Câmara de Lisboa quer dar mais espaço
aos peões, o que implica reduzir o estacionamento na via pública neste que é um
dos eixos estruturantes de Lisboa. Obras deverão custar 1,5 milhões de euros
Por Marisa Soares, PUBLICO de 12 Março 2015
Câmara quer alterar a circulação em rotunda
na Praça Duque de Saldanha, eliminando o acesso da Avenida Praia da Vitória
Duas praças, a mesma lógica: dar mais espaço aos peões, permitir
a criação de esplanadas, plantar árvores, construir uma ciclovia, reorganizar o
trânsito e eliminar lugares de estacionamento. É nisto que assenta a proposta
da Câmara de Lisboa para a Praça Duque de Saldanha e para Picoas, duas das 30
zonas consideradas de intervenção prioritária no âmbito do programa Uma Praça em Cada Bairro.
Durante
a fase de auscultação pública a população apontou os principais problemas
daquelas duas zonas, onde residem cerca de 24 mil pessoas e existe uma forte
densidade de empresas. A maioria considerou o trânsito automóvel “muito mau”,
deu má nota às condições de acessibilidade para deficientes, queixou-se do
mobiliário urbano (como bancos) e dos parques infantis, reclamou da limpeza das
ruas e do estado dos ecopontos.
Nesta segunda-feira, a câmara apresentou uma proposta para
revolucionar aquele que é um dos principais eixos de atravessamento da cidade,
entre o Marquês de Pombal e o Campo Pequeno. A intervenção, assente em obras
“não muito pesadas” sobretudo ao nível do pavimento, deverá custar 1,5 milhões
de euros, segundo Pedro Dinis, chefe da divisão de projectos e estudos urbanos.
O objectivo é arrancar com as obras no início de 2016.
Na Praça Duque de Saldanha mantêm-se as faixas de trânsito
principais, que atravessam o centro da praça, mas a circulação em rotunda será
transposta para as faixas actualmente utilizadas para estacionamento e praça de
táxis. Esta alteração vai permitir aumentar a dimensão do passeio junto ao
edificado – em algumas zonas poderá ter 15 metros de largura – e introduzir
mobiliário urbano, árvores e zonas de estadia, novos quiosques, diz o
arquitecto. Será garantido o acesso ao hotel recentemente inaugurado e às
cargas e descargas em frente aos centros comerciais Saldanha Residence e Atrium
Saldanha.
Em Picoas haverá mais árvores, passeios
largos e será eliminado o estacionamento em frente ao Imaviz e à PT
A proposta camarária prevê o corte da ligação entre a rotunda e
a Avenida Praia da Vitória. Esta passará a ter “um carácter local”, de
velocidade reduzida e estacionamento reservado a residentes com dístico da
Emel. Em cada um dos lados da avenida (nascente e poente) ficarão situadas duas
praças de táxi.
Junto aos passeios da praça será construída uma ciclovia, que
terá continuidade até ao Marquês de Pombal através da Avenida Fontes Pereira de
Melo. Numa primeira fase, esta ciclovia vai também ligar o Saldanha à Avenida
Duque de Ávila (onde já existe uma via para bicicletas) e mais tarde até ao
Campo Grande.
Na Avenida Fontes de Pereira de Melo será construído um
separador central e corredores de árvores ao longo dos passeios, dos dois lados
da rua. Na zona de Picoas – área compreendida entre o Fórum Picoas Plaza, o
Centro Comercial Imaviz, o Hotel Sheraton, o Saldanha Residence e o edifício da
PT – está igualmente previsto o “aumento substancial da área pedonal”, junto ao
edificado. Desaparece o estacionamento em frente ao Imaviz e ao edifício da PT.
“É verdade que se perdem lugares à superfície, mas muitos carros estacionam ali
ilegalmente e na zona há 1700 lugares em parques subterrâneos”, indica Pedro
Dinis, sublinhando que será reestruturado o estacionamento de motociclos.
A câmara quer também eliminar a via de viragem à esquerda (hoje
possível para quem sobe a Fontes Pereira de Melo) para a Rua Latino Coelho.
Segundo Pedro Dinis, o estudo de tráfego que está a ser elaborado para esta
zona indicou que “o maior fluxo de procura da Latino Coelho é de norte para sul
(sentido Saldanha-Marquês de Pombal) e não o inverso”. “Retirar a viragem à
esquerda é possível se fizermos duas intervenções: primeiro, tornar a
circulação na rotunda do Saldanha mais rápida, eliminando o acesso da Avenida
Praia da Vitória; segundo, criar dois sentidos na Rua Tomás Ribeiro”, explica o
arquitecto.
A ideia é também mudar o esquema de circulação na Rua Viriato,
em frente ao Picoas Plaza, mantendo apenas o sentido descendente, convertendo o
outro sentido numa área pedonal. Esta mudança implica alterar o sentido na Rua
de São Sebastião da Pedreira, na direcção do El Corte Inglés.
Esta proposta já conta com o que está previsto no projecto de
construção de uma torre com 17 andares no gaveto da Avenida Fontes Pereira de
Melo com a 5 de Outubro (cujo pedido de informação prévia foi aprovado na
câmara mas está ainda em análise). Para criar uma praça naquela zona, o
projecto contempla ainda a interrupção da circulação automóvel na 5 de Outubro
em frente ao quarteirão da Maternidade Alfredo da Costa.
Na apresentação da proposta camarária esteve presente o
presidente da Junta de Freguesia das Avenidas Novas, Daniel Gonçalves (PSD),
que lamentou não conhecer os pormenores do projecto da torre. Caso avance, esta
construção vai levar a uma mudança radical daquele espaço. Sobre a solução
apresentada por Pedro Dinis o autarca não levantou objecções, tal como a
presidente da junta de Arroios, Margarida Martins. "É um trabalho bem
conseguido, é importante devolver os passeios, os jardins e as esplanadas às
pessoas", afirmou a independente eleita pelo PS.
O programa Uma Praça em Cada Bairro prevê a construção, até 2017, de três
dezenas de "pontos de encontro da cmunidade local", novos locais de
"microcentralidade". Até agora, a câmara já ouviu a população e
apresentou propostas para Picoas e Saldanha, Praça do Chile, Avenida da Igreja,
Largo de Santos, Rua de Campolide e Rossio de Palma. Na Avenida da Igreja, por
exemplo, na freguesia de Alvalade, um troço será fechado ao trânsito automóvel
(afecto apenas à circulação de transportes públicos, cargas e descargas) para
dar mais espaço ao peão e será criado um estacionamento subterrâneo com 200
lugares junto ao mercado.
6 comentários:
Gosto! Mas já prevejo a polémica dos fanáticos do automóvel.
Se fossem ao menos capazes de tapar os buracos, disciplinar o estacionamento, as cargas e descargas, evitar que se apanhasse uma sucessão de semáforos no vermelho quando por ali se passa (coisa que não tem nada a ver com limitação de velocidade, e apenas contribui poderosamente para o enervamento de quem por ali transita) já não era mau.
Apresentar essas espalhafatosas iniciativas gente que quem nem esses problemas tem a capacidade de resolver, é de anedota.
Mas o mais certo é este comentártio ser censurado, como agora é apanágio do CidadaniaLx.
A zona da Estefânia vai ficar um caos, todos a irem pela casal ribeiro
E as árvores previstas inicialmente para o eixo central?!
De resto muito bons todos os projectos - que comecem as obras!
Dou razão ao comentário acima. Acho um projecto magnífico mas a Casal Ribeiro, Rotunda da Estefânia e a Pascoal de Melo vão ficar um caos ao fim da tarde. Quanto à Av. Praia da Vitória já devia ter sido fechada há mais tempo!
Mais uma obra para turista ver.
Nada de novo. Tudo como dantes no quartel de Abrantes.
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