Está em discussão a nova Estratégia de Reabilitação Urbana de Lisboa. Como o nome indica, a reabilitação irá aumentar o número de fogos disponíveis na capital, principalmente destinados a habitação, e em menor número destinados a comércio e serviços. Numa fase em que é público o excesso de oferta em relação à procura, e estimado um período de mais de 3 anos para escoar o parque imobiliário existente neste momento, se estivessemos num período de crescimento económico, o que não é o caso, é desajustado falar de reabilitação sem falar precisamente de crescimento económico e atractividade. O resultado será apenas o aumento do número de fogos vazios, e investimentos sem retorno.
As grandes questões são : Como atrair mais pessoas para Lisboa? Como atrair mais empresas para Lisboa de forma a criar emprego? Quais os objectivos da cidade?
Sem responder a estas perguntas, as possibilidades de sucesso de uma estratégia de reabilitação urbana são nulas. Mais grave, já não existem hoje “zonas de refúgio” onde o investimento imobiliário tem retorno garantido, tal como acontecia a cerca de 6/7 anos nas Avenidas Novas, Lapa ou Chiado. Basta estar atento à quantidade de edifícios com apartamentos e lojas por vender à mais de 3 ou 4 anos nestas zonas. Nem vale a pena de falar na Expo, Telheiras, Alta de Lisboa entre outras.
É pois prioritário definir exactamente como vamos fazer crescer a população residente da capital, e com isso encontrar os utilizadores dos fogos reabilitados ou construídos de novo.
Para se perceber a falta de um objectivo e estratégia para a cidade de Lisboa, partilho exactamente o que se passa neste momento em Singapura.
Singapura é uma cidade-estado localizada no extremo sul da península malaia. Tem apenas 710 km2 e cerca de 5 milhões de habitantes. Tem um PIB per capita de 57238 USD o que a coloca no 4º lugar a nível mundial.
Tendo falta de recursos naturais e vulnerável às alterações climáticas, a cidade enfrenta desafios difíceis em relação ao desenvolvimento de soluções energéticas. A reacção do governo foi orçamentar por um período de 5 anos (2009-2013), 566 milhões de Euros, para serem gastos em iniciativas de desenvolvimento sustentável e tornar este sector estratégico para a cidade.
Com a aposta estratégica na indústria das tecnologias limpas, a cidade estima um retorno para a economia de cerca de 3,4 biliões de dólares, e a criação de 18000 empregos até 2015. Singapura está a investir no desenvolvimento do sector das tecnologias limpas que abarca as energias limpas, o ambiente e a água. Em relação à energia limpa, o foco é colocado na energia solar. Acreditam que a especialização nas áreas das engenharias e semi-condutores são uma vantagem competitiva assim como o aproveitamento das horas de sol. Recentemente várias empresas líderes a nível mundial no mercado da energia solar estabeleceram-se no local. A nível da tecnologia relacionada com a energia hídrica várias empresas foram convidadas para estabelecer em Singapura as suas sedes regionais. É isto uma estratégia de atractividade bem delineada, que permite criar emprego a longo prazo. E é isto que falta a Lisboa.
A nossa cidade hoje, não é mais que uma capital com algum enfoque no turismo. Mas ao contrário de Paris e Milão, “capitais” da moda, Londres ou Nova York, “capitais” financeiras, Genebra ou Zurique, “capitais” da gestão de fortunas, Las Vegas ou Macau, “capitais” do jogo, Lisboa não é reconhecida sob qualquer aspecto. Poderá ser no turismo, mas falta-lhe qualidade no nível de serviço. O potencial está presente. Falta o foco.
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2 comentários:
O António Costa tentou transformar Lisboa na capital do marisco e na capital dos estudantes Erasmus.
Tentou que é como quem diz, mandou o bitaite para o ar, mas deve-se ter preocupado mais com o programa da noite da Sic Noticias onde debita uns quantos bitaites, do que propriamente com medidas uteis da câmara em prol dos cidadãos e o mau resultado está à vista de todos.
Além da capital do peixe e de Erasmus, tem havido também a tentativa de transformar Lisboa numa capital de "arte urbana"/graffiti, "decorando" edifícios abandonados e grandes murais.
Lisboa também passou a ser a capital do low-cost, dando licenças para a abertura de hostels em todo o lado. Por isso atrai os turistas que gastam menos dinheiro, que até preferem as esplanadas de plástico. É a capital do "pitoresco" com os azulejos partidos e prédios dilapidados porque tem o encanto do "como é que é possivel?" e do "Isto não se vê em mais lado nenhum na Europa!"
Ou seja, Lisboa é a capital do desleixo, da descontração, do desenrascanço. É tudo muito engraçado para tirar umas fotografias e passar uns dias ao sol sem gastar muito dinheiro, mas de resto não interessa nada a quem poderia investir nela.
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