09/03/2005

Por cada boa notícia, há 2 más notícias

Como por cada boa notícia diária sobre o património alfacinha, há logo duas más notícias que se levantam, aqui ficam as de hoje, relativas a dois casos URGENTES de atentado a dois imóveis lisboetas de supra-importância:

1.Aqueduto das Águas Livres

Esta notícia do "Diário de Notícias", vem na sequência do magnífico trabalho que a Associação Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana (Oprurb) tem vindo a fazer, desde há um ano a esta parte.

Resumindo e concluindo, o problema é o seguinte: no âmbito da execução do troço final da Circular Regional Interior de Lisboa (CRIL), está prevista a demolição de parte do Aqueduto das Águas Livres (sim, digo bem, do Aqueduto das Águas Livres!!!), mais exactamente um troço enterrado de 180 metros, do aqueduto principal, bem como de 55 mt. do aqueduto subsidiário das Francesas.

A OPRURB lançou um abaixo-assinado contra (que reuniu mais de 9.000 assinaturas). A OPRURB proprôs uma solução alternativa a quem de direito, que até agora não teve resposta, senão do Instituto de Estradas de Portugal, que a reconheceu como tecnicamente viável, mas "cara", como se 740 mil euros fossem caros para os mamarrachos que se constroem por aí, a mando do "progresso".

O caricato de tudo isto é que, segundo o Arqº Filipe Lopes, da OPRURB, este problema poderia ter sido evitado se, antes da execução do nó da Buraca - e estamos a falar já de datas como 1965, aquando do Plano Director da Região de Lisboa, se se tivesse atendido aos valores em presença, "Já se sabia que o aqueduto passava ali e, de resto, até 1996, o Ippar sempre disse firmemente 'não' à demolição, justamente porque o traçado colidia com o monumento".

Uma pergunta é inevitável: Portugal merece D.João V?

2. Convento dos Inglesinhos

O julgamento da providência cautelar começou ontem, dia 8 de Março. Os relatos do que foi ontem dito estão aqui, em mais um inestimável serviço de esclarecimento público do "Público".

Neste primeiro dia, realce para as declarações do Arq. Ribeiro Teles, sobre o "espaços vedes" que o projecto prevê: "É um "jardim da Celeste" ridículo, que atinge a memória e a cultura daquela zona histórica da cidade e não funciona. Não tem presença como sistema natural no equilíbrio ecológico" . "A preservação de quintas e logradouros interiores é fundamental na cidade" ... "a manutenção do jardim do Convento dos Inglesinhos é completamente imprescindível, em nome das características não só morfológicas como também estéticas do local".

Já os arquitectos Alberto Castro Nunes e Hestnes Ferreira, e o historiador Jorge Estrela alertaram o tribunal para a "não preservação de todos os elementos decorativos do muro da Rua Nova do Loureiro, incluindo a sua destruição parcial para possibilitar o acesso a um estacionamento subterrâneo, a abertura dos vãos cegos com a colocação de grades e o facto de ficar eliminada a sua função de suporte de um jardim suspenso", contestando ainda "a transformação da cozinha do Convento dos Inglesinhos num apartamento, a não manutenção da fachada com a ampliação de um piso, a não preservação de alguns tectos existentes, a destruição de uma galeria de acesso à igreja e o emparedamento de outra".

Duas perguntas, em jeito de teaser:

Porque não a Orquestra Metropolitana de Lisboa, em vez de um condomínio?
Porque não uma escola-museu de artes e ofícios, em vez de um condomínio?

PF

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma hipotética resposta amigo Paulo;
Provavelmente porque estes "Cavalinhos de Tróia", fazem parte do plano geral, "Limpeza e
recuperacao de zonas históricas".
Especialmente, quando essas mesmas sao habitadas por "populares", pessoas comuns.....enfim, típicas. Aos bocadinhos, sao todos corridos e substituídos....por esse tal "poder de compra". Foi assim na Plaka de Atenas, e será assim no Bairro Alto de Lisboa. Em 2020 esse Bairro, vai estar bem cheiroso, bem pintadinho, e com os carrinhos bem arrumados. It`s all about modern "conservation"... my friends.

JA