03/05/2012

Provável falha humana em acidente ferroviário que provocou 33 feridos




Por Carlos Cipriano e Marisa Soares in Público

Apesar de circular preparado para parar ao menor obstáculo, o maquinista não conseguiu frenar a composição a tempo. Falha nos freios e chuva também podem ter contribuído para o embate


O choque de um comboio com outro que se encontrava parado na estação de Caxias, ao início da tarde de ontem, provocou 33 feridos. A CP abriu um inquérito para determinar a origem do acidente, mas a causa provável será falha humana.
Na regulamentação ferroviária um sinal vermelho nem sempre é para ficar parado. Existem os "sinais vermelhos permissivos", perante os quais o maquinista pode prosseguir viagem desde que o faça em "marcha à vista", isto é, em velocidade inferior a 40 quilómetros por hora (no resto da rede é de 30 km/h) e preparado para parar ao menor obstáculo.
Foi o que aconteceu ontem ao comboio que saiu às 13h40 do Cais do Sodré com destino a Cascais. Com paragem às 13h49 em Algés, a composição só deveria parar em Oeiras. Mas à passagem pela Cruz Quebrada é confrontado com sinalização restritiva porque havia mais à frente, em Caxias, um comboio imobilizado há poucos minutos à espera de autorização para seguir viagem.
Uma outra composição em sentido contrário (que partira às 13h24 de Cascais) havia colhido, às 13h40, uma mulher que atravessava a linha perto de Paço de Arcos. O PÚBLICO apurou que não se tratou de suicídio - ao contrário do que avançou inicialmente fonte da Rede Ferroviária Nacional (Refer) -, mas de um erro grosseiro da vítima, uma vez que foi apanhada em plena via, numa zona sem passagem para peões. Numa situação destas, a circulação é suspensa nos dois sentidos até que, verificado o estado da via ascendente e descendente, haja autorização para retomar a marcha pelo menos num sentido.
O choque em Caxias ocorreu no momento em que o comboio imobilizado aguardava ordem para prosseguir para Cascais. A composição vinda por trás parara num sinal vermelho permissivo e vinha agora em "marcha à vista", mas ao sair de uma curva não parou a tempo e embateu, às 13h55, na traseira do outro comboio.
Um erro de cálculo por parte do maquinista quanto à velocidade de frenagem pode estar na origem do acidente. Mas para a colisão também pode ter contribuído uma falha dos freios. O dia chuvoso, os carris molhados e a extrema humidade também afectam a distância necessária para imobilizar um comboio, mesmo que este circule muito devagar. Ou seja, com tempo seco, a composição poderia ter parado a tempo.
Ana Portela, porta-voz da CP, anunciou que foi instaurado um inquérito para apurar as causas da colisão. "Antes de termos as conclusões é extemporâneo e pouco cauteloso avançar com motivos", sublinhou. Apesar de pouco aparatoso, o acidente provocou 31 feridos ligeiros, entre eles o maquinista da composição que bateu, e dois feridos moderados, com suspeitas de traumatismo craniano.

"Um estrondo enorme"

A operação de socorro demorou cerca de duas horas. Foi o tempo necessário para retirar os feridos, alguns imobilizados em macas, outros em cadeiras de rodas, outros mesmo pelo seu pé, com um ar abalado. Ao final da tarde, os 12 feridos transportados para o Hospital de S. Francisco Xavier tiveram alta e os cinco feridos levados para S. José mantinham-se sob avaliação, segundo nota desta unidade. Os restantes foram para Santa Maria e para o Hospital de Cascais.
Segundo Teresa Brandão, do INEM, 15 pessoas estão referenciadas para receberem apoio psicológico. Alguns passageiros foram assistidos nas carruagens e nem todos foram ao hospital. Milocas Gomes viajava no comboio que colidiu e ficou ferida sem gravidade - fez apenas um corte no lábio, que estancou com uma compressa. "Ouvi um estrondo enorme e várias pessoas caíram com o embate", recorda. Na carruagem estava também uma mulher com um bebé, o que motivou preocupação nos restantes passageiros e do revisor, que "quis logo saber se alguém se magoou e disse para manterem a calma".
A utente percebeu que algo não estaria bem quando, numa curva perto da estação de Caxias, olhou pela janela e viu uma composição parada na mesma linha. "Achei estranho porque era um comboio rápido e ia a andar devagar", afirma, acrescentando que não foi comunicado aos passageiros a existência de perturbações na linha. Algumas pessoas entraram em "pânico" quando ouviram "um barulho que parecia o de um curto-circuito".
Houve quem tenha conseguido aceder à plataforma, entrar nas carruagens e acompanhar familiares feridos. Alexandra Semedo recebeu um telefonema da filha que ia no comboio que embateu e foi imediatamente à estação. A filha foi assistida na composição durante uma hora e só depois transportada ao Hospital de S. José. Estava "muito assustada", queixava-se de "dores nas costas, na perna e no pescoço" mas não deverá ter fracturas, afirma a mãe.
Por volta das 16h o aparato era ainda grande no local, onde se concentraram bombeiros, médicos, PSP e até o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais. A circulação na Linha de Cascais esteve interrompida nos dois sentidos, mas foi normalizada às 17h35, segundo a Refer.

1 comentário:

Xico205 disse...

É sempre uma falha humana. Nunca vi um acidente de comboio que não tivesse essa justificação.