18/06/2012

Inteligência Empresarial e Sensibilidade Patrimonial.



Quantas vezes ao passar por esta sapataria milagrosamente intacta ... mas um pouco empoeirada ... me perguntei a mim mesmo ... com alguma angústia e impotência ... o que irá acontecer a este "tesouro"...
Pois ... graças à capacidade de iniciativa e empreendimento de uma equipe de pessoas ... que merecem a nossa simpatia, reconhecimento e apoio nestes tempos extremamente difíceis ... a Sapataria do Carmo não apenas foi salva com todo o seu potencial e características ... mas renasceu verdadeiramente ...
Desejo-vos as maiores felicidades e Bem Hajam !
António Sérgio Rosa de Carvalho.



Sapataria do Carmo. Da mão para o pé
Por Maria Espírito Santo, publicado em 18 Jun 2012 - 03:10 in (jornal) i online

108 anos depois de ter sido fundada, a loja reabriu com nova gerência. Do clássico ao moderno, é tudo português 
Faça o favor de entrar como se fosse 1904. Aprecie os modelos estrategicamente empoleirados, sem pressas, que há tempo de sobra. Depois sente-se no sofá e aguarde. Estenda o pezinho na almofada vermelha e deixe-o saborear a prova. Ora vai uma, ora vão duas ou ainda três, mas o senhor freguês é que decide. Velhos hábitos que não morrem, moram ali, mesmo em pleno século XXI, na Sapataria do Carmo.

“É uma história muito curiosa porque numa loja que tem mais de cem anos é muito difícil mudar de gerência”, relembra João Pedro Lourinho. Foi juntamente com a mulher, Alexandra, a irmã Sofia e o namorado da última, Denis, que se aventurou no negócio de sapatos que não conhecia. Ambos os casais estavam longe, profissionalmente, de experimentar tal coisa. João Pedro é engenheiro agrónomo, Alexandra e Sofia são jornalistas e Denis é designer. “Andávamos à procura de uma nova oportunidade”, justifica João Pedro. Foi o que levou Alexandra e Sofia a procurarem novos espaços em Lisboa até se depararem com este. Como quem não quer a coisa, deixaram um papel debaixo da porta. Foi o que bastou.

A mensagem foi deixada no final de Fevereiro. Passados dois dias, tiveram a resposta da família Paulo da Cruz, a cara da sapataria há várias gerações. “O senhor estava muito mal de saúde e os filhos, um arquitecto e o outro engenheiro químico, decidiram passar o negócio”, conta João Pedro. Assim, em cerca de dois meses, o grupo refrescou o velho ambiente. As madeiras foram pintadas, dentro e fora da loja, os sofás ganharam cor nova e até se descobriram vestígios históricos na parte do armazém: “Isto estava cheio de prateleiras com sapatos. Quando tirámos as paredes que estavam a cair, podres, encontrámos esta pedra. Uma antiga porta da igreja de Nossa Senhora do Carmo”. Agora faz parte da loja, incorporando uma grande fotografia de Lisboa em tons de preto e branco.

HAND MADE Portugal é o que se pode ler, em itálico, no toldo da loja. Os novos responsáveis mantiveram-se fiéis ao compromisso de vender exclusivamente sapatos feitos à mão de autores portugueses. “É tudo calçado feito em Portugal por designers portugueses, apesar de grande parte da matéria-prima não ser portuguesa, estamos debilitados no que toca ao material”, explica um dos sócios.

No que toca ao sapato de homem, mantém-se a elegância intemporal com marcas que já eram vendidas antes, como a Armando Silva e a Mariano. Já o calçado de senhora, “levou uma volta de 180 graus”. E o que quer isto dizer? Agora há uma mistura de retro com cores e audácia do novo século. A Egídio Alves e a Shoes Closet são as novas marcas em destaque, lado a lado à Tokim, a única marca antes vendida que se mantém.

São principalmente os turistas que se inclinam junto ao vidro para apreciar os modelos expostos. O padrão animal e as combinações de cor extravagantes caracterizam a Egídio Alves, com uma colecção que rouba parte da atenção na montra. Uma marca com outras particularidades: a maior parte dos modelos existem tanto em salto alto como em raso e num toque final de excentricidade todos os sapatos têm uma pedra Swarovski na sola. Já o classicismo é com a Tokim, nos mocassins e Oxford Shoes que podem ser personalizados. Basta escolher as cores a seu gosto, para ter um par único. Para mulher os preços estão na média dos 140€ e para homem nos 160€. O preço a pagar pelos materiais, a exclusividade e também o atendimento. Tudo à moda antiga.



2 comentários:

Paulo Ferrero disse...

Completamente de acordo. Salvo o candeeiro, que acho "deslocado", trata-se de um bom exemplo de modernização de uma loja de carácter e tradição mantendo ambos. Demo-nos por satisfeitos;-)

Julio Amorim disse...

Uma pérola aquela segunda fotografia a contar de cima....