Eugénio dos Santos teria exprimido no seu leito de morte ...
Eugénio dos Santos no seu "master plan" da Baixa Pombalina teria inserido as Igrejas totalmente na malha urbana, "sacrificando" assim simbólicamente as paróquias, ao grande Projecto Iluminista.
Assim se integravam totalmente os Templos na cidade Moderna Renascida, cidade essa que seria habitada por uma nova Burguesia Iluminada e Mercantilista, ilustração de que o Plano antecipava uma Total Reforma da Sociedade.
Ora isto é importante no que respeita o ritmo inserido das janelas ( guilhotinas ) das Igrejas na totalidade dos blocos Pombalinos. Assim tal como nas fotografias da Igreja de São Julião antes das obras ou como por exemplo, na da Igreja de São Nicolau o demonstram, o respeito pela EXISTÊNCIA -  linguagem, ritmo e tipologia das janelas é essencial para o respeito da Filosofia e intenções originais do Plano, ESPECIALMENTE QUANDO SE CONTINUA A AFIRMAR QUE SE PRETENDE CANDIDATAR A BAIXA A PATRIMÓNIO MUNDIAL !


Vejamos agora o que Gonçalo Byrne  e Manuel Salgado (  apoiou e aprovou ) desenvolveram nas obras da Igreja de São Julião .
Depois da utilização da gravura original de Reinaldo Manuel resolveram rasgar os janelões Mansarda originalmente planeados ( aí nada a apontar pois os mesmos foram desenvolvidos em linguagem e tipologia correctas ) mas depois resolveram "tratar" e transformar as janelas como simples aberturas ( algumas realmente cegas tais como na gravura) e outra com inserção de apenas vidro em profundidade criando o mesmo efeito - redutor e abstracto - pela não existência de caixilhos à superfície da fachada.
Ora esta intervenção é mais uma vez, tal como Gonçalo Byrne, nos tem habituado ( Ver Museu Machado de Castro ) redutora e interpretativa.
Exercerá talvez a sua função no interior do Museu, mas altera completamente o espírito original e a Filosofia e Intenção de Leitura Urbana  do Plano Pombalino.
Embora as "aberturas' ainda lá estejam, com profundidades e cantarias ( e no futuro podem ser repostas ) o discurso Urbano Pombalino foi alterado  - e foi vítima de uma espécie de Acordo Ortográfico da "Linguagem Pombalina" - transformando uma fachada contínua Pombalina e reduzindo-a quase em metáfora  à abstração da sua própria gravura de concepção ...








E claro, não podia faltar a "marca fétiche" pessoal e a orgulhosa e arbitrária assinatura de Byrne, estratégicamente bem colocada.
"Isto" é grave, muito grave ... Como se pode continuar a afirmar que se pretende candidatar a Baixa Pombalina a património Mundial com este tipo de Intervenções ? 
António Sérgio Rosa de Carvalho. 


10 comentários:

Anónimo disse...

Está a ficar com muito bom aspecto. E face ao que estava também me parece que está mais limpo. Não tem as janelas do 4 andar, mas pelo menos o quarteirão passou a ter as cornijas alinhadas como é aqui apresentado no projecto original... As outras questões estilisticas não discuto. Acho que depende do nivel de abertura de cada pessoa.

Anónimo disse...

Se este pais fosse composto por gente culta inteligente e com integridade nos centros de decisões este projecto nunca tinha sido autorizado...
Se este pais tivesse cidadãos e políticos igualmente cultos e inteligentes e com o mínimo de preocupação com o seu património e identidade os responsáveis por esta barbaridade eram logo punidos

Como jovem não me conformo com a transformação em que a minha cidade esta a ser alvo, mas o que mais me custa é a indiferença da minha geração pelo património de Lisboa

Reparo também que o Sr Manuel Salgado retrata cada cm da sua aparência nos seus projecto, cada um mais descaracterizante e mais feio que o seguinte....

Paulo Nunes disse...

Eu compreendo que os arquitetos sintam necessidade de deixar a sua marca. Só não percebo porque motivo insistem em assassinar o que ainda vai restando de intocado da nossa identidade em vez de darem largas à sua criatividade e valor em todo o resto da cidade e, sugiro, suburbios.

Anónimo disse...

O QUE É ISTO?!!

Este vidro é das coisas mais pavorosas que existe.
Das duas uma, ou há aqui fraude e corrupção de interesses imobiliários ou simplesmente ninguém se deu ao trabalho de ver o projecto quando o aprovou!

O que vem a seguir? Pintar a Torre de Belém de encarnado?!

António Costa que não conte com o meu voto, depois do que tem andado a fazer ao nosso património.

Anónimo disse...

Anónimo das 12:29: concordo que é precisamente de gente culta e inteligente que temos falta neste país!
Na verdade, não consigo entender de que modo podem os senhores dizer-se defensores do património arquitectónico e cultural deste país e simultaneamente condenar a forma (mais uma vez) genial com que o Arquitecto Byrne salvou esta igreja de vários anos de ocupação como garagem!!!
Estarei eu aqui a denotar alguma 'dor-de-cotovelo'...?

Anónimo disse...

Essa coisa parece o vidro do farol lateral de um camião dos grandes. Horrorosa.

Anónimo disse...

Anónimo das 12:29, a ignorância é mesmo uma bênção.

Adelino Ribeiro disse...

Realmente...
Visitei Lisboa à pouco tempo e fiquei um pouco confuso pois a dada altura pus-me a comparar a imagem da mesma Igreja que tinha no meu guia com o estado actual da mesma...
Enfim, só existe um adjectivo para classificar os responsáveis por esta barbaridade: ANIMAIS.

Sim porque um ser humano culto com o mínimo de bom senso e dignidade pelo seu património e pessoa ou seja um ser espiritual, não comete um CRIME destes!

Anónimo disse...

Anónimo das 12:14, quem é que pode ter dor de cotovelo de um Pseudointelectualcutural que só irá ser conhecido na história como uma das coisas mais maléficas,(sim porque nem homem lhe chamo) que passou pela cidade de Lisboa!

Agora só mesmo um ign.... como você se lembrava de apontar como trunfo o assunto do parque de estacionamento.
O parque de estacionamento mais cedo ou mais tarde iria acabar como acabou o da praça do comercio e o do pátio galé

Mas o mais dantesco é a maneira como associa o assunto do parque de estacionamento com as intervenções que foram feitas, (ou melhor, o crime que foi cometido contra o edifício antigo classificado como património) e que só teve como objectivo a especulação mobilaria, a facturação de algumas empresas de construção amigas e a exposição do mau gosto da "coisa" a que você chama de Salgado.

E ainda tem o descaramento e a lata de e a apelidar esta intervenção de genial!

Só mesmo uma amostra de ser humano para expressar uma opinião tão supérflua.

Anónimo disse...

1 palavra: Nojo

Assim são os Arquitectos que imundam esta nossa cidade.