10/10/2006

Mercearia “A Ideal do Bairro Azul”

Porque estão em causa questões de saúde pública, a Mercearia “Ideal do Bairro Azul” vai ter que realizar obras de forma a adequar-se aos requisitos mínimos exigidos pela legislação em vigor. Este esclarecimento foi-nos dado pela CML em nota que informava ainda - face à preocupação que a Comissão de Moradores tem expressado relativamente à destruição da última “venda” do Bairro – que existem “actualmente no mercado soluções técnicas que permitem proceder em conformidade com a legislação sem descaracterizar o estabelecimento”.

Não contestando, de forma alguma, a necessidade de resolver as questões que se prendem com a higiene do estabelecimento, a Comissão de Moradores do Bairro Azul não pode deixar de referir o seguinte:

1. Nos últimos anos temos assistido ao desaparecimento da quase totalidade das lojas tradicionais que existiam no Bairro Azul. As que não desapareceram foram “modernizadas” perdendo, todas elas, as características que as tornavam parte importante do património do Bairro;

2. Assim, no nosso Bairro, “modernizar” significou, sempre, “descaracterizar”: a esmagadora maioria dos proprietários destes pequenos estabelecimentos não tem poder económico que lhe permita contratar técnicos que optem por soluções mais cuidadas ou restauros, mesmo que seja esse o seu desejo. Optam, sim, muitas vezes aconselhados pelos futuros fornecedores (de balcões frigoríficos, de prateleiras, de azulejos, de espelhos, etc.), por soluções e projectos estereotipados e, consequentemente, pela total descaracterização dos seus estabelecimentos;

3. Visitada e fotografada por muitos estrangeiros que por aqui passam, a “Mercearia Ideal do Bairro Azul”, apesar de modesta, tem ainda algum mobiliário original em madeira e um ambiente muito próprio que a torna ponto de encontro dos moradores do Bairro;

4. Dado que o Bairro Azul tem, desde Abril de 2005, o estatuto de Bairro "em Vias de Classificação" (Boletim Municipal nr. 583), a Comissão de Moradores alertou, há vários meses, e já por diversas vezes, o Departamento de Património da CML, para a necessidade de técnicos deste Departamento (actualmente a vistoriar os prédios do Bairro com vista à sua futura classificação) auxiliarem os proprietários na salvaguarda do ambiente e das características desta velha mercearia dos anos 30, contemporânea do Bairro e, consequentemente, parte integrante do seu património;

5. Uma vez que os proprietários têm diversos objectos que se utilizavam nas velhas mercearias lisboetas, poder-se-ia, inclusivamente, criar aqui um pequeno espaço memória do comércio do Bairro.

6. Assim, a Comissão de Moradores do Bairro Azul apela, uma vez mais, à CML, designadamente ao Departamento de Património, para que, de uma forma pedagógica, aproveite esta oportunidade para dar início a um processo de efectiva protecção do património do nosso Bairro, protecção essa que tarda em chegar.

Ana Alves de Sousa

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