19/12/2011

Praças: prioridade exclusiva aos automóveis?

O blogue A Nossa Terrinha, em mais brilhante post, descobriu que há um local na Praça do Saldanha onde o peão tem deesperar por SEIS semáforos para atravessar uma rua apenas. É mais uma prova que o espaço urbano lisboeta é pensado com um objectivo exclusivo: facilitar a circulação automóvel.

Nessa zona da cidade comparei há uns tempos o mesmo percurso feito de carro, e a pé. Resultado: o peão espera 17 vezes mais pela passagem dos automóveis, do que o automóvel espera pelo peão. Argumentar que facilitar a passagem dos peões atrasaria a circulação automóvel, é por isso um absurdo (ou sinal de alguns valores morais trocados).

O Marquês de Pombal é outro exemplo assim. Atravessa-lo a direito (o que já foi permitido em tempos) seriam apenas 125m para os peões, mas neste momento eles são empurrados para bem longe da praça. Numa das travessias (Av. Liberdade) o peão nem pode contornar a praça, sendo obrigado a caminhar até ao quarteirão seguinte para atravessar! Nas outras, o peão é obrigado a várias esperas e afastar-se da praça. Resultado: o peão demora 8 minutos a atravessar a praça de um lado ao outro.

Mas será que a solução lisboeta é incontornável? Será que as praças cheias de trânsito são obrigatoriamente inimigas dos peões? Veja-se o que se passa no Arco do Triunfo em Paris (bem maior que o Marquês e o Saldanha):


Em todas as saídas, o peão pode atravessar directamente sem se afastar da praça, e apenas com um semáforo.

Então e na Praça de Espanha, em Barcelona?

Atravessamento na praça só com um semáforo.

E na Columbus Circle em Nova Iorque?

Atravessamento na praça só com um semáforo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Devo ser eu que sou esquisito mas uso sempre a passagem do metro...

Vontade de complicar, a desta gente

Julio Amorim disse...

No Marquês há realmente atravessamentos de rua que são um atentado para quem anda a pé....

Anónimo disse...

Uma minoria de nós deixou há alguns anos de pensar que é peão.
Satisfaz-se com os interiores confortáveis e climatizados da caixa metálica em que se desloca. Quando estaciona a mesma (a qualquer custo), é junto à porta do edifício onde quer entrar.
Se lhe perguntas "porque não deixas o parado em casa mais vezes", responde "estás doido, as ruas são tão desconfortáveis e perigosas e ruidosas e poluídas".

A outra maioria esquece-se que está a ser dominada por uma minoria, e que uma pessoa não vale mais porque está dentro de uma caixa metálica com rodas - antes pelo contrários.

Temos todos de mudar de mentalidades.