10/02/2005

O Cinema São Jorge está fechado. Que vai sair de lá?

Confesso que estou apreensivo com o que possa sair de todo este secretismo (ou será desnorte?) à volta do futuro do Cinema São Jorge.

Diz-se que fechou para obras, que completem o que as obras de há 4 anos não fizeram, mas que se quer ir mais além, a começar pela sua exploração. Ando apreensivo porque, se por um lado ninguém já o pode vender ou arrasar (escusado será relembrar aqui as peripécias, as trapalhadas - como se diz agora - que culminaram na sua compra, acertada e definitiva; será caso para dizer que o fim justificou os meios... e aqui há que elogiar claramente a opção final da antiga vereação da CML, que não seguiu as pegadas das suas antecessoras que deixaram cair o Monumental e o Eden), por outro, quando se anunciam obras, seja lá para o que for, o que geralmente acontece é que dá tudo para o torto. Por isso estou apreensivo com o silêncio e com a aparente indefinição da CML à volta do futuro imediato do São Jorge.

No que toca às obras propriamente ditas, já sugeri - desde a minha humilde condição de cinéfilo comum - que se voltasse à sala única. Um São Jorge com 3 salas não é o São Jorge, ponto final. Sei perfeitamente que a lotação da sala única poderá trazer entraves à maximização da sua rentabilidade, mas poder-se-á atenuar esse efeito se se fizer a remodelação da sala de modo a que seja possível montar/desmontar as 3 salas sempre que a programação assim o exija. Isso não deve ser difícil. Aliás já foi lançada essa hipótese pela própria CML/Cultura. Quanto ao mais, que se reponha a mais-valia do fosso de palco, se possível com o elevador do órgão, mais o respectivo órgão (quanto ao organista, será só uma questão de copiar o esquema de funcionamento da Cinemateca, quando contrata os seus pianistas para acompanhar as sessões de cinema mudo...). E que as obras a nível da cobertura e do ar-condicionado não estraguem nada, mesmo nada do interior do São Jorge, a começar pelos seus w.c.

Já no que se refere à exploração da sala, não acho mal que a sua exploração seja "contratualizada" com privados, desde que sejam salvaguardados aspectos básicos, como a saúde física do São Jorge, o nível alto de qualidade de programação, o "reporting" periódico e público sobre a gestão da sala, etc.. Manter a exploração da sala tal como ela está é, no mínimo, caricato. O São Jorge merece muito mais que a simples exploração comercial de filmes em simultâneo com as salas de c.c., ou com a realização de pequenos festivais periódicos; mesmo que extremamente meritórias como a Festa dio Cinema Francês, ou o Festival de Cinema Independente.

Mas há um outro ponto importante: muito do sucesso do São Jorge a longo-prazo depende do futuro do Parque Mayer e do futuro da Avenida da Liberdade, pelo que convém prepará-lo para agir em sintonia com o que resultar das soluções que venham a ser aplicadas para aqueles dois "pontos negros" da vida alfacinha.

O que defendo para o São Jorge é o seguinte:

1. O São Jorge deve voltar a ter sala única.
2. O São Jorge deve ter uma exploração privada.
3. O São Jorge deve ter uma programação mista cinema+música.
3.1 Cinema: uma programação baseada em 2 vectores, i.e., "a" casa do cinema português (em regime de exclusividade, a ser negociado com os distribuidores), e uma aposta ainda maior na organização de festivais temáticos que garantam a uma exploração mais ou menos continuada, já que o São Jorge é um CINEMA (há uma panóplia de temas, cinematografias, etc., a explorar...).
3.2 Música: espectáculos musicais (jazz, music hall, etc..) que não comportem caixa de palco que o São Jorge não tem, nem foi feito para ter.

PF

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