24/12/2020

Prédio de 1912 - Av. 5 Outubro com projecto de edificação - protesto e pedido de chumbo à CML

Exmo Senhor Vereador
Eng. Ricardo Veludo


CC. PCML, AML, JVAN e media

Na sequência da entrada na CML a 8/10/2020 de um projecto de “edificação” no edifício sito no nº 84 da Av. Cinco de Outubro, gaveto com a Av. Visconde Valmor, processo nº 354/EDI/2020 (foto 1), serve o presente para solicitar a V. Exa. a reprovação do mesmo de forma liminar.

Com efeito, cremos estar perante um caso flagrante de especulação imobiliária, em que será severamente alterado, para não dizermos destruído, um edifício dos mais significativos de uma Lisboa “Entre-Séculos”, datado de 1912, e intacto até 2013 - altura em foi, em primeiro lugar, mutilado nos seus painéis de azulejo publicitário “Japonisme”, posteriormente “restaurados”; e nos seus vidros coloridos de todas as janelas (foto 2, de Fernanda Ribeiro, in O Corvo), posteriormente substituídos por réplicas em PVC (foto 3); e objecto de obras (provavelmente ilegais) no seu interior durante um certo período de tempo, que faziam prever que o edifício seria reabilitado, desde logo o seu fabuloso hall de entrada, revestido a pinturas, cujo mau estado de conservação actual espera por uma urgente recuperação por se tratar de um dos melhores exemplares da arquitectura de transição na cidade de Lisboa, ex-libris das Avenidas Novas. Entretanto, o edifício foi deixado ao abandono, restando a pastelaria Bola Cheia como seu único inquilino.

Passados que estão 17 anos sobre essas obras fictícias, eis que somos surpreendidos por um projecto de “edificação” apresentado agora à CML, na realidade um projecto de construção nova em que tudo será destruído, restando a fachada como “espaço de memória”, mas ampliada em 3 pisos (!), apesar de na memória descritiva se afirmar que os tectos em estuque serão preservados, o que não conseguimos compreender como o serão uma vez que em simultâneo se abrem caves para estacionamento (foto 4).

Apelamos à CML, na pessoa de V. Exa., para que trave mais este projecto destruidor, mais um, do que ainda resta de património daquele período na cidade de Lisboa, mais propriamente nas Avenidas Novas, outrora possuidoras de um rico edificado dessa época.

Chamamos a atenção de V. Exa. para o facto de este edifício se encontrar protegido pela Carta Municipal do Património, item 23.103, e, uma vez que o edifício não está em risco de ruína, não ser permitida a destruição dos seus interiores, nem a sua fachada poderá subir 3 pisos.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Fernando Jorge, Miguel de Sepúlveda Velloso, Nuno Caiado, Gustavo da Cunha, Filipe Teixeira, Virgílio Marques, Júlio Amorim, Fátima Castanheira, António Araújo, Helena Espvall, Ana Celeste Glória, João Oliveira Leonardo, Pedro de Souza, Maria João Pinto, Paulo Lopes, Rui Pedro Martins, Irene Santos, Sofia de Vasconcelos Casimiro, Jorge Pinto

2 comentários:

JF disse...

Na Cidade do Porto também estão a ser destruídos edifícios que são marcos únicos da história da arquitectura em Portugal e da Invicta.

Autênticos crimes estão a ser cometidos com a destruição dos interiores desses imóveis, causada pelo esquema de especulação imobiliária (de cariz Anglo-Saxónico) em conjunto com grupos ou indivíduos que trabalham para concretizar uma agenda política, económica, e de engenharia social com a qual os cidadãos Portugueses não se identificam e que atenta contra a nossa História e Património.

Barbara Caruso disse...

A decoração do tecto da pastelaria "Bola Cheia" (entretanto já fechada definitivamente) também é interessante.