In Público (20/5/2010)
Por José António Cerejo
«Bilhete recarregável dos transportes de Lisboa não convence. Empresas apontam limitações tecnológicas, especialista diz que falta organização
Metropolitano já encaixou quase sete milhões de euros com a venda dos cartões
Problemas são "residuais"
"Desculpe, o senhor pode ajudar-me que eu não consigo entender-me com isto?" A mulher, jovem ainda, tem na mão meia dúzia de cartões verdes. Atrás dela esperam, impacientes, cinco pessoas que querem comprar um bilhete de comboio. Na estação de Barcarena-Massamá, no sentido Sintra-Lisboa, há três máquinas automáticas para assegurar o serviço. Uma está avariada e as outras nem de longe chegam para aviar a procura neste princípio de manhã. [...]
Cenas como estas repetem-se a toda a hora nas estações das linhas suburbanas da CP e nas instalações do Metro de Lisboa, da Transtejo/Soflusa (ligações fluviais) e da Fertagus (comboios da Ponte 25 de Abril) onde se vende o cartão recarregável Viva Viagem, com um microchip incorporado.
Lançado em 2008, o Viva Viagem continua a ser um quebra-cabeças para muita gente, em especial para os passageiros ocasionais. Tanto mais que na maior parte dos casos, mormente no Metropolitano, não há alternativa à sua aquisição ou recarregamento nas máquinas automáticas e o sistema tornam-no complicado e pouco amigável.
Basta dizer que o Metropolitano recebeu 1888 reclamações relacionadas com o cartão Viva Viagem em 2008 e 1434 em 2009, o que corresponde a cerca de 20 por cento do total. Já a CP refere 400, a Transtejo/Soflusa 110 e a Fertagus 123, todas em 2009. E isto sabendo-se como os portugueses são avessos a formalizar queixas e reclamações, muitas vezes rodeadas de burocracias e perdas de tempo.
Uso muito limitado
Entre as queixas mais frequentes dos utilizadores destes cartões avultam a dificuldade de uso das máquinas e as limitações ao emprego de um mesmo cartão em mais do que uma empresa e em mais do que um trajecto, ainda que na mesma empresa.
De acordo com os porta-vozes da Fertagus e da Transtejo/Soflusa, a impossibilidade de carregar diferentes títulos de viagem de um único ou de vários operadores num mesmo suporte resulta das limitações tecnológicas do próprio cartão, limitações essas que a OTLIS (agrupamento de empresas que gere o Viva Viagem) está a tentar ultrapassar junto dos fornecedores.
Opinião diferente tem José Viegas, professor universitário do Instituto Superior Técnico de Lisboa e especialista em transportes, para quem o problema é de organização, ou, como diz, o que torna tudo mais confuso é o "muito deficiente enquadramento administrativo e contratual" do sistema tarifário e de remuneração dos operadores, e não o equipamento tecnológico.
Mas, como se não chegasse a ambiguidade e a pouca clareza das instruções transmitidas pelos ecrãs tácteis das máquinas, ainda sucede que de operador para operador as máquinas variam e o modo de as utilizar também. Nalguns casos, o sistema transforma-se numa charada. É o que acontece quando se tem de optar entre uma modalidade de carregamento chamada zapping e outra. Às vezes, sobretudo no metro, ainda aparece um segurança prestável que dá uma ajuda e explica que a modalidade zapping permite carregar o cartão com dinheiro utilizável em alguns dos operadores - com as excepções da CP e da Fertagus -, em vez de o carregar com viagens que se podem efectuar apenas na empresa em cuja máquina se faz o carregamento.[...]»
20/05/2010
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8 comentários:
Leiam um relatório do tribunal de contas sobre o tema.
Luís Alexandre
Como utente esporádico dos transportes públicos de Lisboa, não posso deixar de subscrever todas as reclamações quanto à incompatibilidade do cartão entre os vários operadores. Parece que é para fingir que ha integração, mas obriga a andar com meia dúzia de cartões verdes na carteira...
É o Simplex a funcionar...
Tudo sempre feito sobre o joelho, só para a propaganda...
Não compreendo. O país que desenvolveu o multibanco que nós conhecemos, os pré-pagos no tlm e a via verde não consegue fazer uma !$%?! dum cartão recarregável!?
Quanto mais uso o Oyster Card (Londres) menos compreendo o que se passa nas cabeças dos senhores da bilhética em Portugal!!!
realmente o sistema de cartoes anda ridiculo.
pelo menos o zapping ja deveria funcionar em simultaneo em todos os operadores
durante um mês trabalhei em almada
precisei:
1 - um cartao viva viagem cp até roma areeiro
2 - segundo cartao viva viagem para fertagus
3 - terceiro cartao viva viagem para metro sul do tejo
4 - um dia lembrei-me de voltar de barco e tive de comprar novo cartao para barco...(ao menos este deu para o metro).
sendo assim, tenho 4 cartões..alguém quer 1?
eu na minha carteira tenho seis cartões viva viagem:
1 para o metro
1 para a linha da azambuja até alverca
1 para a linha da azambuja depois de alverca
1 para a linha de cascais
1 para a linha se sintra
1 para os barcos para a margem sul
Nenhuma das viagens dá para combinar-- Tive que escrever com uma caneta o que era cada cartão porque os da cp são todos iguais. Em vez de facilitarem só complicam. Continua a haver um bilhete para cada coisa só por dizer que agora são todos verdes e com um logo 'Viva Viagem'
E por que razão têm os ditos cartões um prazo de validade? Para arrecadar mais uns "trocos"? Se estão em bom estado, não se justifica que ao fim de um certo tempo, tenhamos que comprar novo cartão : 50 cêntmis x não sei quantos milhões de utentes, vejam o que se lucra.
Se alguém souber a razão, por favor elucide-me.
Maria José, Sintra
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