Por Marisa Soares, Público de 31 Maio 2014. Fotos de José Maria Ferreira
A Empark mantém a intenção de construir um parque de
estacionamento subterrâneo na Praça do Príncipe Real, em Lisboa, uma ideia com
13 anos que esbarrou nos protestos de moradores e ambientalistas. Nos últimos
dias, a realização de furos no solo junto ao jardim ressuscitou os receios de
quem sempre esteve contra o projecto, alegando que este pode afectar o
Reservatório da Patriarcal e as árvores centenárias do jardim.
Oalerta partiu do grupo Amigos do Príncipe Real, que através do seu bloguedenunciou a presença de máquinas de perfuração no local. Os membros deste
movimento acreditam que a câmara se prepara para autorizar o “malfadado
projecto”, que será “um golpe de misericórdia no já tão degradado e
enfraquecido jardim”. Os cidadãos queixam-se da falta de informação sobre os
trabalhos.
Em resposta ao PÚBLICO, o director-geral da Empark em Portugal,
Paulo Nabais, explica que a empresa encomendou um estudo hidrogeológico do
local, para incluir no projecto que há-de ser submetido à aprovação da câmara.
“Os técnicos vão colocar piezómetros no subsolo [medidores do nível de água],
que vão fornecer informação sobre o comportamento das águas existentes naquela
zona”, afirma, garantindo que a intervenção tem autorização e
"acompanhamento permanente" dos técnicos municipais.
O projecto apresentado pela primeira vez em 2001, ainda durante
a presidência de João Soares na Câmara de Lisboa, prevê a construção de um
parque subterrâneo com 300 lugares e quatro pisos, com formato em “L” para
contornar a estrutura do jardim, sob a rua onde fica a Embaixada dos Emiratos
Árabes Unidos. O anterior executivo recuperou a ideia: em Julho de 2012, o
então vereador da Mobilidade, Fernando Nunes da Silva, dizia ao PÚBLICO que a
câmara estava a estudar a solução e garantia que o jardim seria integralmente
preservado, mas o assunto foi ficando esquecido.
No entanto, a empresa - que inaugurou recentemente um parque de
estacionamento na Praça D. Luís I, junto ao Mercado da Ribeira - não desistiu,
embora diga que não tem data prevista para avançar com a obra.
As prospecções servirão para “verificar o impacto que a
construção do parque terá nos níveis de água do jardim”, refere o
director-geral da Empark. Isto porque no subsolo daquele espaço ajardinado
estão os pilares do Reservatório da Patriarcal, uma cisterna construída no
século XIX para distribuir água à Baixa de Lisboa. "Não queremos que nada
nos escape em termos de conhecimento do local", explica Paulo Nabais.
Em 2006, o extinto Instituto Português do Património
Arquitectónico (IPPAR) deu um parecer favorável condicionado ao projecto de
construção de um parque com três pisos subterrâneos. Mais recentemente, a
empresa submeteu à actual Direcção Geral do Património Cultural (DGPC) um
pedido de alteração do projecto para a construção de mais um piso. Por duas
vezes, o pedido mereceu despacho desfavorável da DGPC, a 3 de Agosto de 2012 e
a 14 de Janeiro de 2014. Neste último despacho, aquela entidade refere que
devem ser “cabalmente esclarecidos os impactos negativos no Monumento
Classificado (Aqueduto da Águas Livres) e fornecidos todos os elementos
necessários à correcta apreciação da proposta”.
"Na sequência deste parecer a Empark remeteu à DGPC um pedido
de realização de sondagens para a elaboração do estudo hidrogeológico, tendo
esta pretensão sido aprovada condicionada à entrega da localização das
sondagens e ao devido acompanhamento arqueológico", responde a DGPC,
lembrando porém que não cabe a esta entidade o licenciamento da intervenção,
embora o respectivo parecer seja vinculativo.
Impacto no jardim
“A obra não tem interferência com o jardim”, garante Paulo Nabais, sublinhando que “não vão ser retiradas quaisquer árvores”. O Jardim do Príncipe Real tem cinco árvores classificadas pelo Instituto Nacional de Natureza e Florestas, que por lei tem de ser consultado se houver alguma intervenção.
“A obra não tem interferência com o jardim”, garante Paulo Nabais, sublinhando que “não vão ser retiradas quaisquer árvores”. O Jardim do Príncipe Real tem cinco árvores classificadas pelo Instituto Nacional de Natureza e Florestas, que por lei tem de ser consultado se houver alguma intervenção.
“A construção de um parque subterrâneo para estacionamento
automóvel, além de colocar em perigo quer o coberto vegetal do Jardim, já tão
castigado (…), e todo o conjunto classificado da Mãe d'Água, é um absurdo contra-producente
na medida em que ao oferecer mais lugares de estacionamento irá atrair ainda
mais veículos para a já tão congestionada zona, num ciclo vicioso imparável”,
escreve o grupo Amigos do Príncipe Real, que promete opor-se ao projecto “com
todos os meios”.
O responsável da Empark em Portugal refuta as críticas. “Um
parque de estacionamento não é um drama, é um equipamento público”, comenta,
questionando: “O que seria do Bairro Alto sem o parque no [Largo do] Camões?”
Segundo Paulo Nabais, haverá um piso com 94 lugares exclusivos para residentes,
que hoje enfrentam problemas de parqueamento dado o crescimento do movimento
naquela zona.
“Se a cidade pretende trazer novos moradores para o centro tem
de lhes dar alternativas de estacionamento”, afirma, acrescentando que
encomendou estudos de mobilidade, segundo os quais o parque deverá contribuir
para uma redução do tráfego e, em consequência, da poluição no Príncipe Real.
10 comentários:
Não compreendo os vossos argumentos. O Principe Real já é um parque de estacionamento ao ar livre, sempre atulhado de carros por todo o lado. Não era melhor enterrá-los? E porque é que é um golpe de misericórdia na praça? Acaso a Praça Camões não está muito melhor e mais viva, agora? E o que seria do Time Out no Mercado da Ribeira se não estivesse aquele parque novo que abriu ali ao lado? E ao lado do IADE, ficou muito melhor desde que fizeram o parque e arranjaram a praça. Estudei lá, lembro-me bem a bagunçada que era antes.
Não compreendo como é que a praça poderá piorar por tirarem os carros da rua e dos passeios e meterem-nos num parque. Acho que estão a ser a exagerar.
Atrás do Técnico também havia uma praça que era um estacionamento caótico, o mês passado passei lá e tinham feito um parque e tirado os carros de cima. Não ficou melhor? Eu acho que está.
Teresa Santos Dias
http://www.publico.pt/local/noticia/camara-de-lisboa-volta-a-substituir-piso-no-jardim-do-principe-real-em-outubro-1638101
O protesto contra este projecto vai a eito, como já é hábito aqui, sem sequer parar para pensar em dois pontos fundamentais e que podiam lançar algum debate construtivo (mas isso é pedir muito não é?):
1 - o parque está previsto apenas para moradores
2 - a estrutura do parque é em L justamente para não interferir com o reservatório. Além disso, partem do princípio que qualquer intervenção ali é para destruir, sem ter em conta os estudos feitos por especialistas, com formação de anos na área e a eventual realização responsável da obra.
Podem continuar a protestar contra aquilo que apelidam de estacionamento selvagem, que enquanto protestarem de igual modo contra a alternativa sem direito a contraditório só perdem a pouca credibilidade que têm. Eu sei que alternativa é a vossa, mas na minha perspectiva de cidadão activo que cá mora e que cá quer ser feliz, não só é utópica: é inaceitável.
Sim claro...: Um parque de estacionamento do local demove as pessoas de irem de carro para aquela zona da cidade.
Poupem-nos. Vão construir parques para outro lado.
Vamos lutar contra esta monstruosidade! Os impactos serão devastadores...
Mas então o tal "Zé que faz falta" não é o mesmo que há uns anos atrás se opôs a este mesmo projecto
que chegou a ser apresentado e rejeitado?
Mas que bela solução que arranjaram!
A alimentar o "monstro" também eu!
" Sim claro...:Um parque de estacionamento do local demove as pessoas de irem de carro para aquela zona da cidade.
Poupem-nos. Vão construir parques para outro lado.
"
É óbvio. Viram mais pópós ocuparem os lugares dos que agora vão estacionar no parque de estacionamento!
Para os moradores/visitantes de classe média? LOL!
Com os preços que praticam duvido muito que deixem de estacionar, de borla, à porta de casa/estabelecimento ou no quarteirão mais próximo!
A todos os anónimos que acham que é bom um parque de estacionamento subterrâneo:
- a praça faz parte do centro histórico, bocas de parques, elevadarores, cancelas e todo o espalhafato habitual, é danoso para o equilíbrio arquitectónico do local
- as espécies protegidas são exemplares únicos em Lisboa, as Phycus, sp., a monumental araucária, o cupressus, sobreviverão muito a custo. Os antigos pinheiros-mansos do Largo de Camões foram sacrificados quando se construiu o parque.
- o reservatório da patriarcal, faz parte do conjunto da obra das águas-lvres. É um achado para uma cidade como Lisboa, ter um monumento daquele género no seu centro histórico.
- as comparações com outras zoonas da cidade são desajustadas. O PR, tal como o Largo Barão de Quintela (onde tb se quis construir um parque), são áreas com outras caracterísitcas, a envolvente urbana, os espaços verdes, a ocupação comercial, etc, são aspectos que deveriam ser tidos em consideração. Nem, em todo o lado se pode ou deve construir parques.
Enquanto a gestãoi da cidade for sujeita a todo o tipo de interesses e à pressão de lobbies, iremos assistir à destruição de palácios, a obras que prejudicam ou aniquilam os seus jardins históricos, a intervevnções fatais para o equilíbrio urbano.
Lisboa merecia mais e melhor.
A todos os anónimos que acham que é bom um parque de estacionamento subterrâneo:
- a praça faz parte do centro histórico, bocas de parques, elevadarores, cancelas e todo o espalhafato habitual, é danoso para o equilíbrio arquitectónico do local
- as espécies protegidas são exemplares únicos em Lisboa, as Phycus, sp., a monumental araucária, o cupressus, sobreviverão muito a custo. Os antigos pinheiros-mansos do Largo de Camões foram sacrificados quando se construiu o parque.
- o reservatório da patriarcal, faz parte do conjunto da obra das águas-lvres. É um achado para uma cidade como Lisboa, ter um monumento daquele género no seu centro histórico.
- as comparações com outras zoonas da cidade são desajustadas. O PR, tal como o Largo Barão de Quintela (onde tb se quis construir um parque), são áreas com outras caracterísitcas, a envolvente urbana, os espaços verdes, a ocupação comercial, etc, são aspectos que deveriam ser tidos em consideração. Nem, em todo o lado se pode ou deve construir parques.
Enquanto a gestãoi da cidade for sujeita a todo o tipo de interesses e à pressão de lobbies, iremos assistir à destruição de palácios, a obras que prejudicam ou aniquilam os seus jardins históricos, a intervevnções fatais para o equilíbrio urbano.
Lisboa merecia mais e melhor.
"Além disso, partem do princípio que qualquer intervenção ali é para destruir, sem ter em conta os estudos feitos por especialistas, com formação de anos na área e a eventual realização responsável da obra"
Não devem ter sido os mesmos que há uns anos atrás chumbaram esta mesma proposta, considerando que estas obras implicariam riscos de carácter patrimonial e ambiental!
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