27/04/2005

Casa Garrett, ou "não me comprometas"?

Li hoje no jornal do Metro parte da nota do IPPAR em que se "recomenda à CML a classificação da casa de Garrett como imóvel de interesse municipal", que "a casa não deve ir abaixo", que "é representativa do espírito oitocentista" e que "é um espaço de memória", enfim, ipsis verbis aquilo que nós dizemos e escrevemos desde que iniciámos esta luta, em Outubro do ano passado.

Ao que se diz nos jornais, o IPPAR terá dito que informaria em primeiro lugar as partes envolvidas da decisão tomada, pelo que, como autores da petição aguardamos serenamente ... só que como ainda não recebemos nada de oficial, nem os jornais mais importantes fizeram qualquer nota oficial, ficamos com a ideia de que talvez pensem informar o próprio Garrett, imitando assim o actual presidente da CML que agradeceu o ano passado a Machado de Assis. Como dizia Pinheiro de Azevedo, "o povo é sereno". Aguardemos, portanto.

De qualquer modo, é evidente que, a confirmar-se o artigo do jornal do Metro, o IPPAR é fã incondicional de Jô Soares e daquela personagem que pedia a todos que não o comprometessem, pois não se compromete em nada. Parece andar a reboque das notícias, e, por outro lado, dá a impressão de estar a passar a batata quente (de novo) para a CML, que já lha houvera passado há cerca de 1 mês.

Ao fim de 150 anos de intentos em classificar a casa de Garrett. Ao fim de 12 anos de estar devoluta. Depois de se autorizarem demolições, o IPPAR cingir-se a "recomendar", é, custa-me muito dizê-lo, uma autêntica palhaçada.

E custa-me muito concluir isso porque tenho muito respeito pelo IPPAR, que acho ser uma instituição com técnicos e responsáveis de imenso gabarito e amor pelo património de Portugal. Que não tem nem os mecanismos legais nem os meios financeiros para fazer cumprir a lei, nem para recuperar o património que urge recuperar. Da CML espera-se tudo, mas eu nunca esperaria que o IPPAR se ficasse por uma "recomendação".

Credo, tratarem Garrett como se fora um empecilho... não entendo a lógica de quem nos governa (a todos os níveis...).

Ainda anteontem vi um documentário sobre a Letónia onde tudo estava estimado, os seus monumentos, as suas personagens históricas, todos a dizerem que tinham orgulho nisto e naquilo, esplanadas por todo o lado, percursos disto e daqueloutro; e aqui é isto?! E ainda dizem que o turismo é uma prioridade?

Deixou-se destruir o Algarve. A costa ocidental vai pelo mesmo caminho. Os bosques e as serra estão queimados. O património cai, salvo se for salvo por "hotéis de charme". Por favor, parem para pensar!

PF

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