Governo decide manter IPO de Lisboa na Palhavã

In Público (14/7/2010)
Por Marisa Soares

«Liga Portuguesa contra o Cancro aplaude a decisão. Alternativas passavam por Oeiras e Parque da Bela Vista

O Ministério da Saúde anunciou ontem que vai manter o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa em Palhavã, junto à Praça de Espanha, pondo fim a quatro anos de avanços e recuos sobre uma eventual mudança de localização. Em vez de transferir a unidade, o Ministério da Saúde prefere agora investir 45 milhões de euros em obras de melhoramento.

Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde dá a entender que a própria direcção do IPO era contra a saída da unidade para outro local, quando explica que o Governo "aceitou a proposta do conselho de administração do IPO", que passa pela manutenção da localização actual, com uma "remodelação profunda".

A administração do IPO esclarece, por seu lado, que "os 45 milhões de euros anunciados resultam do levantamento preliminar das necessidades de curto/médio prazo" do instituto.Porém, estes números não são finais, porque o plano de requalificação ainda está em elaboração e "só no final será possível determinar, com certeza, os custos envolvidos".

Quando anunciou que o IPO ia mudar de sítio, em 2006, o antigo ministro da Saúde argumentou que a manutenção do edifício na Praça de Espanha exigia obras no valor de, pelo menos, 100 milhões de euros. Pelas novas contas da actual titular da pasta, Ana Jorge, afinal será preciso menos de metade. Questionada sobre esta diferença, a administração do IPO explica que o projecto actual surge num "cenário completamente distinto" do considerado por Correia de Campos, pelo que as situações não são "comparáveis".

Dos 45 milhões de euros ontem anunciados, 30 milhões destinam-se a obras estruturais "prioritárias", começando pelo hospital de dia da oncologia médica, internamento e cuidados paliativos. Fonte do gabinete de Ana Jorge diz que os restantes 15 milhões são para equipamento pesado: cinco milhões para radiologia, dois milhões para medicina nuclear e 8,5 milhões para a aquisição de três aceleradores lineares para radioterapia.

A decisão de manter o IPO onde está há 87 anos agrada ao presidente da Liga Portuguesa contra o Cancro, que considera a medida "correcta". "No contexto actual, é preferível fazer uma boa obra de adaptação aconstruir um novo edifício num local diferente", afirma Carlos Oliveira, lembrando as vantagens das instalações actuais em termos de acessibilidades.

O destino do IPO sofreu, nos últimos quatro anos, avanços e recuos. Depois de ter contactado as autarquias de Lisboa e Oeiras em busca de um novo terreno, o Governo assinou, em Julho de 2008, um acordo com a Câmara de Lisboa. Esta cederia um espaço no Parque da Bela Vista, mas em Março de 2010 o Governo cancelou o acordo. Fonte da autarquia confirmou à Lusa que "reservou uma área para a respectiva localização, no Plano Director Municipal e iniciou um plano de pormenor onde se equacionou a respectiva localização". O PÚBLICO tentou, sem sucesso, obter uma reacção da autarquia à decisão de ontem.»

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Esta é uma das melhores notícias dos últimos meses. Finalmente, cairam em si. Tiro o chapéu a quem teve o bom senso de seguir os considerandos da direcção clínica do IPO, aliás os mesmos considerandos da década de 90. Mas tiro também o chapéu aos políticos que já readaptaram o seu discurso à nova evidência. A crise ajudou, e os pacientes do IPO, que é quem interessa neste assunto, já não terão que sair na "Belavista". Por seu lado, quem se preparava para ganhar com os terrenos do IPO, pois terá que ir especular para outro sítio, que não faltam por aí.