02/12/2010

«República 25», como disse?!

Chegado por e-mail:


«Boa Dia
Caros membros do "cidadania lx", gostaria de dar uma informação.
Nos ultimos dias informaram-me que iriam mudar o projecto do edificio republica 25 para um edificio com partes revestidas a vidro.
Fui pesquisar e nao poderia ficar mais escandalizado com aquela proposta. Não poderia ser mais horrorosa. Mudaram um projecto lindissimo que so iria manter a traça do edificio antigo, para aquilo? Para um projecto em que o metem dentro de uma caixa de vidro? Mas o que se passou para isto acontecer?
Aqui deixo o site do novo projecto: http://www.republica25.com/republica25_pt.html
São projectos destes que ditam o fim da beleza das avenidas Novas. É uma vergonha este projecto. Esquecem a arquitectura e o respeito pelo edificio logo que o dinheiro fala mais alto.
Deve ser feito alguma coisa!
Obrigado
Filipe Teixeira
»

...




De facto, este boneco é diferente do projecto aprovado pela CML (mal aprovado, na minha opinião), de que aqui demos conta por variadas vezes. A alteração no "magnífico" look do novo prédio, suponho, ao projecto de alteração em obra (564/EDI/2010) aprovado por despacho do Vereador Manuel Salgado em 9 de Set. 2010, com base neste raciocínio também ele "lindo" do técnico da CML (o bold é meu):

«Do Imóvel constante do Inventário Municipal do Património, unicamente subsiste a fachada principal, que a Alteração / Ampliação preconizada no processo original (n.º1058/EDI/2005) imponha uma duplicação da imagem arquitectónica da fachada a preservar, originando uma ampliação mimética do original, não se distinguindo os períodos das intervenções.

A novel proposta reforma a linguagem arquitectónica a empregar na intervenção, conferindo-lhe um cariz mais actual e muito em voga nos anos 80 e 90, do século passado, como é o exemplo do Edifício Heron Castilho (remodelação 1985-91).

Ainda que ao nível da Recuperação / Reabilitação, suscite ao signatário da presente informação as maiores duvidas, dado não considerar tratar-se deste tipo obras Recuperação / Reabilitação a intervenção preconizada, mas sim de uma obra totalmente nova com preservação de fachada, uma vez que do edifício original / inicial somente se preserve a fachada principal.

Igualmente a linguagem arquitectónica utilizada é de integração dúbia apondo unicamente uma “colagem” diferente de estéticas e soluções, gerando cenários díspares.

No entanto, e pelo facto de se evidenciar / destacar / salientar a fachada remanescente, julga-se, ainda assim, que a presente proposta contribui para a valorização e distinção da preexistência a manter, indo ao encontro com o referido pelo NREC “a proposta apresentada de alteração da ampliação deverá atender ao que resta da memória deste edifício, a fachada, pelo que a sua integração deverá ser cuidada”.»


E-S-P-A-N-T-O-S-O!

39 comentários:

Anónimo disse...

Logo logo o Zé vai ao Crespo denunciar alto e em bom som este atentado permitido pelo Salgado.

João Garcia disse...

O que é mesmo triste é que o projecto inicial era bastante bom, poderia muito bem ser um projecto marcante de reabilitação urbana, uma verdadeira melhoria na Av. da República.

http://flic.kr/p/8MByXV

http://flic.kr/p/8MBudF

É pena... Estas imagens estiveram afixadas inicialmente na empreitada...

Julio Amorim disse...

Está jeitoso...
A Associação Portuguesa de Reabilitação de Imóveis passou-se outra vez. E este pessoal que assinou o projecto estudou arquitectura não foi...?

Anónimo disse...

As avenidas novas podiam ter sido sem dúvida dos mais belos "bairros" de Lisboa mas a este ritmo não sei o que irá sobrar para ver...

Anónimo disse...

Porque não se organiza este movimento e envia uma carta de protesto ao Sr. Salgado pela sua decisão errada e incompetente? E se faz uma denúncia pública porque a maioria dos lisboetas não sabe nem sonha o que se está a projectar nas suas costas.
Ficar aqui a protestar não chega, há que tomar medidas juntos.
Estes horrores arquitectonicos como o Heron Castilho - credo, que coisa tão feia!- têm de ser proibidos!

Anónimo disse...

Alarmistas, a data está errada o projecto foi aprovado em 1979, o sr.arquitecto salgado é um arquitecto moderno e vanguardista nunca iria aprovar uma cópia do heron castilho.

Anónimo disse...

Lisboa cada vez mais uma cidade de prédios cadáveres.

Anónimo disse...

Caro João Garcia:

"O projecto inicial era bastente bom"?????

A colagem de um piso novo em imagem mimética à do original, e o acrescento lateral na mesma onda, é precisamente aquilo que todos os manuais de boas practicas condenam.

O desenho proposto não é feliz, mas o príncipio da distinção das épocas de intervenção está correcto.

cumps.
f.

Anónimo disse...

isto é mais uma prova que muitos arquitectos do nosso país são demasiado incompetentes.

Arquitectos, cada vez os tenho em pior conta

lmm disse...

Preferia sem margem para dúvidas que o edíficio mantivesse o seu esplendor original, incluindo interiores.

Mas também não vejo motivo para se evocar o apocaplipse (não no sentido bíblico) em relação a este projecto. Não está mau de todo...

Mas é curioso verificar que as mesmas pessoas que hoje contestam com afinco a "queda" de alguns edifícios de décadas anteriores, seriam os 1ºs a contestar a "queda" daqueles que antes lhes ocupavam o lugar.

Luís Marques

Anónimo disse...

Caro anónimo das 11h15:

Com todo o respeito que a sua opinião me merece, mas se isto é uma boa prática de manual de arquitectura então acho que está qualquer coisa mal...

Aliás, a sensação que tenho é que primeiro isto era um projecto com boas intenções, mas provavelmente quando viram os €s que seriam necessários para o executar mudaram de ideias e tornaram o projecto mais barato, que é como quem diz: fizeram o acrescento de vidro...

Assim, se me diz que este projecto está feito para rentabilizar o investimento, eu aceito o argumento, agora não me diga que é esteticamente melhor porque objectivamente não o é, mesmo que obedeça a todas as regras dos tais manuais...
Aliás, a sensação que tenho é que cada vez mais a arquitectura responde a interesses de especuladores imobiliários e não a critérios estéticos que permitam obter uma verdadeira mais valia urbana, e isso é uma pena...

Saudações

João Garcia disse...

Desculpem o off-topic, mas tenho que perguntar isto aos arquitectos que passam aqui:

Porque tanto medo com revivalismos? Nem nos acrescentos de edifícios reabilitados?
Desculpem lá, mas para quem está de fora do mundo de arquitectura isso é algo de muito estranho... Ainda por cima é regra de manual, pelos vistos...

Anónimo disse...

De facto é curioso, ainda há pouco estive a observar os novos edificios junto à estação do sudueste no Terreiro do Paço, supostamente auilo é arquitectura do estado novo e portanto fascista.
Afinal o revivalismo não é para todos!

Anónimo disse...

Caro F.

eu não sei o que dizem os bons manuais de arquitectura mas o que vejo por essa Europa fora é que se respeita o que estava antes. Ainda há pouco tempo tive um aluno arquitecto, de Paris, que se chorava porque em Paris não se pode mexer nos edifícios de toda a zona histórica, apesar de alguns casos como a pirâmide no Louvre. Isto só me leva a crer quer em França os arquitectos são os mesmos egocentricos que aqui, mas há uma classe política com cabeça para os pôr no lugar.
E Amesterdão, que reconstruiram casas de raíz com a mesma arquitectura e agora são património da humanidade?!
Este projecto na Av. da República é mau, é feio e nada do que digam muda isto!

Anónimo disse...

Recomendo a Leitura da Carta de Veneza - CARTA INTERNACIONAL SOBRE A CONSERVAÇÃO E RESTAURO
DOS MONUMENTOS E DOS SÍTIOS,de 1964:

Artº11º- Os contributos válidos das diferentes épocas referentes à edificação de
um monumento devem ser respeitados, não sendo a unidade de estilo um
objectivo a alcançar no decurso de um restauro. Desde que um edificio
comporte várias épocas sobrepostas, a evidência de uma época subjacente
não se justifica senão a título excepcional e na condição de que os elementos
eliminados tenham pouco interesse, de maneira a que a composição final
constitua um testemunho de alto valor histórico, arqueológico ou estético e que
o seu estado de conservação seja aceitável. O juízo sobre o valor dos
elementos em questão e a decisão sobre as eliminações a efectuar não podem
depender unicamente do autor do projecto.
Artº12º- Os elementos destinados a substituir as partes em falta devem
integrar-se harmoniosamente no conjunto, distinguindo-se sempre as partes
originais, a fim de que o restauro não falseie o documento de arte e de história.
Artº 13º - Os acrescentas não podem ser tolerados a não ser que respeitem
todas as partes interessadas do edificio, o seu quadro tradicional, o equilíbrio
da sua composição e as suas relações com o meio envolvente.


Versão completa em:
http://mestrado-reabilitacao.fa.utl.pt/disciplinas/ppereira/CartaVeneza.pdf

Cumps.
f.

Anónimo disse...

Obrigado F,

acaba de nos fornecer o argumento mais válido contra este atentado - mais um - ao estilo Heron Castilho.
Onde está o respeito pelos elementos anteriores? No que resta da fachada?
Onde está o alto valor histórico, arqueológico e estético do que resultar daqui? No que resta da fachada?
Onde é que este novo projecto respeita as partes interessadas? No que resta da fachada?
Pois a Carta de Veneza diz respeito à conservação e restauro: este projecto não tem nada de restauro e de conservação tem ... a fachada!
Caro F., não esteja a brincar com coisas sérias!

João Garcia disse...

Caro F., agradeço desde já a sua resposta.

Não me leve a mal, mas não gosto muito destas regras, as "escapadelas" que tem parecem-me muito a gosto dos promotores imobiliários :p

Ainda por cima é de 1964, não era altura de mudar? Já mudou tanta coisa em 46 anos...

Anónimo disse...

Caro João Garcia:

O Documento de Nara sobre a Autenticidade, resultado da Convenção Mundial do Património, reunida em Nara, Japão, entre 1 e 6de Novembro de 1994, reiterou ne generalidade os principios da Carta de Atenas que lhe antecedeu em 30 Anos... portanto só leva 16 de atraso.

Pode consultar em:
http://5cidade.files.wordpress.com/2008/03/documento-de-nara-sobre-a-autenticidade.pdf

No entanto, aquí não estamos perante património classificado (creio eu) mas sim um edificio a que alguns (muitos ou não ?) atribuem valor.

Assim, reitero a minha afirmação inicial: "O desenho proposto não é feliz, mas o príncipio da distinção das épocas de intervenção está correcto."

... e não estou a brincar!

Cumps.
f.

Anónimo disse...

Caro F.

explique-me em quê o facto de nos dizer que as várias épocas estão perfeitamente distintas se esse facto é absolutamente evidente e é, devia ter percebido, o cerne de toda esta discussão. É que o que resulta desse coeficiente entre o que era e o que vai ser, somando-se o que se vai acrescentar, do ponto de vista patrimonial vai ficar a valer...menos!
E caso não faça os mesmos cálculos que eu, reitero o que já disse antes:
Este projecto é feio, mau e redutor da nossa cidade!

Anónimo disse...

... e não é digmo de uma sociedade civilizada e de uma cultura que se diz ter quase mil anos!

João Garcia disse...

Caro f.

Após o meu último comentário já tinha feito uma pesquisa sobre a carta de Veneza e já tinha concluído que afinal existem actualizações... de qualquer maneira, muito grato pela sua atenciosa e pronta resposta... ;)

Muitos atribuem muito valor a este edifício , não pelo seu valor em si (apesar de eu até o achar bem bonito), mas porque as Avenidas Novas têm sido alvo de uma descaracterização muito grande, e já começam a ser poucos os edifícios do séx XIX / início dos séx XX que lá se mantêm... Tarda a chegar uma atitude mais defensiva em relação a isso...

Cumprimentos

Julio Amorim disse...

O princípio da distinção das épocas pressupõe a harmonia entre ambas...o que é totalmente inexistente neste caso.

Anónimo disse...

Caros:

O meu comentário, alías suportado pela opinião dos especilaistas reunídos em Veneza e depois em Nara é que o valor da autenticidade é essecial para o património.
Enquanto documento este edifício "fála-nos" de uma época em que o gosto vigente eram as "Beaux-Arts" de inspiração Parisiense, e depois desta intervenção "falará" também de uma outra época em que a especulação imobiliária se sobrepunha a outros valores,e em que o gosto ostensivo pela modernidade e pelo conforto ditava a destruição de interiores de época, restanto um vago respeito pela fachada de outros tempos.

Estes valores podem não ser, e espero que não sejam, partilhados por todos, mas são os valores dominantes na nossa sociedade.

Posso vir para aqui dizer, embora me pareça puéril e absurdo, que se eu pudesse comprava este edifício e fazia um intervenção cuidada e repeitadora, prescindindo do potencial de aumento de cérceas e do lucro que este me proporcionaria. Não posso! O meu mísero ordenado de Arquitecto assalariado não chega para tanto!
Mas pelo menos tenho os olhos abertos para a época em que vivo e contento-me com os "males menores".

Nunca me manifestei a favor desta intervenção, apenas declarei, e mantenho:
"O desenho proposto não é feliz, mas o príncipio da distinção das épocas de intervenção está correcto."
(e esta distinção, caro Júlio Amorim, pode ser harmoniosa por Consonância ou Dissonância)

cumps.
f.

Julio Amorim disse...

Obviamente que assim é, sendo curso superior um acerto na segunda, porque na primeira, quase todos podem lá chegar.

Neste caso concreto, onde 90% (?) de um edifício desaparece totalmente, não existem cartas de conservação e restauro aplicáveis.
Qualquer demolição é bem mais honesta, sendo o passado substituído...mas não violado.

Anónimo disse...

Caro F.,
compreendo o argumento que nos vem aqui deixar que, como ser humano, precisa de viver nem que para isso deva renegar principios pessoais ou simplesmente de moral publica, porque a isso exige o cliente.
Mas quero que me entenda bem que, como humano também e sujeito às mesmas necessidades e vississitudes da vida não viveria bem com a minha consciência sabendo que a minha classe foi um instrumento de destruição massiva da memória arquitectónica e social de um país e de uma cidade. E acrescento que, não fosse o facto de muitos arquitectos estarem mais preocupados em deixar a sua marca à custa dos seus colegas do passado, me sentiria atraído a solidarizar-me consigo. Não o julgo pessoalmente porque não tenho esse direito nem poder, mas faço reparos muito claros e objectivos à sua classe.
Salgados e Taveiras da vida, que fazem uma obra que os põe no mapa e depois já ditam lei, desculpe-me mas comigo não!
Repito: este projecto envergonha-nos como nos envergonha o Heron Castilho - que todos os estrangeiros que me visitam detestam - e, por exemplo, a substituição do Monumental.

Anónimo disse...

Caro Anónimo das 4:41 PM:

Não percebo onde nas minhas palavras infere que eu tenha de "renegar principios pessoais ou simplesmente de moral publica" para satisfazer as necessidades da vida.

A "classe" a que se refere é composta de mais de 15.000 membros, comecemos por retirar os cerca 1500 inscritos nos centros de emprego (sim 10% de desemprego é a mais alta taxa de um curso superior) dos restantes uma ínfima minoria assinam projectos, desses uma ainda menor o faz fora de um contexto empresarial, onde as decisões muitas vezes os ultrapassam.

O seu comentário parece-me tão injusto quanto condenar os médicos, enquanto classe porque existem alguns que são desleixados, ou no limitem cometam erros.

Injustiça essa frequente neste blog, de vilipendiar uma classe, que não é mais do que uma componente de uma industria, composta por accionistas, financeiros, advogados, etc... Rara vez leio criticas aos promotores, aos outros intervenientes, ou em ultima analise ao cliente, que como consumidor final valida o trabalho da equipa que proporcionou "Oferta" para a sua "Procura".

Isto revela um atrevimento baseado no total desconhecimento do funcionamento da Industria da Promoção e Construção imobiliária, um universo responsável de forma directa por 6% do PIB nacional, e onde a Arquitectura não passa de um grão de areia.

Em resumo, caro Anónimo das 4:41 PM, durmo tão bem de noite como o trolha que assentou tijolos no Monumental, ou no tal Heron Castilho!

cumps.
f.

Anónimo disse...

Mas porque razão um edifício que tenha 80 ou 100 anos conseguirá responder às necessidades actuais?

São comentários do género de alguns que aqui se lêem cuja doutrina estética é do género "só o que é antigo é que é belo" é que fazem com que por vezes haja a imobilização do investimento (nacional e estrangeiro) e a renovação necessária do parque arquitectónico. Basta andar por aí por Lisboa para ver alguns prédios francamente arquitectónicamente desinteressantes, mas cujo infeliz do proprietário foi obrigado a mantar a fachada.

João Garcia disse...

O problema é que muitas vezes destroi-se o miolo dos edifícios situados no centro de Lisboa para se poder construir uma mega-garagem na cave, o cúmulo tendo em conta que que o centro está bem servida de transportes públicos e completamente cheio de carros...
Isto para além do aumento de volumetria para rentabilizar o investimento, em que normalmente se adoptam solução claramente dissonantes com o que lá existe (como é este caso)...
Isto resume muito a lógica do "responder às necessidades actuais"... Claramente que um acrescento de gosto parolo é que responde às necessidades actuais...

Mas sim, acho que cidades como Paris deviam destruir o seu centro histórico para construir edifícios "arquitectonicamente mais interessantes" e responder às "necessidades actuais"... Basta passear pelas Avenidas Novas para ver que quem conseguiu demolir os edifícios antigos conseguiu na maior parte das vezes substituí-los por edifícios "arquitectonicamente mais interessantes"... Aliás, até parece que este Republica 25 não é um exemplo dessa sorte, veja lá até onde veio comentar com essa vertente ideológica que se baseia basicamente no baixar as calças aos promotores imobiliários...

Já passou nas Avenidas Novas sem ser de carro? Olhe, vá ao site do arquivo fotográfico da C. M. Lisboa, e pesquise pelas principais avenidas desta zona, compare e depois deleite-se com os resultados da política que preconiza:
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/

E sim, coitadinhos dos especuladores imobiliários que têm que manter fachadas de edifício da Belle Époque e assim... Que peninha tenho eu deles, não haja dúvidas que são uma classe muito mal tratada em Lisboa e em Portugal... Muito têm eles feito pelo nosso país, são só 300 mil casas vazias... Leu bem, são TREZENTAS MIL CASAS VAZIAS...

Francamente, há com cada um...
Deve ser promotor imobiliário ou raio que o valha...

Anónimo disse...

Caro João Garcia,

Quando eu falo em necessidades actuais estou a falar na capacidade que os edifícios têm para se adaptarem a funções e estruturas de habitabilidade que os permitam ser habitados ou que as pessoas consigam trabalhar com necessidades espaciais e de conforto contemporÂneas.

Fala nas Avenidas Novas : Acha que há alguma família actual que queira habitar em habitações com 10 ou 11 assoalhadas como há por lá? Famílias dessas pouco ou já não existem. É disso que eu estou a falar. É de conforto que eu estou a falar, é de estruturas espaciais adequadas Às necessidades correntes que eu estou a falar.
A sua solução é manter o interior por manter não é? Porque acha que "é sempre mais bonito o que é antigo" não é? Mesmo que ninguém queira ocupar esses espaços não é?

E sim, o carro é uma necessidade actual, por isso acho que se justifica destruir-se o miolo de alguns dos muitos edifícios pobres e arquitectónicamente desinteressantes que há pelas Avenidas novas e não só. E só não há mais construção que se adeque às necessidades actuais por causa da prepotência de Instituições Públicas como o Igespar, que não constroem nem deixam construir.

Julio Amorim disse...

Desculpe lá anónimo das 9:33 mas um apartamento de 11 assoalhadas pode ser transformado em 2 ou 3 apartamentos, criando cozinhas e casas de banho novas e outros requerimentos de comodidade !?
Quando bem planeadas estas intervenções poupam ainda os valores existentes do edifício e, pode até permitir uma reversibilidade futura.
Os centros de Stockholm e Göteborg têm milhares de exemplos disto (garagens por debaixo e destruição de logradouros é que é muito raro). Porcarias como esta na imagem também nunca vi nenhuma.

João Garcia disse...

Se tem 11 assoalhadas dá para fazer uma simples substituições/construções de paredes para as adaptar às necessidades para 3 ou 4 assoalhadas, ou alugar os quartos a estudantes, existem n soluções que não passam necessariamente por algo tão radical como a destruição completa de um edifício, ou quase completa (manutenção de fachada)...
Ainda para mais, quando a grande justificação para a destruição desse miolo é muitas vezes a intenção de construir uma mega-cave de garagem... Isto trás mais carros para uma zona onde já muito saturada, trás solos mais impermeáveis numa cidade onde ocorrem frequentemente grandes chuvadas... E depois é o ridículo de ver o passeio cortado por diversas entradas de garagem, passeio esse que muitas vezes escasseia, sobretudo os passeios adequadamente confortáveis e seguros...

E Lisboa tem lugar para tudo, tem o bairro medieval de Alfama por exemplo, tem o bairro Pombalino, tem o Bairro Alto de D. João II, e tem boas zonas modernas como o Parque das Nações ou até Alvalade que cumprem com os tais critérios que refere... Haveria a possibilidade de haver casas e bairros para todos os gostos, inclusive para quem gosta de morar com o que é antigo, porque existem essas pessoas... Esta é uma das grandes riquezas de Lisboa, e este tipo de intervenções empobrece-a...
Faço-lhe novamente a sugestão para que passe pelo arquivo fotográfico ou que dê uma vista de olhos ou na colecção de livros "Lisboa Desaparecida", e talvez seja mais compreensivo com aquilo que digo...

Já agora, peço desculpa pela linguagem forte de ontem...

Cumprimentos

João Garcia disse...

Posso fazer um sugestão ao Cidadania LX para uma foto-reportagem?
Façam um passeio pelas Avenidas Novas, passem junto aos lotes que estão a ser intervencionados, ou que o foram num passado recente, onde estavam edifícios do séc XIX/ início do século XX que foram totalmente demolidos ou apenas mantida a fachada, e depois verifiquem se estas intervenções não têm como denominador comum o facto de se estar a construir n caves para os carros...
Alguns destes empreendimentos até têm site pelo que dá para confirmar no conforto do sofá da sala...

Lanço assim o mote para a reportagem e depois tirem as vossas ilações...

A minha conclusão é que esta política que favorece a vinda de mais carros para o centro de Lisboa não está só a ter efeitos nefastos na qualidade de vida dos lisboetas já bastante conhecidos e discutidos por aqui, mas está também a servir de mote para se perder património histórico de forma irreversível e de uma maneira completamente absurda, mas fico à espera das vossas conclusões...

Cumprimentos

Paulo Ferrero disse...

Claro que sim, caro João Garcia, há esse denominador comum. Mas tb há outros: promotor inculto e de lucro fácil, comprador inculto e deinteressado, desleixo e passividade de quem de direito, etc.

Anónimo disse...

Caros João Garcia e Júlio Amorim,

Acontece é que essas simples operações de sub-divisão mantenso o interior não são assim tão simples.

Realmente, puramente e em princípio um grande habitação de 10 ou 11 assoalhadas dá para sub-dividir. Acontece é que ao sub-dividir pode "pedir" novos corpos (como elevadores, caixas de escadas), e além disso o RPDM exige a resposta de lugares de estacionamento por divisão. Ou seja, para subdividir impele a acrescentar e a escavar. E já estamos a falar dos tais edifícios que vocês detestam.

Eu também gosto de um bom interior, antigo e bonito. Acontece é que o parque arquitectónico está muito degradado, e não sei até que ponto podemos comparar com outros parques europeus, para ter essas reabilitações que falam.

Pessoalmente também não gosto muito da proposta. Mas reconheço que por vezes estas propostas representam um esforço titÂnico para conseguir pôr de pé um edifício a manter aquilo que se pode manter, e rentabilizá-lo de alguma maneira. Ou seja, muitas vezes são aquilo que se pode fazer com o património tal como existe.

Além do mais, estes processos demoram anos a serem aprovados, e com excesso de critério, o que só favorece a destruição dos edifícios, e faz com que alguns promotores me mereçam muita consideração.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Caro F.,
compreendo que defenda a sua classe mas mantenho tudo o que disse que a destruição de património arquitectonico de Lisboa teve como principais intervenientes os arquitectos a quem não falta, muito humanamente, ego.
Ainda acrescento que se de facto acha que o parque imobiliário está demasiado degradado para se manter, o que preconiza é a sua destruição - a que assistimos? Isto é uma ofensa! Equivale dizer que a cidade de Lisboa fica completamente obliterada de uma época larga de história arquitectonica como aconteceu em virtude do grande terramoto! Mas sem terramoto! Nem pensar, está a brincar com todos nós! Não posso conceber que uma cidade capital europeia não tenha ruas inteiras e avenidas completamente preservadas com arquitectura do séc.XIX e principios do XX.
O que para si é conforto para mim não é: tetos falsos com focos embutidos, chão flutuante a imitar madeira, mosaico a imitar pedra, móveis de cozinha a imitar madeira não fazem parte da minha lista de património a ter. E o facto de ter uma campaínha na porta que fala, canta o fado e se abre com a minha impressão digital não compensa a perda dos interiores.
Os senhores estão mal habituados, façam as vossas carreiras noutros países da europa e vão ver o que é bom para a tosse!

Anónimo disse...

Caro Anónimo das 12:25,

Era outro anónimo que não o F., mas já agora também lhe respondo.

Claro que ningém gosta de ver o património destruído. O que está em causa são os excessos de zelo pelo património (que sejamos realistas, muitas vezes não serve nem é bonito)que impedem a construção em estruturas antigas, a achar que o antigo é sempre válido. E essa sim, é uma estratégia que leva às sucessivas reprovações de projectos, à falta de procura, de investimento, e como consequência, à total degradação do património, e a sua consequente destruição.

Anónimo disse...

A afirmação: "que a destruição de património arquitectonico de Lisboa teve como principais intervenientes os arquitectos", não colhe e é até injuriosa!

Tal como expliquei em post anterior, os arquitectos são uma peça na engrenagem, não tomam as decisões, não pagam as obras, trabalham dentro do enquadramento legal existente, vêm os proejectos de que são autores sancionados pela CML (como aliás no edificio em discusão). Em suma são tão responsáveis pela destruição do património como o tipo que manobra a grua!

Cumps.
f.

Anónimo disse...

Caro anónimo que não é o F.,

o património está a delapidar-se não porque as pessoas regeitam o antigo, mas porque o antigo não está preservado, não porque os promotores recuperem o antigo mas antes porque o destroem, não porque os projectos são reprovados mas antes porque são aprovados nos termos em que são, não porque o IGESPAR age mas porque o IGESPAR não age, não porque as pessoas dão valor ao que é bom mas porque deslumbram-se com o moderno que finge que é alguma coisa, moderno esse que de tão curriqueiro e vulgar que me obriga a perguntar como é que há alguém que ainda o procura, ainda que haja muitos que o oferecem. Abram os olhos, estas coisas modernas têm um valor patrimonial baixíssimo, são coisas com um prazo de validade muito curto. Quem pense que compra um destes novos apartamentos e pensa que os vai deixar aos descendentes que se desengane porque na sua vida eles vão ter que fazer obras de substituição algumas vezes.
Para mim não!

Julio Amorim disse...

Concordo que apontar o dedo a toda uma classe profissional só pode terminar em injustiça mas, talvez a grande questão seja porquê tantos arquitectos demonstram uma total incompetência para lidar com a cidade histórica?
Será porque o curso não lhes ensinou mais? Será que o promotor é que manda? Não sei....
Mas assinar projectos é assumir responsabilidades; tanto no sucesso, como no fracasso e, nisso, o tipo da grua não se pode
culpar.