17/10/2006

O triste fim do Salão Monumental

In Público
(17/10/2006)

"Escrevo para, enquanto cidadão, expressar a minha indignação pela destruição grosseira do magnífico salão de bilhar do Jardim Cinema na Avenida Pedro Álvares Cabral, em Lisboa. A montra está coberta com jornais há algum tempo e ontem pude aperceber-me que não se tratava apenas das merecidas obras de qualificação de um dos espaços mais emblemáticos do género na cidade. O espaço está agora irremediavelmente transformado numa grosseira e incaracterística loja de roupa! O antigo espaço sombrio, enfumarado e apurado pela patine do tempo desapareceu. E com ele a sua qualidade arquitectónica e cinematográfica de filme de gangsters dos anos 30, onde vários filmes e anúncios foram rodados ao longo dos anos. Tratava-se de uma pepita do período art deco e a sua destruição representa uma facada num património raro, valioso, cuja destruição lembra o atentado da demolição do Cinema Eden, da mesma época, e vem provar que infelizmente continuamos todos a não aprender com os erros.
Vivemos numa cidade onde quase não se cria património, os turistas continuam a fotografar a Torre de Belém e os Jerónimos, os postais são da Baixa, do Convento do Carmo. Com excepções como o CCB e o Pavilhão de Portugal, há décadas que não se constrói património e as obras emblemáticas são entregues a promotores imobiliários, funcionários camarários, quase sempre sem que existam concursos públicos, e a cidade é hoje uma colecção desarticulada de atentados grosseiros à qualidade urbana.
Veja-se a dinâmica urbana criada pela Casa da Música no Porto, que ultrapassa a mera condição de edifício marcante na cidade para contribuir como pólo de atracção de turistas estrangeiros e marcando de modernidade a imagem internacional da cidade. O mesmo se passou com Bilbau, para citar apenas alguns exemplos. O mais trágico ainda é que esta destruição passe despercebida dos média, dos cidadãos, do Ippar e das instituições que deviam informar, regular e educar para um espírito cívico. É nesse sentido que peço que seja notícia no vosso jornal mais este atentado, para que não passe impune mais um pedaço de património deitado ao lixo.
Pedro Vieira, Lisboa

N.R. O fecho do salão e a sua mudança de usos não passou despercebida ao PÚBLICO, que sobre este assunto publicou já vários textos. Ao leitor aconselham-se em particular as edições de 23 e 30 de Junho último
."

PF

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