28/09/2007

Administração do Porto Lisboa é «associação de malfeitores», diz Miguel Sousa Tavares


In Expresso Online / Lusa (28/9/2007)

«O jornalista Miguel Sousa Tavares qualificou quinta-feira a Administração do Porto de Lisboa (APL) de "associação de malfeitores" durante um debate sobre a construção do novo terminal de cruzeiros, obra promovida por aquela entidade.

Lisboa, 28 Set (Lusa) - O jornalista Miguel Sousa Tavares qualificou quinta-feira a Administração do Porto de Lisboa (APL) de "associação de malfeitores" durante um debate sobre a construção do novo terminal de cruzeiros, obra promovida por aquela entidade.

"Ao contrário de pessoas que dizem que a Administração do Porto de Lisboa tem coisas positivas, eu acho que é uma associação de malfeitores", afirmou Miguel Sousa Tavares no debate promovido pelo Fórum Cidadania Lisboa e pela Associação do Património e da População de Alfama.

Segundo Sousa Tavares, "não é por acaso" que APL, tutelada pelo Ministério das Obras Públicas não se fez representar no debate sobre o terminal, uma obra que envolve a construção de um hotel e de um muro com seis metros de altura e cerca de 600 metros de comprimento.

"É um inimigo público da cidade", acusou Sousa Tavares, referindo-se a construções autorizadas por aquela entidade, tutelada pelo Ministério das Obras Públicas, que tem jurisdição sobre a frente ribeirinha da capital.

O jornalista desafiou o advogado José Miguel Júdice, que poderá vir a coordenar a reabilitação da frente ribeirinha, e esteve no debate, a modificar as relações da APL com a cidade.

"Está numa situação invejável porque não tem nada a perder, não quer o lugar e tem uma oportunidade única de fazer obra", afirmou dirigindo-se a Júdice.

"Exija poder de facto sobre a Administração do Porto de Lisboa, poder de suspensão sobre o que está em causa", incitou.

José Miguel Júdice recusou contudo esclarecer que papel poderá desempenhar na reabilitação da frente ribeirinha.

"Neste momento pouco ou nada posso dizer. Estou numa espécie de limbo", advertiu no início do debate que decorreu no Instituto Superior de Psicologia Aplicada.

O ex-presidente e actual vereador independente Carmona Rodrigues afirmou quarta-feira, na reunião do executivo municipal, que no anterior mandato o Governo manteve contactos com a autarquia para a constituição de três sociedades para a reabilitação da frente Tejo e admitiu que nesses encontros foi referido pelo Governo "como nome de um possível coordenador o doutor José Miguel Júdice".

Júdice a o vereador dos Espaços Verdes na Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes (BE), manifestaram-se "descansados" durante o debate sobre o terminal de cruzeiros em que a obra não se construa de acordo com o projecto original.

A Câmara de Lisboa aprovou quarta-feira, com a abstenção do PSD, uma moção contra a construção do terminal, uma obra que dispensa licenciamento camarário por ser da responsabilidade da APL.

O presidente da Câmara, António Costa (PS), considerou na reunião que o terminal constitui "uma má solução".

A secretária de Estado das Obras Públicas e Transportes, Ana Paula Vitorino, disse na quinta-feira à Lusa que os edifícios referentes ao terminal vão ser "debatidos" e respeitarão "as regras urbanísticas".

Falando na Gare Marítima de Alcântara, no encerramento das cerimónias alusivas ao Dia do Mar, a governante adiantou que "neste momento" apenas está a ser feito o terminal em si, e que apesar de não conhecer o teor da moção, este não está em causa.

Ana Paula Vitorino esclareceu que já teve uma reunião com o vereador da autarquia responsável pelo Urbanismo, Manuel Salgado, tendo sido solicitado a duas pessoas da Câmara Municipal para, juntamente com elementos da APL, chegarem a "uma solução compatível e de acordo com as regras urbanísticas" relativamente aos edifícios.

Segundo a secretária de Estado, pretende-se que no final haja "uma solução consensual com a Câmara Municipal de Lisboa".

ACL/AV.

Lusa/Fim»

A APL, ao recusar comparecer no debate de ontem à noite, perdeu uma oportunidade de não só apresentar o seu projecto (ou o que pensa ser um projecto!), mas, sobretudo, dialogar com os lisboetas, abdicando da sua couraça feudal. Preferiu esconder-se das pessoas por detrás de mais um facto consumado que ... pode, afinal (!), não o ser.

Até prova em contrário, confiamos nas pessoas e, preferindo a astronomia à astrologia, aceitamos que os astros estejam hoje na posição correcta para que finalmente esta cidade avance para melhor, e que as pessoas que a fazem sejam finalmente ouvidas e se acabe com os feudos, quotas ou coutadas.

A ver vamos, dizia o cego ... até porque, é preciso recordarmo-nos do seguinte: os astros movem-se, não estão fixos...

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia a todos! Sou novo no fórum Cidadania Lx e queria antes de mais saudar esta organização de mulheres e homens de Lisboa que, insatisfeitos com o estado da nossa cidade, tanta entusiasmo tem demonstrado em forçar o debate sobre projectos fundamentais para todos nós, cidadãos e visitantes, e em tornar esta bonita cidade na cidade mais bonita.

Tinha planeado participar ontem no debate que ocorreu no ISPA, mas motivos imprevistos não mo permitiram. Acordei a pensar no que se teria passado e quais as conclusões, e disposto a enviar um pedido ao fórum para que produzisse uma síntese da discussão, e confesso que fiquei muito contente (afinal há esperança!) quando percebi que o relato já lá estava, imparcial, acutilante, preciso e assertivo.

Quanto ao projecto em discussão, devo dizer que estou mais descansado mas não estou descansado. Os responsáveis pela APL não apareceram ontem no debate e portanto não estou descansado. Todos os dias passo no Cais do Sodré e assisto à construção daqueles projectos e portanto não estou descansado. Passeio de bicicleta entre a Expo 98 e Algés e não consigo ver o rio em mais de 50% do percurso (e se descontarmos a Expo 98, ficamos reduzidos a 30%) e não fico descansado. Visito outras cidades europeias e vejo invariavelmente soluções urbanísticas mais interessantes que as nossas; olho em redor e confirmo o gigante potencial geográfico de Lisboa e fico incrédulo com o bem que temos trabalhado para o anular. Não estou descansado. Se Lisboa fosse Alemã, Holandesa, Eslovena… talvez fosse menos outras coisas, mas era seguramente mais bonita.

Por outro lado, também acho que Lisboa já bateu no fundo e está já em fase de recuperação. Ainda vamos a tempo!

Obrigado pelo esforço de todos,
Pedro Machado

daniel costa-lourenço disse...

"uma solução compatível e de acordo com as regras urbanísticas"

Onde é que eu já ouvi isto?

Não estou nada descansado.

A APL é um mero fiel depositário do espaço público as gerações futuras. Não pode tratar a frente Tejo como se fosse o seu quintal.

A luta continua!