12/05/2009

Losangos para o Terreiro do Paço pouco consensuais mas calçada não é obrigatória

In Público (12/5/2009)
Ana Henriques

«Falámos com vários especialistas sobre o projecto apresentado por Bruno Soares
para a Praça do Comércio e ouviu alguns elogios mas também algumas críticas


Não são lá muito consensuais os grandes losangos que o arquitecto Bruno Soares desenhou para o futuro chão do Terreiro do Paço. Mas nenhum dos especialistas contactados pelo PÚBLICO se mostra chocado com o desaparecimento da calçada portuguesa - que, aliás, há muito que já não ornamenta a placa central da Praça do Comércio.

Recusando-se a comentar o trabalho de Bruno Soares por desempenhar nesta altura as funções de presidente da Ordem dos Arquitectos, João Rodeia recorda o que sempre defendeu em relação à praça: "O pavimento deve ser o mais neutro possível". Uma opinião que parece ser idêntica à do olisipógrafo José Sarmento de Matos, quando diz que não acha feliz a marcação dos losangos, que deviam ser mais discretos - tal como o corredor de pedra que marca o caminho entre o arco da Rua Augusta e o rio, dividindo a praça ao meio. Ao arquitecto José Mateus agrada que tenha sido o antigo terreiro que ali existia antes do Terreiro do Paço, uma praça de terra sem pavimento, a inspirar o trabalho de Bruno Soares. "Mas tenho dúvidas quanto aos losangos. Parece-me uma opção extraordinariamente formal e contraditória com a noção de terreiro".

"Um bocadinho folclórico"
Manuel Graça Dias também não acha grande piada aos quadrados deformados: "Preferia que fosse um desenho mais neutro. Ou então um padrão à escala do peão, como acontece com a calçada portuguesa". É possível que quem cruze a Praça do Comércio nem se venha a aperceber deles, devido às suas dimensões. E o corredor de pedra, será necessário? "As pessoas não são tontas, não é preciso assinalar caminho nenhum", responde Graça Dias.
O arquitecto Ribeiro Telles resume um sentimento que parece ser generalizado: "O arranjo da praça deve ser o mais simples possível, porque ela já tem força e majestade por si própria". Daí as reticências do paisagista em relação ao pavimento da placa central: "Acho-o um bocadinho folclórico".
À parte estes aspectos, o projecto é recebido com algum agrado. À excepção do presidente da Junta de Freguesia de S. Nicolau, em cuja área se situa a praça, vários depoimentos reconhecem alguma qualidade ao trabalho de Bruno Soares. Especialista em questões da Baixa, Walter Rossa dá mesmo os parabéns aos seus autores, por terem conseguido "respeitar a solenidade e o silêncio do espaço". Tal como João Rodeia, também Walter Rossa temia o surgimento de árvores, banquinhos ou outro mobiliário urbano que de alguma forma apoucasse o sítio. "Qualquer intervenção deve respeitar a escala do local", e não tentar transformá-la, diz o arquitecto.
"Neste projecto a simetria foi preservada e de alguma forma o espírito da praça mantém-se", elogia Graça Dias. Outra opção igualmente elogiada é a redução do tráfego automóvel e o aumento dos passeios. "É o mais positivo: passa a ser território dos peões", observa Sarmento de Matos. O olisipógrafo explica que, sendo a calçada portuguesa "uma coisa relativamente recente" - do séc. XIX -, não há razão para a tornar obrigatória num local que tem uma história muito anterior a essa época. Podia até ser contraproducente, avisa Rossa, por reflectir em demasia a luz junto ao rio, tornando insuportável atravessar a praça sem óculos escuros. Para este especialista, apenas uma coisa precisa de ser mudada no projecto: a plataforma do cais das colunas, que passa a ser circular, em vez de um semicírculo. "Parece uma rolha que rouba espaço à praça", critica. As esplanadas nas arcadas não levantam quaisquer objecções.
A Ordem dos Arquitectos já convidou Bruno Soares e a sua equipa para participar num debate público que irá promover sobre a requalificação do Terreiro do Paço»


Arquitectos defendem que "devia ter havido concurso"

Foi no final dos anos de 1990, nos tempos em que João Soares presidia à Câmara de Lisboa, que um concurso público promovido pela autarquia para reabilitar o Terreiro do Paço deu a vitória aos arquitectos José Adrião e Pedro Pacheco. Uma década depois a dupla continua sem conseguir explicar por que razão o seu projecto não foi por diante - apesar de o seu trabalho ter sido pago. "Continua a ser um projecto totalmente válido", garante José Adrião, que gostaria de o ver posto em confronto com o trabalho de Bruno Soares.
Na visão da dupla de arquitectos o pavimento da Praça do Comércio devia ter grandes lajes de aglomerado de pedra. José Adrião recorda que naquela altura concorreram à recuperação do Terreiro do Paço "20 e tal equipas" de arquitectos, cujos trabalhos foram apreciados por um júri composto por técnicos de diferentes áreas. E defende que também desta vez se devia ter optado por um concurso, em vez de se fazer uma encomenda de regime, sem concorrência. Foi a Sociedade Frente Tejo, cujo capital é detido pelo Estado na totalidade, que entregou a reabilitação do Terreiro do Paço ao atelier de Bruno Soares, responsável na década de 90 pelo Plano Director Municipal de Lisboa.
Tal como o projecto encomendado pela sociedade, a proposta de José Adrião e Pedro Pacheco já previa a animação da zona das arcadas - com instalações culturais, bibliotecas, galerias, salas de exposição, feiras especializadas e um museu da Lisboa pombalina. A Frente Tejo encomendou um estudo de urbanismo comercial para resolver a questão. »


Vamos lá a ver se alguém fala claro:

1. A história dos losangos amarelos debruados a cinzentinho, é uma saloiada pegada, e as risquinhas do lado das arcadas, imitando a cartografia uma piroseira. Aliás, na linha que os nossos autarcas da região saloia costumam fazer em tudo quanto é paredão, ou intervenção com marca de autor, em espaço público (areão incluído).

2. Não está em causa a calçada portuguesa. O que aquela praça deve levar é lajes de lioz. Ponto.

3. Não deve haver toldos nem bases para futuros mastros, a prever bandeirinhas. E, sendo eu defensor de árvores, acho que ali não deve existir nem uma.

4. Não deve haver alcatrão em nenhum lado, porque isso convida à manutenção do pópó, circulando ou estacionando. Deve-se manter o trânsito nas laterais para transportes públicos, em piso que não alcatrão, e que sejam veículos não poluentes e de porte médio.

5. E, nada de fazer fileiras de degrausno bordo sul da placa central.

43 comentários:

Anónimo disse...

Falou quem sabe, eu assim não tenho nada a acrescentar:

O arquitecto Ribeiro Telles resume um sentimento que parece ser generalizado: "O arranjo da praça deve ser o mais simples possível, porque ela já tem força e majestade por si própria". Daí as reticências do paisagista em relação ao pavimento da placa central: "Acho-o um bocadinho folclórico".


Já agora, o Arq. RIbeiro Teles continuará a apoiar o Zé Fraude?

Anónimo disse...

Não há nada como um ser iluminado que em 5 penadas dá à mais importante praça de Lisboa (e aos seus mortais utilizadores) o seu saber gratuita e humildemente!

Anónimo disse...

porque razão de insiste no alcatrão, ao invés da solução do rossio: quadrados de basalto, tal como em qualquer rua antiga de lisboa?

Agora, quanto à lioz, desculpem lá, mas não sabem o que dizem.

A pedra´é utilizada para revestimento de edificios ou limites de passeios por alguma razão. Caso a praça fosse coberta de lioz seria insuportável o reflexo da luz.

Paulo Ferrero disse...

Lá vem o argumeno do reflexo da luz. Chiça!

Anónimo disse...

O sr Dr quer lioz e pronto.
Não quer árvores e pronto.
Quer um chupa-chupa, quer?

Anónimo disse...

e é verdade!

não percebo essa rejeição. É pura verdade.

uma praça tão grande tem de ter cuidado com o pavimento.

a lioz é perfeita para os edificios mas para pavimento, em grande áreas, não serve.

além disso não tem qualquer fundamento na história da praça.

e eu sou grande defensor da utilização dessa pedra e da calçada portuguesa.

mas ali, não fará muito sentido, além de provocar um efeito dissonante e dissuasor da utilização da praça.

terá de ser uma material claro, obviamente, mas não reflector.

em dias de calor e sol, como é hab itual, será insuportável estar naquela praça, com pedra lioz.

dado o tamanho e ausência de elementos como bancos ou árvores, a praça será um deserto de vida.

Anónimo disse...

Sinceramente não percebo a posição extremista a favor da pedra lioz.

Concordo com o movimento contra a desertificação da praça e este novo projecto.

Admira-me é que não percebam que a utilização dessa pedra no revestimento da praça contribuiria para a sua desertificação e potenciariaa não utilização da praça.

Anónimo disse...

Em vez daquele caminho que vai do Arco da Rua Augusta ao novíssimo Cais das Colunas em Cinemoscopos, deviam-se contratar desempregados que levassem as pessoas pela mão de um local para o outro.

Sempre o governo podia baixar um pouco os números do desemprego.

Paulo Ferrero disse...

Discuta-se o plinto em mármore verde que querem colocar por debaixo da estátua, "corrigindo" o que lá está!

Discuta-se a bancada, feita de 2 degraus, num toal de 1m de altura, em toda a extensão da frente rio, junto aos carros!

Querem fazer da placa central uma coisa parecida com a Praça da Figueira, é?

Anónimo disse...

Parece que sim.

Mas isso não justifica a pedra lioz.

Podiam forrar a praça a plástico, para não estragar.

Ou então, voltar a parque de estacionamento, para os acrros taparem o reflexo.

Ou então, fazer como foi feito a seguir ao terramoto, quando a estátua foi inaugurada mas os edificios estavam em construção: fizeram-se umas telas a imitar os edificios quando estivessem acabados.

Podia colocar-se uma tela sobre o chão fazendo a vontade a todos os iluminados quanto ao piso desejado.

depois podia cobrir-se de tela todos oa habitantes deste país, para lhes dar um ar civilizado.

e uma tela sobre o rio, a parecer que é limpido e tem golfinhos.

e outra sobre a nova ponte, para lhe dar um ar mais ao gosto.

e outra sobre as avenidas, para parecerem pavimentadas e outras sobre as casas, para parecerem arranjadas...

ah..espera...a maior parte disso já é feito desde a fundação da nacionalidade...

Anónimo disse...

A bancada em frente ao rio é absolutamente necessária: trata-se de evitar que caiam à água os ciclistas.

rui disse...

usar terra é muito má ideia. nos sítios onde sei que tal foi tentado serve apenas para atirar pó para o ar nos dias de vento e sujar os pés com lama em dias de chuva

Anónimo disse...

E o plinto não devia ser de mármore verde, atendendo às cores da bandeira e dos dois maiores clubes da capital.

Eu proponho um plinto verde e encarnado.

Anónimo disse...

Trabalho num edifício que tem um pateo à entrada cujo chão é coberto por mármore de cor clara. Nos dias de sol, quando se sai do prédio a luminosidade forte reflectida na pedra causa uma momentânea perda de visão além de "ferir a vista".
O lioz é uma pedra bonita, não há duvida, mas não sei, por este e outros motivos, se seria adequada para a praça.
Luís Rêgo

Arq. Luís Marques da silva disse...

Parece-me excessiva esta discussão de "gostos".
Anteriormente dei uma ideia daquilo que, em meu entender, deveria ser a praça: recolocada na escala humana, utilizável, apetecida, adquirindo o status de "sala de estar" da cidade de Lisboa. Esta Praça deve voltar a ser o que foi o antigo Terreiro do Paço, ganhando dinamismo e fruição, sustentado em comércios e serviços de restauração de qualidade, devidamente colocados nos espaços dos edifícios das arcadas e utilizando estas últimas, para colocar esplanadas (lembra-me São Marcos).
Quanto ás árvores, é claro que devem ser lá colocadas; de pequeno/médio porte, pontuando as laterais da imensa placa central, criando duas zonas de estar,ou de contemplar, ou chamem-lhe o que quiserem, mas que permita o uso da Praça nos meses de Estio. Não ponham lá as árvores e depois, façam "posts" a criticar a panóplia de toldos e chapéus de Sol.
O desenho é importante? É, mas ainda mais importante é a dignidade da Praça, uma criteriosa escolha de materiais, materiais de alta qualidade, que dignifiquem o espaço, que não se degradem rápidamente e que se possam aguentar na Praça, fazendo história com ela; que não sejam do tipo "Polis", para deitar fora daqui a nada.
Podem colocar lageado de pedra na placa central, igual ao que está por baixo das arcadas.
Podem completar os passeios, nos lados Norte, Nascente e Poente, com os belos desenhos de uma bonita e bem colocada "calçada á portuguesa", ou outra solução similar, mas com igual nobreza e carinho.
Mais que isso, é inventar o desnecessário; é acessório.
É portanto de dignidade, simplicidade e humanidade que, a par da monumentalidade, que esta nossa Praça precisa. Sem excessos ornamentais, nem tiques de afirmação pessoal.

Anónimo disse...

ora bem.

Anónimo disse...

Realmente, se há lugar onde uma calçada portugues ficaria muito bem, seria no Terreiro do Paço. Não tendo carros, os danos ao pavimento serão mínimos.
Desde que se tenha em conta soluções para minimizar os incómodos de um piso irregular e escorregadio, acho que era um lugar de eleição para a calçada portuguesa. Talvez dos poucos que ainda se justificam.
Luís Rêgo

Anónimo disse...

Daqui a 10 anos, talvez leiamos este mesmo parágrafo, actualizado:

"Foi no final dos anos de 2000, nos tempos em que António Costa presidia à Câmara de Lisboa, que, sem concurso público, para reabilitar o Terreiro do Paço, surgiu o projecto do arquitecto Bruno Soares. Uma década depois, o arquitecto continua sem conseguir explicar por que razão o seu projecto não foi por diante - apesar de o seu trabalho ter sido pago. "Continua a ser um projecto totalmente válido", garante Bruno Soares, que gostaria de o ver posto em confronto com o trabalho de José das Fontaínhas (nome fictício)."

Pago, claro.

Tudo começou mal.
Não deve haver, portanto, vergonha em queimar o projecto e lançar um concurso público. Vale mais dar um passo atrás, preparando bem o que fazer, do que avançar condenando mais umas décadas do futuro da praça.

Anónimo disse...

Assino o que Mário Miguelo disse.

Anónimo disse...

Perdão, troquei-lhe involuntariamente o nome. Mário Miguel, assim é que está certo.

Anónimo disse...

Uma requalificação de uma praça desta natureza não passa só pela discussão das três linhas a mais ou a menos no pavimento.
Concordo com o arquitecto: Falar do que é necessário, para levar as pessoas para o TP.
De como resolver o tráfego.
Ficam ou não os eléctricos?
E simplicidade e comedimento meus Senhores, isso é que é muito preciso aqui.

Anónimo disse...

óbvio que os electrivos ficam.

o arquitecto é que acha que no seu lindo desenho monocromático, as linhas do electrico estragam.

por ele fazia-se uma quadrado branco. marcava mais e ele enchia o ego.

Anónimo disse...

No texto do "post", critica-se a utilização da calçada portuguesa, por não ser contemporânea da praça? Mas esta só é concluída no sec XIX e por isso não choca em nada com a sua história.

Anónimo disse...

Ólha os da Ordem a tentarem puxar o protagonismo para o lado deles.
Querem fazer o projectinho, é?
Cambada de puxa sacos.

Anónimo disse...

Vou transcrever os comentários numa repartição publica, que por sinal era só um dos departamentos da CML.
Funcionário 1: Isto é como comprar um tapete lá para casa.
Funcionario 2: Espera lá...
F1: Epá senão gostar daqui a uns anos tira-se.
F2: Mas aqui a casa não é tua.
F1: Pois
F2: Nem o dinheiro do tapete
F3: Temos que escolher um tapete consensual e que dignifique o espaço.

Em conclusão lá casa mando eu. Quem manda na nossa casa somos todos nós. É necessário uma grande participação de todos os lisboetas.

Seria facil fazer um pequeno concurso (aberto a todos) que seria exposto no Terreiro do Paço de forma a permitir a todos escolherem qual o melhor "tapete" para a nossa casa.

Anónimo disse...

Eu vi, claramente visto, umas excelentes obras arquitectónicas assinadas pelo sr. engenheiro José Sócrates.

Assim sendo, parece-me não haver pessoa mais indicada para supervisar o projecto de requalificação do Terreiro do Paço.

Parece-me de inteira justiça e de longe a melhor solução.

Anónimo disse...

Salvador
... iluminárias para a nossa Praça; onde estão???
Um projecto de requalificação, sem uma proposta de quais as escolhidas?
Cheira-me a esturro.
Apresentar um projecto desta dimensão e importância, retirando o táfego, é relativamente fácil no papel; quais as alternativas previstas?
Há algum estudo de tráfego para a zona?
Não estaremos todos a "embandeirar em arco", com os risquinhos do chão, o supérfluo, esquecendo-nos do mais importante?

Anónimo disse...

há um estduo de tráfego sim. amplamento divulgado pela CML antes das obras actuais e que etsá no site da cml.

está bastante bem feito, aliás.

Anónimo disse...

Salvador
Óptimo, ainda bem. É um factor primordial que exista um estudo assim tão bem feito, com as alterações a implementar na zona, devido a uma requalificação urbana desta envergadura:
Indicação do fluxo do tráfego pedonal e automóvel; rede de transportes, etc, etc
Só é pena o tal estudo não ter acompanhado o projecto nesta discussão...

Anónimo disse...

Eh pá e onde é que metemos os carros - deviam era fazer um silo de 10 andares!!!! Pera 20 e os 10 de cima eram um mega centro comercial!!!

Anónimo disse...

julgo que o projecto acompanha as conclusões do estudo de tráfego, ou seja, redução de 40% no atravessamento.

Laterais fechadas a particulares, marginal para automóveis, mas com menos faixas e rua do arsenal para transportes públicos.

aliás, para quem julgava quea cidade deixava de funcionar com as obras na baixa, enganou-se.

tal como o estudo previa, o trânsito de atravessamento foi desviado para o resto da cidade. notou-se aumento de trânsito noutras vias da cidade, mas que o suportaram bem.

o transito na baixa circula mais ou menos, mas o que é natural porque a ribeira das naus está fechada. assm que esta abrir, o transito com destino á Baixa melhorará.


também se verificou uma boa solução a reserva de uma faixa bus na rua da prata e a deslocalização de paragens de autocarro da praça do comércio para a rua do ouro e rua da prata.

tudo tem funcionado sem grandes problemas.

ainda existem, claro, mas não foi a catástrofe prevista.

os lisboetas afinal descobriram que existem vias que circundam a baixa e que a baixa é a zona melhor servida de transportes da cidade.

assim que essas vias forem melhoradas ou criadas outras, penso que a coisa melhorará.

Luiz de Sá Pereira, arq. disse...

A noção de valor está intimamente ligada com a da sua ausência por perda inesperada e irremediável. Os países do centro da Europa que experimentaram graves perdas durante as guerras mundiais há muito dispõem de uma política de conservação e de reabilitação de valores culturais edificados. Entre nós, exceptuando a terrível catástrofe de 1755, não houve desaparecimentos bruscos e em tão grande quantidade. O desaparecimento destes nossos valores, vai-se realizando por alteração, perdendo características e testemunhos de autenticidade, por dois processos e em dois tempos.

Pela gestão corrente, assiste-se a falência da conservação, substituída por um decorativismo, ligado à chegada de elementos estranhos e sem outro critério que o da funcionalidade e do bem parecer estético. É o caso da instalação de mobiliário arrojado como quiosques, bancos, frades variados, da saturação do espaço visual com todo o tipo de suportes publicitários, de origem internacional e outra sinalética, na maior parte das vezes desnecessária ou redundante.
Como sem dúvida é legítimo que os utentes experimentem maior fluidez nas suas deslocações, que entendidos agora como consumidores, sejam informados do universo de produtos disponíveis, as mudanças são tacitamente aceites e até aplaudidas, embora com resistência nas pessoas de idade ou de melhor nível cultural que vêm ofuscar, desaparecer ou substituir referências que tanto exploraram.
Quanto aos visitantes, estarão eles interessados nos suportes publicitários e mobiliário igual ao que têm instalado nas suas origens? É por isso que anseiam descobrir quando nos visitam? Será que lhes interessa uma rua dos Correeiros “pedonalizada” cheia de guarda-sóis onde o mesmo acordeonista toca a mesma y viva Espanha? Quem, se não for obrigado, visita o Mercado da Ribeira hoje mais parecendo uma área de serviço à ilharga da Avenida 24 de Julho com apelos pífios às maravilhas que supostamente estarão no seu interior?
Outros defeitos de gestão, justificáveis por falta de meios e por uma fiscalização menos activa, são a mistura de soluções no âmbito de acções de conservação improvisada.
Vejam-se sarjetas de excelente cantaria misturadas com elementos de betão, quando não liminarmente substituídas por incaracterísticos sumidouros que ficam por sistema com os lancis contíguos partidos por não encontrarem apoio no vão que existia. Acrescente-se o revestimento por betuminoso dos pavimentos históricos de calçada negra, a substituição das verdadeiras calçadas por faixas de um vidraço cada vez menos vidraço e miúdo atirado para cima de um leito de argamassa como na Rua do Crucifixo,etc..

O segundo processo é mais determinado. Surge quando tudo ficou estragado, por falta de conservação adequada. Procura-se então a remodelação funcional, “erudita”, “valorizadora”, polis, projectada por profissionais universalmente reconhecidos, circunspectos, caros, indiscutíveis; com reformulação para melhoria ou supressão da circulação motorizada, com substituição de pavimentos rodoviários por outros mais impermeáveis que suportem mais cargas, e invariavelmente novos pavimentos para peões, esquartelados por vastos quadrados.
São grandes intervenções rompendo com o passado, subsidiadas por um qualquer programa e acarinhadas pelo desejo político de realizar obra, modificando compreensivelmente aquele estado de degradação.
Transformações que apenas resolvem e consagram o nosso tipo de vida actual rompendo com a génese e evolução do local, nada experimentadas que não pelo umbigo do autor e que podem gerar a prazo um maior número de inconvenientes.
Com excepção das deficiências de gestão, o Terreiro do Paço esteve ao abrigo destas transformações durante muitos anos. Era demasiado respeitado. As recentes obras do metro geraram o caos no arranjo anterior. O emblemático Cais das Colunas já perdeu a sua bacia Nascente, numa invasão do rio pela curva e contracurva onde, já repararam?, finalmente cabe o tráfego com a Avenida Infante D. Henrique; o tráfego que agora se pretende suprimir! Sim, a valiosa muralha-banco, com as suas peças entrosadas por uma estereotomia antiga, já desapareceu em parte deste lado. Deste aspecto ninguém fala; pois que do ponto de vista terrestre faz muito sentido e nunca ninguém pensa em devolver ao rio a área de aterro conquistada. Mas com que ligeireza se vai demolir a verdadeira “filigrana” construída em calçada miúda, essa sim portuguesa, (e não me refiro aos ornatos mas à forma de assentamento SEM argamassa), envolvente de toda a praça central? Há anos descobriu-se em torno do passeio da estátua do Duque da Terceira no Cais do Sodré a calçada que lá se encontra. Estava sob um relvado.

A procura cultural num espaço histórico é de testemunhos de cultura, de autenticidade, de indicadores das soluções que enquanto povo encontrámos para as prosaicas solicitações universais. Como foi resolvido o escoamento da chuva? Porque é que aqui ficou um Largo? Quais os materiais escolhidos para resistir de entre a geologia local? Qual a história dos nossos cuidados com a Praça e com o seu desenho?

Defenda-se que o espaço exterior histórico consolidado não é campo para experimentação de projectos. Trata-se de um território vocacionado para intervenções de limpeza, desobstrução, e de luta pela salvaguarda ou retoma de uma coerência perdida. Porque não vão esquartelar o pavimento de São Marcos? Quando é que nós portugueses vamos ter alguns elementos eleitos, estabilizados? Porque insistimos em ser tão revolucionários nestas matérias? É clubismo ou falta de cultura e de amor próprio?

Cuidemos dos nossos testemunhos, agindo aqui e ali em socorro do conjunto, para que em vez de remetidos para a condição inferior de ultrapassados, se apresentem maduros e culturalmente ricos; para que se apresentem, numa palavra, conservados.

Anónimo disse...

...Porque a memória colectiva é, e será, a única força motriz que nos fará emergir ou sucumbir, enquanto povo, em situações de instabilidade social ou em desafios profundos de identidade, como são as guerras e as efemérides colossais.

Não é cubismo. É falta de cultura entre muitos outros problemas. É talvez o sistema político também. Mas o cancro está sobretudo dentro de nós, foi-se instalando de soslaio utilizando a caixa mágica para configurar horizontes plásticos de bem-estar que nos distraíram e nos custam agora as nossas origens fundamentais: humanos, primeiro, filhos de um planeta; guardiães do património histórico dos nossos ancestrais (responsáveis pelas referências do nosso colectivo) em segundo; e apenas depois criadores.
Com Darwin invertemos as funções, não que tenha sido culpa dele, mas o mote foi aproveitado com perversidade. E eis que nos transferimos para o centro de tudo, de tudo criar ou de tudo destruir.
O mesmo Homem todo-poderoso e cientista afirmando que Lisboa será (já devia ter sido, segundo ele) novamente e incontornavelmente afectada por um terramoto de dimensões iguais ou superiores àquele de 1755.

O diagnóstico está feito.
Agora faltam as acções. Fortes e incisivas. Coisa que a democracia, neste estado, tudo fará para evitar.
Um novo partido político, talvez, que tenha como objectivo específico mudar a constituição introduzindo leis fundamentais e estruturas que protejam o património cultural e penalizem duramente os prevaricadores; uma nova revolução, talvez, que produza bem mais do que dois mortos e alguma destruição.

Neste quase-colapso não vejo outras opções que não as radicais, isto para não ficar parado, sentindo-me Prometeu, e envelhecer a ver esfumar-se um povo.
Ao preço actual dos plasmas e dos sofás, da existência de créditos fáceis e das séries tipo CSI, é de tal forma tentador assistir à encenação do nosso futuro em vez de participar nele que uma revolução tenderá a ter tão poucos participantes. Consequentemente, não terá interesse publicitário nas televisões e jornais, ou seja, não dará em nada.

Um amigo propõe transformar o país em campos de golfe.

- Se calhar, sem o sabermos, o plano já está em execução.

Ele ri-se, e muda de canal.

Ferreira arq. disse...

Sobre "A Praça do Comércio" :

(texto completo em: http://forumsociedadecivil.blogspot.com/2009/05/praca-do-comercio.html )

...
Não perdiam a honra nem a dignidade os autores do projecto se aceitassem evoluir esta modelação interior da praça (que no estudo parece ser o que está errado) com a colaboração das achegas válidas que têm sido dadas, já que não se cumpre a legislação e não se obriga estas coisas a ser feitas com o regulamentar concurso, que é aquilo a que se obriga a cumprir ao comum dos mortais.
.
Também será pena perder esta oportunidade para dar agora alma a esta nossa praça. Mas será ainda pior, na nossa época, cometer tamanha atoarda que, para além de nos envergonhar a nós, envergonha os autores de um plano grandioso que foi uma lição para o mundo, já lá vão 250 anos.
.
O que posso resumir nisto: Perderam pelo caminho a noção de eficiência que eles tinham. Com este projecto a praça não vai sequer pretender desempenhar a função de uma praça, mas sim de um santuário do consumo (nos termos de uma grande superfície comercial).
...

Anónimo disse...

grandes comentários!!!!

e finalmente mais alguém repara que 1/3 do cais das colunas foi tapado com as obras do metro

anda tudo cego?

Anónimo disse...

Manifestação a frente da CML para um concurso público, já.

Anónimo disse...

acho que o blog anda mais ocupado a mandar bocas ao zé, ao costa e ao santana por fait divers do que propriamente em mexer-se para algo de útil.

Lesma Morta disse...

Grande arq. Ribeiro Teles. concordo em pleno com as suas observações

BRUNO SOARES disse...

Meus amigos, eu tenho de ganhar a vida, caramba.
E tambem quero ganhar fama, para depois ser conhecido no estrangeiro.
DEIXEM-ME TRABALHAR E TRATAR DA MINHA VIDA.

Anónimo disse...

POr falar em cais das colunas...
http://janelaurbana.clix.pt/videoid-18-codigo-71d82837228e72394db454909b5fe625.html

Anónimo disse...

Num país com uma democracia verdadeira e transparente haveria certamente um concurso público. Mas não, convidou-se um iluminado qualquer que nos dá uma solução provinciana, reduzindo a maior praça do país a um espaço saloio.

Losangos? Corredor central que não vai dar a lado nenhum? Base da estátua em mármore verde? Cais das colunas transformado em plataforma circular? ( belo espaço para o sr. costa instalar lá os seus matraquilhos de domingo )

Petição procura-se!!

Filipe disse...

Um anónimo escreveu:
"também se verificou uma boa solução a reserva de uma faixa bus na rua da prata e a deslocalização de paragens de autocarro da praça do comércio para a rua do ouro e rua da prata."

Claro, então o transbordo na maior praça intermodal da Carris tornou-se francamente ágil com essa "deslocalização" como agora se diz à boca cheia.
É óbvio que estou a ser irónico.

Esperemos que no final as paragens voltem ao sítio onde estavam.

Anónimo disse...

discordo.

o espaçamento de paragens ao longo d praça do comércio e ruas adjacentes permite a desconcentração de passageiros pela baixa, a possibilidade de parar a meio da baixa (coisa que antes só éra permitido no rossio ou praça do comércio) e evitaa concentração de autocarros parados e, consequentemente, o aumento da poluição.

por outro lado, diminui o tempo de paragem dos autocarros, que não se acumulam.

e, por outro lado, não transformam a praça do comércio numa central de camionagem.

era lindo estar numa esplanada na praça do comércio, sem ver a praça e a levar com tubos de escape, com os autocarros todos parados em fila indiana.