27/04/2014

Palácios de Lisboa - 7 - Palácio da Rosa, Mouraria

Aspecto do recém-classificado Palácio da Rosa. É hoje Imóvel de Interesse Público. Ainda bem. O palácio dos Marqueses de Ponte de Lima na Mouraria, é um dédalo de vestígios bem anteriores ao terramoto, janelas e portas quinhentistas, elementos barrocos e rococós, painéis de azulejos setecentistas e oitocentistas. O vínculo que levou à construção deste palácio data do século XIII. Classificado ou não, o seu valor histórico e presença num dos mais antigos bairros da capital é incontestável. A sua recente história é uma vergonha de compras e vendas, hoteis e não hoteis, retorno ou não do investimento. Desde 2003 que o seu destino se joga nos amanuenses que despudoradamnete negligenciam o que Lisboa tem de excecpional.

Terraço a dar para uma vista soberba que já ninguém goza, nem vê. Nota-se uma porta ogival. Resistiu aos diferentes terramotos que assolaram Lisboa. Não resistirá aos desmandos da razão humana.

Fachada nobre do palácio dos Marqueses de Ponte de Lima. Entre vidros partidos, janelas e portas entaipadas, redundantes avisos de segurança para obras que não existem, é o caricato o novo selo deste belíssimo exemplar de arquitectura aristocrática lisboeta. Dirão uns que é o destino de uma cidade pobre. Será. Mas é, também, o sintoma de pouca civilidade, de falta de respeito pela história, de pouco capacidade/vontade de agir.

Estas janelas já tiveram outra vida. O património lisboeta desaparece todos os dias.

Pedra de armas dos Marqueses de Ponte de Lima. Elementos barrocos e rococó. Notável composição que não é das mais comuns na nossa capital.

Porta da entrada nobre. Avisos para quê? Já ninguém aqui trabalha de forma continuada. Na pressa do abandono, nem os cartazes se retiraram.

Pátio do palácio,  à volta invulgares painéis de azulejos que relatam os feitos da família e as suas ligações. Um livro de história de Portugal em azulejo. Grande parte já foi roubada, partida, abandonada. O pátio é hoje depósito de todos os restos dos restos das obras de colagem que nos quiseram vender como obras de manutenção do património.

Algerozes que são só o sublinhar de infiltrações e de entupimentos. Nas paredes cresce a humidade.

Quem pode achar que plásticos e cartões protegem os magníficos salões das intempéiries e dos assaltos?

Raras molduras de mármores que dão entrada a uma escadaria que já ninguém sobe nem cuida.


Escoras que pretendem evitar a derrocada de uns varandins de balaustrada que dão para o jardim. Remendam-se os testemunhos da história de Lisboa.

Fiada de águas-furtadas. Também elas abertas aos ventos e à chuva. Não falta arejo no património em Lisboa.

Muro da cerca do palácio dos Marqueses de Ponte de Lima. Aqui havia um jardim. Hoje é um matagal, fácil pasto de qualquer catástrofe. Como a palmeira, o património lisboeta com esta categoria encontra-se, em grande medida, moribundo. Não será esta com toda a certeza a evolução que queremos para a cidade.

12 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Título alternativo: legado das nacionalizações republicanas em Lisboa - parte 7

Anónimo disse...


BOM TEXTO e FUNDAMENTADO

Parabéns !

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

Reagindo ao anónimo das 12.55:

Obrigado pelo seu comentário e encorajamento.

Cumprimentos,

Miguel de Sepúlveda Velloso

Anónimo disse...

Oh, Filipe, vamos lá falar também da destruição da parte baixa da Mouraria, da Alta de Coimbra e tantos outros crimes patrimoniais também cometidos durante o estado novo? Isto não serve para desculpar as atrocidades cometidas no actual regime que para mim de democrático também tem muito pouco mas vir com a conversa que antes de 74 havia respeito pelo património é conversa de quem não sabe do que fala ou reza todos os dias no altar do beato de Santa Comba Dão.

Anónimo disse...

certamente que isto é preferível a condomínios de luxo..., certo? quando se faz é porque se faz, quando não se faz é porque não se faz.

Filipe Melo Sousa disse...

Sr anónimo das 4:50, em que mundo é que vive? O património roubado continua propriedade do estado ou CML, e ao abandono. Não estamos a falar do passado. Para colmatar as lacunas do seu conhecimento deixe-me referir que as nacionalizações republicanas foram em 1910 e não em 1974.

Anónimo disse...

"certamente que isto é preferível a condomínios de luxo..., certo? quando se faz é porque se faz, quando não se faz é porque não se faz."

Anónimo, deixe-se de demagogia barata!

Geralmente quando se faz pergunta-se porque é que se fez mal!
Quando não se faz pergunta-se porque é que não se faz bem!

Lisboa é o perfeito exemplo de uma capital que outrora teve um património riquíssimo, mas que infelizmente e constantemente, viu as suas jóias serem "entregues" aos "mesmos" de sempre e às suas infalíveis receitas de estropiação e especulação, transformando autenticas obras de arte, com um potencial enorme, em condomínio pindéricos que mais parecem saídos de um bairro ali para os lados da alta de Lisboa.

Não, "esta" Lisboa não é linda!!!

Anónimo disse...

Se querem ser honestos para quem ainda visita este espaço e para quem não o conhece e o vem visitar pela primeira vez, sugiro que retirem do cabeçalho a mensagem falsa que lá têm escrita e colocarem esta que aqui surgiu, bem mais significativa da vossa actividade neste blog:

"Geralmente quando se faz pergunta-se porque é que se fez mal! Quando não se faz pergunta-se porque é que não se faz bem!"


Se querem fazer deste blog um observatório da incúria de privados ou das políticas de todo e qualquer executivo camarário, seja ele qual for, sugiro que chamem a este blog SOS LX, que vai bem mais ao encontro da vossa linha editorial de cariz trágico-cómico.

Anónimo disse...

Uma miséria!

E o do lado, onde viveu o poeta e escritor Afonso Lopes Vieira, está à venda.

http://www.sothebysrealtypt.com/imoveis/moradia-28-quartos-lisboa-sao-cristovao_pt_9482

Anónimo disse...

"O do lado está à venda" e está impecável. Quem me dera a mim! Quanto ao imóvel que figura no post, só quando alguém quiser efectivamente investir os vários milhões necessários à sua recuperação se poderá falar em soluções viáveis, até lá o resto é conversa. O que é uma pena, porque podia ser um magnífico hotel de charme numa zona extraordinária e que está a renascer.

Anónimo disse...

"que vai bem mais ao encontro da vossa linha editorial de cariz trágico-cómico."

Querem ver que eu (que já visitei meia Europa) é que estou doido...
Sempre pensei que a cidade de Lisboa fosse uma das capitais Europeias com mais património descaracterizado e que se encaixa perfeitamente nesse "tal" estilo trágico-cómico que o anónimo das 12:45 referiu.

Afinal, e de acordo com certas almas penadas que habitam um outro Universo, parece que não.

Enfim....As verdades doem.

Anónimo disse...

Atenção que segundo o estudo de 1948, do Engenheiro Militar, Viera da Silva - sobre a Cerca Fernandina de Lisboa - "toda a parte norte do edifício, assim como o jardim, encostam-se ou tem por fundo uma parte da muralha da Cerca Fernandina. Que é nada mais nada menos que o lanço da muralha que descia da Torre de São Lourenço( situada na Costa do Castelo) até às Portas da Mouraria:

https://www.google.pt/maps/@38.7148909,-9.1344588,100m/data=!3m1!1e3