15/09/2012

Recuperar alamedas para as pessoas é prioridade nas Avenidas Novas.



Recuperar alamedas para as pessoas é prioridade nas Avenidas Novas
Por Nuno Ferreira Santos Carlos Filipe in Público
Requalificar o espaço público, à imagem do que já foi feito na Duque de Ávila, e recuperar a filosofia dos percursos de alamedas, para andar a pé e de bicicleta, implicará tirar o automóvel do centro da acção
É nas avenidas Defensores de Chaves, João Crisóstomo, Miguel Bombarda e Rua Marquês Sá da Bandeira, tidas como principais eixos das chamadas Avenidas Novas, que a Câmara de Lisboa vai depositar novos esforços de requalificação do espaço público, não só para promover alterações na rede viária da zona, mas acima de tudo como forma de garantir uma redistribuição mais equitativa em favor do trânsito pedonal local.
É um processo que vai ter início, em obra, no próximo ano, mas que já deu os primeiros passos com o reperfilamento total da Avenida Duque de Ávila - que serve de charneira e filosofia - e que segue curso com sessão pública na próxima semana (dia 20, às 18h, no Palácio Galveias) para apresentação dos projectos.
Tendo como pano de fundo o novo Plano Director Municipal, um dos vectores fundamentais destes projectos assenta no tráfego automóvel, considerada a necessidade de reduzir os impactes ambientais, de reorientar o atravessamento da zona, de facilitar os movimentos internos, bem assim como procurar mais estacionamento para os residentes.
"A proposta para o Bairro do Arco do Cego é clara no que toca ao aumento do espaço para os peões. O importante agora é discutir a filosofia que deverá (ou não) presidir às alterações de funcionamento e ao espaço público nas Avenidas Novas. O debate será fundamental para isso", explicou ao PÚBLICO Fernando Nunes da Silva, vereador da mobilidade da Câmara de Lisboa.
Parte daqueles planos está patente desde dia 8 e até ao dia 23 no Palácio Galveias (ao Campo Pequeno) e é no seu enquadramento que está patente o desejo camarário de reencontro com os boulevards (as alamedas) arborizados que os planos de Ressano Garcia criaram para o prolongamento de uma Lisboa cosmopolita, de habitação e comércio. Um desígnio recentemente devolvido à Duque de Ávila, já profusamente ocupada com espaços de esplanada e sombra, área de passeio triplicada e pista ciclável (esta à míngua de utentes), desde um dos extremos da Gulbenkian ao Jardim do Arco do Cego. O traçado romântico não se alterou, apenas se multiplicaram os automóveis e os problemas de estacionamento inerentes. E em rota de colisão com vários desejos e interesses.

Contestação local

A Associação de Moradores das Avenidas Novas está desde a primeira hora descontente com as alterações viárias na Filipa de Vilhena (duplicação de sentidos de trânsito) e redução de espaços de estacionamento, situação agravada com a construção de um estacionamento subterrâneo, já na Alves Redol, no prolongamento da João Crisóstomo (ver caixa).
Para a câmara, a prioridade imediata aponta para os eixos da Avenida Defensores de Chaves e 5 de Outubro, para além de pôr a Marquês Sá de Bandeira com os dois sentidos em toda a sua extensão e permitir o atravessamento da Avenida de Berna até à Rua da Beneficência. "Novas maldades", é como classifica aquela associação estes planos camarários.
Na Defensores de Chaves, a placa central, arborizada, não é mais que um entreposto de estacionamento, a que o plano municipal pretende dar novo uso, em benefício dos peões, com ciclovia anexa, que de futuro deverá ligar a Praça José Fontana ao Campo Pequeno.
O plano de melhoria de acessibilidade pedonal será acentuado pela criação da "zona 30 (km/h)" do Bairro do Arco do Cego, logo no início do próximo ano. "As vias locais serão objecto de uma intervenção mais profunda, pela continuidade dos passeios nos cruzamentos e com o arranque das obras do parque da Defensores de Chaves/Arco do Cego, para então se poder avançar as obras do reperfilamento da João Crisóstomo [que passará a ter dois sentidos], e da Miguel Bombarda", precisa o vereador municipal.
Mas subsiste a questão que tem gerado a subida de tom de antagonismo entre os munícipes locais e a vereação camarária: o que fazer com os carros? O vereador afiança que o reordenamento à superfície garantirá mais 189 lugares, em resultado do reperfilamento das ruas. "Para além disso, há ainda que contar com 40 a 50% de lugares nos dois parques de estacionamento subterrâneos previstos: o da Alves Redol - já em construção - e o da Defensores de Chaves/Arco do Cego."

Classificação de interesse público
Casa da Moeda é obra-prima do Modernismo
A Casa da Moeda e dos Valores Selados, em Lisboa, inserida no coração das Avenidas Novas e do Bairro do Arco do Cego, vai ser classificado Monumento de Interesse Público (MIP), segundo projecto de decisão favorável emitido pelo Direcção-Geral do Património Cultural. O anúncio foi publicado no Diário da República do dia 11, ficando a aguardar resultado da consulta pública durante 30 dias e o despacho do secretário de Estado da Cultura. Aberto em 2004, o projecto da proposta de classificação do conjunto de imóveis (edifício da administração e corpo de oficinas) e a delimitação da respectiva zona especial de protecção (que se prolonga até ao final do Jardim do Arco do Cego, na Avenida Duque de Ávila), assenta no que diz ser "a qualidade e singularidade da obra-prima do arquitecto Jorge Segurado (também pintor, formado nas Belas-Artes de Lisboa em 1924), uma das mais importantes do primeiro modernismo". Perto da Casa da Moeda, concluída em 1941, fica outra das suas obras: o Liceu Filipa de Lencastre. A Imprensa Nacional descreve a Casa da Moeda como o mais antigo estabelecimento fabril do país, com laboração contínua desde o final do séc. XIII. A primeira oficina localizar-se-ia na Porta da Cruz, a Santa Apolónia. C.F.

Obra parada
Impasse no parque
A obra de construção do parque de estacionamento subterrâneo na Rua Alves Redol e topo da Avenida João Crisóstomo (nas traseiras do Instituto Superior Técnico) está parada, segundo o vereador municipal Nunes da Silva, devido à falência do empreiteiro, a Engiarte, impasse que poderá terminar com a possibilidade de integrar um fundo criado pela banca. O direito de superfície para construção e exploração daquele espaço (e de outros quatro em Lisboa) foi atribuído, em 1992, ao Jardim Zoológico de Lisboa, por 99 anos, que entregou a gestão do mesmo à Serparques. C.F.

1 comentário:

Paulo Lopes disse...

Curiosamente, ou talvez não, continua a ser o silêncio da Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, que nem na sua página na internet dá a conhecer estas noticias, informa sobre a exposição patente no Palácio Galveias ou promove o debate do próximo dia 20. Note-se que a quase totalidade deste projecto que agora é avançado pelo Vereador Nunes da Silva, desenvolve-se na Freguesia de Nossa Senhora de Fátima.

E é bom não esquecer a este propósito, que já por pelo menos 3 vezes, a 29 de Julho de 2010, 29 de Setembro de 2011 e 18 de Outubro de 2011, além da reunião inicial nos Paços do Concelho, que a população (moradores, comerciantes e quem aqui trabalha) manifestou de forma bastante incisiva, seja em número de presença seja em argumentos fundamentados, as suas objecções a muitas das propostas que o Senhor Vereador Nunes da Silva continua a insistir, contra a vontade de todos.