23/04/2009

A vida quotidiana em Lisboa em princípios do séc. XXI

Estive para intitular este post "O Senhor Kafka vem à cidade", mas depois preferi ater-me ao título habitual: isto é demasiado kafkiano para se comparar ao velho Franz.

O passeio à frente da loja de fotografia onde costumo mandar revelar os meus rolos tem cerca de 18 metros de largura. Fica para os lados da Ajuda, no alto de uma rua com poucos transeuntes - aliás, à frente da loja (a cerca de 16 metros) há uma paragem de autocarro - ou seja, os (poucos) peões não têm razão nenhuma para andar encostados à parede.

O sítio é feio: do lado direito de quem olha de frente para a porta há um terreno vago - que o senhorio tentou uma vez ajardinar, mas sem sucesso, porque lhe roubaram as árvores; e do esquerdo há uma rua larga com prédios feios, incaracterísticos, banais.

O dono da loja resolver colocar dois vasos na entrada da loja, um de cada lado da porta, bem encostados à parede do prédio. Como lhos roubaram, colocou dois vasos maiores. As plantas dão um bocadinho de vida a uma fachada que de outra forma seria feia; não incomodam rigorosamente ninguém - o passeio, relembro, tem 18 metros de largura; os vasos foram lá colocados pelo proprietário da loja, com o seu dinheiro, a delimitar a porta.

Recentemente, a CML multou-o em 500 euros (eu repito: quinhentos euros) por obstrução da via pública.

E há quem se queixe da falta de espírito cívico dos nossos concidadãos.

13 comentários:

Julio Amorim disse...

É conveniente não esquecer que também já apanharam um tipo a tirar fotografias com TRIPÉ...num dos passeios de Lisboa.
Esse prevaricador estava também a ocupar a via pública ao contrário dos milhares de automobilistas que usam os mesmos para estacionar as suas preciosas viaturas....
Quinhentos euros...e não foi preso ????

Júlia disse...

Uma vez que o passeio tem 18 m de largura acho que é uma estupidez, uma burrice mesmo. Mas e se o passeio tivesse só meio metro?

O problema é que quando fazem estas "leis" aplicam-nas cegamente e não têm a inteligência de ver que há casos e casos.

Mas essa dos tripés, só me faz lembrar as multas que existiam no tempo da outra senhora, quando alguém era apanhado a acender um cigarro com isqueiro "sem ser debaixo de telha". É tão idiota que até dói!

Anónimo disse...

não julgo que seja uma aplicação cega da lei mas sim uma interpretação errada da mesma, assumindo que tal regulamento existe mesmo. se alguém souber de tal regulamento por favor indicar o link aqui. não encontrei nada.

não imaginava era que havia passeios de 18 metros em lisboa (que não fossem em frente a algum monumento) e que ainda há quem revele rolos e use a internet ao mesmo tempo...

Anónimo disse...

Mais Kafkiano é o facto de milhares de funcionarios a trabalhar nest "empresa" e tão mal serve os seus clientes.
Em tempos de crise, todos estes recursos, esplanadas, chamadas de atenção, etc deveriam ser vistas de outra forma...para não falar das questões de segurança que uma loja de rua proporciona.
Com este tipo de comportamentos estão a fazer o jogo dos centros comerciais e desertificar o espaço público.

Anónimo disse...

Luís Rêgo
Ocupação da via pública é ocupação da via pública, quer seja com carros, esplanadas ou canteiros.
Se as leis e os regulamentos fossem feitos a contar com o bom senso das pessoas não eram necessárias.
Já vimos, neste blog e em outros, que não se pode confiar no bom senso.
Hoje um canteiro, amanhã um letreiro ....

Luís Serpa disse...

Não sei, mas penso que "obstrução" tem um significado preciso, não? Se o passeio tivesse meio metro, talvez uns vasos de flores obstruíssem, e talvez, sem dúvida, houvesse razões para multar quem obstruía a passagem.

Mas posso, claro, estar enganado e obstruir não querer dizer nada. Ou, alternativamente, se calhar a lei é feita por émulos de Humpty Dumpty para quem, como se sabe, as palavras têm o significado que ele quer que tenham.

Inclino-me mais para esta última hipótese.

Luís Serpa disse...

PS - isto para não mencionar, claro, a desproporção referida por Júlio Amorim entre a multa aplicada aos automóveis que obstruem (no sentido vulgar do termo) os passeios e dois vasos de flores que decoram uma entrada de loja.

Luís Serpa disse...

PS - o passeio em questão é visível (e creio que os vasos tb!) no Google Earth. Basta fazer Calçada do Galvão, Lisboa, Portugal. A loja é no cruzamento coma Gonçalves Zarco, se ajudar.

Anónimo disse...

As nossas autoridades são muito estupidas para não dizer pior. Metem uma multa a um senhor que quer embelezar um sitio que o senhor LUIS SERPA diz ser feio, e que por cima não chateia ninguém, mas não metem nada aos carros estacionados em cima dos passeios, porque devem fazer a mesma coisa certamente.VERGONHA.

Anónimo disse...

Fazendo agora de advogado do diabo....
Vamos supôr que no dito passeio, já mais bonito pelos vasos colocados, resolve parar uma caimoneta de dimensões generosas (entre a paragem de autocarro e os vasos).
Vem uma pessoa e não consegue passar. Quem é que ocupou a via pública? Foi só o motorista da camioneta?
Luís Rêgo

Luís Serpa disse...

Aqui entre nós que ninguém nos ouve, caro Luís Rêgo, acho que o diabo devia encontrar um advogado melhorzito :-)

a) O passeio tem 16 metros de largura. Dezasseis. Quantas camionetas são necessárias?

b) Naquele sítio específico não há praticamente trânsito de peões;

c) Quanto tempo teriam as x camionetas de ficar em cima do passeio, simultaneamente, para que o passeio ficasse obstruído?

d) Eu pensava que era proibido estacionar caminetas em coma de passeios; a raciocinar assim, devíamos transformar os passeios em parques de estacionamento autorizados.

Xico205 disse...

Alguns passeios têm estacionamento autorizado.

Anónimo disse...

Eu também não sou advogado :)
Luís Serpa, já vi de tudo nesta cidade de Lisboa.
Só quis demonstrar que, por melhor que sejam as nossas intenções (como parece ter sido este caso) o espaço público não nos pertence. Faz lembrar aquelas situações muito comuns nos prédios antigos em que algumas pessoas (certamente também muito bem intencionadas) fazem das partes comuns sala de estar ...
Luís Rêgo