«Bom dia,
Alertada por alguns artigos recentes da comunicação social dedicados ao prolongamento da Linha Vermelha do Metro de Lisboa e, concretamente, ao viaduto e Estação terminal do Metro de Lisboa, em Alcântara, queria partilhar as minhas preocupações com o Forum Cidadania Lx e pedir, por um lado, maior divulgação e a vossa intervenção junto das entidades competentes.
Tendo em conta que o metro em Alcântara aparece como uma inevitabilidade e um dado adquirido, apesar da diversidade de transportes públicos já disponíveis na freguesia, incluindo ligações ferroviárias a várias estações de metro a partir da Estação de Alcântara-Terra, não se compreende como foi aceite um projeto à superficie, quando, apesar das dificuldades, até se conseguiu proceder à implantação subterrânea do metro no Terreiro do Paço e no Cais do Sodré. Será Alcântara menos digna? Se o problema era o caneiro de Alcântara, não haveria localização mais adequada para a estação de metro, evitando-se a construção de um viaduto e de uma estação à superficie? E, neste contexto, como se tornou admissível a empresa de transportes Metro de Lisboa estar autorizada a avançar com intervenções no Baluarte do Livramento, monumento do século XVII?
Como se não bastasse implicar a demolição de estruturas adjacentes ao Baluarte do Livramento e afectar diretamente a integridade do próprio monumento histórico, o viaduto do metro de Alcântara vai literalmente atravessar "um prédio" na Rua da Costa, em Alcântara até chegar à Estação. Esta será edificada à superficie, na própria avenida de acesso à Ponte 25 de Abril, e vai acabar por retirar a servidão de vistas a algumas ruas do Bairro do Alvito, a título permanente, cimentando o seu isolamento da restante freguesia. A obra será, no mínimo, um desrespeito histórico à freguesia de Alcântara e aos fregueses do Alvito. Será, no mínimo, permanentemente impactante a nível visual e acústico.
O projeto em apreço, na fase de estudo prévio, encontra-se para consulta aos cidadãos na seguinte plataforma, durante os próximos 31 dias e até 2 de junho:
Partilho convosco o comentário que deixei há dias no site:
"Li com muita atenção o "Estudo Prévio, Resumo Não Técnico", observando cuidadosamente o traçado proposto para a extensão da Linha Vermelha, com especial interesse no terminal e viaduto de Alcântara, zona histórica que tem vindo a ser requalificada e onde possuo um apartamento, na Rua dos Lusíadas, onde também cresci. Trata-se de um projeto ambicioso e oneroso, mas que, no troço final, vem definir um novo enquadramento paisagístico e cénico que qualifico de muito mau, algo que não se admite num empreendimento que se quer cuidadoso. Transforma a potencial mais valia de ter metro em Alcântara numa tragédia paisagística e social desnecessária.
Um viaduto e uma estação terminal que encaro como uma ferida aberta com tecido cicatricial na lindíssima e histórica Alcântara, requalificada e reinventada, à data, com bastante harmonia. E mexer, neste contexto, no Baluarte do Livramento, é impróprio, mesmo sob pretexto de o requalificar.
Acrescento que os habitantes do Alvito/ Quinta do Jacinto, com os quais não tenho particular afinidade mas que já são socialmente os mais desfavorecidos e isolados, serão sem dúvida os mais penalizados, contrariamente ao que se relata no "Estudo Prévio, Resumo Não Técnico", ficando ainda mais arredados da restante freguesia, encurralados, com um "mono" permanente à frente, sem direito a servidão de vistas, com a estação a servir de verdadeiro tapume.
O mesmo se pode dizer de qualquer habitante ou turista de Alcântara com o mínimo de sensibilidade estética que terá de viver com o impacto visual negativo da obra finalizada, resultante da imposição feita ao Arquiteto de apresentar um projeto à superficie. É de lamentar e de tentar remediar, encontrando uma solução subterrânea e sem viaduto, num local que seja adequado. O meu parecer é, por isso, completamente desfavorável à construção do viaduto e do terminal de Alcântara à superfície, seja onde fôr, porque Alcântara merece igual cuidado ao que foi conferido a outras freguesias históricas de Lisboa, onde se chegou a equacionar implantar metro à superfície, mas que acabaram, e muito bem, uma vez ultrapassados os entraves à realização da obra, por ter metro e estações subterrâneas - um aspecto que as valorizou.
É porque, convém relembrar, Alcântara é uma freguesia que até já tem ligações a vários pontos da cidade, com elétricos e autocarros da Carris a circularem incessantemente, com acesso rodoferroviário à Ponte 25 de Abril (redes da TST- Transportes Sul do Tejo e da Fertagus/ SulFertagus), às linhas de Cascais, Azambuja e Sintra, onde se inclui o acesso às estações de Sete Rios, Entrecampo, Roma/Areeiro, Oriente, Rossio e Santa Apolónia do Metro de Lisboa, pelo que seria pertinente que, a ter de fazer a obra, a referida empresa contribuisse, em Alcântara, não só para a sustentabilidade urbana como é seu objectivo, como também para a melhoria do enquadramento paisagístico, "desaparecendo" subterraneamente, conferindo, assim, serenidade visual e acústica à área de implantação."
Artigos sobre o metro em Alcântara:
https://lisboaparapessoas.pt/2022/01/04/metro-de-lisboa-linha-vermelha/
Segue, anexo, para vossa apreciação, o "Estudo Prévio, Resumo Não Técnico" e algumas fotos de Alcântara em pdf, do passado ao futuro que se quer evitar.
Com os meus melhores cumprimentos,
Ira Carvalheiro»
3 comentários:
Sempre a visão NIMBY. Muito mais bizarro é desviar a linha de Campolide, com uma enorme concentração populacional, para as Amoreiras (certamente por coincidência, à porta de dois novos condomínios, vários hotéis, para não falar do Shopping), prosseguindo o padrão de prejudicar a população lisboeta que efectivamente usa os transportes públicos em detrimentos dos interesses económicos (como foi o caso das insólitas estações na Lapa). As Amoreiras podia ter acesso pelo Rato ou pelo Marquês, nunca sacrificando o acesso de Campolide ao metro. JPT
Acertadíssimas palavras.
Que a CML e o governo do António Costa as ouçam.
Só quem não vive em Alcântara pode dizer que a freguesia está bem servida de transportes... trabalho no campo grande e levo quase uma hora a lá chegar de minha casa... podia ir de carro? podia, mas não serei mais um inconsciente a entupir a cidade. O metro é absolutamente necessário e é uma oportunidade única para organizar a circulação rodoviária e pedestre em torno da estação de Alcântara terra. Ainda hoje passei pelo inferno de descer a rua maria Pia de autocarro em hora de ponta... tempo de vida perdido,que ninguém me vai devolver, parado no trânsito num troço de 50m..proteja-se o património sim, mas com a noção de que a mobilidade em Lisboa ocidental é indigna, vergonhosa para wuem tem de ir trabalhar. Alcântara vai ganhar muito com este melhoramento, viva Alcântara.
cumprimentos
F. de Portugal
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