29/11/2006

Guardar Colecção Capelo vai custar 737 mil euros

In Diário de Notícias (29/11/2006)
Susana Leitão

"A Câmara Municipal de Lisboa vai pagar, nos próximos cinco anos, mais de 737 mil euros - correspondendo a uma renda mensal superior a dez mil euros - pelo aluguer de um espaço para armazenar a Colecção Capelo. Devido ao encerramento do Museu do Design, no Centro Cultural de Belém, a autarquia, que adquiriu a colecção em 2003, teve seis meses para encontrar um local para guardar as peças de arte. A CML pretende expor - embora ainda sem data definida - o acervo no Palácio de Santa Catarina.

O espaço, localizado no primeiro piso de um prédio na Avenida Infante D. Henrique, vai albergar as 1300 peças de moda e 902 de design, daquela que é considerada uma das "colecções mais importantes do mundo", explicou Amaral Lopes, vereador da Cultura na autarquia lisboeta. Assim a partir de sexta-feira, e até 30 de Novembro de 2011, o Edifício Entreposto (como é denominado) será a casa da Colecção Capelo. O contrato de arrendamento é renovável por períodos sucessivos de cinco anos.

A proposta foi ontem aprovada em reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, com votos favoráveis do PSD e do PS, abstenção do CDS/PP e votos contra do PCP, Bloco de Esquerda e PEV.

A solução apresentada pelo executivo não reuniu consenso entre os vários partidos de oposição. "Esta proposta não cheira bem", disse Heitor de Sousa, do Bloco de Esquerda (BE), frisando que ao documento apresentado "falta objectividade económica" . O deputado municipal fez questão de perguntar ao executivo se achava que "todos os deputados são uns mentecaptos?" para aprovarem uma proposta daquelas.

Já o deputado Modesto Navarro (PCP) questionou Amaral Lopes sobre as condições técnicas do edifício, já que a a empresa que cede o espaço terá de proceder "à infraestruturação do edifício e esses custos vão reflectir-se no valor mensal da locação". O líder da bancada comunista sublinhou ser tempo para que a situação encontrada envolva " instalações municipais adequadas e definitivas".

O vereador da Cultura admitiu que "Lisboa não tem condições para armazenar uma colecção como esta. Há mais de 30 anos que Lisboa não salvaguarda as condições técnicas necessárias para o depósito de colecções de arte. Têm-se utilizado contentores e armazéns mal cuidados que não são a solução". A situação deverá alterar-se com a construção do Lisboa Arte Fórum, em Entrecampos, "que deverá integrar uma área para albergar este tipo de acervos", adiantou Amaral Lopes. O responsável frisou que "segundo os técnicos esta foi a melhor opção", por assegurar grande parte das condições que este tipo de colecções necessitam".
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Comentário:

Esta é uma notícia surrealista e só possível em Portugal. A CML compra um palácio (o de Santa Catarina) para nele se instalar o presidente da altura, Santana Lopes, exercendo o direito de preferência tarde e a más horas, o que lhe valeu queixa de um particular holandês envolvido na compra do mesmo imóvel. A CML segue em frente e anuncia, já neste mandato, que o palácio se destina à Colecção Capelo, sem sequer se dar conta das péssimas condições que o edifício tem para o efeito. Agora, diz que vai alugar um andar na Av. Infante Dom Henrique para albergar a colecção enquanto as obras no palácio não avançam. E ainda se diz que o novo empreendimento EPUL/Atelier Promontório, na Av.Forças Armadas (que, diga-se, se assemelha a uma prisão, sem qualquer tipo de preocupações estéticas) irá servir no futuro para armazenamento de peças museológicas que não tenham espaço de exposição. That's incredible!

Paulo Ferrero

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