12/08/2010

Estacionamento ameaça liquidar horta popular

In Jornal de Notícias (12/8/2010)
Cristiano Pereira


«Há mais de dez anos que um terreno camarário no bairro da Graça, em Lisboa, tem sido aproveitado por alguns populares para plantação de legumes. Mas há quem queira deitar tudo abaixo e construir ali um parque de estacionamento. A polémica está instalada.

O terreno em causa situa-se numa encosta junto ao cruzamento da Calçada do Monte com a rua Damasceno Monteiro, a cerca de uma centena de metros do Largo da Graça. É uma encosta onde o sol bate várias horas por dia, com três pinheiros mansos e duas oliveiras.

Há mais de uma década que idosos do bairro da Mouraria – ali a poucos metros – aproveitam o pedaço de terra para fazerem uma pequena horta. Mais recentemente, jovens do Grupo de Acção e Intervenção Ambiental (Gaia), tomaram a iniciativa de colaborar com os populares e começaram, também eles, a plantar legumes vários.

Alguns moradores, todavia, parecem não gostar da ideia. “Aquilo é um mictório para levarem os cães”, diz José António, aposentado de 60 anos, que se mostrou bastante céptico com a utilidade da horta. “É uma brincadeira de meia dúzia de putos”, defendeu José António, comentando que “não se faz um cozido à portuguesa com as couves que lá estão”. Na sua óptica, o terreno devia ser utilizado para “um parque de estacionamento”. Tal opinião é corroborada pela proprietária de uma loja de têxteis situada a escassos metros do terreno.

Maria de Fátima, 51 anos, admite que costuma lá ver “jovens que limpam o lixo que as pessoas lá metem” mas também defende a reconversão do espaço em estacionamento.

Já Gualter Baptista, investigador em Economia Ecológica na Faculdade de Ciências e Tecnologia, solta uma gargalhada quando ouve falar em parque de estacionamento no local, um espaço verde com magnífica uma vista panorâmica para a Baixa e o Tejo.“Naturalmente há pessoas que tem um sentido mais utilitarista e que querem estacionar o carro à porta de casa mas penso que Lisboa tem muitos mais lugares de estacionamento do que espaços verdes para os seus cidadãos”, afirma.

O investigador em economia ecológica admite que a horta nem sempre tem o melhor aspecto mas lembra que “somos um país com um défice hídrico muito elevado no Verão e é normal que a paisagem agora fique amarela”.

Ressalva, porém, que há alturas do ano em que naquela horta “está tudo verde e arranjado”. "É um espaço que é dado aos cidadãos do bairro para que possam usufruir de forma activa”, afirma, sublinhando que ali existem casos de pessoas “necessitam da agricultura para sustentar as suas necessidades mais básicas e em tempos de crise, isso é importante”.

A opinião é confirmada por uma moradora da zona, Cátia Fernandes, de 33 anos. “Os agricultores são idosos da Mouraria que por vezes tem na horta a única fonte de legumes frescos, a par de jovens ambientalistas”, diz ao JN. Aliás, segundo este testemunho, “a horta devia ser incentivada pela própria Câmara e pelas Juntas de Freguesia”.»

...

Essa ideia do estacionamento nesse local lá vem à baila de tempos em tempos, sobretudo em "silly season", não fora ela tão tonta quanto quem dela se lembrou há 3 mandatos de CML. Já podiam ter feito estacionamento por debaixo de um novo mercado de Sapadores, mas antes preferiram remodelar o execrável mercado do que demoli-lo e construir novo. Mesmo assim, há outras hipóteses para o famigerado silo nesse lado da encosta. Aguardemos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Uma correcção ao título do artigo - auto-esclerose/estupidez e flacidez política ameaçam liquidar espaço verde...

Anónimo disse...

Horta urbana? Velhotes?

Estes publicitários.....
Melhor utilização tinha à 30/40 anos: era um local de brincadeiras, não tinha lixo, tinha mato, ervas e era como um bocadinho de campo na cidade...

Mas agora o que serve?
para meia duzia de desocupados (talvez os GAIA) se juntarem por ali para fumarem umas ganzas, pois por lá não existe um campo de milho para destruir.

Vão-se mas é catar todos ao sol!!!!

Construam lá o tal silo, aproveitem a cobertura para uma esplanada e façam alguma coisa de boa pela freguesia. Claro que aquele que (não) faz falta, não deve gostar da ideia, pois está mais interessado em conluios com essa malta desocupada das tribos urbanas (é moda) que lhe rendem alguns votozitos.

Outra ideia do mesmo senhor era dar à população da graça um jardim na encosta do convento/quartel.

Deve ser bonito de ver os velhotes a galgarem o desnivel da Rua das Olarias até ao Jardim da Graça.

a prosa já vai longa e amanhã é "dia de escola"

um puto da Graça

Filipe Melo Sousa disse...

mas quem se lembra de comer legumes cultivados no meio da cidade? óptimo para a saúde...