23/09/2008

Dia Europeu sem Carros não sensibilizou automobilistas e gerou o caos em Lisboa

In Público (23/9/2008)
Ana Nunes

«A medida anunciada pelo executivo camarário para libertar as artérias entre a Avenida da Liberdade e o Terreiro do Paço não convenceu ninguém. Foram muitas e audíveis as queixas


Foi apenas durante meio dia, mas em zonas tão nevrálgicas quanto poderiam ser o Rossio, a Rua do Ouro e a Rua da Prata - o coração da Baixa Pombalina -, que Lisboa se associou à iniciativa europeia do Dia sem Carros. Mas foi meio dia de caos automóvel, acentuado nos períodos de entrada e saída da capital. A terminar a Semana da Mobilidade, a confusão foi muita, pouca a sensibilização e queixas de sobra.
Aquela praça central e artérias estiveram encerradas à circulação automóvel entre as 8h e as 18h, com excepção para os transportes públicos colectivos e veículos de emergência, e desde cedo se viu que a medida desagradou a automobilistas, comerciantes e até aos agentes da Polícia Municipal que regulavam o trânsito nas artérias alternativas, e que se desdobravam para explicar aos automobilistas, à vez, a razão do corte das vias e as opções a tomar.
A tarde de ontem tornou-se por isso caótica para aqueles que circulavam junto à Praça do Comércio e que pretendiam prosseguir caminho pela Rua da Prata. Este foi o caso de João Fernandes, que apenas ao chegar ao local se deparou com o encerramento daquela via. "Não podia imaginar que ia encontrar este cenário, teria equacionado uma forma mais directa de chegar ao destino se soubesse desta limitação", lamentou, arrependido.
No Rossio, se a quietude terá agradado aos transeuntes, rua abaixo, o ruído gerado por outros acentuava o caos. O agente de segurança que regulava o trânsito na altura queixava-se da "falta de informação por parte da Câmara de Lisboa aos cidadãos" e concluía ser "normal" que assim se causasse "um transtorno aos automobilistas".
Amélia Vasconcelos não se consolava com aquela interrupção de trânsito de que "tinha ouvido falar". Porém, após o aborrecimento inicial, percebeu a necessidade da iniciativa, "para promover um ambiente mais saudável, menos poluição e a desabituação do automóvel".
Contudo, a exaltação prosseguia com o Terreiro do Paço por cenário, onde João Anjos, proprietário de um quiosque há 30 anos, dizia que todo o aparato apenas causava "problemas de circulação", sendo "mera encenação política". O seu desagrado era visível e defendia que, "para resultar, o trânsito teria que se cortar em toda a Baixa".
Outros, sugeriram "preços mais caros nos parques de estacionamento e transportes públicos com condições e sem atrasos" como soluções para melhorar a mobilidade, afinal, o objectivo número um da medida.
Também o CDS-PP de Lisboa, em comunicado, lamentou o "show-off" camarário de fechar as ruas da Baixa ao trânsito. Na mesma nota afirmou que a mobilidade foi "bandeira da coligação PS-BE", mas sem "medidas concretas". E acusou, entre outras 17 medidas, que propostas suas "apresentadas em assembleia municipal, nomeadamente para a repavimentação de artérias como a Rua da Prata e dos Fanqueiros, continuam a ser chumbadas".
a Lisboa já tem, oficialmente, uma Carta Municipal de Direitos dos Peões, "um documento com sentido político e que define um caminho para a câmara", explicou o vice-presidente da autarquia, Marcos Perestrello. Um iniciativa proposta pelo grupo de Cidadãos por Lisboa.
As principais medidas a aplicar pela Câmara de Lisboa centram-se na temporização de semáforos, "garantindo ao peão uma circulação de 0,8 metros por segundo", assim como a manutenção das 12 mil passadeiras da cidade, às quais se irão juntar outras novas.
"Durante este ano, a CML acorreu apenas a emergências na manutenção de passadeiras", frisou o vice-presidente, garantindo que é um cenário que irá "mudar". A intervenção será faseada e a primeira fase de "repintura e criação de novas passagens para peões" já teve início e tem como meta de conclusão o dia 31 de Novembro deste ano. A última fase deverá culminar em Setembro de 2009, segundo garantiu ainda Marcos Perestrello.
A intervenção que irá ditar a mudança na temporização dos semáforos para os peões será feita também em três fases e terá início nas zonas ligadas ao Sistema Gertrude. A data prevista para a conclusão é o final de Outubro de 2008 e prevê-se a intervenção em 195 cruzamentos, num total de 3120 passadeiras. Em 2010 será concluída a última fase da intervenção, aquela que irá requerer "a substituição do equipamento", disse ainda.
A intervenção irá beneficiar as escolas, nas quais serão investidos cinco milhões de euros até 2009, e irá contemplar não apenas a repintura ou criação de novas passagens, mas também mudanças na "sinalização e no traçado geométrico das vias". A medida irá alterar o limite de velocidade para 30 km/h diante de 349 escolas e para 40 km/h em outras 46, mas também pretende colocar tapetes antiderrapantes em algumas zonas escolares. "Será uma intervenção de fundo", disse Perestrello.
O vice-presidente da Câmara anunciou novas medidas para protecção dos peões e jovens em idade escolar»

Esta coisa do dia sem carros e da semana da mobilidade é muito bonito para inglês ver, pois, por mais protocolo que se assine, estaminé de controlo de automóveis que se monte, e sessão de esclarecimento que se faça, o que falta é ... fazer.

Os transportes públicos continuam, regra geral, a ser transportes de mercadoria.
As carreiras da Carris a serem suprimidas, e a frota a poluir céus e alvéolos pulmonares. Há obstáculos à mobilidade por tudo quanto é sítio, a começar pelos mupis em plena Baixa. Os pavimentos das ruas são uma calamidade. A calçada portuguesa é o que se sabe. Etc, etc. E enquanto assim for, estes dias e estas semanas de mobilidade serão apenas espectáculo. Uns com melhor produção do que outros, mas apenas isso.

2 comentários:

Anónimo disse...

medidas avulsas, como no terreiro o paço.

Anónimo disse...

Medidas avulsas mas acabam por ser um início.
É preciso iniciar a alteração de mentalidades e por vezes essa alteração tem que ser imposta.
É o caso de um país com cidadãos tão pouco informados, conscientes das questões de cidadania e tão pouco educados.
A imbecilidade é a tónica dominante da cultura portuguesa actual, e contra ela só a imposição e a força.
Espero que tenhamos políticos informados e corajosos, à altura da tarefa de domar as bestas dominantes neste país.