24/05/2010
Jardim do Príncipe Real reabre hoje recuperado
In Público (23/5/2010)
Por Inês Boaventura
«O vereador Sá Fernandes fala num trabalho "exemplar" e acusa os críticos de terem "memória curta"
Vá pelo subsolo até São Pedro de Alcântara
Depois de mais de cinco meses de obra e muita polémica pelo meio, o Jardim do Príncipe Real reabre hoje. O vereador dos Espaços Verdes da Câmara de Lisboa e a arquitecta paisagista responsável pelo projecto sublinham que aqui não houve lugar à "recriação" mas tão-somente à "recuperação", tendo a intervenção sido pautada pela "preservação do desenho e da estrutura" deste espaço, cuja actual forma data de 1869.
Ontem de manhã, o jardim com 1,2 hectares junto à Rua da Escola Politécnica estava ainda isolado por vedações metálicas e fitas e eram vários os funcionários da autarquia que, sob um sol abrasador, se esforçavam por concluir os últimos trabalhos antes do grande dia. Satisfeito com o resultado final da obra que tanta contestação gerou, o vereador José Sá Fernandes conduziu o PÚBLICO pelo espaço e defendeu que só não verá as melhorias quem tiver "memória curta".
"O chão estava todo esburacado", recorda o autarca, enquanto aponta para os novos pavimentos, que, em vez de betuminoso preto, são agora feitos de um material que se assemelha ao saibro (mantendo-se a sua textura, o barulho quando se pisa o chão e a mudança de cor quando chove) mas que tem um ligante para garantir um tempo de vida superior. E as caldeiras? Essas, diz Sá Fernandes, estavam em grande parte "partidas", tendo-se agora promovido a sua recuperação.
A lista de melhorias apontadas pelo vereador inclui ainda a renovada iluminação pública, que, antes, além de "horrorosa", era insuficiente, a intervenção no sistema de rega para permitir uma mais fácil manutenção e a recuperação ou mesmo substituição do mobiliário urbano. "Não se desvirtuou nada", assegura Sá Fernandes, segundo quem esta deverá ser, aliás, considerada uma obra "exemplar" em termos de preservação patrimonial.
Abate de árvores
A acompanhá-lo nesta visita pelo jardim, que, na verdade, se chama França Borges, em homenagem ao jornalista António França Borges, estava a autora do projecto de intervenção. "Foi uma obra de recuperação. Não houve recriação", reforça a arquitecta paisagista Fátima Leitão, afirmando, como tem feito desde que os trabalhos arrancaram, em Novembro de 2009, que "manteve-se todo o desenho e estrutura" deste espaço, cuja estrutura actual vem de 1869 e foi traçada pelo jardineiro João Francisco da Silva.
O que também se mantém é a localização do parque infantil e dos quiosques existentes na praça, sempre tão frequentados nos dias de sol. Tanto ou mais concorridas costumavam ser as mesas e as cadeiras onde grupos de homens de idade mais ou menos avançada se entregavam a animados jogos de cartas. A partir de hoje, poderão continuar a fazê-lo em duas áreas distintas do jardim, embora num novo mobiliário, já que os antigos bancos corridos foram substituídos por lugares individuais em madeira.
Quanto ao abate de árvores, que esteve na origem de toda a controvérsia em redor desta intervenção da Câmara de Lisboa, Sá Fernandes voltou a defender a sua necessidade, embora admita que o processo podia ter sido conduzido de forma diferente e com mais informação aos lisboetas. Segundo as contas do autarca, foram abatidas (ou "substituídas") 55 árvores e plantados 60 novos exemplares.
Ao longo dos últimos meses, o auto-denominado grupo Amigos do Príncipe Real foi-se igualmente queixando de que aquele que era um jardim com "denso arvoredo e frescos e verdes relvados" se estava a transformar num jardim "seco e desensombrado". A arquitecta paisagista Fátima Leitão contesta esta crítica, sublinhando que aquilo que se conseguiu foi "mais luz e transparência". Certo é que o parecer favorável do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico a esta obra só chegou já depois de ela ter começado. Já a Autoridade Florestal Nacional fez saber recentemente que "não houve um claro pedido de parecer formal" por parte da autarquia, embora tivesse havido duas reuniões sobre o assunto.»
...
É claro que a iluminação que lá estava era horrorosa. Mas perdeu-se, a meu ver, a oportunidade para colocar em vez destes candeeiros a imitar antigos, antigos de verdade, do séc. XIX, provenientes do abate que a CML tem promovido no Bairro da Calçada dos Mestres.
É claro que o pavimento estava esburacado e era feio, e tudo o resto estava partido. Mas a CML errou ao insistir na poeirada "à la" terreiro de São Pedro de Alcântara. Ontem foi a prova dos nove: era pó por todo o lado. Aliás, se a CML tivesse intervindo somente a nível do aprumo do jardim, substituindo os pavimentos, recuperando as caldeiras e as grelhas, colocando candeeiros de época e recuperando o tal de "mobiliário urbano", revigorando os canteiros com flores, recuperando o pavihão do jardineiro, substituindo apenas as árvores doentes (que nem chegavam à dezena), não teria havido um protesto que fosse.
É claro que o desenho do jardim foi respeitado. Seria escandaloso se assim não fosse.
É claro que o jardim perdeu sombra e ganhou luz. Mas alguém sabe de facto o que irá acontecer às fabulosas árvores do miolo da placa central uma vez perdida a sombra que as envolvia, desde a bordadura da placa? E, por favor, senhores da CML, plantem árvores junto ao quiosque da esquina com a Rua do Século: aquilo está um DESERTO!!!
Mas a CML, em vez disso, decidiu dar guerra a meia centena de choupos, sãos e doentes, refugiando-se em motivos fitossanitários, quando apenas os tinha para uma dezena delas, quando o verdadeiro motivo era porque decidiu que o choupo não era para ali. Com ou sem razão, fez mal. E voltou a fazer mal não intervindo de forma faseada, como aconselham os princípios por que se regem os jardins históricos. Pior, foi dizer que tinha pareceres do IGESPAR, do LPV e da AFN antes da intervenção, quando não os tinha. E isso foi mau, sob todos os pontos de vista. Este caso do Príncipe Real vem na senda de outros, como do ainda mais gravoso do Campo Pequeno e é pena que assim seja. E, por favor, não tratem as pessoas como burras ou manietáveis, muito menos pela CML; nos dias que correm isso é altamente contraproducente.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
16 comentários:
aqui retiram-se as dúvidas . Contra factos os argumentos são poucos.
http://amigosprincipereal.blogspot.com/
Nem a bomba de gasolina lá deixaram ficar!...nem os caminhos em alcatrão que eram espectaculares. Mas que raio de recuperação é esta afinal?
Como era previsível, já estão a desconversar.
E a fazer de nós parvos o que é típico num país que não sabe viver em democracia: os cidadãos/as associações/a cidadania só são "bons" quando estão do lado do poder.
Já é tempo de infantilizarem os cidadãos, a maior parte das vezes bem mais informados que os ténicos institucionais.
Luis
É uma vergonha! Tiraram a bomba! Recuperaram os bancos! Recuperaram a iluminação! Tiraram aqueles caminhos fantásticos! Que vergonha! Aquilo assim é que estava bonito! Que vergonha! E aquela escuridão monumental que deprimia qualquer velhinho agora substituída pela luz do sol! Que vergonha! Aqueles esconderijos que de noite eram perfeitos para assaltar a malta e dar na veia, e agora?? Onde estão!? Vergonha! Não há respeito nenhum pelos utilizadores do parque!!!!
Que vergonha!
CML 2 - APR 0
para mim os APR, apesar de bem intencionados, perderam a credibilidade a partir do memento que começaram a falar das árvores centenárias que nunca existiram. afinal o jardineiro que as tinha plantado ainda é vivo...
Esta malta arrigementada pelo tacho que pulula pelos blogs acha que o cidadão é parvo.
Pessoalmente acho que o pavimento podia ser melhor; algo em pedra como o que rodeia o arbusto centenário, que faria mais sentido para um jardim romantico. O mobiliário urbano ao lado do parque infantil é completamente desenquadrado. Pelo menos mantiveram os bancos junto à R. Escola Politécnica e o bebedouro em pedra (ha um tempo atrás não funcionava, e agora?). Nos canteiros faz falta vegetação rasteira, arbustos e relva porque agora nada são a mais que terra.
Gostava de ver os números de frequentadores do jardim para este verão e a comparação com o ano passado, por exemplo.
Leitor Maxwell:
Concordo consigo e com o Paulo ferrero.
Mas as sumidades iluminadas daquela ciência oculta que são "Os Espaços Verdes " da CML é que têm o poder....
"Aliás, se a CML tivesse intervindo somente a nível do aprumo do jardim, substituindo os pavimentos, recuperando as caldeiras e as grelhas, colocando candeeiros de época e recuperando o tal de "mobiliário urbano", revigorando os canteiros com flores, recuperando o pavihão do jardineiro, substituindo apenas as árvores doentes (que nem chegavam à dezena), não teria havido um protesto que fosse".
Sou inteiramente desta opinião.
Estarem orgulhosos do que ali fizeram só mostra vaidade da sua enorme incompetência.
As sumidades têm o poder e uns criados para as gabarem...
Acho que o jardim está muito bonito, gosto do pavimento, os bancos e mesas estão recuperados,os candeeiros parecem adequados, as plantas estão pequeninas mas vão crescer. Devolveram-nos um jardim renovado e é isso que importa. Por mim, basta.
Eu gosto imenso daquela poeirada. E daquela falta de arvoredo. Por mim, basta.
Para quando um movimento de cidadãos a exigir a recuperação dos jardins abandonados e decrépitos que não estão previstos serem intervencionados em Lisboa?
Portugal só vai evoluir quando deixar de haver velhos do Restelo e pessoas que dizem mal de tudo até mesmo depois de uma excelente recuperação como foi a deste jardim!
Passei por lá e acho que o jardim está muito melhor.
Não percebo como há gente indignada pela remoção, por exemplo, da bomba de gasolina, Secalhar gostavam de viver ao pe de uma,
secalhar gostavam de viver ao pé de um nicho de actividas obscuras à noite e um jardim de podridão e de escuridão.
....acho que vou dar apoio ao anónimo das 7:48...
Como em qualquer processo de conservação de monumentos (bastante aplicável a um jardim histórico):
Restringir o número de intervenções ao mínimo !!!!
"Não percebo como há gente indignada pela remoção, por exemplo, da bomba de gasolina, Secalhar gostavam de viver ao pe de uma,"
Não é actualmente proibida a existência de bombas de gasolina em determinados locais?
O que é que isso tem que ver a CML?
O exemplo da remoção da bomba de gas. é consensual e lógico. O problema são as mãozinhas e as cabeças pensantes que querem destruir para fazer pior.
Que rico país e que linda cidade deixamos aos nossos filhos. Daqui por uns anos, Lisboa só se conhece nos livros da Marina Tavares dias.
Mas depois vão a Paris e acham que está tudo conservado!!
Enviar um comentário