17/06/2009

Em Portugal: o Museu dos Coches, a Praça do Comércio e outras “banalidades”.

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Que mais fazer para inverter o comportamento?
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Aos nossos políticos não bastou a lição que Obama deu ao mundo ao ser eleito pelo povo, com uma atitude de inversão dos valores, sociais e ambientais, que se encontravam arreigados na sociedade Americana.
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Não bastou isso.
Nem bastam os dados técnicos e científicos com que os inúmeros especialistas nos demonstram, todos os dias, a realidade do que está a acontecer a este paraíso, que se chama “Terra”.
È desesperante ter a percepção desses dados macabros, rigorosos, não escamoteáveis, e ver serem tomadas constantemente decisões que continuam no rumo de um precipício próximo.
Decisões dos que mais têm a obrigação de nos defender e serem os primeiros a agir.
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É a atitude individual de cada um que permite aos tais que têm poder, que tomem medidas erradas. Que permite que andem a cuidar deles e dos seus amigos, em vez de cuidar do bem social geral.
Enquanto admitirmos cada acto ignóbil de quem manda de tal forma mal, somos também co-autores desse erros.
É a subserviência medieval a esses senhores feudais, que nós alimentamos, que autoriza e avaliza tanta asneira. E impede mesmo que se tomem as medidas possíveis, para tentar inverter um processo que é garantidamente de autodestruição.
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A mentalidade da população tem que ver com a cultura.
E a cultura que nos tem sido servida não facilita esta alteração.
É preciso provocar a queda da gota de água que faz "saltar a tampa" às pessoas comuns.
Atitude parva, a daqueles que continuam a referir ser a alteração de mentalidades, nas próximas gerações, que vai provocar a alteração!
Não dá tempo!
Não estamos, já agora, a cuidar de nós nem dos nossos filhos!
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Obrigatoriamente AGORA, em tudo, há que cuidar do meio ambiente!
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Como iremos, a curto prazo, explicar aos nossos filhos termos permitido uma Praça do Comércio sem árvores?
Ainda não percebemos que temos que saber colocar árvores em TODOS os locais urbanos em que isso seja possível e adequado?
Ainda não percebemos que foi a vegetação que permitiu a existência da vida animal?
E que não temos possibilidade de sobrevivência na Terra sem a vegetação?
Que o nosso inter-relacionamento com as árvores é muito superior ao que se fazia crer?
Que o salvaguardarmos as árvores é um dos melhores meios para nossa auto-sustentação?
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Cuidar das árvores não é determinar isso para o meio não urbano, para o meio rural.
Muito pelo contrário. Foi o homem que se desenvolveu entre as árvores.
E anda a acabar com elas, ficando completamente fragilizado, incapaz de subsistir.
Não podemos conceber espaços urbanos sem, até aos limites do aceitável, implantar árvores.
Para além das vantagens estéticas, há a considerar as vantagens climáticas e ambientais, sensoriais, valorativas da vivência humana.
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Não podemos abdicar das árvores, muito mais num caso referencial, num período de uma carência extrema de inversão de mentalidades para estas opções.
Opções que não o deviam ser. Deviam ser obrigações legislativas, pois moralmente já o são.
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Pena não serem assim já consideradas pelos autores dos projectos.
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A Praça do Comércio, construída para substituir o velho Terreiro do Paço, numa atitude vanguardista de várias centenas de anos (ao que vemos pela cultura que agora nos rodeia), não sobreviveu na atitude nem no programa para que foi edificada – para PRAÇA DO COMÉRCIO.
Voltou desgraçadamente a Terreiro. A parque de estacionamento deserto, desertificado e miserabilista, ou a situações bem similares.
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Aquilo que foi estruturado no séc. XVIII, a um nível de espaço referência da vida social de um império, caiu em desmerecimento. Em desconsideração de uma população que, mesmo agora, no séc. XXI, quer fazer ali uma área de eventos pontuais, muito à moda de um centro comercial!Sem árvores, sem o quotidiano da vida urbana de que este espaço seria o expoente.
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E até o projecto, é ainda o Projecto do “Terreiro do Paço”!... Anedota: aquilo está edificado há mais de 200 anos para ser uma Praça.
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Temos que exigir lá vida urbana referencial.
E as árvores.
De médio porte, de métrica muito simples, na envolvente próxima das arcadas, libertando o núcleo central. Com a simplicidade aparente do plano da Baixa: funcional, robusto, motivador, perene, sociável, carinhoso... com alma.
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E quanto ao novo projecto do Museu dos Coches?
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Como iremos também explicar aos nossos filhos tamanha atoarda?
Num período em que é fundamental eficiência energética em todos os actos humanos no território, já que é a insustentabilidade dos nossos actos que está a danificar irreversivelmente o meio ambiente, como podemos permitir, mesmo agora, a antítese de tudo isso!
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Um edifício enorme, devasso, consumista e gastador.
Ainda por cima edificado para transferir para lá o Museu dos Coches, que se encontra no antigo Picadeiro Real, e é... só... o museu mais frequentado e considerado de todo o país.
Para destruir um casamento que dura há mais de um século entre os velhos coches e o antigo picadeiro real, que tem coerência, é profícuo, consistente, tem escala e tem o carinho dos portugueses.
Se isto não é prazer em destruir o que está bem, em destruir o meio ambiente, é porque é outra coisa com um nome bem pior. Poderá ser mesmo estupidez?
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Os governantes contradizem-se completamente nas atitudes que tomam.
Veja-se o relatório sobre “Energia e Alterações Climáticas”, publicado em 2008/07/07, do Ministério da Economia e da Inovação, orgulho do Ministro António Pinho, e por si subscrito.
Capítulo 5:
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"V.Eficiência Energética
Apesar da desaceleração do consumo total de energia nos últimos anos, o consumo de energia nos edifícios continua a crescer significativamente, tendo-se verificado para este sector um aumento médio de 3,9% entre 2000 e 2005. Esta tendência é em parte explicada pela aproximação dos níveis de conforto habitacional à média europeia (nomeadamente com o aumento do número de casas com aquecimento central), mas também pela ineficiência energética nos edifícios (Figura 17).…
O aumento do consumo energético nos edifícios tem particular reflexo ao nível dos consumos de electricidade, uma vez que este sector é um dos principais utilizadores de energia eléctrica. De facto, se em termos de energia primária por unidade do PIB ou por crescimento, Portugal se aproxima dos níveis médios europeus, ao nível do consumo de electricidade, as taxas de crescimento verificadas nos últimos anos encontram-se entre as mais altas da Europa…
Com as medidas já implementadas, o Governo veio imprimir uma alteração relevante no sentido duma trajectória de desenvolvimento sustentável. Para além disso, o Governo acaba de fixar uma nova meta a implementar até 2015, definindo medidas adicionais de redução do consumo de energia equivalentes a 10% do consumo energético (Figura 19).Nesse sentido, e a curto prazo, o Governo prevê:
…Harmonizar fiscalmente o gasóleo de aquecimento com o gasóleo rodoviário, desincentivando, de forma progressiva, a utilização do primeiro para o aquecimento doméstico e permitindo, simultaneamente, financiar o Fundo Português de Carbono para cumprimento de Quioto;
…Aprovar um Plano de Acção para a Eficiência Energética com o objectivo de implementar medidas de redução de consumo de energia equivalente ao consumo energético verificado entre 2000 e 2005.”
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Afinal os políticos sabem o que é eficiência energética e porque se deve agir!
Mas isto é só para os privados?
Para o povo apertar o cinto com os encargos disto tudo?
O estado está obrigado a cumprir como todos e devia até dar o exemplo?
Não há programa que justifique minimamente, neste caso, 15000m2 de edifício novo.
Não se pode ESBANJAR em edifícios desproporcionados, e se está assumida a grande quota parte da má gestão dos edifícios, na falta de controlo do dispêndio energético do país, como podem os nossos governantes estar a agravar isto ainda mais?
E a questão põe-se nestes termos, por toda a Europa, relativamente à adaptação de edifícios existentes, sendo mesmo inacreditável no que se refere a um NOVO edifício.
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O maior custo deste edifício será a sua manutenção - acabará por ser uma obra a destinar à demolição, já dentro de muito poucos anos! Contraria todas as decisões governamentais quanto a eficiência energética e objectivos determinados pelo governo de redução de consumo nos edifícios, constituindo por isto, motivo mais que suficiente para que tal edifício não possa ser aprovado - para além de todas as outras restantes questões, que são muitas.
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Não temos que pagar do nosso bolso as asneiras de quem afirma uma coisa e faz outra!
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Não seria bem meritório, para quem tem o poder de decidir, assumir já aqui a inversão de atitudes passadas, de efeitos tão nefastos? E dar assim um exemplo que tem que ser seguido em todas as intervenções humanas no território: eficiência energética, respeito e preservação ambiental.
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Lições de humildade não são fáceis, são apenas apanágio de mentes sensíveis. - Deve ser reabilitado o actual Museu dos Coches, como já todos percebemos.
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Nas intervenções urbanas deviam ser sempre responsabilizados, por todos nós, os autores dos projectos, e os decisores da implementação destas acções humanas no território, em parâmetros que correspondam efectivamente ao prejuízo que nos causam. A nós e a todos os nossos descendentes, em resultado dos seus actos.
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E que tenham eles que responder aos nossos filhos por actos tão incongruentes (já que não querem saber dos esclarecimentos que terão que prestar aos próprios filhos)!
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Em conclusão:
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Uma Praça do Comércio com árvores, que seja um exemplo ambiental e humano!
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Um Museu dos Coches restaurado, e uma obra urbana envolvente, que seja um exemplo de eficiência ambiental e energética!
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Pouca coisa. Umas "banalidades". Apenas aquilo que se faz há vários anos em países minimamente desenvolvidos.
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Ferreira arq
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Assuma-se que tudo o que aqui está escrito, é verdade; todas estas banalidades; esta pouca coisa...
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É tanto verdade como o é que, a falta de capacidade de pensar bem a cidade e de canalizar devidamente os recursos para o fundamental, na defesa do património e no bem estar dos cidadãos, não cria mais valias económicas, sociais, turistícas ou culturais, antes pelo contrário, não passa de despesismo inútil.
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É tanto verdade como o é que, a falta de discussão pública, em torno destes temas estruturantes, numa lógica terceiro mundista de limitação obscura dos direitos de cidadania, é geradora de desconfianças nestes processos, descredibilizando instituições e a própria democracia.
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Portanto, se é isto tudo verdade, porque não se faz como se deve?
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Luis Marques da Silva

17 comentários:

Anónimo disse...

Discordando do projecto de remodelação do Terreiro do Paço de um tal Bruno Soares, discordo também de lá se plantarem árvores.

Não é preciso transformar o T. Paço num bosque para as nossas crianças aprenderem como as árvores (e a vegetação em geral) são essenciais à vida.

Anónimo disse...

ATOARDA
s. f.
Notícia vaga, boato


Não estou a ver...

Anónimo disse...

GRT
Bem escrito este post. Com lucidez e descernimento.
É convincente e bem fundamentada, a argumentação sobre as árvores.
É caso para dizer que quem não sabe é como quem não vê.
Parabens.

Anónimo disse...

DESCERNIMENTO

Palavra desconhecida pelo dicionário...

Anónimo disse...

GRT
Obrigado pela emenda, anónimo das4:46.
Fico contente que de tudo o que foi escrito, tenha retido esse pormenor tão importante.
Com elevada estima

S.O.S. disse...

Só posso entender a não colocação de árvores em tal espaço com interesses em algumas mais valias directas, tais como toldes publicitários.
Como sabemos, os valores são elevados - olha a TMN, aqui há meio ano!!! neste mesmo local.

E é por isso que ficamos lá sem as árvores? Elas nem sequer impedem os toldes, nem a publicidade.

Claro que diminuem a visibilidade. Mas isso não se pode sobrepor à mais-valia que as árvores representam no ecossistema natural e é esta alteração de mentalidade que temos de facto que absorver.

E como é referido, claro que há também a outra vertente:
- Parques subterrâneos, em locais de custo/m2 fabuloso - olha a Bragaparques. €€€€€€€€€.
Elevadíííííssimos interesses!!!

E nós sem árvores!!!!

Concordo com o texto.
Haja cultura.
Haja participação pública.
Haja honestidade e humildade na gestão dos cargos públicos.
E rua com os prevaricadores.
É correr com eles e fechar-lhes a porta.

JS disse...

Ai então o Ministro António Pinho quer pagar o não cumprimento das metas de emissões de CO2 com o aumento do custo do gasóleo de aquecimento?

Em vez de conseguir diminuir efectivamente as emissões de CO2, ainda vai ao bolso de todos nós?

E é ele quem implementa mais um mamarracho de quinze mil metros quadrados, que vai servir apenas para continuar a metodologia actual de consumos energéticos desmesurados e que não é necessário para nada!

Como é que isto é possível, à vista de todos nós. Somos de facto uns grandes lorpas ao aceitar este estado de coisas.

Esse tipo perdeu o norte e está xéxé de todo!

Como é que o Primeiro Ministro sustenta no governo pessoas de tamanhas contradições? Que impõem regras de poupança energética, e dão o pior dos exemplos determinando obras novas de um despesismo brutal e absurdo, quando têm um enorme património degradado para reabilitar.

Governar assim é uma estupidez... e aceitar isto é ser estúpido e estar a ser gozado!

Anónimo disse...

Está visto. É este o exemplo de reabilitação dos edifícios que querem dar aos Portugueses.
Não é preciso aproveitar as edifícações nem os espaços urbanizados existentes.
Não é preciso melhorar o desempenho energético dos edifícios actuais.
Não é preciso poupar.
O exemplo deste governo é: fazer edifícios novos, pouco eficientes, seja nas novas escolas, seja nos novos lares e outros exemplares como este museu para os coches, que ninguém quer.
Estes rapazes ficaram com a mentalidade retida há uns quarenta anos atrás.
E não sabem ler. Nem sequer se dão ao trabalho de tentar ler os documentos que os interesses privados lhes põem à frente para assinar. Não se apercebem que assinam a contradição absoluta de tudo o que apregoam.
O comentário anterior quer que eles reabilitem o quê? Eles querem vender todos os palácios todos do nosso património aos amigos para onde vão como gestores logo que sejam corridos do governo.

Anónimo disse...

Esta notícia deixa-me com algumas reflexões.
Estamos mesmo a deixar o planeta como se deixava um caixote do lixo antes de sabermos o que era reciclagem?
Vamos ter que reciclar este governo. Será que ainda vamos a tempo?

Ferreira arq. disse...

Será que alguém quer desistir de um futuro melhor para nós, para os nossos filhos?
Já é tarde para lamentações.

É fundamental a colaboração de todos para alterar mentalidades e acções quase reflexivas de atentados constantes ao meio ambiente.

Para além do bom exemplo que os nossos governantes devem dar, a atitude diária de cada um, nas pequenas e nas grandes coisas, é fundamental.

O maior trunfo é mesmo a eficiência energética em todos os nossos actos. Temos que exigir, mas também temos que dar o exemplo.
Temos que reabilitar e tornar as edificações existentes pouco consumistas e sustentáveis em termos ambientais. Temos que nos limitar à pegada ecológica que o planeta permite a cada um.

Temos que salvar o actual Museu dos Coches, que é uma jóia preciosa, e temos que salvaguardar a vegetação e plantar árvores em todos os espaços urbanos em que isso seja viável.

É por nós e pelos nossos descendentes.

S.O.S. disse...

E o Eng Carmona Rodrigues no meio disto tudo?
Estaremos a pagar a forma como algumas pessoas do PSD o trataram?

Com todas estas evidências, será que a sua condição na área técnica não o motiva a pugnar por mentalizar os restantes políticos a procedimentos de eficiência energética? E a não deixar vingar estas anedotas pelas quais passará também a ser responsável?
Temos fé no seu bom senso.

Tem aqui, o Sr. Eng Carmona Rodrigues, também a possibilidade de marcar uma fase de inversão de valores, no sentido de serem os políticos a dar o exemplo de como se deve passar a fazer.
Em primeiro lugar, ter em conta o impacto ambiental. Depois: mordomias estéticas e alguns abusos, mas dentro de parâmetros aceitáveis e devidamente justificados, mas nunca o uso e abuso como está para acontecer com o Museu dos Coches!

Anónimo disse...

Eles falam, falam...
mas nunca fazem coisa que se aproveite...
e nós é que pagamos.

para o Carlos Barbosa disse...

é melhor mandar isto ao Carlos Barbosa do ACP
agora até os automóveis são energeticamente mais eficientes e consomem muito menos
e vão estes tipos fazer um museu maior que um petroleiro e a gastar mais que um Dodge de 1950!
Temos providência cautelar pela certa

moinhos satânicos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

"Ainda não percebemos que temos que saber colocar árvores em TODOS os locais urbanos em que isso seja possível e adequado?"

Pois. É que no terreiro do paço não é adequado.

Neste sentido: deveria ser ADEQUADO e não TODOS, a estar em maiúscula.

Ferreira arq disse...

Deixo o link do post onde tentei, antes de se conhecer o projecto, mostrar a coerência da colocação das árvores, numa situação similar à que já lá tiveram, quando as pessoas frequentavam a praça.

Tiraram as árvores.
Saíram de lá as pessoas.

Decerto haverá algum tipo de árvores que seja adequado ao local.

Como não vejo esse grande motivo (para além de interesses económicos localizados), que impede a sua colocação na praça, que ajudariam em muito a que esta voltasse a ter alma, aguardo algum esclarecimento.

Aqui fica, com fotos:

http://cidadanialx.blogspot.com/2009/04/terreiro-do-paco-arborizar-sem.html

Paulo Carmo disse...

Que se façam obras de reparação-está certo, agora que se faça de novo aquilo que não é preciso mexer, é pura burrice e desbaratar dinheiro que faz falta noutras coisas.Por causa disto e outros disparates como estes, é que nunca mais votei nesses desperdicio de oxigénio que são os politicos.