O Largo do Intendente assiste à construção de um empreendimento de luxo, no que resta de um edifício do XVIII. O imóvel, que pertencia ao Estado, foi anunciado, em 2014, como futura residência universitária com 239 quartos. O então presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, disse que o projecto era da “maior importância” para a revitalização da zona. O mesmo considerou Manuel Salgado, vereador do urbanismo, avaliando-o como vital para “trazer gente nova”. Mas a Estamo, imobiliária estatal, acabou por vender o prédio a uma empresa com outros planos. A qual, durante o período da venda, mudou duas vezes de mãos e três vezes de gerência, sendo agora detida por uma sociedade controlada por Luiz Horta e Costa, ex-administrador do grupo Escom. Relato de como o interesse público perdeu para o privado.
Por estes dias, o fragor das retroescavadoras em movimentações de terras e o trabalho dos operários dominam o interior do número 57 do Largo do Intendente. Há muito que por detrás das fachadas do antigo prédio de construção pré-pombalina se encontrava apenas o seu miolo vazio. Algo que está prestes a mudar, com a construção de um empreendimento de luxo que prevê 51 apartamentos de tipologias T1 e T2, com áreas brutas variando entre os 50 e os 170 metros quadrados, distribuídos por seis pisos. O projecto imobiliário, denominado Largo do Intendente 57, tem como promotor a Eusofia, sociedade imobiliária cujo capital é detido maioritariamente por uma empresa criada por Luiz Horta e Costa, antigo administrador do grupo Escom, parte do universo Espírito Santo.
Mas, há pouco mais de três anos, o antigo imóvel do Estado havia sido anunciado em reunião de câmara como uma futura residência de estudantes. Algo que António Costa, então presidente da autarquia, qualificou como da “maior importância”. Em 26 de março de 2014, foi aprovado em reunião de vereação, apenas com duas abstenções, um pedido de licenciamento para a construção de uma residência de estudantes, com 239 quartos, requerido pela Estamo, imobiliária de capitais exclusivamente públicos criada para alinear propriedades estatais. Na memória descritiva do projecto, entregue nos serviços de urbanismo da autarquia no ano anterior, além do alojamento, fazia-se referência a “uma diversidade de espaços destinados a comércio (loja/bar/cantina), recepção e área administrativa”, mas também a áreas de estar, de leitura, de estudo e de refeições. Propunha-se também a manutenção da “fachada, inalterada e recuperada como uma ‘memória’ do antigo revestimento em azulejo”.
O edifício, que estava indicado como Imóvel de Valor Concelhio, e se encontrava devoluto há muito, havia sido apontado como a possível futura casa do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), em abril de 2011, aquando da instalação do gabinete da presidência de António Costa no Largo do Intendente – momento que desencadeou o processo de regeneração daquela área. Mas, em julho do ano seguinte, o então autarca anunciava que tal já não se viria a concretizar, por desistência do governo na altura liderado por Passos Coelho. No entanto, Costa garantia, nesse mesmo momento, que a Estamo se encontrava “a decidir como o valorizar” o imóvel, assegurando ainda que existia uma universidade “interessada” em usar o espaço para residência de estudantes, embora sem dar “indicação oficial” aos serviços camarários.
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4 comentários:
Sai mais um "condóminio" chapa três.
É o que acontece quando a tramitação dos projetos se retarda: os estudantes terminaram os cursos, casaram e tiveram meninos, por isso a residência de estudantes deixou de ser pertinente.
Uma zona onde não se podia andwr à noite tem agora como problema maior ter um condomínio em vez de uma residência de estudantes. Só quem não quiser perceber o que isto significa é que ainda insiste no queixume.
Relativamente aos comentários anteriores, nem os estudantes casaram e por isso deixou de ser pertinente - cada ano letivo traz novos estudantes - nem a questão se prende com o problema da segurança noturna: tem mesmo a ver com a necessidade de não empurrar os jovens para fora da cidade, tarefa das políticas do Estado, ou da autarquia neste caso. O Estado não existe para fazer negócio, mas para resolver problemas concretos das pessoas que o funcionamento do mercado não só não resolve como agrava.
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