In Público (17/4/2009)
Ana Henriques
«Vestígios do século XVII obrigam EPAL a alterar traçado de conduta de água, o que poderá comprometer prazo de obra, que devia terminar em Junho
A descoberta de uma antiga muralha do século XVII nas obras que decorrem entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré, em Lisboa, poderá comprometer o prazo anunciado para o fim dos trabalhos, em Junho.
O paredão inclinado de contenção da margem do rio é semelhante ao que hoje existe ainda na zona ribeirinha. Acontece que se encontrava enterrado no subsolo. Quando depararam com ele, os arqueólogos que acompanhavam a obra de substituição da conduta de água da EPAL entre o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus consultaram gravuras da época e chegaram à conclusão que estavam mesmo perante uma das muralhas que nelas aparecia representada.
A EPAL é que não ficou satisfeita com a perspectiva de ter de alterar o projecto da conduta e com os atrasos a isso inerentes. No início da semana, a porta-voz da empresa ainda disse ao PÚBLICO que a obra ia prosseguir normalmente, já que a EPAL havia sido autorizada pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) a desmontar a estrutura, que se prolonga paralelamente à margem por pelo menos 20 metros. Uma expressão que, por vezes, mais não é do que um eufemismo para designar o que pura e simplesmente é a destruição dos achados arqueológicos, depois de desenhados e fotografados. Mas afinal, e apesar da argumentação da empresa junto do Igespar sobre as dificuldades de alterar o traçado da conduta, a decisão do instituto que tem como dever a protecção do património vai no sentido de a EPAL fazer todos os esforços para preservar o paredão.
O Igespar invoca a monumentalidade da muralha para exigir a sua preservação. Como o prazo das obras é um assunto considerado sensível, por causa dos transtornos que os trabalhos estão a criar na circulação rodoviária, por via do encerramento da Avenida da Ribeira das Naus, o assunto irá ser discutido na semana que vem entre as várias entidades envolvidas - Câmara de Lisboa, Igespar e EPAL.
Desde que o paredão de contenção de terras foi encontrado, no final do mês passado, que o ritmo dos trabalhos da EPAL tem vindo a abrandar. "Há locais onde é possível ir avançando, embora a um ritmo diferente do habitual. A obra não tem estado completamente parada", garante a mesma porta-voz da empresa, Conceição Martins, segundo a qual ainda não era ontem conhecido na EPAL o teor da decisão do Igespar. Ainda assim, por enquanto "a obra está a evoluir dentro do prazo que estava previsto".
A substituição deste troço de 640 metros de conduta de distribuição de água é apenas uma das quatro empreitadas que estão a decorrer simultaneamente entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré. A construção de duas caixas de intercepção de esgotos, para impedir que os esgotos de parte da cidade continuem a poluir o rio, e a consolidação do torreão poente do Terreiro do Paço são outras das obras em curso, tendo esta última empreitada já acabado. A Câmara de Lisboa também aproveitou a ocasião para fazer um colector pluvial.
Numa visita à obra no fim de Março, o presidente da câmara garantiu que tudo ficaria pronto dentro do prazo. Na altura já era conhecida a existência da muralha, que pode inviabilizar um estacionamento subterrâneo que a autarquia ali quer fazer. Além do paredão, foram encontrados no local outros vestígios arqueológicos da mesma época.
Paralelo ao rio, o paredão de contenção da margem prolongava-se pelo menos até ao Cais do Sodré, atravessando a zona onde hoje estão as agências europeias. Só que a construção das agências não foi acompanhada por arqueólogos. Quando o Igespar percebeu o que se tinha passado era tarde de mais e já tinham sido demolidos troços da antiga muralha.»
Lisboa no seu melhor. Preparem-se, que vem mais aí!
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10 comentários:
Não há mesmo nada a fazer! Entreguem as chaves da gestão da cidade e do país. esta gente não está preparada para tomar decisões, não sabe o que anda a fazer.
TODOS, sabiam que iriam encontrar vestigios, era óbvio.
Todas essas situações acontecem em cidades como a nossa. Existem formas de evitar, de ultrapassar, e de preservar, sem o aumento de custos.
É também necessário bom senso coisa que infelizmente nesta terra não há.
Arre, já estamos fartos!!!!
O Zé já devia mas era ter embargado a obra.
"...só que a construção das agências não foi acompanhada por arqueólogos...."
....sim? e porque razão?
viva os arqueólogos!! e não está a ser irónica...
cidade sem história é cidade americana...
E para ja porquê dar um lugar tao nobre a as agencias europeias, elas nao podiam ir para o parque das naçoes( olhem que existe muito terreno vago atras da estaçao do oriente), ou mesmo nos suburbios de Lisboa!!!
Nao, esta gente gosta de "trabalhar" a olhar para o tejo.
UMA MISERIA PA, OS POLITICATUGAS ESTAO SEMPRE A LAMBER O CUSINHO DOS EUROPEUS.
E preparem-se para ver o que vai acontecer quando avançarem com as obras do parque subterraneo no Campo das Cebolas
O quê? Um parque subterrâneo no Campo das Cebolas e o Zé ainda não embargou?
Eu não acredito!
O artigo do "Público" vem agora revelar que na construção da Agência Europeia se destruiu parte dessa muralha do séc XVII-XVIII.
Claramente os construtores e o arquitecto Manuel Tainha violaram a lei e os regulamentos, pois nada comunicaram às entidades competentes e destruíram criminosamente o Património, a nossa riqueza comum. Esses senhores não são um qualquer camponês do Alentejo que destrói por ignorância umas ruínas.
Há que actuar sobre esses indivíduos, começando pela Ordem dos Engenheiros e a Ordem dos Arquitectos, por violação ostensiva dos códigos deontológicos dos técnicos envolvidos.
É preciso punir esta gentalha baixa com máscara de artista!
Que medidas jurídicas estão a ser tomadas contra esses senhores? Vai tudo ficar assim por assim, como um convite aos mesmos e a outros a continuar este tipo de actuação que viola toda e qualquer deontologia.
IGESPAR onde estás? Para que serves?
Zé, onde estás e para que serves agora? A palavra embargo deixou de figurar no teu vocabulário?
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