22/03/2014

Há ou não hotéis a mais projectados para a Baixa Pombalina?

O vereador Manuel Salgado defende "uma mistura" de usos para esta zona da cidade.
Por Inês Boaventura, Público de 22 Março 2014



Numa altura em que muito se tem falado numa suposta febre hoteleira na Baixa Pombalina, Manuel Salgado diz que não compete à Câmara de Lisboa “fazer uma regulação do mercado”, algo que em seu entender nem sequer seria “desejável”. O autarca acredita que se os promotores avançam com os projectos é porque haverá procura e recusa a ideia de que se esteja a roubar espaço para a habitação.
“Não lhe sei dizer isso”, respondeu Manuel Salgado, quando o PÚBLICO lhe perguntou se não haverá um excesso de oferta quando todos os hotéis que têm vindo a ser licenciados para esta zona da cidade estiverem abertos. “Eu não sou hoteleiro mas também não acredito que alguém se ponha a investir uns milhões a construir um hotel e não tenha feito as contas”, acrescenta, lembrando que “na maior parte das cidades os hotéis tendem a estar concentrados no centro”.
O vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa admite que a opção por um equipamento desta natureza implica que haverá menos um edifício de habitação, mas sublinha que “são raros os hotéis que são construídos de raiz”, surgindo “a maior parte” deles em prédios que já tinham esse fim ou que eram pensões e foram entretanto reabilitados.
Além disso, afirma Manuel Salgado, é preciso que haja na Baixa, onde há 79 edifícios total ou parcialmente devolutos, “uma mistura” de usos, com residentes, emprego e comércio. A esse respeito, o autarca admite que se está a assistir a “uma coisa perversa” nesta zona: à transformação de “muita habitação” em habitação de curta duração.

Quanto à questão da preservação das lojas históricas, debate antigo que surgiu recentemente a propósito da ameaça de fecho da Ginjinha Sem Real, o vereador diz que “legalmente” a câmara “não tem mecanismos” para fazer mais. E apela à sociedade civil para que se organize para intervir nesta área, dando como exemplo Covent Garden, em Londres, onde “há uma associação de comerciantes que adquire espaços e os arrenda”.   

2 comentários:

Anónimo disse...

"Não lhe sei responder a isso", é o melhor que o vereador com o pelouro do urbanismo da CML tem a dizer.
Se alguém investe milhões é porque fez as contas ... e a CML, enquanto entidade competente no ordenamento e planeamento do seu território, delega essa sua competência nos privados? Ou o uso do edificado não é matéria urbanística?
Enquanto munícipe gostava de saber quais os objectivos estabelecidos para a Baixa.
Repovoá-la, com quem? Com locais? Com "nómadas" que permanecem 2 noites?
Os habitantes de Lisboa só podem viver na Baixa se se alojarem em hotéis?
Nós povo hospitaleiro abdicamos do nosso melhor património, para que a vós estrangeiros o gozem e para que não vos falte nada, permitimos ainda a sua destruição. De modo que edifícios do século XVIII, sejam sem qualquer critério dotados de todos os meios para que a vossa breve estadia seja o mais confortável possível, e que em vez de gentes locais possam conviver com outros turistas, que podem ser até naturais dos mesmos países... tudo para que se sintam em casa, ainda que não tenha sido desta que vieram à procura.

Anónimo disse...

Qualquer pessoa com uns meros rudimentos compreende que não é com intensiva "habitação de curta duração" que se criam bairros vivos onde as pessoas se sentem bem, se conhecem, convivem, fazem as suas compras (ou pelo menos as do dia-a-dia), vão aos estabelecimentos de restauração, etc.

Tanto mais que esses tais habitantes de curta duração são muito dados a noitadas até às tantas e a regressar barulhentos e a incomodar quem dorme porque trabalha e pôe os filhos na escola e os vai buscar e trata dos assuntos indispenáveis à sua vida e da sua família.