12/12/2005

Visita à estátua de D.José, confirma-se surrealismo!

Finalmente, lá consegui fazer o périplo ao derredor da estátua de D.José I, aderindo assim à simpática iniciativa que a CML decidiu lançar em Junho passado (publicitada com afã nestes últimos dias) em parceria com o Museu Militar, no âmbito dos 250 anos do Terramoto. Em jeito de balanço final, digo que se trata de uma iniciativa interessante, claro, pois estamos sempre a aprender, mas algo frouxa - talvez por força de algum amadorismo com que tudo pareceu ter sido planeado (apesar do elevado grau de simpatia e entusiasmo das técnicas da CML). E que teve como ponto alto a visita à "sala dos gessos", onde se pôde admirar o molde que viria a ser injectado de bronze sob as ordens de Bartolomeu da Costa. No resto, ficou muito por dizer e ver, e muito do que foi dito, foi-o aos solavancos, ou de improviso. Mas vamos a detalhes:

1. No Museu Militar (onde, inexplicavelmente, o preço de entrada é ainda de 1,5 Euro?!)foi possível ver-se o carro que transportou os pilares do Arco da Rua Augusta, mas apenas imaginar-se o carro de madeira que transportou a estátua. Foi possível ver-se o estado lastimável em que se encontra uma caleche de D.José, e foi possível visitar-se o "pátio dos canhões" onde jaz um canhão de Díu, salvo de ser fundido em estátua por mero acaso; mas nem por acaso se pôde deixar de "admirar" as janelas e perfis de alumínio em tudo quanto é fachada do referido pátio, o que num monumento, ainda por cima na zona velha da cidade, devia ser (é)proibido. O director do museu justificou o alumínio com um "era incomportável a madeira, e o alumínio não choca". Gostava que mandassem o Sr.Coronel em visita de estudo aos países nossos parceiros na UE onde a madeira é comportável, o alumínio choca e se paga caro a violação da lei. Também no Museu Militar fiquei a saber que os termos "colónias" e "Ultramar" são politicamente incorrectos, e que o Marquês (o verdadeiro)é considerado (ainda bem) uma pessoa polémica.

2. Na Sala de Gessos, pôde-se admirar um conjunto de moldes imponentes de estátuas famosas de Lisboa e não só, acotovelados em espaço exíguo, mas também se pôde "admirar" o estado devoluto das antigas instalações das oficinas de fardamento militar, e da Revista Militar, com paredes esventradas, recheio devassado e vidros partidos. A entrada, como é óbvio, está vedada ao cidadão comum. Suponho que a situação de todo aquele edifício não choque quem de direito.

3. Por fim, no Terreiro do Paço, e até lá, o percuro foi "engraçado" pois pôde-se ver "progresso": obras intermináveis no Largo do Chafariz de Dentro, mais obras no pavimento e nos colectores junto ao Terreiro do Trigo; prédios lindíssimos a cair aos bocados, um Campo das Cebolas entregue ao estacionamento e aos arrumadores; uma Igreja da Conceição Velha preta de fuligem, dentro e fora (a reabilitação anunciada cinge-se à capela-maior e nada mais)e, por fim, a "coroa de glória" da visita ao derredor da estátua de D.José: o Terreiro do Paço e a própria estátua, objecto de vandalização de toda a ordem e devidamente autorizada por quem de direito, senão vejamos:

- A placa central é ocupada por mil e um objectos metálicos, de projectores de luz a simples contentores, e os seus bordos são ocupados por autocarros de turismo estacionados por todo o lado. Não contentes com isso as autoridades ainda permitem a instalação de uma gigantesca árvore de Natal metálica, que destrói a beleza do cenário, mas que a publicidade paga e a estupidez humana admira;
- A estátua de D.José lá está, repleta de verdete (que alguém teima em confundir com "patine"), e continua mutilada da trombeta na sua figura alegórica. Desta vez nem sequer foi possível chegar-se lá a pé para se admirar os conjuntos alegóricos, o baixo relevo e a placa do Marquês (de que ninguém falou!), porque uns tapumes publicitários não o permitem!;
- Por fim, os prédios ao derredor da praça que estão em péssimas condições de pintura, com as arcadas porcas (do Arco nem se fala), ainda e sempre ocupadas pelos mesmos e, para cúmulo, onde já há mais perfis de alumínio naquelas janelas do que madeira, mas que, suponho não choquem!, muito menos as janelas que continuam abertas no telhado do edifício do Martinho!

PF

1 comentário:

Anónimo disse...

"janelas e perfis de alumínio em tudo quanto é fachada do referido pátio, o que num monumento, ainda por cima na zona velha da cidade, devia ser (é)proibido. O director do museu justificou o alumínio com um "era incomportável a madeira, e o alumínio não choca". "

Com "directores" assim.....minha
pobre Lisboa............

JA