08/04/2009

Lojistas contra restrições de trânsito

"Desde que o trânsito mudou já perdi 30 % da clientela". O desabafo é de Manuel Pereira, proprietário do restaurante Cova Verde, situado numa das ruas da Baixa de Lisboa. Como ele há dezenas de outros comerciantes daquela zona da cidade descontentes com o novo modelo de circulação da Baixa a vigorar desde 15 de Fevereiro.

O presidente da Associação de Comerciantes da Baixa Pombalina, José Quadros, diz que "as pessoas estão a deixar de ir para a Baixa e há vários lojistas a queixarem-se". Manuel Figueiredo, da administração da Frazão, uma retrosaria situada na Rua Augusta, junta-se ao coro de protestos e sublinha que "com estas agravantes no trânsito, a Baixa vai perder muito e as pessoas vão começar a ir para os centros comerciais."

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) alega que a solução apenas diminui o tráfego de atravessamento e não as pessoas que se dirigem à Baixa para fazer compras.

Porém, José Quadros garante que "os parques de estacionamento das praças da Figueira e do Município estão com menos 40 a 60% de ocupação, o que indica que estão a diminuir as pessoas que têm a Baixa como destino".

O presidente da associação de comerciantes diz ainda que o único estudo que conhece é o do especialista em tráfego Nunes da Silva, encomendado pelo Automóvel Clube Portugal, que define o plano da autarquia como "catastrófico".

No entanto, contactado pelo DN, Nunes da Silva diz que a CML "já fez várias alterações ao plano inicial", embora considere que algumas das metas da autarquia "continuam a ser irrealistas". Explica que "hoje quem quiser ir da Avenida da Liberdade para Santa Apolónia tem que fazer um percurso de loucos".

Por outro lado, o especialista em tráfego alerta que esta não é uma situação temporária, porque "quando as obras acabarem as coisas vão ficar como estão, com a grande diferença que a Ribeira das Naus será aberta e a Rua do Arsenal só servirá transportes públicos."

O assessor de António Costa, explicou ao DN que "a CML tomou esta decisão baseada em vários estudos (por exemplo, do professor Valter Rosa) e nas medições de tráfego efectuadas pela própria autarquia." O executivo acredita que 70 % da circulação que se verificava era de atravessamento, sendo a Baixa um grande "atalho".

A fonte do gabinete de Costa garante também que "o modelo definitivo a adoptar não é o que está em curso" e que a Baixa deve ser "uma zona com qualidade de vida, sem perturbações provocadas pela poluição".

Comerciantes e CML estão de acordo quanto ao facto do trânsito em certas ruas da baixa ter descido na ordem dos 40%. Mas enquanto os primeiros se queixam que "menos carros significa menos gente e menos gente significa menos negócio", a autarquia garante que apenas "quer voltar a fazer da Baixa uma zona nobre da cidade e isso só pode ser bom para os comerciantes, desde que saibam também eles valorizar os seus serviços, adaptar-se à modernidade e não limitar-se a uma posição passadista." A autarquia aponta o Chiado como "um exemplo a seguir" nesta matéria e que "muitos comerciantes da Baixa que têm contactado a Câmara Municipal de Lisboa são favoráveis ao novo modelo".

Quanto aos moradores da Baixa Pombalina, segundo explica o presidente da associação, aplaudem o projecto da Câmara Municipal. António de Campos Rosado esclarece que "todas as medidas que diminuam a circulação da Baixa são bem-vindas". O morador conta que "toda a gente nota que há muito menos gases, trânsito e barulho".

Independentemente do desfecho da fase de discussão pública, é quase certo que há ruas da Baixa que não vão voltar a abrir, como é o caso das laterais da Praça do Comércio. Aí podem ver-se os anúncios que CML colocou, em cartazes: "esgotos no cais, nunca, nunca, nunca mais" - numa alusão à obra da SIMTEJO que decorre no local .

Os "nuncas" alargam-se aos carros, que já não vão passar perto do quiosque de jornais de Francisco Amaro no Terreiro do Paço. Até agora o comerciante "só" perdeu cinco clientes, que ali compravam diariamente o jornal. Apesar de estar confiante que o novo modelo não o atinge, ao olhar para a zona envolvente da Praça do Comércio, o vendedor preconiza: "De certeza que isto vai afectar muita gente por aqui".

In DN

Em caixa falava no aumento de 5% e de 3,5% dos passageiros do Metro e da Carris respectivamente


12 comentários:

Anónimo disse...

Julgo que é esse mesmo o objectivo deste executivo Costa/Salgado/Zé, de extrema-direita: prejudicar o pequeno comércio, fazer degradar mais os edifícios, para depois os destruir e erguer condomínios.

Anónimo disse...

LOBO VILLA
Senhores lojistas da Baixa,o anterior anónimo poderá ter razão,portanto estejam muito atentos e sobretudo esqueçam os Prof Rossa,Salgado e cª,assumam-se como um grupo de pressão,contratem um bom Advogado e um bom Urbanista e desconfiem de tudo, a começar pela CML...vejam bem as "alterações aos PDM´s" que é tudo mentira,tudo interesses imobiliários ,tudo contra vocês !!!

Pedro Homem de Gouveia disse...

Parece-me que as partes referidas (comerciantes, moradores, CML) têm preocupações legítimas e pertinentes.

Há argumentos que se baseiam em percepções e expectativas.

Enquanto não houver dados concretos, cada parte poderá agitar os seus argumentos "no ar", que eles terão sempre sustentação.

Importa, por isso, procurar factos.

Seria interessante saber, por exemplo:

1) verifica-se, de facto, uma quebra no número de clientes? (recolha-se informação sobre receitas)

2) essa quebra verifica-se sobretudo junto dos clientes regulares ou de todos, em geral?
(ausculte-se a percepção dos lojistas)

3) a que se deve essa quebra? às alterações no trânsito? aos transtornos das obras? à crise económica?
(ausculte-se os clientes que vêm menos, ou os que já não vêm)

4) verifica-se, de facto, uma melhoria na qualidade do ar?
(efectuem-se medições, ou divulguem-se os dados da estação existente)

5) menos carros significa sempre, de facto, menos gente e menos clientela?
(veja-se a experiência existente noutros países e cidades, as chamadas boas práticas, onde estas estejam documentadas... é só ir ao google)

Não mudar nada na Baixa parece-me insustentável.

Resumir as críticas dos comerciantes a uma atitude passadista parece-me redutor.

Proceder a alterações com base nas indicações dos peritos, sem ouvir de uma forma estruturada e eficaz moradores e comerciantes, parece-me inaceitável em termos democráticos, incorrecto em termos de planeamento, e suicida em termos políticos.

Sempre defendi e continuo a defender que não é possível encontrar soluções eficazes e sustentáveis para a Baixa sem proceder a um processo de auscultação alargado da sociedade civil em geral, e de comerciantes, moradores e visitantes em particular.

A eleição não torna a participação pública dispensável. E os peritos não sabem tudo o que é preciso saber.

Paulo Ferrero disse...

Perguntinha de algibeira:
O que seria hoja a Rua Augusta se ainda tivesse pópós?

Filipa Lex disse...

Perguntem aos moradores da Sé o que é viver com um odor permanente a tubo de escape e com o eco contínuo das buzinas...diminuir na baixa para aumentar nas freguesias limites...?! Se é uma questão histórica também há lá muito "calhau velho" a precisar de mimo...

Anónimo disse...

o restaurante Cova Verde perde 30% dos clientes? esta é díficil de acreditar. a ideia de que havia clientes que vinham de propósito à baixa de carro para comer no Cova Verde não me convence. em geral quem vai aos restaurantes na baixa é quem trabalha lá e esses continuam a trabalhar lá. eu sei isso porque trabalho e almoço na baixa e nada mudou nos restaurantes que frequento. ou o restaurante perdeu os clientes à noite, ou a comida piorou, ou é treta do proprietário.

Anónimo disse...

Uma zona de qualidade sem carros atrai mais clientes. O oposto não é verdade.

Anónimo disse...

Concordo. O passo seguinte é tyrazer população, isso sim vai ser bom para o comércio.

Anónimo disse...

deste tipo de lojistas a BAIXA, Lisboa, não precisa. Mentalidade retrógada!

Anónimo disse...

Achar que o trânsito automóvel é que traz pessoas para as lojas é não ter vontade de pensar no assunto.
O que determinará a vontade e o interesse das pessoas em se deslocarem à Baixa não será a possibilidade de o fazerem de carro, mas sim, da dinâmica e interesses criados por esse espaço ou zona.
Basta o exemplo da Rua Augusta para ilustrar as melhorias que se podem ter com a restrição ao trafego automóvel.

Xico205 disse...

Então não lhe convence que eu ja tenha ido de proposito à Baixa para comer em certas tascas que tenho como preferidas! Pois, nem todos vão à Baixa para comer no Gambrinus, nem ás marisqueiras xuxar no camarão!

Anónimo disse...

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1383420&idCanal=57

Afinal a quebra de clientela talvez seja devido à crise...