25/06/2008

Se CML tem dinheiro para a Experimenta não pode deixar de comprar espólio de Pessoa

In Público (25/6/2008)
Ana Henriques

«Directora da Casa Fernando Pessoa considera o espólio do escritor bem mais prioritário do que algumas iniciativas camarárias recentes

Se a Câmara de Lisboa teve 280 mil euros para subsidiar a Experimenta Design, não pode deixar de comprar os livros de Fernando Pessoa que vão a leilão em Outubro. É desta forma que a directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, comenta uma proposta do grupo de vereadores de Helena Roseta para que a autarquia adquira os livros da biblioteca do escritor que os seus sobrinhos vão levar à praça.
Foi no final dos anos 60 que o município comprou o lote de 1200 volumes - alguns dos quais anotados e com dedicatórias - que então se pensava que constituíam a totalidade da biblioteca, e que haviam, já em 1993, de dar origem à Casa Fernando Pessoa, juntamente com alguns objectos pessoais e móveis. Veio afinal a descobrir-se que ainda existem mais. São 140 os livros e revistas que vão agora a leilão, além de correspondência e outros papéis, e que poderão completar a biblioteca da casa dedicada ao poeta. "É raríssimo conseguir-se a biblioteca completa de um escritor", observa Inês Pedrosa. Depois ironiza: "Considero Pessoa ligeiramente mais prioritário que a Experimenta Design". E as enormes dificuldades financeiras da câmara? A responsável da Casa Fernando Pessoa responde com nova comparação: "Se houve 290 mil euros para encher a cidade das esculturas efémeras de Robert Indiana", compostas por letras e números gigantes, "não me passa pela cabeça que não haja dinheiro para este espólio".
Se a autarquia não puder, de todo em todo, pagar agora a totalidade do valor que vier a ser estabelecido no leilão, "terá de fazer um acordo com o Estado", que deverá por seu turno "comprar os papéis de Pessoa que também vão a leilão e depositá-los na Biblioteca Nacional". Neles se incluem o dossier Pessoa-Crowley, que reúne todos os papéis relativos ao encontro do poeta português com o ocultista inglês Aleister Crowley, em 1930.
Além da compra dos livros - uma proposta da autoria da primeira directora da Casa Pessoa, a agora vereadora dos Cidadãos por Lisboa Manuela Júdice -, Helena Roseta leva à reunião de câmara de hoje a questão do ruído provocado pelo Eixo Norte-Sul, "que afecta um grande número de moradores, nomeadamente no Bairro de Telheiras, Avenida Lusíada, Parque dos Príncipes e Quinta dos Barros". E se o novo troço desta artéria já conta com barreiras sonoras, o mesmo não acontece com o troço mais antigo.
Helena Roseta recorda que, segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde, o ruído mata mais na Europa do que a poluição do ar, sendo que o tráfego automóvel pode provocar ataques de coração e hipertensão. E Portugal é o terceiro país europeu mais afectado pelo problema. Por isso, a autarquia deve, após elaborar um estudo de ruído na zona, "actuar junto das entidades responsáveis pela mitigação do ruído proveniente das infra-estruturas de transportes, para que seja aplicada a legislação vigente". As últimas medições davam conta de que os níveis de poluição sonora e atmosférica nesta zona eram superiores ao permitido.
Foi a única portuguesa a ocupar o cargo de primeiro-ministro, nos longínquos anos de 1979/80, e também a única mulher candidata à Presidência da República, cinco anos mais tarde. Falecida em 2004, Maria de Lourdes Pintasilgo vai dar nome a uma rua de Lisboa, graças às lutas que desenvolveu em prol da solidariedade social e na defesa do aprofundamento da democracia participativa. Será no Alto do Lumiar, e terá como vizinho outra notável figura: o defensor dos direitos dos negros Martin Luther King, que dará nome a uma rua ao lado.»

3 comentários:

Arq. Luís Marques da silva disse...

Aproveitaria também e bem melhor para todos nós se recuperasse o edifício da Estefânia, que chegou a ser morada de Fernando Pessoa...

Anónimo disse...

a experimenta não passa de uma cambada armadas em modernaços, de piercings e tatuados, todos de preto, a especularem sobre o futuro. Os orçamentos são resolvidos na horizontal pois dá menos trabalho. Não tem trabalho relevante, o o que já foi feito é uma merda, gente que vive de chular as instituições para passearem...

Anónimo disse...

Bem... eu não queria chegar tão longe... (até estou atordoado), mas... básicamente... TEM MUITA RAZÃO!!!