23/03/2005

Cinema Europa, em que ficamos?

Por mais que me esforce, continuo sem entender o movimento "S.O.S. Cinema Europa".
Genericamente, estou de acordo que se tente preservar todos os espaços culturais de Lisboa, até pela simples razão que nunca há equipamentos suficientes seja para o que for, muito menos para a Cultura. Mais de acordo fico quando esse esforço pela preservação toca a espaços fechados há muito tempo, o que é o caso. E mais ainda, quando esses espaços se encontram em locais onde fazem falta, como é o caso. E pertencem à memória de Lisboa, o que é o caso. E mais, muito mais ainda, quando os equipamentos em causa têm valor arquitectónico, o que não é o caso. Só que continuo a achar tudo isto bastante esquisito.
Não só porque o actual Europa é tudo menos um espaço com valor arquitectónico a preservar, pois nada tem que ver com o antigo e bonito Europa (vide fotos do site daquele movimento), sendo a sua classificação pelo IPPAR improbabilíssima; como porque os membros do movimento começaram por reclamar a classificação do Europa para agora se satisfazerem se a CML construir um silo no Europa, desde que conceda à Junta do Santo Condestável uma "Casa da Cultura", que definem como sendo composta por uma sala com capacidade para 100-200 (!!) pessoas, para exibição de filmes, encenação teatral, etc., e uma galeria para exposições.
Ora, ou bem que o Europa merece ser classificado, ou não merece. Ou bem que o Europa é recuperado e se mantém íntegro, ou não. Reclamar-se a não construção de um edifício de habitação no actual Europa, mas aceitar-se a sua transformação numa solução bizarra do género "silo automóvel+casa da cultura" parece-me esquisito.
E continuo sem entender como este movimento parece autista ao facto de ali perto, a menos de 500 mt. do Europa, estar o Cinema Paris, de pé e quase imaculado na sua velhice, que foi objecto de larga polémica há cerca de 2 anos (para a qual ninguém deste movimento contribuiu, ao que sei), cuja demolição se conseguiu travar, e para o qual a CML propôs a respectiva expropriação no Verão passado, e que pode ser, ele sim, a "Casa da Cultura" de Campo de Ourique, mas também da Lapa, da Freguesia Santa Isabel, dos moradores da Av. Infante Santo, etc.; assim seja efectuada a expropriação.
PF

3 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me que é pensar pequenino esse "ou o Europa ou o Paris". São dois espaços distintos e cada um deles pode assumir uma função específica. Por exemplo, o Europa como Casa da Cultura (e sim, garantindo alguns lugares de estacionamento para quem ali vá ver um espectáculo/expoisção) e o Paris como centro de voz do Coro Lisboa Cantat (que já se manifestou com uma proposta neste sentido).

Anónimo disse...

Tudo bem, que se pense em grande e se fique com os dois. Só que defenderem o Europa, com abaixo-assinado, para depois se ficarem com um auto-silo e uma sala para 100 pessoas, isso sim é "pensar pequenino".

Anónimo disse...

Recupere-se tudo e os movimentos cívicos que façam umas "vaquinhas" para o financiar.

*Há pessoas que não têm a mínima noção da realidade e acham que o dinheiro nasce nas árvores"