11/09/2006

Jardim Botânico ameaçado com projecto para Pal.Rib.Cunha

In Público
Por Alexandra Reis

"O Jardim Botânico de Lisboa considera que as obras de transformação do Palacete Ribeiro da Cunha, no Príncipe Real, em hotel de charme, poderão vir a causar impactes negativos, permanentes e temporários, no equilíbrio das espécies vegetais que compõem o espaço. Pinturas e infiltrações de água poderão afectar equilíbrio das espécies arbóreas ali existentes.

Esta foi uma das preocupações levadas anteontem à noite por Manuel João Pinto, técnico do Jardim Botânico, a um debate sobre o projecto de plano de pormenor do palacete, da autoria do arquitecto Pedro Emauz Silva, que se encontra em fase de discussão pública.

Segundo Manuel João Pinto, o maior afluxo de visitantes ao jardim que poderá resultar da transformação do palacete em hotel de charme "é positivo", mas "perspectivam-se ao mesmo tempo impactos negativos, permanentes e temporários", resultantes do curso das obras de requalificação do palacete.
O projecto de plano de pormenor para o palacete neo-mourisco, propriedade da família Ribeiro da Cunha, prevê a transformação do edifício em hotel de charme também por via da construção no seu logradouro de cerca de 55 quartos duplos, em cinco andares: "Concebido como habitação familiar, o palacete comporta um máximo de dez quartos, o que não o torna viável como hotel", justificou o arquitecto.

Manuel João Pinto explicou que as tintas a utilizar na pintura do muro que divide jardim e palacete "libertam substâncias tóxicas que podem afectar o balanço e a temperatura dos micro-habitats". Por outro lado, "é muito provável" que as águas das obras se infiltrem no solo do jardim.

Porém, segundo Pedro Emauz Silva, "é evidente que a pintura do muro vai ter precauções". Quanto à questão das águas, o arquitecto Fernando Pinto Coelho, representante da Câmara de Lisboa no debate que decorreu no Museu Botânico, assegurou que "é difícil" que elas se infiltrem no solo do Jardim Botânico. "Mesmo que isso aconteça", asseverou, de acordo com a carta geológica da zona elas seguem na direcção contrária.

Manuel João Pinto referiu ainda que também as vibrações, a libertação de poeiras e eventuais abatimentos do solo resultantes do decurso dos trabalhos poderão ter impactos negativos temporários no jardim.

Príncipe Real, centro turístico de excelência

O projecto - que contempla ainda uma ampla zona de reuniões e conferências, restaurante, áreas de serviço e estacionamento para 30 lugares - tem sido contestado, entre outros, pela associação ambientalista Lisboa Verde. Apesar de sublinhar que não está contra a reconversão do palacete neo-mourico em hotel, a associação classifica como "um crime" a "implantação exagerada a construir no logradouro", que irá "destruir o jardim, cavalariças e estruturas de apoio aos jardins", que datam do século XIX.

A reconversão do Palacete Ribeiro da Cunha pode vir a integrar-se num plano mais vasto de transformação do Príncipe Real num centro turístico de excelência em Lisboa. Uma empresa norte-americana do ramo imobiliário, a Eastbanc, está a comprar vários edifícios na zona com esse objectivo e já está em negociações avançadas com a família proprietária do Ribeiro da Cunha para vir a adquirir o palacete
."

Fonte: Olissipo.

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