23/06/2011

Carta - "post"... aberta ... dirigida aos Srs. Vereadores da C.M.L., por António Sérgio Rosa de Carvalho

A propósito de ...
"Críticas da oposição adiaram proposta de sorteio de casas para jovens em Lisboa
Autarquia quer investir na requalificação de bairros municipais
Câmara aprovou investimento de 144 milhões de euros para requalificar os bairros municipais"
e de ...“
De onde é que vem o dinheiro?”, perguntou por sua vez o vereador do CDS-PP António Carlos Monteiro, lembrando que a empresa responsável pela gestão dos bairros municipais (Gebalis) “está falida”.
e de ...
"Quanto à venda de imóveis a jovens por sorteio, o comunista deu conta da sua oposição à proposta, por considerar que “abre caminho eventualmente a que seja alienado todo o património municipal”. Carlos Moura defende que se opte antes pelo arrendamento e se recorra à alienação apenas “de forma pontual”.
e ainda de ...
A vereadora da Habitação garantiu que “não é política da câmara vender tudo” e corroborou a ideia do PCP de que a maioria dos fogos municipais deve ser arrendada e não alienada.

Peço aos Senhores Vereadores para relerem este “post”da minha autoria datado de 24 de Agosto de 2010 ...
Embora seja cansativo ... é necessário continuar a repetir a mesma coisa ... desde que isso sirva para reflectir e estimular a discussão ... reparem que a C.M.L. não precisa de comprar edifícios para os restaurar e integrá-los no Mercado da Reabilitação Urbana ... pois já os tem ... precisa sim de desenvolver uma verdadeira política de Reabilitação e ALUGAR os seus edifícios na ÍNTEGRA ... e não por parcelas ... dispersas por diferentes edifícios ...
Precisa de DAR O EXEMPLO ESTIMULANTE ... também ao Mercado Particular da Reabilitação Urbana ... Utlize os 144 milhões no Centro Histórico ... aí terá um grande efeito pedagógico e estimulante ...
António Sérgio Rosa de Carvalho



Antes de deixar Amsterdam, ainda uma última reflexão sobre o processo que levou ao reconhecimento da Zona dos Canais de Amsterdam como Património Mundial … reflexão que numa crítica comparativa com o estado da nossa Baixa, não nos deve levar ao desânimo ou à paralisia fatalista, mas pelo contrário, a um espirito de luta e exigência, confrontando os eleitos e responsáveis pela sua inoperância e falta de visão … afinal o reconhecimento em Amsterdam surgiu de um longo processo , de acções e estratégias, que alcançaram factos visiveis e concretos, e não de um processo vago de intenções …
Como o espaço escasseia vou-lhes deixar apenas um exemplo …
Nos anos cinquenta do pós-II Grande Guerra, a Zona dos Canais de Amsterdam encontrava-se num estado deplorável de conservação e abandono … este é também o periodo de reconstrução económica e em muitas cidades Europeias … de renovação e reconstrução radical das mesmas. Ora, em Amsterdam também se começaram a desenvolver planos para “ modernizar” o centro histórico e torná-lo “utilizável” pelo automóvel … Estes planos incluiam grandes demolições e drenagem de canais …
Um grupo de notáveis, não só no plano cultural, mas também do mundo operacional, empresarial e institucional reuniram-se e resolveram resistir e desenvolver uma “fórmula” capaz de garantir a habitação e a multifuncionalidade do centro histórico juntamente com a Conservação e o RESTAURO de todo o edificado histórico.
Assim se fundou em 1956 a Sociedade de Restauro – Fundação Stadsherstel (existem mais , mas esta é de longe a mais importante). A fórmula é simples … Stadsherstel compra edificios, restaura-os de forma rigorosa e aluga-os por parcelas, mas com respeito Total pelas características históricas dos interiores … Todo o capital angariado pelos alugueres só (definido por estatutos rigorosos) pode ser utilizado para a compra de novos edificios históricos … Stadsherstel não pode vender edificios, e compromete-se a conservá-los …Entretanto já possui 500 edificios históricos e tem alargado a sua actividade a monumentos maiores como Igrejas, Património Industrial etc., No seu jubileum de 50 anos de existência, Stadsherstel recebeu a visita reconhecida da Rainha Beatrix da Holanda. A sua sede encontra-se num Igreja de madeira do sec XVIII restaurada.
Stadsherstel além do Restauro integral dos edificios, não hesitou em RECONSTRUIR edificios na integra … e só trabalha com Arquitectos de Restauro …
Embora Stadsherstel tenha usufruido no início de um arranque de capital da Banca e de Companhias de Seguros, quase em regime de Mecenato e de um sistema de Subsidios de Restauro do Estado, a história do seu sucesso tem sido uma de conjugação de uma competente, rigorosa e SĖRIA gestão de meios técnicos e financeiros associada a uma determinada visão cultural … que levou a uma ideia efectiva e responsável de lucro, onde o capital é sempre utilizado para o Bem Comum e para a Glória e vivência dos Canais de Amsterdam, agora reconhecidos.
Vale a pena ainda acentuar que entre esta Zona classificada como Património Mundial ( nucleo – 205 Ha Zona e “buffer” 479 Ha) existem 8000 Casas-Monumentos (edificios classificados) e a Zona encontra-se classificada pelo Governo Holandês como Conjunto Urbano Protegido desde 1999 …As imagens de “antes e depois” falam por si …
As possiveis comparações com a nossa Baixa (Imóvel de Interesse Público), com a Total inoperância da C.M.L. e o seu Plano de Pormenor, com a atitude gravemente relativizadora do IGESPAR perante os Monumentos e os seus processos de Classificação … deixo-as a Vós
Mas, não desanimem … Temos que deixar o fatalismo paralisante e a auto flagelação e começar a exigir uma outra atitude a nós próprios e aos … nossos eleitos …“Yes WE Can” !
Saudações de António Sérgio Rosa de Carvalho















24 comentários:

Rui disse...

E para quando a ocupação legal de edíficios, um red light district e coffee shops na baixa de Lisboa? :)

Anónimo disse...

Modernismo e derivados = Erro Histórico!
É só andar pelo País e ver.
Tudo o mais recente é feio. Zonas históricas, bonitas.
E conceito de feio/bonito devia ser técnico e não subjectivo como convém nos tempos que correm.

Anónimo disse...

Tem toda a razão, mas a Baixa já foi muito discutida, e não há ninguém sem consciência da urgência da recuperação da zona. No entanto, o fatalismo e desânimo deve-se sobretudo ao facto que faz toda a diferença entre Amesterdão e Lisboa: eles são ricos e nós somos POBRES!

Anónimo disse...

estive esta semana em Riga na Letonia, e é incrível ver como eles em 5 anos de UE conseguiram recuperar todos os edifícios das zonas historicas e bairros inteiros de edificios de Arte Nova (que sao patrimonio mundial..). e nao sao poucos predios

Lisboa em mais de 20 anos de UE ainda tem metade da Baixa a cair.. é triste.

Raul Nobre disse...

Deixamos fugir do país aqueles que têm valor, como é o caso do Arq. António Sérgio Rosa de Carvalho e fica por cá a fina-flor da incompetência, onde me sinto incluído.

Vou tomar a liberdade de salientar dois períodos do seu poste:

“…não nos deve levar ao desânimo ou à paralisia fatalista, mas pelo contrário, a um espírito de luta e exigência, confrontando os eleitos e responsáveis pela sua inoperância e falta de visão …”

“…conjugação de uma competente, rigorosa e SĖRIA gestão de meios técnicos e financeiros associada a uma determinada visão cultural …”

Vou procurar ler a sua Master-Thesis, “História das Ideias” (o que não deixa de ser uma sugestão para muito boa gente).

Anónimo disse...

Fui 4 anos inquilino da Stadsherstel,existem grandes listas de espera e as rendas nao sao baratas, mas como existe muita gente com vontade de viver no centro historico nao lhes faltam clientes. Acho que o caminho para Lisboa devia ser semelhante, parcerias publico-privadas sem fins lucrativos apostadas em rehabilitar o centro historico.No entanto em Amsterdam existe um interesse genuino em habitar no centro, fruto de uma classe media e alta com bom gosto e poder de compra elevado,e que compreende as vantagens de morar no centro.

Anónimo disse...

Há vários pontos relevantes no artigo do António Carvalho (Dr):
1. a necessidade de cidades históricas preservarem o seu edificado. São imperativos culturais, é verdade, mas económicos também. Quem quer visitar Lisboa se não há uma única avenida ou rua com solidez arquitéctonica e estética? América do Sul tem em mais quantidade esses exemplos de destruição de património e tem a atractividade romântica de ser a América do Sul por isso os turistas prefeririam-na caso estivessem interessados em falta de qualidade arquitectonica das ruas.
2. O restuaro e recuperação deve ser criterioso, profissional e feito com técnicos habilitados ao restauro. Temo que em Lisboa o que se vai fazer é uma espécie de recuperação fachadista em que elementos como tectos de pladur, casas de banho e cozinhas minimalistas e pseudo-design de catálogo, janelas de alumínio, lojas com montras de alumínio, sinais luminosos tutti-frutti sem uma coerência histórica vai ser possível com argumentos de conforto e adaptação à vida moderna. Eu vivo numa casa dos anos trinta que não tem nada disso mas que é muito confortável. É uma questão de mentalidade e gosto.
3. a reconstrução é possível, aconselhável, e os resultados francamente bons. Os edifícios perdidos pela incúria ou dolo dos seus proprietários, promotores e governantes devem ser reconstruídos como eram originariamente. Há técnica ainda hoje que o permite sem qualquer dúvida. Tal seria, também, uma punição para quem pensa que pode ganhar dinheiro à custa de uma cidade e depois ir para a sua casa nos subúrbios a assobiar como se nada fosse.

Anónimo disse...

Eu não compreendo os arquitectos que, parecendo formados todos na mesma escola e encaixilhados em espartilhos ideológicos, demonizam a reconstrução actual integral como se tal diminuisse o arquitecto. Chamam-lhe "pastiche" e recusam-se a fazê-la por indignificar a profissão. Devo dizer que mais e mais a profissão se tem indignificado quando claramente não lhes é ensinado o respeito e a compreensão dos movimentos estéticos que os precederam. Ninguém deixará de concordar comigo que é mais respeitável o arquitecto que investiga, estuda e reconstroi de acordo com o que havia sido feito - e assim mantendo a integridade estética de ruas, bairros e cidades - do que aquele, inchado de tanto ego, condena ao camartelo edifícios de típica traça de uma época para assim poder assinar a sua obra. Esses arquitectos são nocivos, são letais para uma cidade, devem ser expurgados. Infelizmente são a maioria. Valham-nos aqueles que não o são!

Julio Amorim disse...

Ó anónimo das 2:00..."Tudo o mais recente é feio"....em Amsterdam ?

Acha mesmo isto feio?

http://goamsterdam.about.com/od/amsterdamphotos/ig/Photos--Modern-Architecture/Photo--Modern-Island-Housing.--1_.htm

Anónimo disse...

Caro Júlio,

Sim, prefiro de longe o velho e ultrapassado.

Anónimo disse...

Mas se quer pessoalizar o gosto então seria mais justo fazer uma votação mas ao maior numero de população possível...e aì ver.
Colocar uma Igreja do Siza e uma antiga á escolha etc.

Porque a Arquitectura ainda é para as pessoas, ou já não?
E mesmo que concorde que há coisas bem feitas e até bonitas, confesso que embirro por vários motivos, alguns deles até falados neste post por alguém.

Mas mesmo assim aceitaria tudo (que remédio)desde que ao menos se respeitasse o passado, o que não acontece por cá.

Raul Nobre disse...

Já me aconteceu falar com arquitectos (arquitectos?), que estavam a efectuar trabalhos de reabilitação em Alfama e que desconheciam aspectos elementares da história do bairro; desconheciam por completo como se processa o dia-a-dia dos habitantes do bairro; desconheciam a razão e o porquê de muitos dos hábitos dos moradores. Ao perguntar-lhes, por exemplo, onde era costume irem almoçar, referiam-me, com a maior naturalidade, o nome de restaurantes fora do bairro. Ou seja, no fundo, no fundo, o bairro não lhes dizia nada! O resultado é o que se vê com algumas das "reabilitações".

Vanda Noronha disse...

"Quem quer visitar Lisboa se não há uma única avenida ou rua com solidez arquitéctonica e estética?"

Grande verdade, alguem devia dizer isso aos turistas que estão sempre no meu caminho cada vez que saio à rua.

Ah, não, espere, esses milhares devem ser apenas imaginarios, estarão com certeza todos em Amsterdão, pois. Isto já são delírios meus..

(cada vez que leio "Amsterdam" em vez de Amsterdão sei logo ao que vou. Também dizem "vivi em London"? Parolos.)

Anónimo disse...

Cara Vanda Noronha,

não compare os turistas que vêm a Lisboa porque ainda é um destino barato com a quantidade copiosa de turistas que cidades como Barcelona, Paris ou Berlim recebem por razões culturais. Eu sei o que digo porque vivo de turistas e sei o que dizem. Estou cansado de engolir os sapos que eles insistem em enfiar-me pela goela mas a verdade é que o que eles criticam está certo e eles têm razão!
Concordo consigo que é um disparate dizer Amesterdam mas é também um disparate os constantes "há 20 anos atrás"- com o verbo haver não se usa atrás; "um amigo meu" - se o amigo não fosse seu é que há necessidade de o dizer; " eu próprio" - se sou eu então sou obviamente o próprio; "quaisqueres" - o correcto é quaisquer. E muitos outros. Não se chama ser parolo, chama-se falar mal português.

Anónimo disse...

11:15am, conversa da treta de quem quer desconversar...

Anónimo disse...

Anónimo disse...
estive esta semana em Riga na Letonia, e é incrível ver como eles em 5 anos de UE conseguiram recuperar todos os edifícios das zonas historicas e bairros inteiros de edificios de Arte Nova (que sao patrimonio mundial..). e nao sao poucos predios

Lisboa em mais de 20 anos de UE ainda tem metade da Baixa a cair.. é triste.

4:14 PM




A União Europeia paga reabilitações?!!!

Xico205 disse...

Rui disse...
E para quando a ocupação legal de edíficios, um red light district e coffee shops na baixa de Lisboa? :)

12:19 PM




Era bom, mas infelizmente mataram o Cais Sodré e o Intendente.
Bons tempos.
Cofee shops ainda há muitas (clandestinas) no Bº Alto, R. Maria Pia, Quinta do Lavrado, Serafina, etc...

Manel disse...

é curioso como no resto da europa se mantém a traça original da arquitectura(ou bastante inspirada nesta)de uma maneira harmoniosa e nós cá nem sequer tentamos...

Xico205 disse...

Em muitos sitios constroi-se novo a imitar antigo.

O que o Manel diz não é verdade.

Anónimo disse...

a vergonha e o complexo do que somos, que está subjacente a este tipo de pensamento - que não é apenas de hoje, mas nos acompanha há séculos - demonstra apenas a incapacidade que temos em nos esforçarmos na invenção de formas diferentes de requalificar a cidade.

isto reflecte, enfim, o pensamento estreito e preguiçoso da nossa aristocracia, e a sua inclinação natural para o lamento em vez de um investimento sério na proposta de alternativas.

importar modelos não é alternativa. é preguiça e copianço.
e impressiona!

Xico205 disse...

Podias referir que este post é para aí de 2009!

Filipe Melo Sousa disse...

O melhor que se faria em Amsterdão era mesmo drenar alguns canais para tornar a cidade mais circulável. Ganhava-se faixas de circulação e estacionamento. E também onde colocar um metro. Deve ser a única capital europeia que não o tem. Nem carro nem metro, escusado será dizer que a cidade é incirculável e inabitável. Para não falar dos corredores em que se tem que passar de lado de tão estreitos, ninguém merece.

Anónimo disse...

Caro António

Muito obrigado pelo seu post. Não conhecia esta realidade.

Tenho defendido para a Baixa uma solução "tripla" que consiste em optar por recuperar para vender ao segmento médio-alto, para vender ao segmento baixo e para colocar no mercado de arrendamento. A primeiro hipótese, implica a possibilidade de criar espaços para estacionamento no edificio. A segunda hipótese implica beneficios fiscais para quem recupera. A terceira hipótese implica criar um Tribunal, especialmente dedicado à Baixa, para a resolução de litigios.

Actualmente todos concordamos que o actual modelo não funciona. Temos uma Baixa propriedade do Estado, de empresas e Bancos e de particulares, com o resultado que se conhece. A solução que apresenta em Amesterdão (digo Amesterdão, como digo Geneve, Londres e Milão..são hábitos) é a ideal mas não existe. Se for possível criá-la, óptimo. Implica a junção de muitas valências e vontades, que no presente não estão conjugadas. A minha solução pega numa realidade relacionada com a propriedade dos imóveis, pega na nossa realidade sócio-económica, e abarca-a com três hipóteses que no fundo representam o nosso mercado imobiliário. A primeira, certamente polémica por implicar a permissão de construir estacionamento é a mesma que está a resultar comercialmente no Chiado. A segunda, permitiria rehabitar a Baixa e redinamizá-la. A terceira, idem. Penso ser a melhor solução para a nossa realidade. Em cidades como Paris, Londres ou Nova York existe uma classe Alta com poder de compra e percepção de qualidade de vida que adquire apartamentos com mais de 100 anos por preços acima de 5 milhões de Euros. Em Portugal não temos este mercado. E ao não o termos, não temos capacidade financeira para manter o edificado nas melhores condições. Imagine que é proprietário de um edificio da Baixa com 10 fracções. Se vendesse duas por 3 milhões de euros cada, poderia dar-se ao luxo de reabilitar o edificio a seu gosto, respeitando a traça original. O problema é que não temos este mercado. E perante isso temos de arranjar a solução que perante a realidade portuguesa permita manter e redinamizar a Baixa. E essa solução, salvo melhor opinião é a que apresento de forma sucinta, claro.

Xico205 disse...

O segmento baixo deixou de poder comprar imóveis.

Portugal é definitivamente um país para ricos. Agora já nem se pode fazer acrescentos à casa nem construir uma barraca, porque passámos a ser todos ricos e finos e isso é considerado inadmissivel. O problema é que a maioria da população não é rica nem fina, mas a minoria de politicos que faz leis sabe lá disso. Vivem no mundinho cor de rosa do jet 7 sabem lá como vive o resto da população...nem lhes interessa saber porque com o mal dos outros estão eles bem.