14/06/2012

Concluída a primeira fase das obras de recuperação do Jardim Botânico .




Por Marta Spínola Aguiar in Público

Espaço, que é monumento nacional, tem a partir de hoje melhores condições para receber visitantes, diz a reitoria da universidade


As entradas no Jardim Botânico de Lisboa vão ser gratuitas até ao fim do mês. Para assinalar o termo da primeira fase das obras que ali foram efectuadas pela Universidade de Lisboa, realiza-se hoje, pelas 19h, uma cerimónia presidida pelo reitor António Sampaio da Nóvoa.
Quem chega à Rua da Escola Politécnica, entre o Rato e o Príncipe Real, sabe que está prestes a encontrar um sítio que foge ao bulício da cidade de Lisboa. "Cria-se uma espécie de bolha neste jardim", diz Ireneia Melo, investigadora principal do Jardim Botânico de Lisboa. E essa bolha surge não só pela descida de temperatura que se faz sentir, mas também pelo ar idílico que se respira. Nos seus quatro hectares, o jardim acolhe plantas e árvores de todo o mundo."As pessoas vêm aqui para ver alguma coisa de exótico. Vêm ver como as plantas se adaptam aos vários ecossistemas. E depois vêm ouvir o silêncio", salienta.
E é essa calma que acaba por atrair os visitantes. Por ano recebe cerca de 75 mil pessoas. "Somos sobretudo visitados por grupos de crianças, alunos de Belas Artes e turistas. Os portugueses não visitam tanto, mas são os que mais criticam", comenta a investigadora, referindo-se às polémicas sobre as obras efectuadas.
Durante os últimos anos, o jardim foi alvo de muitas críticas, uma vez que a falta de financiamento se reflectia na deficiente manutenção e vigilância. O espaço estava cada vez mais degradado, pondo em causa a sua própria identidade. Mas, segundo Ireneia Melo, as mudanças foram poucas. "As coisas estão conservadas e mais limpas. Os arruamentos principais foram nivelados, colocou-se areão, taparam-se buracos, pintaram-se os bancos e arranjaram-se as pontes. Agora até se pode de ouvir a água a correr, o que não acontecia há mais de dez anos."
Jacinto Leite, responsável pelas obras, diz que "a base de saibro [areia argilosa] estava destruída e só se encontravam pedras". Fez-se uma limpeza e recuperou-se o aspecto original com saibro enriquecido com argamassas. "Não fizemos uma mudança significativa", garante. "Reabilitámos os regatos com materiais recentes e que lhes deram um suporte melhor para que a pressão da água não perfurasse". De forma a monitorizar a humidade do solo, Catarina Silva e Albino Medeiros, ambos professores na Faculdade de Ciências, desenvolveram um estudo hidrogeológico que levou à instalação de piezómetros para medir a água do terreno.
Segundo um comunicado da reitoria da universidade, as obras feitas foram "o primeiro passo para uma recuperação mais profunda". A partir do próximo ano haverá uma reabilitação das cisternas, um novo sistema de rega, a reabilitação da estufa, a reposição dos viveiros e ainda a construção de infra-estruturas de apoio ao jardim e aos visitantes.
"As pessoas têm de pensar que um jardim botânico não é um jardim de um hotel, onde só tem que ter flores bonitas, onde não pode haver uma ervinha fora do canteiro. No jardim botânico tem de haver tudo", conclui Ireneia Melo.

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